Acórdão 2a Turma PEDIDO DE DEMISSÃO. DESCONTO DO AVISO PRÉVIO. O empregado, que pede demissão, mas se dispõe a cumprir o aviso prévio trabalhando, não pode sofrer o desconto do salário respectivo, somente porque o empregador, receoso, opta por dispensar o empregado de seu cumprimento. Recurso patronal a que se nega provimento. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Recurso Ordinário, em que são partes, como Recorrente, MARAL SEGURANÇA E VIGILÂNCIA LTDA, e como Recorrido, JURANDIR CARDOSO OLIVEIRA. O MM. Juiz CLAUDIO JOSÉ MONTESSO, da 58ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, mediante a r. decisão de fls. 226/228 verso, complementada pela decisão de embargos de fls. 233/233 v., julgou procedentes, em parte, os pedidos. Inconformada a Reclamada interpôs recurso ordinário às fls. 235/239, postulando a exclusão da multa de 1%, cominada na decisão dos Embargos de Declaração. Aduz, também, que merece reforma a r. sentença no que diz respeito ao desconto do aviso prévio nas verbas rescisórias; à inobservância da compensação/dedução dos valores pagos ao autor aos mesmos títulos deferidos e à integração dos valores extra recibo na remuneração. Sem contrarrazões, apesar de intimado o recorrido a fl. 244. É o Relatório. V O T O CONHECIMENTO Parte bem representada (fl. 241), que apresentou recurso tempestivamente (fl. 234 confrontada com fl. 235), tendo pago as custas (fl. 242) e efetuado o depósito recursal (fl. 243). Não conheço do recurso, por ausência de interesse no que diz respeito ao pedido de compensação/dedução dos valores já pagos ao autor, porque o juízo a quo fez constar expressamente do dispositivo do julgado, a possibilidade de dedução de eventuais valores que tenham sido quitados sob os mesmos títulos deferidos. 5163 1
Nos demais aspectos, constato a presença dos pressupostos recursais de admissibilidade e conheço do recurso. Declaração MÉRITO Multa cominada na sentença que julgou os Embargos de A reclamada alega que o Juízo a quo se negou a apreciar pontos indispensáveis ao bom julgamento da lide, quando instado a se manifestar sobre as razões do desconto do aviso prévio. Acrescenta que não teve intuito procrastinatório e, portanto, deve ser excluída a multa de 1% sobre o valor da condenação. Contrariamente ao alegado, a fl. 227, a sentença não é omissa sob o aspecto referido pelo recorrente, como passo a reproduzir: (...omissis...) A reclamada admite que o reclamante pediu demissão e que entendeu, tacitamente, que o reclamante não estaria disposto a cumprir o aviso prévio. Dessa forma o dispensou imediatamente e descontou o período do aviso. Todavia a lei não autoriza a reclamada a supor que o empregado não vá cumprir o aviso prévio. Não poderia a reclamada, simplesmente, deduzir que ele o estava dispensando. Tem-se, claramente, que a iniciativa de não cumprir o aviso partiu do empregador que o dispensou de seu cumprimento com isso a reclamada abriu mão da obrigação do empregado trabalhar naquele período. Logo, não poderia descontar dele o valor respectivo. Assim, deve a reclamada devolver ao reclamante o valor descontado. Nesse contexto, não se pode vislumbrar qualquer defeito a justificar o inconformismo do recorrente, devendo ser mantida a multa. Nego. Devolução do desconto do aviso prévio O autor postulou a devolução do valor relativo ao aviso prévio que foi descontado dos haveres rescisórios. A ré alegou que descontou o aviso prévio porque entendeu que o reclamante não estava disposto a cumpri-lo. Alega que, diferentemente do entendimento do Juízo a quo, a 5163 2
permanência do empregado, insatisfeito com a sua atividade e que prestava serviços como vigilante armado, poderia causar-lhe prejuízos. Sem razão. As razões expostas na defesa da reclamada são inconsistentes e seus temores não justificam o desconto do valor do aviso prévio, o qual somente não foi trabalhado pelo empregado, porque a empregadora não quis. Assim, se a reclamada tinha receio de que o obreiro não estava apto a cumprir o aviso prévio, que o dispensasse, porém, sem possibilidade de descontar do pagamento do obreiro o valor respectivo. Cumpre reiterar que o fato de o empregado pedir demissão do emprego, ainda que pela insatisfação revelada com o tratamento que lhe estavam dispensando na empresa, não assegura supor que o empregado fosse agir contrariamente ao modo como vinha atuando para a empresa durante os quase três anos em que laborou nesta. Ao contrário, o que se apura do relato constante do documento de fls. 155, é a expressão de um trabalhador frustrado, mas comprometido com seu empregador. Sendo assim, não é compreensível a ilação feita pela empregadora de tal relato a ponto de justificar a liberação do cumprimento do aviso prévio pelo recorrido e, ao mesmo tempo, descontar-lhe o valor desse mês de salário. Nego provimento. Pagamento extra recibo e sua integração O autor postulou a integração do salário extra folha, recebido durante todo o pacto laboral, para fins de FGTS, INSS, 13º salário e férias, mais um terço do adicional, bem como nas verbas rescisórias. A Recorrente sustenta que deve ser modificada a r. sentença para excluir o pedido de diferenças salariais e integrações. Alega que o juízo, ao fundamentar sua decisão nos extratos bancário, equivocou-se, uma vez que tais documentos não têm valor probatório porquanto são unilaterais. fundamentos, in verbis: O MM. Juízo à fl. 226 deferiu a pretensão sob os seguintes (...omissis...) Pelos extratos da conta do reclamante que vieram aos autos percebe-se que havia crédito na sua conta para além do valor 5163 3
que constava nos contracheques e foram pagos em datas diferentes daquelas em que eram realizados os depósitos dos salários. Tais valores não eram, posteriormente, descontados dos salários, demonstrando assim que eram pagos a maior. Por certo que tais valores integraram a remuneração do reclamante. Trata-se de pagamento de salário não contabilizado pela reclamada e não considerado para quaisquer efeitos no contrato. Dessa forma, são devidas as diferenças de férias, décimo terceiro salário, repouso semanal e FGTS, considerando-se aqueles valores pagos pela reclamada na conta do reclamante a título de salário fora do contracheque. Cumpre observar que os extratos bancários não foram impugnados na defesa da recorrente, sendo, pois, prova suficiente de que pagamentos ocorriam de forma não contabilizada e por conta do empregador. Note-se que os depósitos eram efetuados sempre sob a mesma rubrica (0001318). Exemplo disso constatamos no documento de fl. 27, em que temos: 03/07 - credito de salário 0001318 577,00 * 10/07 - crédito de salário 0001318 455,00 02/08 - crédito de salário 0001318 640,00 * 07/08 - crédito de salário 0001318 630,00 04/09 - crédito de salário 0001318 512,00, * Ao compararmos com o último contracheque de fl. 18 e o primeiro e o último de fl.19, temos que os valores com asterisco são exatamente os mesmos dos documentos fornecidos pela reclamada. Assim, é fácil constatar que os demais valores, também nominados crédito de salário e sob a mesma rubrica 0001318 foram efetuados pelo mesmo depositante, no caso, a recorrente. Desta forma, conclui-se que os documentos trazidos aos autos não são unilaterais e se referem a pagamento de salários, ainda que disfarçados. Sendo assim, entendo que o Autor desincumbiu-se do ônus que lhe cabia (artigos 818 da CLT e 333, inciso I do CPC) de forma satisfatória, trazendo aos autos provas do fato constitutivo do seu direito que, reitere-se, nem sequer foi impugnada pela recorrente. Sendo assim, mantenho a r. sentença nos termos em que proferida. Isto posto, conheço do recurso interposto, à exceção do tema relativo à compensação/dedução, por falta de interesse e, no mérito, nego-lhe 5163 4
provimento, como fundamentado. A C O R D A M os Desembargadores da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do recurso interposto, à exceção do tema relativo à compensação/dedução, por falta de interesse e, no mérito, negar-lhe provimento, como fundamentado no voto da relatora. Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2011. Juíza do Trabalho Convocada Patrícia Pellegrini Baptista da Silva Relatora mgo 5163 5