AGRICULTORES FAMILIARES Capacitação



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Transcrição:

Contribuição para o Diálogo Brasil-África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural Brasília, Brasil, 10 12 de maio de 2010 AGRICULTORES FAMILIARES Capacitação

Capacitação No Brasil, desde a criação do Programa Fome Zero, a segurança alimentar e nutricional vem sendo institucionalizada; tendo sido aprovada legislação garantindo os direitos de agricultores familiares. Há um Programa Nacional de Aquisição de Alimentos que fomenta os agricultores familiares e garante alimentos para aqueles em situação de insegurança alimentar. A assistência técnica e a extensão rural também são obrigações legais e a alimentação é um direito social consagrado na Constituição. O desenvolvimento sustentável e as questões ambientais devem fazer parte da agenda. Neste contexto, é concebível que a cooperação Sul-Sul e as atividades de capacitação encontrem reciprocidade no Brasil - o presidente Lula estabeleceu, em novembro de 2009, que seu país irá oferecer cooperação aos parceiros africanos. Como resultado do sucesso das políticas implementadas, o Brasil está em posição de oferecer capacitação à África, em diferentes áreas, através da Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores (ABC/MRE), através de diferentes instituições e estruturas, como o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Ministério da Educação, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB). Além disso, estruturas como o Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) vêm aconselhando o presidente Lula desde janeiro de 2003 em questões de segurança alimentar e nutricional. O conselho é composto por representantes governamentais e pela sociedade civil, juntamente com observadores. As universidades públicas federais e estaduais, conjuntamente com as instituições supramencionadas, compõem o conjunto de órgãos institucionais formais capazes de dar prosseguimento às decisões tomadas no evento de maio de 2010. O Programa Fome Zero Nos países em desenvolvimento, as necessidades dos pobres são quase sempre avassaladoras e o Estado geralmente não consegue promover o desenvolvimento nacional sustentável. Itens como alimentação, habitação, educação, escolas e outros exigem esforços que vão além das capacidades dos governos. Nessas situações, os abastados recorrem aos prestadores de serviços privados, enquanto o resto da população, embora seja responsável por uma parte importante dos impostos coletados, normalmente fica sem os serviços correspondentes. No Brasil, essa situação começou a mudar em 2003, quando o Programa Fome Zero foi implementado, a partir de uma proposta formulada em 2001 pelo Instituto Cidadania de São Paulo, com três objetivos principais: comparar a luta contra a fome desempenhada pelos programas brasileiros no país naquele momento aos compromissos da Cúpula Mundial da Alimentação de 1996; estimular a sociedade brasileira em relação às questões da segurança alimentar e; a participação dos diferentes atores sociais do Brasil na criação de uma proposta viável para o combate à fome.

O programa foi desenvolvido com ações estruturais e emergenciais, que vêm orientando as decisões políticas no país nos últimos anos; foi, de fato, o primeiro passo para a criação do CONSEA, acima mencionado. A primeira ação do programa foi no estado do Brasil com o menor Índice de Desenvolvimento Humano, o Piauí, nos municípios de Guaribas e Acauã. O Brasil se preparou institucionalmente para lidar com os problemas resultantes da opção por uma posição social forte nas decisões políticas. Foi decidido que as condições adequadas para o desenvolvimento sustentável, especialmente nas áreas rurais, devem ser garantidas por legislação correspondente, viabilizando um planejamento em longo prazo e coerente. Inspirados pela Constituição Federal de 1988 (que estabelece, em seu Artigo 5, que a propriedade rural deve desempenhar uma função para a sociedade como um todo), diversas leis, decretos e documentos oficiais foram aprovados. Os principais são descritos a seguir: A Constituição Federal (1988) estabelece, em seu Artigo 5, que a propriedade rural deve desempenhar uma função para a sociedade como um todo; Dois ministérios especializam-se em questões rurais: o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MAPA, responsável pela agricultura de grande escala e instituição gestora da Embrapa e da CONAB e o Ministério do Desenvolvimento Agrário, responsável pela agricultura familiar e pela reforma agrária e instituição gestora do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INCRA O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutrição - CONSEA (30 de janeiro de 2003), conselho consultivo permanente para questões de segurança alimentar e nutrição, composto por 57 conselheiros (39 deles da sociedade civil) e 23 observadores; O II Plano Nacional de Reforma Agrária - II PNRA, elaborado para o período 2003-2007, mobilizou uma série de políticas voltadas para a dinamização das economias locais, gerando empregos, garantindo a segurança e a soberania alimentares, combatendo a pobreza e a desigualdade, protegendo o meio ambiente e preservando as tradições culturais no campo brasileiro; O Programa de Aquisição de Alimentos - PAA (Lei n º 10.696 de 2 de julho de 2003), visando à promoção da agricultura familiar, através de ações ligadas à distribuição de alimentos às pessoas em situação de insegurança alimentar. Também ajuda a criar inventários estratégicos, para permitir aos agricultores familiares estocar sua produção durante tempo suficiente para obter melhores preços de mercado no ato da venda; A Lei de Agricultura Familiar (Lei n º 11.326, de 24 de julho de 2006), estabelece as normas para a elaboração da Política Nacional de Agricultura Familiar e Estabelecimentos Rurais Familiares; O Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional - SISAN (Lei n º 11.346 de 15 de setembro de 2006) garante o direito humano sustentado à alimentação adequada, para toda a população brasileira; A Lei 11.947 (de 16 de junho de 2009) estabelece, em seu Artigo n º 14, que pelo menos 30% dos recursos desembolsados pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para merendas escolares devem ser gastos na compra de produtos de agricultura familiar. Nestas aquisições, por lei, é dada a prioridade aos assentados da reforma agrária, bem como comunidades tradicionais quilombolas e indígenas;

A Lei de Assistência Técnica e Extensão Rural (Lei 12.188, de 11 de janeiro de 2010) estabelece os princípios e objetivos da assistência técnica e extensão rural e cria a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural em Agricultura Familiar e Reforma Agrária (PRONATER); Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel e do Selo Combustível Social, estabelecidos por duas leis (11.097 de 13 de janeiro de 2005 e 11.116 de 18 de maio de 2005), 3 decretos, 6 resoluções e 2 instruções normativas promovem a produção e uso sustentáveis do biodiesel, com foco na inclusão social e no desenvolvimento de regiões do Brasil por meio da geração de emprego e renda. Diferentes iniciativas relacionadas ao desenvolvimento nacional vêm sendo implementadas nos últimos anos no Brasil. Todas elas têm afetado positivamente o país, especialmente as áreas rurais. O governo brasileiro tem estado profundamente envolvido no que chama de três principais pilares para o desenvolvimento no início do século 21: i) o desenvolvimento sustentável e o meio ambiente; ii) a segurança alimentar e nutricional, e iii) a criação de uma nova matriz energética que ajude a superar a dependência dos combustíveis fósseis e as mudanças climáticas. Todos estão diretamente relacionados aos valores essenciais da FAO e à realização dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs), bem como às necessidades atuais da África em termos de cooperação. Vale ressaltar que o Brasil reduziu sua pobreza extrema pela metade em 2005, dez anos antes da data-limite proposta pelo ODM 1. Em recente reunião entre a FAO, o Brasil e a África, na sede da FAO em novembro de 2009, às vésperas da Cúpula Mundial sobre Segurança Alimentar, o Brasil se estabeleceu como país doador e definiu suas prioridades em matéria de cooperação com os países africanos. O follow-up desta reunião irá ocorrer em maio de 2010, quando os Ministros da Agricultura africanos se reunirão em Brasília, Brasil, a convite do presidente Lula, para discutir a forma como se dará a cooperação brasileira. Espera-se que projetos específicos sejam apresentados, principalmente por instituições regionais africanas representando os interesses comuns de diversos países. Uma das áreas onde é necessária a cooperação brasileira na África é a capacitação. Instituições governamentais, universidades e outros centros de conhecimento brasileiros detêm especializações em diferentes áreas que certamente ajudariam a melhorar as capacidades africanas. Nessas instituições, possíveis projetos e programas de cooperação podem ser criados ou já estão em construção, especificamente para atender as necessidades africanas. Capacitação para agricultores familiares na África No Brasil, a atenção dispensada pelo Governo Federal para a agricultura familiar obteve resultados, após alguns anos de formulação e implementação de políticas públicas. A área rural brasileira compreende um espaço onde vivem 28 milhões de pessoas e onde a promoção do desenvolvimento rural sustentável e o apoio dado à agricultura familiar possibilitaram que 4,8 milhões de produtores, especialmente os agricultores familiares, dessem grandes passos no combate à pobreza, entre 2003 e 2008, como parte de um processo nacional que possibilitou um aumento de 14,3% na renda do Brasil como um todo. Dois principais erros foram corrigidos no Brasil. O primeiro foi considerar o rural como sinônimo de atraso; a segunda foi colocar as questões rurais em segundo lugar nas discussões sobre a economia do país. No primeiro caso, foi demonstrado que, quando sujeitos a políticas destinadas especificamente para eles, os agricultores familiares respondem com produtos de alta

qualidade e alta produtividade e, como resultado, no segundo caso, a produção torna-se responsável por uma percentagem considerável dos indicadores econômicos do país. No Brasil, a agricultura familiar é responsável por 38% do valor da produção agrícola, emprega 75% da mãode-obra nas zonas rurais e garante a segurança alimentar do país, sendo responsável por 70% dos alimentos nas mesas dos brasileiros todos os dias. E, apesar deste nível de significância, a agricultura familiar utiliza somente 24,3% de todo o espaço agrícola do país, embora represente 84,4% de todos os estabelecimentos rurais. Esses números refletem a implementação de políticas públicas concebidas especificamente para este setor da economia brasileira. No que diz respeito ao setor rural brasileiro, a reforma agrária e a geração de emprego e renda representam os principais objetivos que inspiraram a primeira geração de políticas para a agricultura familiar no Brasil. Por meio de políticas de reforma agrária, crédito, assistência técnica e extensão rural, seguro agrícola, de facilitação do comércio, de promoção da igualdade das mulheres, da juventude, das comunidades tradicionais, agro-indústrias e a através de apoio a movimentos e organizações, entre outros, o Brasil pôde realizar uma mudança radical em seu contexto rural. A segunda geração de políticas foi implementada para desenvolver ainda mais as capacidades produtivas dos agricultores familiares, sob coordenação do MDA. Seus principais programas são: i) Programa Mais Alimentação, criado em meio à crise financeira mundial como uma resposta para a necessidade de aumentar a oferta de alimentos no Brasil, com maior produtividade e através da modernização e da melhoria da renda e das condições de trabalho, ii) Territórios de Cidadania: promove o desenvolvimento de regiões com baixo dinamismo econômico e garante o acesso das populações correspondentes à cidadania e à superação da pobreza. Inclui 120 territórios em todo o Brasil, e iii) Regularização Fundiária na região amazônica, visando regularizar 300 mil propriedades em terras federais e estaduais. Existem múltiplas possibilidades de cooperação brasileira na África, em termos de capacitação. Áreas como segurança alimentar, alimentação escolar, políticas públicas, agricultura familiar, reforma agrária, agro-energia, agro-indústria, tecnologia de alimentos, biotecnologia, florestas, acesso à água e gestão hídrica, sensoriamento remoto, desenvolvimento sustentável e meio ambiente, genética, recursos naturais, produção animal, licitações, transferência de tecnologia e outras áreas são, muito provavelmente, de interesse para os países africanos. Neste contexto, projetos específicos devem ser concebidos tendo em conta as diferenças regionais ou interesses comuns mais amplos, onde seja possível implementar medidas para atender às necessidades da África e sua capacidade de assimilação. Por exemplo, duas áreas onde a cooperação brasileira pode ser de grande utilidade para a África, graças à especialização brasileira e ao trabalho da FAO no continente Africano, são a agricultura de conservação e o manejo integrado de pragas. A agricultura de conservação tem como objetivo estabelecer uma melhor agricultura sustentável de subsistência, rentável para agricultores, através da aplicação de três princípios: perturbação mínima do solo, cobertura permanente do solo e rotação de culturas. Ela oferece um potencial considerável para fazendas de todos os tamanhos, especialmente de pequenas propriedades familiares, e é uma maneira de combinar produção agrícola rentável e questões ambientais e de sustentabilidade. Por outro lado, o manejo integrado de pragas é uma abordagem ecossistêmica da produção e proteção agrícolas, o que significa um exame cuidadoso de todas as técnicas de controle de pragas e posterior integração de medidas adequadas que desencorajem o desenvolvimento de populações de pragas, usando o menor nível possível de pesticidas. Ele destaca o cultivo de uma cultura saudável, com o menor impacto possível nos agro-ecossistemas, encorajando os mecanismos naturais de controle de pragas.

Além disso, há programas acadêmicos que poderão interessar a África. Os Recursos Genéticos e Biotecnologia da Embrapa (Cenargen) oferecem quatro cursos específicos em 2010 sobre o controle biológico de insetos, transferência de embriões em bovinos, o cultivo de cogumelos e marcadores moleculares. Por outro lado, a sua empresa-mãe, a Embrapa, realizará inúmeros cursos em sua sede ou em uma das 44 unidades descentralizadas em todo o Brasil durante o ano. Além disso, a empresa já possui escritórios no continente Africano, o que representa uma vantagem em termos de execução de projetos. Eles foram estabelecidos em: i) Acra, Gana - sede; ii) Maputo, Moçambique; iii) Bamako, Mali, iv), Dakar, Senegal. No entanto, tendo em vista o possível interesse de vários países africanos na capacidade de cooperação do Brasil, seria mais adequado tê-los representados regionalmente. O governo brasileiro está organizando uma proposta para ser discutida no evento de maio de 2010 que incluirá a capacitação; o MRE é responsável pela organização do evento e pela coordenação da proposta brasileira, auxiliado por todas as instituições técnicas governamentais mencionadas acima. A proposta estará pronta para a reunião de 10-12 de maio, no Brasil, e trará o entendimento do país sobre as necessidades africanas e sua capacidade atual de tratar deles. Espera-se, portanto, uma proposta nacional formal, para a qual os diferentes departamentos governamentais do Brasil contribuíram com uma série de ofertas de projetos nacionais de implementação regional na África. O Brasil conta com mais de 2.000 instituições de ensino superior oficialmente credenciadas, públicas e privadas. Entre elas, há 59 instituições públicas federais distribuídas por todo o país (Norte: 9; Nordeste: 15; Centro-Oeste: 5; Sudeste: 19 e Sul: 11) e 46 instituições públicas estaduais (Norte: 6; Nordeste: 16; Centro-Oeste: 3; Sudeste: 9 e Sul: 12). A maioria delas oferece cursos de graduação e pós-graduação que podem também ser de interesse para os países africanos, em termos de capacitação. Possíveis áreas de interesse: Técnica: Ciências Agrárias, Engenharia Agrícola, Ciências Agrárias, Engenharia Agroindustrial, Indústrias Alimentícias, Agro-indústria, Agronomia e Engenharia Agronômica, Engenharia de Alimentos; Sensoriamento Remoto, Desenvolvimento Rural. Gestão: Agronegócio; Gestão de Agronegócio; Gestão de Cooperativas; Administração Rural e Agro-industrial; Gestão de Empresas Rurais. Pesquisa: Agro-zootecnia, Biologia e Ciências Biológicas; Biotecnologia. Meio-Ambiente: Ecologia e Meio Ambiente, Engenharia Ambiental, Ciências Ambientais, Agricultura de Pequena Escala e Sustentabilidade, Ciências Ambientais e Tecnologia. Energia: Energia e Engenharia de Desenvolvimento Sustentável, Gestão de Recursos Energéticos; Energias Renováveis. Além disso, o Brasil ainda conta com diferentes instituições encarregadas da promoção da educação de alta qualidade em todo o país. São elas: O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, visa à melhoria da pesquisa científica e tecnológica e a formação de recursos humanos para a pesquisa;

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), subordinada ao Ministério da Educação, desempenha um papel fundamental na expansão e consolidação da pós-graduação strictu sensu (mestrado e doutorado) em todos os estados brasileiros; O Fundo Nacional para o Desenvolvimento da Educação (FNDE), subordinado ao Ministério da Educação, tem a missão de conceder recursos e executar ações no desenvolvimento da educação, visando oferecer cursos de qualidade a todos os brasileiros. Exemplo concreto do governo brasileiro: proposta de projeto-piloto do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) na África Os recursos do PAA no Brasil vêm do MDS e do MDA. A bem-sucedida experiência brasileira tem possibilitado garantir renda aos agricultores familiares, aumentar a produção e gerar diferentes arranjos locais e regionais. Ao investir em suas capacidades de gestão, as cooperativas brasileiras foram capazes de planejar sua produção, qualificar seus produtos e melhorar suas instalações de armazenagem e conservação, graças à prática de preços justos e garantia de renda e, por outro lado, as pessoas em condições de insegurança alimentar foram atendidas. A proposta do Brasil indica a criação de uma metodologia que possibilita a implementação de um programa de aquisição de alimentos na África, a partir de uma série de projetos-piloto em diferentes macro-regiões africanas. A proposta leva em consideração que 75% das populações de todos os países em desenvolvimento dependem da agricultura como principal fonte de renda e que os pobres são os mais vulneráveis aos efeitos de emergências alimentares decorrentes de catástrofes naturais de grandes proporções. Os resultados esperados desta iniciativa brasileira seriam os agricultores familiares se beneficiarem da garantia de compra de sua produção; as famílias em condições de insegurança alimentar se beneficiariam de doações de alimentos através da merenda escolar em escolas públicas e iniciativas locais de assistência alimentar; técnicos e gestores locais plenamente capacitados no Programa de Aquisição de Alimentos; a criação de uma metodologia que possibilite a implementação de políticas públicas de compra de alimentos para doação simultânea para a África, um amplo processo de discussão sobre a implementação deste programa em outros países africanos e; diferentes escolas africanas se beneficiariam de doações de alimentos. Os principais alvos do programa seriam, então, os agricultores familiares e suas cooperativas; famílias em situação de insegurança alimentar; técnicos e gestores locais nas áreas da agricultura, desenvolvimento social e educação; conselhos escolares de pais e associações do setor de ensino na África. Exemplo concreto da academia: Universidade Federal de Integração Luso-Afro- Brasileira (UNILAB) A UNILAB propõe a construção de uma instituição inovadora, com a participação efetiva de órgãos governamentais, parceiros acadêmicos e sócio-culturais de países de fala portuguesa, que serão posteriormente estendidos a outros territórios, regiões e países lusófonos. Ao estruturar uma rede de universidades públicas na Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP), o governo brasileiro prepara-se para o desenvolvimento da cooperação solidária.

A Universidade Federal de Integração Luso-Afro-Brasileira é uma instituição pública de ensino superior com sede na cidade de Redenção, estado do Ceará, escolhida por ser a primeira cidade do Brasil a abolir a escravidão. Seu projeto de lei foi aprovado pela Câmara dos Deputados do Brasil em março de 2009, criando a UNILAB com o objetivo de fortalecer capacidades para o desenvolvimento da integração entre o Brasil e outros países da CPLP, especialmente os da África. A UNILAB deverá iniciar suas atividades em 2010, recebendo 350 alunos em cinco cursos de graduação, no que é chamado de Programa de Educação Residencial (PER). Dentro dele, o curso de agronomia o primeiro curso da universidade relacionado à segurança alimentar, agricultura e pecuária - receberá 70 alunos; 35 do Brasil e o restante de sete países da África e da Ásia, todos de fala portuguesa. A UNILAB também propõe oferecer seus PER para cinco mil estudantes de pós-graduação no campus da UNILAB em Redenção, metade deles de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe, Timor Leste e o território chinês de Macau. Também propõe que a maioria das aulas seja ministrada no campus do Brasil, sendo que o último ano do curso seria ministrado na forma de uma aprendizagem no país de origem do aluno, em parceria com uma universidade local e sob a supervisão de professores de ambas as instituições. A universidade também irá oferecer um Programa Aberto de Graduação (PEA), dedicado à capacitação de recursos humanos para os serviços nas mesmas áreas do PER, incluindo agronomia. Além disso, pós-graduação, pesquisa, extensão e desenvolvimento institucional estão previstos para ambos os programas, PER e PEA. A UNILAB visa o apoio da FAO, da Embrapa (que já é membro da UNILAB CI), agências regionais, Ministérios da Agricultura e outras instituições relacionadas à segurança alimentar. Especificamente, de acordo com a UNILAB, a FAO pode ser de grande ajuda, graças aos seus escritórios em todos os países da CPLP, assim como o Escritório Regional em Acra, Gana. Contato prévio entre a UNILAB e a FAO já foi estabelecido, através do representante da FAO em Moçambique. Responsável pela criação da proposta de parceria, a UNILAB CI sugere os seguintes elementos: 1. A Elaboração de um Documento Conceitual e de uma Proposta de Trabalho pela equipe da UNILAB, auxiliada por um consultor da FAO; 2. Envio do documento preliminar para os representantes regionais da FAO em Acra/Gana e Santiago/Chile, bem como representantes dos países nos países da CPLP, para a análise, consultas e sugestões; 3. Teleconferência entre os mesmos participantes para um debate aprofundado e proposta de trabalho; 4. Formulação dos planos de aprendizagem de cada país; 5. Reunião de trabalho em Acra, com representantes da FAO nos países da CPLP e o representante da FAO em Santiago/Chile, junto com representantes da UNILAB e de instituições de ensino superior da CPLP; 6. A Embrapa, com escritórios em Acra e também o membro da UNILAB CI certamente seriam integrados neste processo, participando de todas as etapas propostas anteriormente.