Boletim Econômico Edição nº 20 março de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico



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Transcrição:

Boletim Econômico Edição nº 20 março de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico Previsões econômicas e orçamentárias do Governo Federal num ano de futebol e eleição 1

Aperto monetário à vista Em um esforço para recuperar a credibilidade do país às vésperas da Copa do Mundo de Futebol e das eleições gerais na qual a Presidenta Dilma tentará um novo mandato, o governo anunciou um corte de R$ 44 bilhões no Orçamento deste ano. Prometeu, ainda, entregar um superávit primário (economia para pagar os juros da dívida) de 1,9% do Produto Interno Bruto (PIB), o equivalente a R$ 99 bilhões. Essa meta é teórica e o mercado está com muita cautela. Todos querem ver os resultados mensais para comprovar as intenções do governo em reduzir as despesas públicas. Essa reestruturação orçamentária sinaliza que o governo reconhece que é preciso adotar uma política fiscal mais contracionista para livrar o país do rebaixamento pelas agências internacionais de risco. É preciso entender o seguinte: dos R$ 44 bilhões contingenciados, R$ 13,3 bilhões são de emendas parlamentares, que nunca são liberadas totalmente, R$ 10,2 bilhões são cortes nos ministérios e R$ 7 bilhões são do Programa der Aceleração do Crescimento (PAC). As receitas extraordinárias, previstas em R$ 13,5 bilhões em 2012, podem ajudar o governo a atingir a meta. Entre os ministérios, o maior ajuste recaiu sobre a Defesa. O segundo maior ficou com a Fazenda. 2

Existe um agravante nessa meta. Por ser um ano eleitoral, dificilmente os estados e os municípios darão a contribuição esperada ao esforço fiscal para o pagamento dos juros da dívida. Dos R$ 99 bilhões prometidos, R$ 80,8 bilhões terão de ser poupados pela União e R$ 18 bilhões, pelos demais entes federativos. Quadro 1: Principais cortes orçamentários por área Área R$ Bilhões Emendas parlamentares 13,3 PAC 7,0 Subsídios e subvenções 6,7 Desoneração da Folha 6,0 Benefícios da Previdência 1,4 O governo também divulgou as principais previsões econômicas, consideradas muito otimistas pelos especialistas e pelo mercado como um todo. A realidade é que o governo determinou o corte nas despesas públicas em cima da intenção orçamentária. São números para vencer a desconfiança das agências de risco e organismos internacionais de crédito. Entretanto, o ajuste fiscal pretendido vai ter de enfrentar os interesses políticos eleitoreiros e o crescimento da dívida pública. Quadro 2: Principais previsões para a economia Indicadores Previsões PIB real (descontada a inflação) 2,50% Inflação (IPCA) R$ 5,21 bilhões Dólar médio R$ 2,44 Investimentos públicos R$ 73,8 bilhões Dívida pública bruta 57,1% do PIB Receita tributária R$ 1,3 trilhão 3

A previsão de receita no Orçamento Geral da União para 2014 é de R$ 2,36 trilhões. Com relação à dívida pública, a previsão de pagamento dos seus encargos financeiros (juros e amortizações) é de 42,42% do total da receita orçamentária, conforme distribuição percentual a seguir. 4

Com futebol e eleição, os cortes e as previsões são uma incógnita O ano de 2013 apresentou indicadores ruins. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu pouco, a inflação continua perigosa, os juros aumentaram, os bancos lucraram muito, o país nunca importou tanto produto internacional e o governo não conseguiu manter o ajuste fiscal necessário para manter as contas públicas equilibradas. Além de tudo isso a dívida pública da União, Estados e Municípios continua muito elevada. Passado o Carnaval, o ano de 2014 finalmente se inicia do ponto de vista produtivo. Mas ele não vai muito longe, já que este ano será eminentemente eleitoral e com os holofotes iniciais para a copa do mundo de futebol. Isso significa que a economia brasileira vai dançar conforme a vitória ou não da seleção brasileira na copa e de acordo com as necessidades dos conchavos políticos eleitorais. Os cortes orçamentários e as previsões econômicas poderão ficar totalmente comprometidos e a desconfiança dos atores econômicos deverá se generalizar. O governo terá que fazer ajustes importantes na economia como, por exemplo, controlar a inflação e evitar que as contas externas do país afundem. E para conseguir isso o dólar terá que continuar crescendo e os juros também. 5

O principal trunfo para a economia em 2014 poderá vir dos investimentos em infraestrutura interna e na melhoria da situação econômica internacional, principalmente a recuperação da economia dos Estados Unidos. Entretanto, no cenário projetado pela maioria dos especialistas econômicos todos os setores da economia devem mostrar desaceleração em 2014, com destaque para a redução do consumo das famílias brasileiras. O atual governo, para tentar continuar no poder, deverá investir muito dinheiro em obras públicas e torcendo para que a seleção brasileira ganhe a copa. 6