PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 A C Ó R D Ã O 1ª Turma PRESTAÇÃO JURISDICIONAL INCOMPLETA. Se houve omissão, a questão deve ser solucionada a partir do exame dos embargos de declaração, na forma do artigo 897-A da Consolidação das Leis do Trabalho, não sendo necessário que se declare a nulidade da sentença por inteiro. Acolhida a preliminar de nulidade por prestação jurisdicional incompleta. Vistos, relatados e discutidos os recursos ordinários em que figuram simultaneamente como recorrentes e recorridos SINDICATO DOS PROFESSORES DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO e ASSOCIAÇÃO UNIVERSITÁRIA SANTA ÚRSULA. Inconformadas as partes recorrem ordinariamente da respeitável sentença da MM. 11ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, de lavra da eminente Juíza Kíria Simões Garcia, que julgou procedente em parte o pedido (fls. 119/121). Embargos de declaração opostos pelo autor às fls. 123/126, rejeitados à fl A recorrente ré (Associação) busca a reforma da sentença quanto ao recolhimento das contribuições sindicais (fls. 130/131). Preparo às fls. 132 e 154. A seu turno, o recorrente autor (Sindicato) suscita preliminar de nulidade de julgamento e visa à reforma da sentença em relação à contribuição assistencial, à exibição do Livro de Registro de Empregados e da RAIS, à multa do artigo 600 da CLT, à multa do artigo 475-J do CPC e aos honorários advocatícios (fls. 133/147). Contrarrazões do autor às fls. 157/160, sem preliminares; a ré

2 (Associação) não apresentou contrarrazões, embora tenha sido regularmente intimada para tanto (fl. 149). Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho, por não se configurar a hipótese de sua intervenção. É o relatório. V O T O CONHECIMENTO Conheço do recurso do autor (Sindicato) por preenchidos os pressupostos legais de admissibilidade. Todavia, não conheço do recurso da ré (Associação), por deserto. No caso, a sentença foi publicada em (quarta-feira - fl. 122). O prazo recursal teve início em (quinta-feira) e término em (quinta-feira da semana seguinte). A ré protocolizou o recurso ordinário em (fl. 130), apresentando apenas o recolhimento do depósito recursal (fl. 132). Em , a ré apresentou as custas processuais (fls. 153/154), depois de já encerrado o prazo do apelo há sete meses. Ainda que se considere a data da publicação da decisão que julgou os embargos de declaração do autor, em (quinta-feira - fl. 128), foi intempestiva a apresentação do comprovante de recolhimento das custas processuais em O 1º do artigo 789 da CLT estabelece: 1º. As custas serão pagas pelo vencido, após o trânsito em julgado da decisão. No caso de recurso, as custas serão pagas e comprovado o recolhimento dentro do prazo recursal. (grifei)

3 Por força do disposto no 1º do artigo 789 da CLT e de acordo com o entendimento contido na Súmula nº 245 do C. TST, o recolhimento das custas e a realização do depósito de garantia devem ser comprovados dentro do prazo alusivo ao recurso, sob pena de deserção. Por tais razões, não conheço do recurso da ré (Associação), por deserto. MÉRITO RECURSO DO AUTOR - SINDICATO PRELIMINAR DE NULIDADE DE JULGAMENTO O recorrente autor (Sindicato) suscita preliminar de nulidade de julgamento, sob os seguintes argumentos: que a sentença fundamentou serem indevidas as contribuições assistenciais, vez que não houve comprovação de que entre os empregados da ré havia algum de seus filiados, nos termos do Precedente Normativo nº 119 do TST e da OJ nº 17 da SBDI-1 do TST; que o Juízo de origem negou validade à cláusula normativa; que o primeiro defeito se refere à aplicação de Precedente Normativo a um dissídio individual; que o segundo defeito consiste na fundamentação com base no inciso XX do artigo 5º e no inciso V do artigo 8º da Constituição da República, vez que a contribuição assistencial foi fixada por convenção coletiva e alcança todos os empregados do estabelecimento; que foram opostos embargos de declaração para a consideração do inciso I do artigo 8º da Constituição da República, dos artigos 462 e 545 da CLT; que os embargos também pediram manifestação quanto ao prazo prescricional do Código Civil (artigo 205), à multa do artigo 475-J do CPC, à exibição do Livro de Registros de Empregados e da RAIS, à multa do artigo 600 da CLT e aos honorários advocatícios; que, porém, a decisão dos embargos não se pronunciou sobre tais aspectos, constantes do pedido; que seu direito de ampla defesa foi prejudicado, até mesmo porque não é possível confrontar outras teses jurídicas; que a decisão não está devidamente fundamentada; que houve violação ao artigo 5º e ao inciso IX do artigo 93 da Constituição da República, ao artigo 832 da CLT e aos artigos 458 e 535 do CPC;

4 que não foi adotada tese explícita quanto à prescrição prevista no artigo 205 do Código Civil (fls. 134/138). Com parcial razão. Quanto à negativa de validade à norma coletiva, quanto à aplicação de Precedente Normativo à ação individual e quanto à aplicação do inciso XX do artigo 5º, dos incisos I e V do artigo 8º da Constituição da República e dos artigos 462 e 545 da CLT, são matérias de mérito e o inconformismo da parte decorre do fato da r. sentença de 1º grau ter contrariado sua tese, o que pode ensejar manifestação por recurso próprio, como de fato ocorreu (fls. 138/139). No que concerne à prescrição, o Juízo de origem adotou posicionamento expresso (fl. 119): Acolhe-se a prescrição quinquenal arguida pela reclamada, na forma do artigo 7º, XXIX, da CRFB/88 e o artigo 11 da CLT, pronunciando-se a prescrição da pretensão do autor anterior a , uma vez que a presente reclamação foi ajuizada em (fl. 119). Juízo a quo foi claro (fl. 120): Da mesma forma, em relação à multa do artigo 475-J do CPC, o Indefere-se o pedido de pagamento de multa prevista no artigo 475-J do CPC, uma vez que este instituto não é compatível com o caso dos autos, já que não há condenação em valor líquido. (fl. 120). Do mesmo modo, a r. sentença de 1º grau tratou claramente do pedido de honorários advocatícios (fl. 120):

5 Indefere-se o pedido de pagamento de honorários advocatícios, eis que o autor postula em nome próprio, não estando preenchidos os requisitos do artigo 14 da Lei nº 5.584/70. (fl. 120). Portanto, quanto às matérias acima expostas, o Juízo de origem se manifestou expressamente sobre elas. Oportuno registrar o ensinamento do professor Theotônio Negrão sobre o tema: "O juiz não está obrigado a responder todas as alegações das partes, quando já tenha encontrado motivo suficiente para fundar a decisão, nem se obriga a ater-se aos fundamentos indicados por elas e tampouco responder um a um os seus argumentos" (RJTESP 115/207, autor citado, in Código de Processo Civil, Saraiva, 31ª edição, janeiro de 2000, pág. 578). Todavia, houve omissão do Juízo a quo em relação aos pedidos de exibição do Livro de Registro de Empregados e da RAIS e da aplicação da multa do artigo 600 da CLT, conforme itens 1 e 2a da inicial (fls. 07/08): 1) a citação do reclamado, na pessoa de seu representante legal, para, querendo, no prazo de lei, contestar a presente ação, sob pena de revelia e a exibir o Livro de Registro de Empregados e da Rais, a fim de se tornar viável a apuração do débito, sob as penas do art. 359 do CPC; (...)

6 a) contribuições sindicais dos anos de 2005 e 2006, acrescida de multa de 10% (dez por cento) nos trinta primeiros dias com o adicional de 2% (dois por cento) ao mês, correção monetária a contar de cada inadimplemento e juros de mora;. (fls. 07/08). (grifei). E os embargos de declaração do autor (Sindicato) perante o Juízo de origem se manifestaram sobre a omissão da sentença quanto a estas matérias (fl. 125). Entretanto, a decisão que rejeitou os embargos de declaração se limitou a fundamentar que não havia vício na sentença e que a intenção do embargante era de reformulação do julgado (fl. 127). No caso, o que se verifica é a existência de error in procedendo, por não apreciadas matérias submetidas a julgamento. A parte tem o direito de conhecer os fundamentos que levaram o julgador a acolher ou a rejeitar determinada pretensão, já que o ponto nodal da questão não foi objeto de pronunciamento explícito. Assim, acolho parcialmente a preliminar de nulidade por prestação jurisdicional incompleta, para declarar a nulidade da sentença de embargos de declaração de fl. 127, determinando o retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que seja proferida decisão referente aos embargos de declaração de fls. 123/126, com enfrentamento das matérias referentes à exibição do Livro de Registro de Empregados e da RAIS e à aplicação da multa do artigo 600 da CLT. DEMAIS MATÉRIAS DO RECURSO DO AUTOR Prejudicado o julgamento das demais matérias do recurso do autor (Sindicato), em razão do acolhimento parcial da preliminar de nulidade de julgamento arguida

7 CONCLUSÃO Pelo exposto, não conheço do recurso da ré (Associação), por deserto, conheço do recurso do autor (Sindicato) e acolho parcialmente a preliminar de nulidade por prestação jurisdicional incompleta, para declarar a nulidade da sentença de embargos de declaração de fl. 127, determinando o retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que seja proferida decisão referente aos embargos de declaração de fls. 123/126, com enfrentamento das matérias referentes à exibição do Livro de Registro de Empregados e da RAIS e à aplicação da multa do artigo 600 da CLT. A C O R D A M os Desembargadores da 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, não conhecer do recurso da ré (Associação), por deserto, conhecer do recurso do autor (Sindicato) e acolher parcialmente a preliminar de nulidade por prestação jurisdicional incompleta, para declarar a nulidade da sentença de embargos de declaração de fl. 127, determinando o retorno dos autos ao Juízo de origem, a fim de que seja proferida decisão referente aos embargos de declaração de fls. 123/126, com enfrentamento das matérias referentes à exibição do Livro de Registro de Empregados e da RAIS e à aplicação da multa do artigo 600 da CLT. Pelo recorrente compareceu Dr. Márcio Lopes Cordero (OAB 81613). Rio de Janeiro, 20 de Abril de DESEMBARGADOR MARCOS PALACIO Relator dngb/ver