RECURSO ORDINÁRIO - TRT - RO

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1 MORA SALARIAL - ATLETA DE FUTEBOL PROFISSIONAL - PREVALÊNCIA DO ARTIGO 31 DA LEI 9.615/1998 SOBRE O ARTIGO 483, D, DA CLT. Não se pode estender ao jogador de futebol profissional (que como no caso em exame, recebem salários e gratificações que ultrapassam em muito a média salarial do brasileiro) a mesma proteção aplicada ao trabalhador comum. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário em que figuram como recorrentes, I) BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, II) JONÍLSON CLÓVIS NASCIMENTO BREVES, e como recorridos,, I) BOTAFOGO DE FUTEBOL E REGATAS, II) VOLTA REDONDA FUTEBOL CLUBE, III) JONÍLSON CLÓVIS NASCIMENTO BREVES. Trata-se de recursos ordinários interpostos pelo primeiro reclamado às fls. 373/387 e pelo reclamante, adesivamente, às fls. 393/395, objetivando a reforma da decisão de fls. 343/357, complementada às fls. 369/370, proferida pela MM. 52ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, da lavra do ilustre Juiz FLÁVIO ALVES PEREIRA, que julgou procedente em parte o pedido. O primeiro reclamado sustenta, em síntese, que a Lei 9.615/1998 exige para a resolução indireta do contrato de trabalho o atraso no pagamento de salário de no mínimo 3 meses. Aduz, ainda, que a irregularidade nos depósitos do FGTS não ensejam a aplicação da justa causa ao empregador.

2 Assevera, ainda, que foi aplicada revelia ao reclamante em ação indenizatória conexa à reclamação trabalhista. Depósito judicial e custas recolhidos e comprovados às fls. 388/389. O reclamante, em seu apelo adesivo, sustenta, em síntese, que restou provada a pactuação do pagamento de prêmios por metas alcançadas, denominados no jargão futebolístico como bichos. Contrarrazões do reclamante às fls. 396/402, sem preliminares, e no mérito, protestando pela manutenção da sentença, na parte que lhe foi favorável Contrarrazões do primeiro reclamado às fls. 408/412, sem preliminares e, no mérito, protestando pela manutenção da sentença, na parte que lhe foi favorável. É o relatório. admissibilidade. V O T O DO CONHECIMENTO Conheço dos recursos por satisfeitos os pressupostos de DA RESOLUÇÃO CONTRATUAL O reclamante postulou a resolução indireta do seu contrato de trabalho, com fulcro na alínea d, do artigo 483 da CLT, trazendo como causa de pedir a ocorrência de mora salarial e irregularidade quanto aos depósitos do FGTS. A reclamada impugna a pretensão autoral, sob o fundamento de que não há mora salarial a justificar a rescisão indireta, na forma do artigo 31 da Lei 9.615/1998, alegando, que para a configuração da mora salarial é necessário o atraso de 3 meses no pagamento dos salários.

3 O ilustre julgador de primeiro grau, por entender configurada a mora salarial, considerou que havia, sim, motivo para a resolução contratual por culpa do empregador. Assiste razão ao reclamado, no particular. A Lei 9615/1998 que regulamenta a prática desportiva em geral, prevê para a entidade desportiva que estiver em atraso (período igual ou superior a três meses), no todo ou em parte, a rescisão do contrato de trabalho, autorizando o atleta a se transferir para outra agremiação. Tal regra, diferente do que ocorre em relação aos outros empregadores, traz para o clube consequência gravosa, pois retira-lhe o direito ao pagamento de indenização pela cessão dos direitos federativos do atleta que, em alguns casos, atinge o patamar de dezenas de milhões de reais. Logo, não se pode aplicar ao contrato do atleta profissional de futebol a mesma interpretação utilizada nos demais contratos de trabalho, pois, repise-se, a consequência para o empregador não é mesma. Ciente disto, o legislador previu regra especial para, ao mesmo tempo, mitigar a aplicação do artigo 483, d, da CLT no tocante à mora salarial e coibir os abusos cometidos pelos clubes, quando empregadores, muitas vezes causadas por administrações desastrosas. Da mesma forma, não se pode estender ao jogador de futebol profissional (que, no caso em exame, recebe salários e gratificações que ultrapassam em muito a média salarial do brasileiro) a mesma proteção aplicada ao trabalhador comum. Com efeito, via de regra os jogadores têm patrimônio suficiente para suportar eventual atraso no pagamento dos salários que, destaque-se, no Brasil é a regra. Por tudo isto, para se autorizar a resolução do contrato de trabalho do jogador profissional e, em consequência, o vínculo desportivo, é necessário, por absoluta imposição legislativa, que se configure o atraso, no

4 todo ou em parte, de pelo menos 3 meses (grifos nossos). No caso em exame, segundo o demonstrativo de fls. 351, o pagamento dos salários era feito em média com 30 dias de atraso, não atingindo o prazo mínimo previsto na legislação aplicada à espécie. Desta forma, procede a impugnação do reclamado, afastandose a resolução indireta, para declarar o contrato de trabalho resilido por iniciativa do empregado, excluindo-se a condenação ao pagamento do salário do mês de dezembro, pois não houve a prestação de serviços, e limitar o pagamento de férias acrescidas do terço constitucional e 13º salário à proporção de 7/12. Dou parcial provimento. DA AÇÃO INDENIZATÓRIA A reclamada investe contra a decisão recorrida que julgou improcedente o pedido de pagamento da cláusula penal pela sua transferência para outra agremiação esportiva (Cruzeiro Esporte Clube). Sustenta que o recorrido foi revel na Ação Indenizatória, e que em consequência, o pedido deveria ser acolhido integralmente. Assiste razão ao reclamado. Declarada a resilição contratual por iniciativa do atleta, incide a cláusula penal prevista no contrato de fls. 217/222 (cláusula quinta). Entrementes, considerando a regra disposta no artigo 477, parágrafo 5º, da CLT, que estipula que qualquer compensação de valor devido pelo empregado ao empregador nas verbas resilitórias, não poderá ultrapassar ao equivalente a um mês de remuneração, fixa-se o valor da cláusula penal em R$ ,00 (vinte e cinco mil reais), valor devido ao clube. Dou provimento. II - DO RECURSO ADESIVO DO RECLAMANTE

5 DO PAGAMENTO DE PRÊMIOS E BICHOS O reclamante pretende a reforma da decisão de origem no tocante ao pagamento de gratificações ajustadas pelo cumprimento de metas e pelas vitórias ( bichos ). Sustenta que restou provado pelo depoimento da testemunha ouvida às fls. 296/297 o pagamento de gratificação que variavam entre R$ 800,00 a R$ 1.500,00, por vitória, caso o clube conseguisse classificação para a Taça Libertadores ou Copa Sul Americana. Assiste razão o reclamante. Ausente à audiência em que deveria prestar depoimento pessoal, foi cominada ao autor a pena de confissão, reputando se verdadeiros os fatos alegados na defesa. Entrementes, a ficta confessio, cujos efeitos atraem a presunção de veracidade das alegações da parte contrária não se sobrepõe às provas existentes nos autos. No particular, restou provado pela testemunha Luís Felipe Ximenes (fls. 296/297) que foi pactuado o pagamento de prêmios por vitórias ( bichos ) e gratificação caso o clube alcançasse classificação para a Taça Libertadores ou Copa Sul Americana. Segundo a referida testemunha, os prêmios variavam de R$ 800,00 a R$ 1.500,00 por vitória e que caso fosse alcançada a classificação para uma das copas acima mencionadas, era fixada a gratificação deduzidos os valores pagos a título de bichos e que no final cada atleta receberia cerca de R$ ,00 a R$ ,00 a título da diferença mencionada. Considerando que o reclamado conseguiu a classificação para a Copa Sul Americana e que, conforme o depoimento supra, ficou pactuado o prêmio de R$ ,00 e que as diferenças devidas a cada atleta ficaria na faixa de R$ ,00 a R$ ,00, arbitra-se o valor devido a título de bichos e gratificações em R$ ,00 (doze mil e quinhentos reais).

6 Dou parcial provimento. A C O R D A M os Desembargadores da Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, conhecer de ambos os recursos e, no mérito, dar parcial provimento ao recurso do reclamado, para limitar a condenação ao pagamento de férias proporcionais, acrescidas do terço constitucional (7/12) e 13º salário/2005 proporcional (7/12), compensando-se o valor de R$ ,00 (vinte e cinco mil reais) referente à cláusula penal. Dar parcial provimento ao recurso do reclamante, para acrescer à condenação o valor de R$ ,00 (doze mil e quinhentos reais) a título de bichos e gratificações, na forma da fundamentação supra. Fica mantido o valor da condenação. Rio de Janeiro, 17 de fevereiro de Desembargadora Federal do Trabalho Mery Bucker Caminha Relatora \cm/mbc/tcl/i