ALFABETIZAÇÃO DE RIBEIRINHOS NA AMAZÔNIA: O lúdico e as atividades físicas como dinamizadores da linguagem na escola fundamental Luciane Ferreira de Araújo¹ RESUMO. O presente artigo discute o processo de aquisição da escrita, observando como a presença do lúdico e das atividades físicas podem agir como dinamizadores da linguagem no ensino fundamental, em especial, na segunda e terceira séries de uma escola ribeirinha de Porto Velho. Observou-se, inicialmente, que os conteúdos trabalhados em sala não valorizavam as experiências vividas pelos alunos e não proporcionavam seu desenvolvimento como cidadão e sujeito de suas ações. Na intervenção optou-se por utilizar atividades lúdicas, mediadas pela leitura de livros infantis, o que resultou na produção de textos, orais e escritos, mais significativos e prazeirosos, contribuindo também para a construção das identidades dos educandos, respeitando assim suas histórias de vida. PALAVRAS-CHAVE: Lúdico linguagem escola ¹ Pesquisadora Bolsista do PIBIC/CNPq I - INTRODUÇÃO O presente artigo é fruto de pesquisa realizada pelo Projeto Alfabetização de Ribeirinhos na Amazônia: uma proposta a ser construída e do Sub-projeto: O Lúdico e as atividades físicas como dinamizadores da linguagem na escola fundamental. Este trabalho está direcionado a observação da presença do lúdico e das atividades físicas na escola e seus aspectos interdisciplinares no contexto dos conteúdos trabalhados em sala de aula, em especial os textos narrativos, orais e escritos nas 2ª e 3ª séries do ensino fundamental, no intuito de verificar a contribuição das atividades lúdicas e físicas para a aquisição das habilidades dos educandos e facilitação do
processo de aprendizagem, observando também quais as concepções dos professores em relação a lúdico, educação e atividades físicas e como são trabalhadas no universo escolar. O projeto foi realizado na escola ribeirinha Antônio Augusto Vasconcelos, situada à margem direita do Rio Madeira, no município de Porto Velho. O ambiente escolar deve ser um lugar de interação da criança com o mundo, onde ela possa construir seu conhecimento sendo sujeito ativo nesse processo. Dessa forma é dever da escola desenvolver um aluno que possa assumir seu papel como cidadão, com o direito de escolher, decidir e agir sobre sua realidade. Isso ocorre porque a escola ainda é um lugar de silêncio e de reprodução. O aluno ainda é tratado como objeto da educação e o professor como dono e transmissor do conhecimento, ou seja, não há troca de experiências para que se possa ajudar na construção do sujeito e de sua identidade. Não se respeita a realidade do educando, sua bagagem vivencial, suas experiências de vida, seu ambiente concreto. Pensando nisso, optou-se pela pesquisa-ação que possibilita a participação efetiva do pesquisador no intuito de contribuir no processo de aprendizagem. Observou-se que a formação dos professores era tradicional, priorizando-se, em alguns casos (visto que se trabalharam com duas turmas, 2ª e 3ª séries) o uso de cópias e ditados, que pouco contribuem para a aprendizagem do aluno, tornando-o apenas reprodutor de textos. No intuito de intervir no processo, trabalhou-se com jogos, brincadeiras, atividades de leitura e recreação, procurando utilizar a expressão corporal e a brincadeira e relacioná-la com os conteúdos de sala de aula. II - INTERVENÇÃO Nessa atividade pretendeu-se trabalhar com o imaginário e a expressão corporal das crianças, através do lúdico, partindo do texto visual para a construção do texto oral. O material utilizado foi um baralho didático, no qual continha várias figuras e as crianças teriam que montar uma história em conjunto, de acordo com o desenho que continha em cada carta do baralho. No entanto, ninguém podia mostrar sua figura para o
colega, sendo necessário total atenção e criatividade. Formaram um círculo e começaram a montar a história. A atividade foi extremamente prazerosa, pois as crianças estavam livres para criar seu texto oral, de maneira mais significativa, envolvida pela brincadeira e, através dela trabalhando a linguagem oral de forma aberta, não mecânica e muito menos reprodutiva, já que eram autores de seu próprio discurso. Em seguida foi sugerido que representassem a história que criaram. Foi um momento de total descontração e socialização de idéias, pois cada um dava sua contribuição em como achava que deveria ser a representação. Entraram em consenso, resolvendo que personagem cada um seria. Notou-se que na atividade lúdica a criança se expressa mais livremente, se realiza enquanto sujeito pois o brincar nasce de sua criatividade e através dele ela pode crescer, aprendendo a conhecer o mundo e o ambiente do qual faz parte. Num terceiro momento foi pedido que criassem uma história individual para a carta do baralho que receberam. Cada um montaria um texto com a sua figura. Vejamos o texto da Alessandra, da 3ª série: era uma ver um gato chamado esperto os peixe e legal ele o gato gostava de ele gato era tam legal e tam bonito a luciana axou um macaquinho que era tam bonito ela gostava de comer banana ele tambêm gostava de brinca um ver o gato viu o macaco na casa dele o luciano brigou com eles por que ele estavam bringando só que ele disse se ele não fosse amigos ela ia mandar eles inbora para bem loge ele gostava de tomar banho de rio e tambêm de pisina uma ver sete pessoas bateu na porta do gato ele ina abrim a porta para o saci ele apareceu na casa do gato ele gosta de brica com a macaco eu me chamo Alessandra. Fim. No texto de Alessandra há uma mistura de vários personagens, frutos da história contada verbalmente em grupo. Ela, como autora de seu texto, o criou de acordo com sua imaginação e criatividade, não se detendo somente à figura de seu baralho.
Os dois textos trazem novamente a marca de outras leituras ou contações de histórias era uma vez e, no caso do texto de Charles o final típico dos contos de fadas e viveram felís. Ainda assim notamos as marcas do sujeito ativo, que interfere na sua história, modificando-a e interagindo com outras. III - CONCLUSÃO Com a realização do projeto, pôde-se refletir melhor a respeito das concepções de educação existentes nas escolas e dos processos envolvidos nela. Ainda predomina o ensino tradicional, mecânico e de reprodução. O aluno, na maioria dos casos, ainda é mero espectador da ação educativa e o professor ainda não o reconhece como sujeito do processo de ensino-aprendizagem. No espaço em que observou-se os alunos e com as atividades propostas procurou-se resgatar suas histórias, identidades e o prazer de brincar como estratégia para aprender. Com isso notouse uma maior participação e disponibilidade por parte deles. Foi aberto espaço para ouvir suas vozes, o que tinham a dizer, o que queriam e do que gostavam. Trabalho-se também com produções de textos e jogos, aproveitando bem as atividades lúdicas, importantes nessa fase. Ao entendermos a vivência lúdica não como uma possibilidade de fuga da seriedade do cotidiano, vamos inseri-la e redimensioná-la como ação significativa, praticada por sujeitos sociais. (Pereira, 1995). Tem-se, porém, consciência de que ainda há um grande caminho a percorrer pois o processo é longo e as mudanças sempre levam tempo e encontram resistência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VEIGA, Ilma Passos Alencastro e FONSECA, Marília. As dimensões do projeto político-pedagógico. São Paulo: Papirus, 2001. CÉSAR, Selma Regina Leite. A Educação Física numa abordagem Construtivista. São Paulo, 1996.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1897.. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1989. GERALDI, J. W. (org.) O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 1997. BARZOTTO, Valdir Heitor (org.) Estado de leitura. Campinas/SP: Mercado de Letras, 1999. POSSENTI, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Campinas/SP: Mercado de Letras ALB, 1996. BAGNO, Marcos. Português ou brasileiro? Um convite à pesquisa. São Paulo: Parábola, 2001.