PREFEITURA DE FOZ DO IGUAÇU SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE PROTOCOLO DE ATENÇÃO AO DIABETES NA REDE SUS



Documentos relacionados
PRESCRIÇÃO DE ATIVIDADE FÍSICA PARA PORTADORES DE DIABETES MELLITUS

Manejo do Diabetes Mellitus na Atenção Básica

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Diabetes Mellitus Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

TRATAMENTO DIETÉTICO DO DIABETES MELLITUS. Profa. Dra. Maria Cristina Foss-Freitas

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 27. Profª. Lívia Bahia

OBESIDADE E DISLIPIDEMIA NA INFANCIA E ADOLESCENCIA

ÍNDICE. Introdução 4. O que é diabetes 5. Os diferentes tipos de diabetes 5. Fatores de risco do diabetes tipo 1 e tipo 2 6. Sintomas 7.

Aluna do Curso de Graduação em Nutrição da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Unijuí 4

Vigilância e Monitoramento de Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis

Doença com grande impacto no sistema de saúde

EDUCAÇÃO REVISÃO 2 REVISÃO 3

DIABETES MELLITUS. Jejum mínimo. de 8h. Tolerância à glicose diminuída 100 a a 199 -

RASTREAMENTO DE PRESSÃO ARTERIAL E GLICEMIA

Aprenda a Viver com a Diabetes

Capítulo. Alterações da Glicemia 18 e Diabetes Mellittus. Capítulo 18. Alterações da Glicemia e Diabetes Mellitus 1. OBJETIVOS

ENFERMAGEM ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE DA FAMÍLIA. Parte 26. Profª. Lívia Bahia

O TAMANHO DO PROBLEMA

Universidade de São Paulo. Faculdade de Ciências Farmacêuticas FBF Fundamentos de Farmácia Clínica e Atenção Farmacêutica

ESTRATIFICAÇÃO DE RISCO CARDIOVASCULAR ENTRE HIPERTENSOS E DIABÉTICOS DE UMA UNIDADE DE SAÚDE NO MUNICÍPIO DE PONTA GROSSA.

TÍTULO: HIPERTRIGLICERIDEMIA PÓS-PRANDIAL EM PACIENTES COM DIABETES MELLITUS TIPO 2 E O RISCO CARDIOVASCULAR

O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE DOENÇA METABÓLICA

Abcd JARDIANCE. (empagliflozina) Boehringer Ingelheim do Brasil Química e Farmacêutica Ltda. Comprimidos Revestidos. 10mg ou 25mg

Orientações para uma vida ativa e saudável através da alimentação

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Doença Cardiovascular Parte 1. Profª. Tatiane da Silva Campos

PREVENÇÃO DE DOENÇAS CARDIOVASCULARES

Quando você precisar, nós estaremos lá.

Hipertensão Diabetes Dislipidemias

ASSISTÊNCIA MULTIDISCIPLINAR PARA O ATENDIMENTO AOS PACIENTES DIABÉTICOS INTERNADOS

OBESIDADE MAPA DE REVISÕES PROTOCOLO CLINICO. Destinatários. Data Dr. Bilhota Xavier

Abordagem de Prevenção ao Diabetes

MINISTÉRIO DA SAÚDE. O MINISTRO DE ESTADO DA SAÚDE, no uso de suas atribuições legais, e

LINHA DE CUIDADO GERAL EM DIABETE

ANÁLISE DO MONITORAMENTO DA GLICEMIA CAPILAR EM INSULINODEPENDENTES PARA PREVENÇÃO DE COMPLICAÇÕES RELACIONADAS AO DIABETES MELLITUS

MAPA DE REVISÕES. Revisão Página Motivo Data Responsável

CADERNO DE QUESTÕES. Comentário: 2. (2015/CONSULPLAN/HOB). Acerca do Diabetes mellitus, assinale a alternativa correta.

Doenças Cardiovasculares. EB2/3 Mondim de Basto

AMBULATÓRIO DE ENDOCRINOLOGIA OBSTÉTRICA ENDOB

O QUE VOCÊ DEVE SABER SOBRE ATIVIDADE FÍSICA

EMAGRECIMENTO: caso. Annie Bello PhD. Doutora em Fisiopatologia - UERJ Prof. Adjunto Nutrição clínica - UERJ Nutricionista Ensino e Pesquisa - INC

Atenção às Condições Crônicas em Saúde. Avaliação dos cuidados crônicos

RESULTADOS E DISCUSSÃO

14 de Novembro Dia Mundial do Diabetes

Recomendações do NUCDEM para diagnóstico e acompanhamento do diabetes mellitus

Saúde do Homem. Medidas de prevenção que devem fazer parte da rotina.

OBJETIVO: Avaliar qual dos parâmetros: cintura, quadril e RCQ tem maior relação com os fatores utilizados no diagnóstico para SM.

O que é a obesidade? Nas doenças associadas destacam-se a diabetes tipo II e as doenças cardiovasculares.

FEIRA DE SAÚDE TESTE DE ACUIDADE VISUAL ESCALA OPTOMÉTRICA DE SNELLEN LIONS CLUBE: LOCAL: DATA: HORÁRIO: Resultado. Nº Nome Legível Telefone

Diabetes na gravidez

PROGRAMA DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Sinais da. Boa Nutrição. Alice Silveira Granado. CRN 3 : Nutricionista

Intervenção nutricional em indivíduos com sobrepeso e obesidade

Principais sintomas: - Poliúria (urinar muitas vezes ao dia e em grandes quantidades); - Polidipsia (sede exagerada); - Polifagia (comer muito);

ENFERMAGEM SAÚDE DA MULHER. Assistência de Enfermagem ao Pré-Natal Parte 7. Profª. Lívia Bahia

Professores: Roberto Calmon e Thiago Fernandes

Obesidade - IMC. IMC em adultos (OMS) O que é o Índice de Massa Corporal?

Resultados Processo de Trabalho Oficina 1

Controle glicêmico no paciente hospitalizado. Profa. Dra. Juliana Nery de Souza- Talarico Depto. ENC Disciplina ENC 240

14 de novembro. O que você sabe sobre o diabetes tipo II?

5) Hiperglicemia hospitalar

CNC-CENTRO DE NEFROLOGIA DE CANINDÉ

SERVIÇO SOCIAL E A MEDICINA PREVENTIVA

ESTUDO DIRIGIDO - DIABETES MELLITUS - I

ESTADO NUTRICIONAL E FREQUÊNCIA ALIMENTAR DE PACIENTES COM DIABETES MELLITUS

c) Aplicar os princípios de pesquisa operacional mediante:

Vigilância e Monitoramento de Doenças Crônicas e Agravos Não Transmissíveis

Semana do Combate ao Colesterol 05 a 10 de abril

Síndrome Metabólica. Wilson Marques da Rosa Filho. (Tratamento pela Acupuntura e Homeopatia)

PROTOCOLO DE NORMATIZAÇÃO DA DISPENSAÇÃO DE FÓRMULAS ESPECIAIS PARA CRIANÇAS COM ALERGIA À PROTEÍNA DO LEITE DE VACA NA REDE SUS-BH

DIETOTERAPIA INFANTIL DOENÇAS CRÔNICAS NA INFÂNCIA OBESIDADE

ENFERMAGEM DOENÇAS CRONICAS NÃO TRANMISSIVEIS. Diabetes Mellitus Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

PALAVRAS-CHAVE Escore de Framingham. Atenção Básica. Cuidado. PET- Saúde.

Metabolismo do colesterol e das lipoproteínas

Contagem de Carboidratos

O que é diabetes? No Brasil, a ocorrência média de diabetes na população adulta (acima de 18 anos) é de 5,2% e de 11% para pessoas acima de 40 anos.

SABES O QUE É O CÍRCULO AZUL???

RESOLUÇÃO CFM Nº 2.172, DE

Incentivo à Alimentação Saudável. Julho de 2016

VIGITEL BRASIL Hábitos dos brasileiros impactam no crescimento da obesidade e aumenta prevalência de diabetes e hipertensão

Quanto mais cedo for feito o diagnóstico de uma determinada doença, maiores serão as probabilidades de tratar a doença e atrasar a sua evolução

SOBREPESO E OBESIDADE

TRATAMENTO DA HIPERTENSÃO DE DIFÍCIL CONTROLE

ENTENDENDO A Doença Inflamatória Intestinal

Plano de Reorganização da Atenção à Hipertensão Arterial e ao Diabetes Mellitus no Brasil

XXXV Congresso Português de Cardiologia Abril ú ç

PROGRAMA SULGÁS DE QUALIDADE DE VIDA

Diabetes. Hábitos saudáveis para evitar e conviver com ela.

SECRETARIA DE ESTADO DA SAÚDE DO PARANÁ REDE DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL

CONTEÚDO 1º BIMESTRE ENSINO MÉDIO

Diabetes na Escola Guia do professor

FISIOTERAPIA PREVENTIVA

Obesidade. O que pesa na sua saúde.

DIABETES LIVRO DIGITAL

ETHANOL SUMMIT 2017 PAINEL. Açúcar: O Consumo Equilibrado Como Melhor Escolha. São Paulo junho/17

CUIDADOS FARMACÊUTICOS EM DIABETES. Roberto B. Bazotte Universidade Estadual de Maringá

Transcrição:

PREFEITURA DE FOZ DO IGUAÇU SECRETARIA MUNICIPAL DA SAÚDE PROTOCOLO DE ATENÇÃO AO DIABETES NA REDE SUS Versão 20130116 FOZ DO IGUAÇU 2009

AUTORIA / GRUPO DE TRABALHO EM DIABETES ADEMIR FERREIRA DE SOUZA Soc. Civil Nossa Senhora Aparecida ADRIANA A. VALADÃO Enfermeira SMSA / DPAB / ESF ANDRÉA MARIA DANTAS Farmacêutica SMSA ANGELA B. R. DE LIMA Enfermeira UNIOESTE CLARA M. B. MANTOVANI Enfermeira SMSA / Coordenação do Grupo CLAUDIA L. M. ROSTIROLA - Soc. Civil Nossa Senhora Aparecida ELIZABETA DAMKE Enfermeira SMSA / ESF ENEIDA BUBA Médica SMSA GILBERTO GARCIA DA ROCHA Fisioterapêuta e SMSA / DPAB JACIARA KRUMMENAUER Enfermeira DPES SMSA MARIA SOLAGE LIRIO - ADIFI MARLI F. DO NASCIMENTO Médica endocrinologista ROSEMARI BULATTI Psicóloga SMSA ROSEMARI K. MARTINEZ Nutricionista SMSA TEREZINHA PINEZI Pedagoga e Presidente da ADIFI COLABORADORES ANA FLÁVIA RIBEIRO DPAB / DVENF. CRÍSALA F. R. PERES Cirurgião Dentista SMSA ELIANE MORAES DE SOUZA Enfermeira da DPAB/ UBS IARA RUTE CORREA - Médica SMSA e Nona Reg. Saúde IEDA B. AGNOLETTO- Farmacêutica SMSA FLÁVIA RASTELLI - Farmacêutica SMSA HELIO A. TEIXEIRA Médico Angiologista SMSA LEANDRO AUGUSTO NEDEL Cirurgião dentista ESF LISETE PALMA DE LIMA Secretária Municipal de Saúde MARCOS PAREJA - DPAB / Odontologia MARTA BOGER Médica Nefrologista SMSA ROBERTA SAVARIS Médica Endocrinologista SMSA ROSA TOPANOTI Enfermeira 9ª Regional de Saúde SANDRA M. DALBERTO Enfermeira da Soc. Civil N. S. Aparecida SANDRA AJAK Médica Endocrinologista SMSA TATIANE G. CABRAL Médica Endocrinologista SMS

INDICE APRESENTAÇÃO 1 INTRODUÇÃO 3 1. CONCEITO DE DIABETES MELLITUS 3 2. EPIDEMIOLOGIA DO DIABETES 3 3. CUIDADO INTEGRAL AO PACIENTE COM DM E SUA FAMÍLIA 4 4. CLASSIFICAÇÃO DO DIABETES 6 4.1 Tipos de diabetes (classificação etiológica) 6 4.1.1 Diabetes tipo 1 6 4.1.2 Diabetes tipo 2 8 4.1.3 Diabetes gestacional 7 5. RASTREAMENTO E PREVENÇÃO DE DIABETES 7 5.1 Rastreamento do diabetes 7 5.2 Prevenção do diabetes 8 6. DIAGNÓSTICO DE DM E DE REGULAÇÃO GLICÊMICA ALTERADA 8 6.1 Principais sintomas 8 6.2 Ex. laboratoriais p/ diagnóstico de DM e regulação glicêmica alterada 8 6.3 Critérios p/ o diagnóstico de DM e de regulação glicêmica alterada 9 7. AVALIAÇÃO INICIAL 10 7.1 Métodos de avaliação 11 7.1.1 Avaliação clínica 11 7.1.2 Avaliação laboratorial 12 7.1.3 Avaliação clínica inicial de complicações 12 8. PLANO TERAPÊUTICO 13 8.1 Diabetes Tipo 1 13 8.2 Hiperglicemia Intermediária 13 8.3 Diabetes Tipo 2 13 9. CONTROLE GLICÊMICO E MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA 15 9.1 Orientação Nutricional no Diabetes tipo I 15 9.2 Mudanças no estilo de vida do Diabetes tipo 2 16 9.2.1 Alimentação 16 9.2.2 Atividade física 19 10. PSICOLOGIA 20 11. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO DO DIABETES 2 22 11.1 Metformina 24 11.2 Sulfoniluréia 24 11.3 Insulina 25 12. PREVENÇÃO E MANEJO DAS COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DM 26 12.1 Descompensação Hiperglicêmica Aguda 26 12.1.1 Prevenção da Cetose e Cetoacidose 26 12.1.2 Prevenção da Síndrome Hiperosmolar Não-Cetótica 28 12.2 Hipoglicemia 29 12.2.1 Controle dos Fatores de Risco 29 12.2.2 Detecção Precoce 30 12.2.3 Tratamento da Hipoglicemia 30 12.2.4 Programa Educativo sobre hipoglicemia 30 13. PREV. E MANEJO DAS COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DM 31 13.1 Doença cardiovascular 31 13.1.1 Controle da hipertensão arterial 32 13.1.2 Controle da dislipidemia 32 13.1.3 Uso de agentes antiplaquetários 33

13.1.4 Controle do tabagismo 33 13.2 Retinopatia diabética 33 13.3 Nefropatia diabética 34 13.4 Neuropatia diabética 35 13.5 Pé diabético 36 14. SAÚDE BUCAL 39 15. VACINAS RECOMENDADAS PARA PORTADORES DE DIABETES 39 16. ATENDIMENTO AO PACIENTE DIABÉTICO NO MUNICÍPIO 39 16.1 Atendimento Primário 40 16.2 Atendimento Secundário 40 16.3 Atendimento Terciário 41 16.4 Encaminhamentos para outros níveis de Atenção 41 16.5 Modalidades em atender os Portadores de DM na Atenção Básica 42 16.5.1 Abordagem conjunta da HAS e DM 42 16.5.2 Cadastramento no Hiperdia 42 16.5.3 Situações possíveis de identificar pctes p/ cadastrar 42 16.5.4 Acompanhamento no Hiperdia 43 16.5.5 Controle pela Coordenação do HIPERDIA 42 16.5.6 Grupos de Diabetes 43 16.6 Cronograma de atendimentos na Atenção Básica e Especializada 43 17. ATRIBUIÇÕES E COMPETÊNCIAS DA EQUIPE DE SAÚDE 44 17.1 Atenção ao DM na ESF e na demais UBS e URF 44 18. PROCEDIMENTO/EDUCAÇÃO EM DIABETES E AUTOCUIDADO 48 18.1 Considerações sobre a PROMOÇÃO DO AUTOCUIDADO 48 18.2 Monitorização da glicemia capilar 49 18.2.1Critérios para Automonitorização da Glicemia Capilar 49 18.2.2 Freqüência da verificação da glicemia capilar 50 18.2.3 Anotação e interpretação dos resultados 51 18.3 Insulinoterapia 51 18.3.1 Ensinando a auto aplicação de insulina 52 18.3.2 Conservação e transporte de insulinas 53 18.3.3 Especificações de seringas e agulhas 54 18.3.4 Técnica de aplicação de insulina 54 18.3.5 Reutilização de seringas descartáveis 56 18.4 Descarte do material perfuro cortante 57 19. INDICADORES E MONITORAMENTO 57 19.1 Indicadores do Hiperdia 57 19.2 Monitoramento 58 20. CONCLUSÃO 58 BIBLIOGRAFIA 59 ANEXOS

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 1 APRESENTAÇÃO O Diabetes Mellitus configura-se hoje como uma epidemia mundial, traduzindo-se e em grande desafio para os sistemas de saúde de todo o mundo. O envelhecimento da população, a urbanização crescente e a adoção de estilos de vida pouco saudáveis como sedentarismo, dieta inadequada e obesidade são os grandes responsáveis pelo aumento da incidência e prevalência do diabetes em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Mundial de Saúde, o número de portadores da doença em todo o mundo era de 177 milhões em 2000, com expectativa de alcançar 350 milhões de pessoas em 2025. No Brasil são cerca de seis milhões de portadores, a números de hoje, e deve alcançar 10 milhões de pessoas em 2010. Um indicador macroeconômico a ser considerado é que o diabetes cresce mais rapidamente em países pobres e em desenvolvimento, e isso impacta de forma muito negativa devido à morbimortalidade precoce que atinge pessoas ainda em plena vida produtiva, onerando a previdência social e contribuindo para a continuidade do ciclo vicioso da pobreza e da exclusão social. As consequências humanas, sociais e econômicas são devastadoras: são 4 milhões de mortes por ano relativas ao diabetes e suas complicações (com muitas ocorrências prematuras), o que representa 9% da mortalidade mundial total. O grande impacto econômico ocorre notadamente nos serviços de saúde, como consequência dos crescentes custos do tratamento da doença e, sobretudo das complicações, como a doença cardiovascular, a diálise por insuficiência renal crônica e as cirurgias para amputações de membros inferiores. O maior custo, entretanto, recai sobre os portadores, suas famílias, seus amigos e comunidade: o impacto na redução de expectativa e qualidade de vida é considerável. A expectativa de vida é reduzida em média em 15 anos para o diabetes tipo 1 e em 5 a 7 anos na do tipo 2; os adultos com diabetes têm risco 2 a 4 vezes maior de doença cardiovascular e acidente vascular cerebral; é a causa mais comum de amputações de membros inferiores não traumáticas, cegueira irreversível e doença renal crônica terminal. Em mulheres, é responsável por maior número de partos prematuros e mortalidade materna. No Brasil, o diabetes junto com a hipertensão arterial, é responsável pela primeira causa de mortalidade e de hospitalizações, de amputações de membros inferiores e representa ainda 62,1% dos diagnósticos primários em pacientes com insuficiência renal crônica submetido à diálise. É importante observar que já existem informações e evidências científicas suficientes para prevenir e/ou retardar o aparecimento do diabetes e de suas complicações e que pessoas e comunidades progressivamente têm acesso a esses cuidados.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 2 Neste contexto, é imperativo que os governos orientem seus sistemas de saúde para lidar com os problemas educativos, de comportamento, nutricionais e de assistência que estão impulsionando a epidemia de diabetes, sobretudo no sentido de reduzir a iniqüidade de acesso a serviços de qualidade. Assim sendo, o Ministério da Saúde implementa diversas estratégias de saúde pública, economicamente eficazes, para prevenir o Diabetes e suas complicações, por meio do cuidado integral a esse agravo de forma resolutiva e com qualidade. Por sua vez a Secretaria Municipal da Saúde de Foz do Iguaçu, cumpre com seu papel e estabelece, na Atenção Básica e Especializada, diretrizes de realização de cuidados à comunidade acometida pela doença. O presente trabalho originou-se de legislação municipal, fruto de uma conquista dos usuários que se organizaram na luta pelos seus direitos. Trata-se da Lei nº 2.661, de 30 de setembro de 2002, que define diretrizes para uma política de prevenção e atenção integral à saúde da pessoa portadora de Diabetes. Este Grupo de Trabalho, como determina a legislação, coordenado por esta Secretaria, teve como participantes representantes da Soc. Civil N. Senhora Aparecida, da UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu, da Associação dos Diabéticos de Foz do Iguaçu - ADIFI, e profissionais de saúde ligados à questão. Tendo como suporte o Caderno de Atenção Básica nº 16 do MS, o grupo teve como responsabilidade elaborar o protocolo municipal, que é dirigido a todos os profissionais de saúde da Atenção Básica e Especializada, sobretudo aos das equipes da Estratégia de Saúde da Família, como também às demais Unidades Básicas de Saúde, da Atenção Básica de Foz do Iguaçu. Agradecemos o empenho de cada um e contamos com a mesma dedicação no acompanhamento desta norma para atualização sempre que for necessária. Secretaria Municipal da Saúde

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 3 INTRODUÇÃO Este documento foi elaborado com a finalidade de subsidiar tecnicamente os multiprofissionais da rede de Atenção à Saúde do portador de Diabetes mellitus - DM, em todos os seus níveis de Atenção Básica e Especializada, abordando suas características mais relevantes, orientando as ações para as equipes de saúde e otimizando os recursos dentro de critérios científicos. Detectar, estabelecer diagnóstico, identificar lesões em órgãos-alvo e/ou complicações crônicas e efetuar tratamento adequado para o DM caracterizam-se como um verdadeiro desafio para o Sistema Único de Saúde e as sociedades de portadores, pois são situações que necessitam de intervenção imediata devido ao grau de incapacidade que provocam. Diante do exposto, faz-se necessário somar esforços de todos os envolvidos com essa grave situação de saúde pública, buscando a reorganização das ações de todos os níveis de atenção, tendo como estratégias principais a prevenção dessa doença e suas complicações bem como a promoção da saúde, proporcionando uma melhor qualidade de vida. Dados estatísticos do DM são fundamentais para elaboração do protocolo voltados para prevenção, diagnóstico, orientação e tratamento dos pacientes. De forma resolutiva e com qualidade, o protocolo que é dirigido aos profissionais de saúde poderá, com ações comunitárias e individuais, informar a comunidade sobre como prevenir a doença, identificar grupos de risco, fazer o diagnóstico precoce e a abordagem terapêutica inclusive a medicamentosa, manter o cuidado continuado, educar e preparar portadores e famílias a terem autonomia no autocuidado, monitorar o controle, prevenir complicações e gerenciar o cuidado nos diferentes níveis de complexidade, buscando a melhoria de qualidade de vida desta população. 1. CONCEITO DE DIABETES MELLITUS O diabetes é uma doença metabólica caracterizada por hiperglicemia e associada a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro, coração e vasos sangüíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos patogênicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros. 2. EPIDEMIOLOGIA DO DIABETES O diabetes é comum e de incidência crescente. Estima-se que, em 1995, atingia 4,0% da população adulta mundial e que, em 2025, alcançará a cifra de 5,4%. A maior parte desse aumento se dará em países em desenvolvimento, acentuando-se, nesses países, o padrão atual de concentração de casos na faixa etária de 45-64 anos. No Brasil, no final da década de 1980, estimou-se que o diabetes ocorria em cerca de 8% da população, de 30 a 69 anos de idade, residente em áreas metropolitanas brasileiras. Essa prevalência variava de 3% a 17% entre as faixas de 30-39 e de 60-69 anos respectivamente. A prevalência da

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 4 tolerância à glicose diminuída era igualmente de 8%, variando de 6 a 11% entre as mesmas faixas etárias. Hoje, estima-se 11% da população igual ou superior a 40 anos, o que representa cerca de 5 milhões e meio de portadores (população estimada IBGE 2005). Em Foz do Iguaçu, de acordo com o Programa HIPERDIA, o total de diabéticos estimado é de 6.596 pessoas. Até o primeiro trimestre de 2009, o programa já cadastrou e vem acompanhando seu tratamento a 3.482 pessoas portadoras do Diabetes. No entanto, a Assistência Farmacêutica dispensa medicamentos e insumos específicos para diabéticos a 6.258 pessoas. O diabetes apresenta alta morbimortalidade, com perda importante na qualidade de vida. É uma das principais causas de insuficiência renal, amputação de membros inferiores, cegueira e doença cardiovascular. A Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou em 1997 que, após 15 anos de doença, 2% dos indivíduos acometidos estarão cegos e 10% terão deficiência visual grave. Além disso, estimou que, no mesmo período de doença, 30 a 45% terão algum grau de retinopatia, 10 a 20%, de nefropatia, 20 a 35%, de neuropatia e 10 a 25% terão desenvolvido doença cardiovascular. Mundialmente, os custos diretos para o atendimento ao diabetes variam de 2,5% a 15% dos gastos nacionais em saúde, dependendo da prevalência local de diabetes e da complexidade do tratamento disponível. Além dos custos financeiros, o diabetes acarreta também outros custos associados à dor, ansiedade, inconveniência e menor qualidade de vida que afeta doentes e suas famílias. O diabetes representa também carga adicional à sociedade, em decorrência da perda de produtividade no trabalho, aposentadoria precoce e mortalidade prematura. 3. CUIDADO INTEGRAL AO PACIENTE COM DIABETES E SUA FAMÍLIA Considerando a elevada carga de morbi-mortalidade associada, a prevenção do diabetes e de suas complicações é hoje prioridade de saúde pública. Na atenção básica, ela pode ser efetuada por meio da prevenção de fatores de risco para diabetes como sedentarismo, obesidade e hábitos alimentares não saudáveis; da identificação e tratamento de indivíduos de alto risco para diabetes (prevenção primária); da identificação de casos não diagnosticados de diabetes (prevenção secundária) para tratamento; e intensificação do controle de pacientes já diagnosticados visando prevenir complicações agudas e crônicas (prevenção terciária). O cuidado integral ao paciente com diabetes e sua família é um desafio para a equipe de saúde, especialmente para poder ajudar o paciente a mudar seu modo de viver, o que estará diretamente ligado à vida de seus familiares e amigos. Aos poucos, ele deverá aprender a gerenciar sua vida com diabetes em um processo que vise qualidade de vida e autonomia. Este trabalho apresenta recomendações específicas no cuidado integral do paciente com diabetes para os vários profissionais da equipe de saúde. Esta deve manter papel de coordenador do cuidado dentro do sistema, assegurando o vínculo paciente-equipe de saúde bem como a implementação de atividades de educação em saúde que reforcem a adesão do paciente e a efetividade do Programa. Além disso, deve procurar reforçar ações governamentais e comunitárias que incentivem a estilos de vida saudáveis. A seguir, encontram-se algumas ações e condutas que

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 5 devem fazer parte do trabalho de toda a equipe a fim de garantir o fortalecimento do vínculo, a garantia da efetividade do cuidado, a adesão aos protocolos e a autonomia do paciente: Oferecer cuidado a todos os pacientes, com sensibilidade para aspectos culturais e desejos pessoais, na visão de cuidado integral centrado na pessoa. Encorajar relação paciente-equipe colaborativa, com participação ativa do paciente na consulta; criar oportunidades para que o paciente expresse suas dúvidas e preocupações; respeitar o papel central que o paciente tem no seu próprio cuidado, reconhecendo os aspectos familiares, econômicos, sociais e culturais que podem prejudicar ou facilitar o cuidado. Assegurar-se de que conteúdos-chave para seu autocuidado tenham sido abordados. Avaliar periodicamente o estado psicológico dos pacientes e sua sensação de bem-estar, levando em consideração a carga de portar uma doença crônica, respeitando as crenças e atitudes dos pacientes. Explicitar os objetivos e abordar as implicações de um tratamento longo e continuado. Negociar com o paciente um plano individualizado de cuidado, revisando-o periodicamente e mudando-o de acordo com as circunstâncias, condições de saúde e desejos do paciente; Discutir e explicar o plano de cuidado do paciente com os seus familiares, com a concordância prévia do paciente. Incentivar e promover atividades multidisciplinares de educação em saúde para pacientes e seus familiares, em grupos ou individualmente, levando em consideração aspectos culturais e psicossociais, com ênfase no empoderamento e na autonomia do paciente para seu autocuidado. Lembrar que educar não é só informar. Estimular que os pacientes se organizem em grupos de ajuda mútua, como, por exemplo, grupos de caminhadas, trocas de receitas, técnicas de autocuidado, entre outros. Envolver os pacientes nas discussões sobre planejamento de ações dirigidas ao diabetes na unidade, aumentando a autonomia e o poder dos pacientes sobre suas próprias condições. Não esquecer que o especialista em diabetes para cada paciente é o próprio paciente. Promover a educação profissional permanente sobre diabetes na equipe de saúde a fim de estimular e qualificar o cuidado. Definir dentro da equipe de saúde formas de assegurar a continuidade do cuidado e orientar os pacientes sobre a forma de prestação desse cuidado continuado. Agendar as revisões necessárias e fazer a busca ativa dos faltosos. Providenciar, se possível, contato telefônico ou visitas domiciliares por membros da equipe entre as consultas agendadas. Possibilitar pronto acesso ao serviço no caso de intercorrências. Cadastrar todos os pacientes a fim de favorecer ações de vigilância e busca de faltosos. Usar os dados dos cadastros e das consultas de revisão dos pacientes para avaliar a qualidade do cuidado prestado em sua unidade e para planejar ou reformular as ações em saúde (p.ex., proporção de pacientes diabéticos que realizam hemoglobina glicada (A1C) pelo menos 2 vezes/ano. Promover o acompanhamento do paciente na Unidade de Saúde da Atenção Básica a qual ele pertence, quando em tratamento com o Especialista.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 6 4. CLASSIFICAÇÃO DO DIABETES Há duas formas atuais para classificar o diabetes, a classificação em tipos de diabetes (etiológica), definidos de acordo com defeitos ou processos específicos, e a classificação em estágios de desenvolvimento, incluindo estágios pré-clínicos e clínicos, este último incluindo estágios avançados em que a insulina é necessária para controle ou sobrevivência. 4.1 Tipos de diabetes (classificação etiológica) Os tipos de diabetes mais freqüentes são o diabetes tipo 1, anteriormente conhecido como diabetes juvenil, que compreende cerca de 10% do total de casos, e o diabetes tipo 2, anteriormente conhecido como diabetes do adulto, que compreende cerca de 90% do total de casos. Outro tipo de diabetes encontrado com maior freqüência e cuja etiologia ainda não está esclarecida é o diabetes gestacional, que, em geral, é um estágio pré-clínico de diabetes, detectado no rastreamento prénatal. Outros tipos específicos de diabetes menos freqüentes podem resultar de defeitos genéticos da função das células beta, defeitos genéticos da ação da insulina, doenças do pâncreas exócrino, endocrinopatias, efeito colateral de medicamentos, infecções e outras síndromes genéticas associadas ao diabetes. 4.1.1 Diabetes tipo 1 O termo tipo 1 indica destruição da célula beta que eventualmente leva ao estágio de deficiência absoluta de insulina, quando a administração de insulina é necessária para prevenir cetoacidose, coma e morte. A destruição das células beta é geralmente causada por processo autoimune, que pode se detectado por auto-anticorpos circulantes como anti-descarboxilase do ácido glutâmico (anti-gad), anti-ilhotas e anti-insulina, e, algumas vezes, está associado a outras doenças autoimunes como a tireoidite de Hashimoto, a doença de Addison e a miastenia gravis. Em menor proporção, a causa da destruição das células beta é desconhecida (tipo 1 idiopático). O desenvolvimento do diabetes tipo 1 pode ocorrer de forma rapidamente progressiva, principalmente, em crianças e adolescentes ( pico de incidência entre 10 e 14 anos), ou de forma lentamente progressiva, geralmente em adultos, (LADA, latent autoimmune diabetes in adults; doença autoimune latente em adultos). Esse último tipo de diabetes, embora se assemelhando clinicamente ao diabetes tipo 1 autoimune, muitas vezes é erroneamente classificado como tipo 2 pelo seu aparecimento tardio. Estima-se que 5-10% dos pacientes inicialmente considerados como tendo diabetes tipo 2 podem, de fato, ter LADA. 4.1.2 Diabetes tipo 2 O termo tipo 2 é usado para designar uma deficiência relativa de insulina. A administração de insulina nesses casos, quando efetuada, não visa evitar cetoacidose, mas alcançar controle do quadro hiperglicêmico. A cetoacidose é rara e, quando presente, é acompanhada de infecção ou estresse muito grave. A maioria dos casos apresenta excesso de peso ou deposição central de gordura. Em geral, mostram evidências de resistência à ação da insulina e o defeito na secreção de

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 7 insulina manifesta-se pela incapacidade de compensar essa resistência. Em alguns indivíduos, no entanto, a ação da insulina é normal, e o defeito secretor mais intenso. 4.1.3 Diabetes gestacional É a hiperglicemia diagnosticada na gravidez, de intensidade variada, geralmente se resolvendo no período pós-parto, mas retornando anos depois em grande parte dos casos. Seu diagnóstico é controverso. A OMS recomenda detectá-lo com os mesmos procedimentos diagnósticos empregados fora da gravidez, considerando como diabetes gestacional valores referidos fora da gravidez como indicativos de diabetes ou de tolerância à glicose diminuída. Cerca de 80% dos casos de diabetes tipo 2 podem ser atendidos predominantemente na atenção básica, enquanto que os casos de diabetes tipo 1 requerem maior colaboração com especialistas em função da complexidade de seu acompanhamento. Em ambos os casos, a coordenação do cuidado dentro e fora do sistema de saúde é responsabilidade da equipe de atenção básica. 5. RASTREAMENTO E PREVENÇÃO DE DIABETES 5.1 Rastreamento do diabetes Cerca de 50% da população com diabetes não sabe que são portadores da doença, algumas vezes permanecendo não diagnosticados até que se manifestem sinais de complicações. Por isso, testes de rastreamento são indicados em indivíduos assintomáticos que apresentem maior risco da doença, apesar de não haver ensaios clínicos que documentem o benefício resultante e a relação custo-efetividade ser questionável. Fatores indicativos de maior risco ao diabetes tipo 2 são listados no quadro a seguir.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 8 Fatores de risco para diabetes tipo 2 Idade >45 anos. Sobrepeso (Índice de Massa Corporal IMC >25). Obesidade central (cintura abdominal >102 cm para homens e >88 cm para mulheres, medida na altura das cristas ilíacas). Antecedente familiar (mãe ou pai) de diabetes. Hipertensão arterial (> 140/90 mmhg). Colesterol HDL < 35 mg/dl e/ou triglicerídeos e > 150 mg/dl. História de macrossomia ou diabetes gestacional. Diagnóstico prévio de síndrome de ovários policísticos. Doença cardiovascular, cerebrovascular ou vascular periférica definida. Indivíduos de alto risco requerem investigação diagnóstica laboratorial com glicemia de jejum e/ou teste de tolerância à glicose. Alguns casos serão confirmados como portadores de diabetes, outros apresentarão alteração na regulação glicêmica (tolerância à glicose diminuída ou glicemia de jejum alterada), o que confere maior risco de desenvolver diabetes. Casos em que a investigação laboratorial for normal deverão ser investigados a cada 3-7 anos, dependendo do grau de suspeita clínica. 5.2 Prevenção do Diabetes Está bem demonstrado hoje que indivíduos em alto risco (com tolerância à glicose diminuída) podem prevenir, ou ao menos retardar, o aparecimento do DM2 Por exemplo, mudanças de estilo de vida reduziram 58% da incidência de diabetes em 3 anos. Essas mudanças visavam discreta redução de peso (5-10% do peso), manutenção do peso perdido, aumento da ingestão de fibras, restrição energética moderada, restrição de gorduras, especialmente as saturadas, e aumento de atividade física regular. 6. DIAGNÓSTICO DE DIABETES E DE REGULAÇÃO GLICÊMICA ALTERADA 6.1 Principais sintomas Os sintomas clássicos do diabetes são: poliúria, polidipsia, polifagia e perda involuntária de peso (os 4 Ps ). Outros sintomas que levantam a suspeita clínica são: fadiga, fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar, balanopostite e infecções de repetição. Algumas vezes o diagnóstico é feito a partir de complicações crônicas como neuropatia, retinopatia ou doença cardiovascular aterosclerótica. Entretanto, o diabetes é assintomático em proporção significativa dos casos, a suspeita clínica ocorrendo então a partir de fatores de risco para o diabetes. 6.2 Exames laboratoriais para o diagnóstico de diabetes e de regulação glicêmica alterada. Os testes laboratoriais mais comumente utilizados para suspeita de diabetes ou regulação glicêmica alterada são:

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 9 Glicemia de jejum: nível de glicose sangüínea após um jejum de 8 a 12 horas; Teste oral de tolerância à glicose (TTG-75g): O paciente recebe uma carga de 75 g de glicose, em jejum, e a glicemia é medida antes e 120 minutos após a ingestão; Glicemia casual: tomada sem padronização do tempo desde a última refeição. Pessoas cuja glicemia de jejum situa-se entre 100 e 125 mg/dl (glicemia de jejum alterada), por apresentarem alta probabilidade de ter diabetes, podem requerer avaliação por TTG-75g em 2h. Mesmo quando a glicemia de jejum for normal (< 100 mg/dl), pacientes com alto risco para diabetes ou doença cardiovascular podem merecer avaliação por TTG. 6.3 Critérios para o diagnóstico de diabetes e de regulação glicêmica alterada. Os critérios clínicos e laboratoriais para o diagnóstico de diabetes são resumidos no Quadro 1. A interpretação dos resultados dos exames diagnósticos para o diabetes e para a regulação glicêmica alterada é apresentada no Quadro 2, conforme a seguir: Quadro 1. Critérios laboratoriais para o diagnóstico de diabetes. CRITÉRIOS LABORATORIAIS PARA O DIAGNÓSTICO DE DIABETES Sintomas de diabetes + Glicemia casual (realizada a qualquer hora do dia, independente do horário das refeições = OU = Glicemia de jejum (poliúria, polidipsia, polifagia ou perda de peso inexplicada) > 200 mg/dl 126 mg/dl* =OU= Glicemia de 2 horas no teste de tolerância à glicose*. * Devem ser confirmados com nova glicemia 200 mg/dl Quadro 2. Interpretação dos resultados da glicemia de jejum e do teste de tolerância à glicose. Classificação Glicemia em jejum (mg/dl) Glicemia 2h após TTG-75g (mg/dl) Normal 100 <140 Glicemia de jejum alterada 101 a 125 <140 Tolerância à glicose diminuída <126 140 a 199 Diabetes mellitus 126 200 Quando os níveis glicêmicos de um indivíduo estão acima dos parâmetros considerados normais, mas não estão suficientemente elevados para caracterizar um diagnóstico de diabetes, são classificados como portadores de hiperglicemia intermediária. Indivíduos com hiperglicemia

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 10 intermediária apresentam alto risco para o desenvolvimento do diabetes. São também fatores de risco para doenças cardiovasculares, fazendo parte da assim chamada síndrome metabólica, um conjunto de fatores de risco para diabetes e doença cardiovascular. O exame de hemoglobina glicosilada e o teste de verificação da glicemia capilar com tiras reagentes, não são adequados para o diagnóstico do Diabetes. 7. AVALIAÇÃO INICIAL Feito o diagnóstico de diabetes, antes de tudo é importante determinar se existe um problema associado que requeira tratamento imediato ou investigação mais detalhada (p.ex., infecção). A hemoglobina glicosilada, também conhecida como glicohemoglobina e pelas siglas A1C e HbA1C, é um teste muito importante para avaliar o controle glicêmico de médio prazo. Como a glicose circulante liga-se a algumas proteínas do organismo, numa média que é diretamente proporcional aos níveis de glicemia ( glicação ); quanto maiores forem os níveis de glicose circulante, maior será o percentual de ligação dessa glicose com a hemoglobina. O resultado do teste é expresso em porcentagem, indicando o percentual de hemoglobina que se encontra ligada à glicose. No entanto, como ele reflete os níveis médios de glicemia ocorridos nos últimos 2 a 3 meses, está havendo um esforço internacional para que os valores sejam expressos em termos de glicemia média, o que poderá ocorrer de forma padronizada nos próximos 2 a 3 anos. Na consulta inicial é necessário classificar o tipo de diabetes, o que é feito via de regra, pela história clínica. Para classificar o diabetes tipo 1, o traço clínico mais relevante é a tendência à hiperglicemia grave e cetoacidose. Casos suspeitos devem ser monitorados de perto ou encaminhados prontamente ao especialista. Em geral, o início é abrupto, acometendo, principalmente, crianças e adolescentes sem excesso de peso. Pode evoluir rapidamente para hiperglicemia grave ou cetoacidose na presença de infecção ou outra forma de estresse. Muitas vezes pacientes com diabetes tipo 1 em fase inicial apresentam um período de estabilidade metabólica transitória, referida como lua de mel. Alguns pacientes jovens apresentam um quadro metabólico mais brando que a maioria dos casos de diabetes tipo 1, não requerendo em geral insulina, e com forte história familiar em várias gerações; nesses casos, suspeita-se de um tipo de diabetes chamado Maturity Onset Diabetes of the Young (MODY). Por serem mais estáveis, são em geral manejados como diabetes tipo 2. Para classificar o diabetes tipo 2, um dos traços mais marcantes é a ocorrência em adulto com longa história de excesso de peso. No entanto, como a epidemia de obesidade está atingindo crianças, é possível observar casos em jovens, até mesmo em crianças e adolescentes. O início é em geral insidioso e os sintomas clássicos mais brandos. Pode evoluir por muitos anos antes de requerer insulina para controle. Quando a necessidade de insulina em paciente adulto for mais precoce, especialmente com perda de peso, suspeita-se de Latent Autoimmune Diabetes in Adults (LADA). O manejo desses casos é semelhante ao do diabetes tipo 1. Para avaliar a presença de complicações crônicas e o risco de desenvolver doença cardiovascular, o Quadro 5 lista os procedimentos adotados nas avaliações iniciais e que serão

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 11 repetidos periodicamente, em geral, anualmente, como abordado na próxima seção. Grande parte dos pacientes com diabetes apresenta alto risco cardiovascular (risco de doença coronariana é 20% em 10 anos), mas, outros, podem apresentar riscos menores. Para avaliar o grau de risco, empregam-se regras de predição clínica baseadas na presença de fatores de risco, de forma semelhante à estratificação feita para pacientes sem diabetes. Quando possível, deve-se utilizar a equação preditiva conhecida como UKPDS Risk Engine, que analisa não apenas os fatores tradicionais (idade, sexo, tabagismo, pressão sistólica e lipídeos), mas também o valor da hemoglobina glicada e a presença de fibrilação atrial. Essa ferramenta está disponível pela Internet, devendo ser baixada para um microcomputador ou computador de mão no seguinte endereço: (http://www.dir2004.saude.gov.br/dab/cnhd/escore_framingham) 7.1 Métodos de avaliação 7.1.1 Avaliação clínica Avaliação clínica inicial de pacientes com diabetes História Resultados de exames relacionados ao diagnóstico de diabetes ou do controle metabólico Sintomas de diabetes (apresentação inicial, evolução, estado atual). Freqüência, gravidade e causa de cetose e cetoacidose. História ponderal, padrões alimentares, estado nutricional atual; em criança e adolescente, crescimento e desenvolvimento. Tratamentos prévios, incluindo dieta e auto-medicação, e tratamento atual. História familiar de diabetes (pais, irmãos). Infecções prévias e atuais; atenção especial à pele, pés, dentes e trato urinário. Uso de medicamentos que alteram a glicemia. História de atividade física. Fatores de risco para aterosclerose. Estilo de vida e outros aspectos que podem afetar o manejo do diabetes. História obstétrica. Presença de complicações crônicas do diabetes. Exame físico Peso, altura e cintura. Maturação sexual (diabetes tipo 1). Pressão arterial. Fundo de olho (diabetes tipo 2). Tireóide. Coração. Pulsos periféricos. Pés (tipo 2). Pele (acantose nigricans)

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 12 7.1.2 Avaliação laboratorial Quadro 3: Avaliação laboratorial de pacientes com diabetes recém-diagnosticado. Glicemia de Jejum Hemoglobina glicada (A1C) Colesterol total, HDL-C e avaliar risco de Framingham Triglicerídeos Creatinina Sérica (em adultos) Exame de urina (infecção urinária, proteinúria, corpos cetônicos e sedimentos) Microalbuminúria TSH (em diabetes tipo 1) ECG (em adultos) 7.1.3 Avaliação clínica inicial de complicações Quadro 4 : Avaliação clínica inicial de complicações do diabetes tipo 2 Alvo Método de avaliação Classificação de risco cardiovascular c/ Anamnese (idade, sexo, fumo) escore de Framingham ou UKPDS Risk Engine, quando possível. Pressão arterial. ECG Hemoglobina glicosilada. Colesterol total, HDL_C e triglicerídeos Detecção de complicações crônicas: Pulsos periféricos Neuropatia / Pé diabético Exames dos pés ( monofilamento, diapasão) Retinopatia Mapeamento de retina (por oftalmologista) Nefropatia Microalbuminúria Quadro 5 : Valores de excreção urinária de albumina RASTREAMENTO CONFIRMAÇÃO CATEGORIAS Amostra de urina Urina de 12h diurna ou Urina 24h ( mg/24h) Casual noturna ( mg/min) Normal <17* <20 <30 Nefropatia incipiente Microalbuminúria 17 a 174 20-199 30-299 Nefropatia clínica Macroalbuminúria Proteinúria _ >174 >430 200 >/ 500 300 * Equivalente a razão urinária albumina/ creatinina de 30mg/g

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 13 8. PLANO TERAPÊUTICO 8.1 Diabetes Tipo 1 - DM1 Pela maior complexidade do cuidado, esses pacientes são em geral acompanhados por especialista endocrinologista. O encaminhamento deve ser imediato, com o cuidado de evitar demora no atendimento, pois, eles apresentam risco elevado de descompensação metabólica. O tratamento é com Insulinas, Regular e NPH. No entanto, há indicação e possibilidade em oferecer a esses pacientes os análogos de insulina, dispensada pela Farmácia da Regional de Saúde, desde que atenda ao aos requisitos estabelecidos no Protocolo - SESA (Anexo D- Dispensação de análogos de insulina pela CEMEPAR) Esses pacientes devem estar vinculados ao atendimento do Médico Endocrinologista da rede SUS, o qual deve estar credenciado para a prescrição dos análogos, obedecer rigorosamente os critérios de inclusão ao que se encaixa o paciente. Sendo que devem ser acompanhados pela equipe multiprofissional da Atenção Básica, principalmente pelo médico e enfermagem. 8.2 Hiperglicemia Intermediária Pacientes classificados como portadores de Hiperglicemia Intermediária devem ser informados sobre seu maior risco para o desenvolvimento de diabetes e doença aterosclerótica bem como serem orientados sobre hábitos saudáveis para sua prevenção. Programas de intensificação de mudanças de estilo de vida devem ser oportunizados, especialmente, àqueles mais motivados ou com maior risco. Pacientes com glicemia de jejum alterada por apresentarem maior risco de desenvolver diabetes, devem receber também orientação preventiva. 8.3 Diabetes Tipo 2 - DM2 A Figura 1 a seguir, ilustra os dois planos básicos do tratamento clínico do DM2: o controle glicêmico com a prevenção das complicações agudas, e a prevenção das complicações crônicas. As metas para as intervenções preventivas principais e a periodicidade de seu monitoramento são apresentadas no Quadro 6. Além disso, deve ser ressaltado que a avaliação da presença de complicações crônicas feita na avaliação inicial, deve ser repetida periodicamente.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 14 Figura 1. Plano terapêutico do diabetes tipo 2 Plano terapêutico para o DM 2 Controle glicêmico Mudança do estilo de vida Farmacoterapia Prevenção das complicações crônicas Intervenções preventivas metabólicas e cardiovasculares Detecção e tratamento das complicações crônicas Quadro 6. Metas de controle glicêmico, metabólico e cardiovascular, e a periodicidade do monitoramento. PARÂMETRO META PERIODICIDADE Plano alimentar Alimentação saudável Verificar e orientar a cada consulta 18,5<IMC < 25kg/m2 ou perda de peso Atividade física > 30 min/d ou > 1h/dia Verificar e orientar a cada consulta (perda/manutenção de peso) Fumo Não fumar Verificar e orientar a cada consulta Hemoglobina glicada A cada 3 meses até alcançar controle; (A1C) <7% depois, a cada 6 meses Glicemia de jejum 90-130 mg/dl Mensal Col <100 mg/dl Anual esterol LDL Colesterol HDL >40 mg/dl Anual Triglicerídeos <150 mg/dl Anual Pressão arterial <130/80 mmhg A cada consulta Vacinação(*) Influenza Vacinação anual (*)Vacina pneumocócica: Uma vez, depois reforço após 65 anos.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 15 9. CONTROLE GLICÊMICO E MUDANÇA DE ESTILO DE VIDA Para realizar um bom controle glicêmico dos pacientes diabéticos, o tratamento é representado por um tripé que inclui: a alimentação, a atividade física e a medicação. Portanto não basta apenas a terapêutica medicamentosa, mas também o incentivo a mudança de estilo de vida adotando prática de hábitos saudáveis de vida. 9.1 Orientação nutricional do Diabetes DM1 A alimentação no Diabetes Tipo 1 dever ser adequada para garantir crescimento e desenvolvimento adequado. A palavra dieta, que traz consigo um sentido de proibição deve ser abolida. O plano alimentar implica que se evitem açúcares refinados, de absorção rápida, e se institua uma alimentação equilibrada do ponto de vista de conteúdo de hidratos de carbono (50 a 60 %), proteínas (15 %) e gorduras (30 %), o que propicia uma alimentação de alta qualidade. Recomendações importantes: _ A regularidade das refeições é muito importante, sendo que o paciente deve ser orientado a tentar manter os mesmos horários e quantidades equivalentes em cada refeição. _ Fracionar a alimentação, distribuída em três refeições básicas e três refeições intermediárias complementares, incluindo a refeição noturna (composta preferencialmente por leite e carboidratos complexos) _ Em alguns casos, principalmente quando é difícil o controle das glicemias, pode-se orientar a Contagem de Carboidratos, sendo que esta oferece um resultado bastante objetivo e facilita o cálculo da dose de insulina a ser administrado antecedendo cada refeição. Em geral, para cada 10 a 20gde carboidratos, administramos 1U de insulina. _ Evitar o uso de AÇÚCAR refinado, cristal ou mascavo, mel, melado rapadura e demais produtos como bolos, sobremesas, chocolates, balas, sorvetes, refrigerantes e sucos que sejam feitos com açúcar. _ Usar o adoçante dietético. _ Na medida do possível, diminuir a quantidade de alimentos que contém amido como farinha refinada usada para fazer pães, biscoitos, bolos, pizzas, massas, etc., arroz branco e algumas raízes, como batata, mandioca. _Dar preferência a alimentos feitos com cereais integrais, aveia e centeio (como os pães e massas). Estes alimentos, assim como as verduras, legumes e frutas contem fibras que, além de melhorar o funcionamento intestinal, melhoram o controle da glicemia. _ Consumir diariamente frutas e sucos ricos em vitamina C, como acerola, caju, kiwi, laranja, mexerica e morango; _ Usar uma combinação variada de legumes e verduras de diversas cores: alaranjada, amarela, verde e vermelha; _ Consumir diariamente leite ou iogurte como fonte de cálcio.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 16 OBS: Em caso de hipoglicemia, o paciente deve ingerir de 10 a 20g de carboidrato de absorção rápida e repetir em 10 a 15 minutos, se necessário. 9.2 Mudanças no estilo de vida do DM2 As causas modificáveis do DM2 são: alimentação inadequada em qualidade e quantidade, como também a inatividade física. Portanto, não é de surpreender que mudanças positivas no estilo de vida, quando realizadas, sejam tão efetivas na prevenção e controle do DM2. A seguir são descritos os aspectos principais das orientações a serem dadas aos pacientes sobre alimentação e atividade física. 9.2.1 Alimentação Cerca de 80% dos pacientes recém-diagnosticados são obesos. Para esses, medidas para o controle de peso são de suma importância. A perda de peso é recomendada para todos os pacientes com sobrepeso ou obesidade. A abordagem primária para alcançar a perda de peso é mudanças de estilo de vida, incluindo não apenas a redução da ingestão calórica, mas, também, o aumento da atividade física. É importante salientar que perdas modestas de peso da ordem de 5% a 10% trazem benefícios metabólicos significativos. A dieta deverá apresentar redução de 500kcal a 1.000kcal do valor energético diário previsto, que permitem perdas ponderais de 0,5kg a 1kg por semana. Para a maioria dos pacientes, a perda de peso pode ser alcançada com uma dieta com 1.000-1200 kcal/dia (mulheres) e 1.200-1.600kcal/dia (homens). Pacientes que não conseguem emagrecer podem estar precisando de maior suporte emocional ou orientação nutricional mais individualizada para vencer o desafio da mudança de estilo de vida. A terapia nutricional é parte fundamental do plano terapêutico do diabetes, podendo reduzir a hemoglobina glicada entre 1-2%. Baseia-se nos mesmos princípios básicos de uma alimentação saudável As causas modificáveis do DM2 são alimentação inadequada, em qualidade e quantidade, e também a inatividade física. Portanto, não é de surpreender que mudanças positivas no estilo de vida, quando realizadas, sejam tão efetivas na prevenção e controle do DM2. A seguir são descritos os aspectos principais das orientações a serem dadas aos pacientes sobre alimentação e atividade física. Atenção em Terapia Nutricional e Educação Nutricional Tem como objetivo geral auxiliar o indivíduo a fazer mudanças em seus hábitos alimentares, através de um plano alimentar adequado, favorecendo um melhor controle metabólico, glicose e lipídeos, manutenção de peso corporal adequado e controle da pressão arterial.

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 17 Tem como objetivos específicos: - Incentivar ações de promoção à saúde, através da mudança do estilo de vida, para alcance e manutenção do peso saudável, como forma de prevenir a Obesidade, Hipertensão Arterial, Dislipidemias e Diabetes melittus. - Aumentar o grau de conhecimento da população sobre hábitos alimentares adequados, benefícios de uma vida ativa e manutenção do peso saudável. -Manter a glicemia em níveis normais, adequando a ingestão de alimentos ao uso da medicação (antidiabéticos orais e/ou insulina) e a prática de atividade física regular - Manter o perfil lipídico desejado - Manter os valores pressóricos normais - Adequar peso - Prover calorias adequadas para manutenção do peso adequado, crescimento e desenvolvimento normal e boa evolução da gravidez e lactação. Tem como diretrizes: - A Educação Nutricional deve ser feita de forma continuada em todas as Unidades de Saúde, como forma de prevenção das doenças crônicas não transmissíveis; - O paciente Diabético deve ter atendimento individualizado e periódico, devendo o tratamento seguir três objetivos básicos: 1)Manutenção de uma nutrição excelente, 2) Evitar os sintomas, 3)Prevenir as complicações. - O plano alimentar deve ser personalizado de acordo com a idade, sexo, estado metabólico, situação biológica, atividade física, doenças intercorrentes, hábitos sócio-culturais, situação econômica e disponibilidade dos alimentos na região. Composição do Plano Alimentar: - O plano alimentar deve ofertar os nutrientes adequados e de forma balanceada, reduzindo os riscos de hipoglicemia e hiperglicemia. - A quantidade energética ingerida deve ser adequada a atividade física devendo ser fracionada em 5 ou 6 refeições/lanches diários: Desjejum/Lanche/Almoço/Merenda /Jantar. - Para os pacientes que utilizam insulina recomenda-se 6 refeições/dia, com a inclusão da Ceia, e em horários regulares, como forma de manter o metabolismo adequado. - O equilíbrio de macro nutrientes em cada refeição é fundamental para se obter melhor resultado na glicemia pós-prandial. Carboidratos: - Os Carboidratos deverão representar 50 a 60 % do Valor Calórico Total (VCT), sendo a maior parte de forma complexa e rica em fibras. Para tanto, os pacientes devem ser estimulados a ingerir cereais integrais, leguminosas, verduras, legumes e frutas; - Alimentos que contem sacarose (açúcar refinado, cristal e mascavo, mel e melado, rapadura) devem ser evitados;

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 18 - A ingestão de álcool, quando consumido, deve ser moderada e de preferência com as refeições. O limite diário é de uma a duas doses, isto é 10 a 20 g álcool/dia. Um copo de vinho (90 ml) contém 1,1 doses, uma lata de cerveja (350 ml) contém 1,7 doses e uma dose de destilados (35 ml) contém 2 doses de álcool; - Pacientes com hipertrigliceridemia, obesos ou com mau controle metabólico não devem ingerir bebidas alcoólicas; - O uso moderado de adoçantes não calóricos, como: sucralose, aspartame, acessulfame, ciclamato, sacarina e stévia, é seguro quando consumidos em quantidades adequadas, e é recomendado alternar os diferentes tipos; - Pacientes hipertensos ou com problemas renais devem ser alertados sobre o conteúdo de sódio dos adoçantes; - Alimentos dietéticos podem ser recomendados, mas é preciso ficar atento sobre seu conteúdo calórico; - Alimentos diet são isentos de sacarose, quando destinados aos indivíduos diabéticos, mas, podem ter valor calórico elevado, por seu teor de gordura e outros componentes; - Alimentos light são de valor calórico reduzido em relação aos alimentos convencionais - Em função dessas características, o uso de alimentos dietéticos, diet ou light, deve ser orientado pelo profissional nutricionista ou médico, que se baseará no conhecimento da composição de produto para incluí-lo no plano alimentar; - Alguns produtos dietéticos industrializados como o chocolate, sorvetes, biscoitos, não contribuem para o controle glicêmico, nem para a perda de peso. Seu uso deve ser desencorajado. Fibras: As fibras são elementos fundamentais na dieta dos diabéticos e dislipidêmicos sendo que tanto as fibras solúveis quanto as insolúveis retardam a hidrólise do amido e a absorção da glicose, gerando redução da glicemia pós-prandial. Portanto, recomenda-se o consumo de duas a quatro porções de frutas, sendo pelo menos uma rica em Vitamina C, de três a cinco porções de legumes e hortaliças cruas e cozidas, incluindo também as leguminosas como feijões, grão de bico, lentilha e ervilha. Recomenda-se ainda, dar preferência sempre que possível, aos cereais e farinhas integrais, incluindo aveia e centeio, que além de melhorar o controle glicêmico, atuam no trânsito intestinal e retardam o esvaziamento gástrico, proporcionando maior saciedade e um efeito positivo no controle dos lipídios séricos. Gorduras - As gorduras devem representar menos de 30% do VCT da dieta, sendo que as gorduras saturadas devem corresponder no máximo 10% do VCT. - Isto significa que devem ser evitados alimentos gordurosos como carnes gordas, vísceras, embutidos como lingüiça, salsicha, mortadela e salame. Da mesma forma, bacon, torresmo, banha de porco, pele de frango, leite integral e seus derivados,

Protocolo de Atenção ao Diabetes na Rede SUS 19 frituras, gordura de coco, molhos e cremes gordurosos, biscoitos amanteigados, croissants, folhados e sorvetes cremosos. - Recomenda-se o uso de gorduras monoinsaturadas como azeite de oliva, óleo de canola e de abacate. Proteínas - As recomendações indicam que a dieta deve conter proteína em torno de 10 a 15% do VCT, sendo que o conteúdo protéico deve ser de 0,8 a 1,0 g/kg/de peso desejado. - Recomenda-se que o consumo de carne vermelha e ovos seja em menor freqüência, devendo o paciente preferir o consumo de carnes brancas com aves e peixe; leite desnatado e queijos brancos e as leguminosas como: feijões, soja, lentilha, grão de bico e ervilha. Pacientes com a função renal comprometida devem ter maior controle na ingestão de alimentos protéicos. 9.2.2 Atividade Física A prática regular de atividade física é indicada a todos os pacientes com diabetes, pois, melhora o controle metabólico, reduz a necessidade de hipoglicemiantes, ajuda a promover o emagrecimento nos pacientes obesos, diminui os riscos de doença cardiovascular e melhora a qualidade de vida. Assim, a promoção da atividade física é considerada prioritária. As orientações de exercícios seguem as recomendações para adultos saudáveis observando, no entanto, algumas especificidades: O exercício deve ser iniciado de forma gradual, como caminhadas por 5 a 10 min em terreno plano, aumentando semanalmente até alcançar 30 a 60 min diários, 5 a 7 dias por semana. Nesse processo, qualquer aumento de atividade física deve ser valorizado como um ganho de saúde e não como uma meta final não alcançada. Os calçados devem ser confortáveis, evitando bolhas e calosidades. A intensidade de atividade física deve ser aumentada progressivamente, tendo como objetivo atingir intensidade moderada (60 e 80% da freqüência cardíaca máxima). Na prática, a mudança progressiva da intensidade pode ser orientada pelo teste da fala da seguinte maneira: a intensidade é leve quando ainda é possível cantar, moderada quando ainda é possível conversar confortavelmente, e intensa quando a pessoa fica ofegante, limitando a conversação. Indivíduos com perda significativa de sensibilidade nos pés devem evitar caminhar em esteiras ou ao ar livre, correr, etc. Nesses casos, os exercícios mais recomendados são natação, ciclismo, remo e exercícios realizados na posição sentada. Casos com retinopatia proliferativa não tratada ou tratada recentemente devem evitar exercícios que aumentam a pressão intra-abdominal e têm efeito semelhante à manobra de Valsalva, que englobam movimentos rápidos da cabeça ou que envolvem risco de traumatismo ocular.