FINANCIAMENTO NO PNE E OS DESAFIOS DOS MUNICÍPIOS. LUIZ ARAÚJO Doutor em Educação Professor da Universidade de Brasília Diretor da FINEDUCA
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1 FINANCIAMENTO NO PNE E OS DESAFIOS DOS MUNICÍPIOS LUIZ ARAÚJO Doutor em Educação Professor da Universidade de Brasília Diretor da FINEDUCA
2 O QUE ESTÁ EM JOGO? Em todo debate sobre financiamento educacional se esconde a questão da utilização do fundo público, ou seja, que segmentos sociais se apropriarão e em que quantidade do que toda a sociedade contribui com seu suor. A maioria deste fundo público é utilizado para perpetuar o funcionamento do capitalismo e apenas parte é usada para garantir o provimento de serviços básicos para a maioria do povo, sendo que a prioridade sempre tem sido os serviços que viabilizam a reprodução da mão-de-obra e sua inserção no mundo do trabalho. E no decorrer dos tempos, lutamos e conseguimos ampliar direitos, sejam eles nas relações de trabalho ou na educação.
3 DUAS VISÕES EM DISPUTA Durante os debates sobre o conteúdo do novo Plano Nacional de Educação se enfrentaram duas visões sobre o direito à educação. De um lado, a visão universalista, que luta por garantir educação para todos, com patamar de qualidade, com inclusão dos excluídos, direito que deveria ser provido diretamente pelo Poder Público. De outro lado, a visão de focalização dos serviços educacionais em determinadas etapas e modalidades e flexibilização da oferta entre a rede pública e o setor privado, visando diminuir custos no aparato estatal.
4 DUAS VISÕES EM DISPUTA A divergência na área de financiamento, portanto, não era apenas de quanto seria investido em educação na próxima década e de quem seria a responsabilidade, mas era também no formato de aplicação dos recursos públicos. Diferente do plano anterior, o fato de ter sido realizada a CONAE em 2010, deu forças para a sociedade civil organizada (professores, estudantes, gestores) para lutar por ampliação de investimentos e cobertura escolar. E as visões diferentes se materializaram em duas propostas de percentual do PIB a ser aplicado em educação e o que poderia se contabilizado para chegar neste percentual.
5 QUANTO CUSTA UM PLANO? O MEC defendeu que era possível realizar as metas e estratégias, acrescentando mais 2% do PIB em dez anos, ou seja, chegar a 7% do PIB no final da vigência. Para que isso fosse factível, sua proposta de oferta permeava expansão da rede pública, mas um incremento de repasse de recursos públicos para o setor privado, especialmente nas área descobertas (creche, ensino profissional e ensino superior). E não havia investimento previsto paras elevar o padrão atual de atendimento, ou seja, o patamar de qualidade seria o vigente. E deixava claro que o crescimento seria proporcional ao esforço atualmente realizado.
6 Participação dos entes está desequilibrada
7 QUANTO CUSTA O PLANO? A sociedade civil organizada defendia uma ampliação da oferta educacional ancorada na participação do Poder Público e uma elevação do padrão de qualidade atual, dotando as escolas das regiões mais pobres de melhores condições. Assim, feitas as contas, defendiam uma elevação significativa dos investimentos diretos (públicos na escola pública) permitindo chegar ao final da década em 10% do PIB. Havia diferença de custo de cada etapa nas duas visões, mas o principal componente diferenciador era o quanto de público teria na oferta futura e o quanto de investimento seria feito para melhorar as escolas existentes.
8 O QUE FOI APROVADO Toda Lei é fruto dos embates sociais e o PNE não foge desta regra. Em matéria educacional ele é contraditório e incorpora elementos de cada uma das visões descritas anteriormente. E isto está presente na redação da META 20 e no teor do parágrafo 4º do artigo 5º da Lei. Durante os debates parlamentares foi introduzido um debate acerca do formato de contabilização do percentual do PIB: somar apenas o investimento direto (gasto público na escola pública) ou o investimento total (gasto público na escola pública mais as transferências para o setor privado). A redação trouxe as duas visões, mantendo a contradição no texto da própria Lei.
9 TEXTO APROVADO Meta 20: ampliar o investimento público em educação pública de forma a atingir, no mínimo, o patamar de 7% (sete por cento) do Produto Interno Bruto - PIB do País no 5o (quinto) ano de vigência desta Lei e, no mínimo, o equivalente a 10% (dez por cento) do PIB ao final do decênio. 4o O investimento público em educação a que se referem o inciso VI do art. 214 da Constituição Federal e a meta 20 do Anexo desta Lei engloba os recursos aplicados na forma do art. 212 da Constituição Federal e do art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, bem como os recursos aplicados nos programas de expansão da educação profissional e superior, inclusive na forma de incentivo e isenção fiscal, as bolsas de estudos concedidas no Brasil e no exterior, os subsídios concedidos em programas de financiamento estudantil e o financiamento de creches, pré-escolas e de educação especial na forma do art. 213 da Constituição Federal.
10 TEXTO APROVADO A contradição é fruto do embate, mas abre uma brecha para se acelerar o gasto público o setor privado, dinâmica que compromete o sentido de direito à educação previsto na CF. Além disso, há questionamentos se o parágrafo 4º é constitucional, pois extrapola o sentido do artigo A presença do subsidio privado é crescente no Brasil. No atendimento em creche representa 36,3%, no ensino profissional já chegou a 65% e no ensino superior, onde setor privado é majoritário, nada menos que 74% das matrículas são privadas. Os subsídios tem viabilizado a inserção de novos alunos nestas etapas, mas de forma precária e beneficiando mais os empresários do que o cidadão.
11 CRECHE PRE INICIAIS FINAIS MEDIO PROFISSIONAL FHC 1 32,3% 24% 8% 11% 18% FHC 2 37,8% 26% 9% 10% 13% 51% LULA 1 35,7% 26% 10% 10% 12% 55% LULA 2 34,4% 24% 13% 12% 12% 56% DILMA 1 36,3% 25% 17% 15% 14% 65%
12 O NÓ FEDERATIVO Infelizmente não foi possível desatar o nó federativo na redação do novo PNE. A esfera municipal, que dispõe de menos recursos do fundo público, é justamente a que possui as tarefas mais espinhosas no PNE. Exemplo disso é a redação da Meta 1, uma das mais custosas e desafiadoras, totalmente de responsabilidade municipal. Apesar de que o regime de colaboração aparecer várias vezes no texto, não há uma materialização consistente. O que se conseguiu de avanço foi a obrigação de serem constituídas instâncias de pactuação.
13 DE ONDE SAIRÁ O DINHEIRO? Infelizmente o PNE não aceitou inúmeras ideias para alargar a fonte de financiamento de suas metas, registrando apenas uma que já havia sido aprovada durante sua tramitação: 75% dos royalties. Esta fonte, além de não ser suficiente par atingir a meta 20, depende de dois fatores: 1. Julgamento da Ação contra a mudança de critério de repartição dos royalties entre os entes federados (está no STF); e 2. Valor do barril de petróleo. Se o preço baixar muito pode se tornar pouco atrativa a extração da área do pré-sal e o montante dos royalties está atrelado a lucratividade dos empreendimentos. Quando tramitava o PNE se calculava um barril a 80 dólares e hoje está quase a metade deste valor.
14 DESAFIOS MUNICIPAIS Os desafios previstos nas metas e estratégias recaem de forma violenta sobre os municípios, mas são também desigualmente distribuídos. É preciso verificar o quanto se faz necessário fazer para alcançar as metas no nosso município. Dou alguns exemplos:
15 META 01
16 META 17
17 META 06
18 QUAL A BATALHA DA DÉCADA? Aprovado o novo PNE a principal batalha não é somente lutar para que ele se efetive, especialmente após a frustração do pequeno cumprimento do plano anterior. A batalha é para que prevaleça o sentido público que conseguimos inserir no seu conteúdo, ou seja, para que os recursos do fundo público sejam direcionados prioritariamente para as escolas públicas. E mais, para que o PNE oportunize uma revisão do pacto federativo na educação, colocando a União em novo patamar de contribuição para a expansão da escolarização em nosso país.
19 QUAL A BATALHA DA DÉCADA? Bem, mas estamos em tempos de ajuste fiscal, de austeridade, de estagnação econômica. Como falar de expansão da esfera pública se todos os articulistas dizem que pra sair da crise é necessário cortar gastos públicos? Esse caminho escolhido (por diferentes e recorrentes governos) garante somente a migração de mais recursos públicos para uma parcela pequena da sociedade, os detentores de títulos da dívida pública do país. Caso a presidenta Dilma (e seu ministro Levy) estejam corretos, teremos pelo menos dois anos perdidos de vigência do PNE
20 QUAL A BATALHA DA DÉCADA? Acontece que a sociedade irá pra cima dos prefeitos e secretários de educação, para que cumpram o que está na lei. E 2016 nenhum brasileiros entre 4 e 17 anos deverá estar fora da escola, independente de crise ou ajuste. SOMAR FORÇAS EM TORNO DA UNDIME NUNCA FOI TÃO IMPORTANTE QUANTO AGORA!!!!
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