O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte. discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores. Deputados, estamos no período em que se comemoram os
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- Sonia Custódio Guimarães
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1 O Sr. ÁTILA LIRA (PSB-OI) pronuncia o seguinte discurso: Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, estamos no período em que se comemoram os vinte anos de promulgação da Constituição Cidadã de Dentre seus vários méritos, cumpre destacar os dispositivos referentes à educação. Diferentemente das Constituições anteriores, a atual Carta Magna dedica um conjunto de dez artigos especificamente voltados para esta fundamental área de políticas públicas, bem situando sua relevância para o desenvolvimento econômico e social do País e para a afirmação da cidadania. O art. 205 consagra a educação como direito de todos e dever do Estado e da família, conferindo-lhe três objetivos já tradicionais na história educacional brasileira: o pleno desenvolvimento da pessoa, o preparo para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho. Se o conteúdo deste artigo não apresenta muitas diferenças em relação ao **
2 2 que já se encontrava na legislação educacional anteriormente vigente, os artigos que se seguem imprimemlhe cunho diferenciado, marcadamente democrático e humanista-social, enfatizando o ser humano inserido na sociedade, por cuja construção todos os seus membros, indivíduos e instituições, públicas e particulares, são coresponsáveis. Os princípios a que o ensino brasileiro deve obedecer, relacionados no art. 206, trazem importantes inovações. Reafirmando os eixos da liberdade de ensinar e aprender, do pluralismo de concepções pedagógicas e da coexistência das iniciativas pública e privada, fundamentos da educação em uma sociedade democrática, sinalizou-se novo foco para as políticas públicas educacionais: não apenas garantir o acesso, mas a permanência dos estudantes na escola. Para tanto, listaram-se outros princípios cuja implementação **
3 3 constitui requisito indispensável. Entre eles, a garantia do padrão de qualidade, a gratuidade e a gestão democrática do ensino público, e a valorização dos profissionais da educação escolar. Para a plena execução desses princípios, os artigos seguintes estabeleceram condições básicas. O art. 207 trata da autonomia universitária, com o objetivo de assegurar que as universidades sejam as instituições de produção e transmissão do conhecimento, espaços livres para reflexão e recriação dos fatores que promovem o desenvolvimento científico, tecnológico e cultural da sociedade. Uma das principais marcas da Constituição de 1988 é o art. 208, que lista os deveres do Poder Público em matéria educacional. Pela primeira vez, foram detalhadas as obrigações do Estado com relação a todos os níveis e modalidades da educação básica, ao ensino noturno e aos **
4 4 programas suplementares para o ensino fundamental. Afirmou-se também o ensino obrigatório como direito público subjetivo. Na realidade, o art. 208 promoveu uma significativa extensão das obrigações do Poder Público em matéria educacional, que resultou em importantes melhorias, como mencionado mais adiante. O art. 209 consagrou dois princípios necessários e suficientes para a regulação da iniciativa privada na oferta do ensino: o cumprimento das respectivas normas gerais e a autorização e avaliação de qualidade pelo Poder Público. Já presente na legislação educacional, mas até então não como norma constitucional, definiu-se, no art. 210, a existência de um núcleo comum de estudos para o ensino fundamental, a ser praticado em todo o País, como eixo **
5 5 central da nacionalidade na formação escolar de cada brasileiro. O art. 211 teve o importante objetivo de estabelecer a divisão de responsabilidades dos entes federados em matéria educacional. Na redação original, contemplava apenas a União, com sua função redistributiva e supletiva e de assistência técnica e financeira, e os Municípios, com atuação prioritária no ensino fundamental e na educação préescolar. A Emenda Constitucional nº 14 tornou ainda mais nítida esta divisão de atribuições: manteve as da União, ampliou a dos Municípios, com relação à educação infantil, e especificou a dos Estados e do Distrito Federal, no tocante ao ensino fundamental e ao ensino médio. O dispositivo, contudo, não descuidou de afirmar a importância da colaboração entre os entes federados na organização de seus sistemas de ensino. **
6 6 Para dar sustentação ao efetivo cumprimento desse leque de obrigações, o art. 212 tratou especificamente do financiamento da educação. Mantendo a estratégia da vinculação de um percentual da receita de impostos para manutenção e desenvolvimento do ensino, a Carta Magna elevou, no caso da União, o percentual de 13% para 18%. O art. 213, definindo a destinação dos recursos públicos para as escolas públicas, previu contudo a possibilidade de sua alocação a escolas comunitárias, confessionais e filantrópicas, bem como a instituições particulares, sob a forma de bolsas de estudos, na hipótese da rede pública não dar atendimento suficiente à demanda por vagas em determinada localidade. Mencionou-se também o apoio financeiro público às atividades universitárias de pesquisa e extensão. **
7 7 O último artigo da seção referente à educação tratou do plano nacional de educação e de suas cinco prioridades: erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da qualidade do ensino, formação para o trabalho e promoção humanística, científica e tecnológica do País. Em resumo, na história das Constituições brasileiras, o texto da Carta de 1988 apresenta-se como o mais completo, abrangente e detalhado em matéria educacional, refletindo as inúmeras demandas sociais relativas a este importantíssimo campo de políticas públicas. Os marcos, assim definidos pela Constituição e desdobrados na legislação ordinária deles derivados, apresentaram de fato impacto no desenvolvimento e melhoria da educação nacional? Com certeza, em muitos aspectos houve impacto positivo, em alguns casos fortemente positivo. **
8 8 Em outros aspectos, permanecem desafios importantes, para os quais o quadro legal fornece relevantes elementos para seu enfrentamento. No que diz respeito à universalização do ensino fundamental, as conquistas são evidentes. A taxa líquida de escolarização é hoje superior a 97%. No nível do ensino médio, a expansão da matrícula também foi considerável: de pouco menos de 4 milhões, em 1991, para cerca de 8 milhões e 700 mil, em 2007, tendo alcançado, em determinados anos desse período, número superior a 9 milhões. No entanto, cabe observar que quase a metade dos jovens de 15 a 17 anos de idade ainda se encontram retidos no ensino fundamental. Na modalidade da educação de jovens e adultos grande novidade da Constituição de 1988, ao colocá-la como direito do cidadão e obrigação do Estado permanecem **
9 9 desafios de grandes proporções. A taxa de analfabetismo da população com idade igual ou superior a 15 anos ainda se encontra superior a 10%. O número de matrículas nessa modalidade de ensino, embora tenha crescido, é inferior a 5 milhões de estudantes, o que equivale a menos de 10% do total de brasileiros com mais de 25 anos de idade que não concluíram o ensino fundamental. É de se ressaltar que, no tocante à oferta desses níveis e modalidades de ensino, a participação do Poder Público tornou-se bem mais expressiva, respondendo hoje por 90% das matrículas. Na modalidade da educação especial também se observam importantes avanços. As matrículas em instituições especializadas cresceram mais de dez vezes, alcançando pouco menos de 380 mil, em A responsabilidade na sua oferta pelo Poder Público também se ampliou, passando **
10 10 de 14%, em 1991, para 35%, em Além disso, um contigente de mais de 300 mil estudantes com necessidades especiais se encontra em escolas regulares, públicas em sua quase totalidade. Na educação infantil foram feitos também progressos dignos de nota, particularmente na etapa da pré-escola. De fato, cerca de 76% das crianças na faixa etária própria encontram oportunidade de freqüência a esse tipo de instituição educacional. O atendimento em creches, contudo, ainda está longe de alcançar os patamares aceitáveis, respondendo apenas por 15% das crianças de zero a 3 anos de idade. Ainda há muito a avançar no campo do ensino técnico e da educação profissional. Embora a qualidade das instituições que atuem nessa modalidade seja reconhecida, é muito reduzido o contingente de estudantes que a ela se **
11 11 vinculam. No caso do ensino técnico, o número de estudantes corresponde a menos de 10% do total de alunos do chamado do ensino médio geral. Na educação superior, o crescimento do número de instituições e de matrículas foi considerável. A expansão da educação a distância, mais recente, também abre novos caminhos de acesso. No entanto, permanece reduzido o contingente de brasileiros que ingressam nesse nível de ensino: apenas 13% da população com 18 a 24 anos de idade. A questão da autonomia das universidades, especialmente as públicas, ainda requer melhor encaminhamento, no tocante à gestão de pessoal e de recursos financeiros. A garantia do padrão de qualidade permanece como o grande desafio presente. A nova legislação educacional, a **
12 12 partir da Constituição de 1988, possibilitou a definição e a implantação de importantes sistemas nacionais e locais de avaliação. São os casos do Sistema de Avaliação da Educação Básica SAEB e do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior SINAES, bem como dos modelos e procedimentos que os antecederam. A operação desses procedimentos de avaliação evidencia que a qualidade dos resultados obtidos pelos sistemas de ensino ainda está longe dos patamares aceitáveis. No nível da educação básica, por exemplo, os resultados dos alunos nas provas do SAEB não só se situam em níveis muito abaixo dos desejáveis em termos de proficiência acadêmica, como também têm apresentado tendência de queda. As taxas de rendimento do ensino fundamental e médio revelam ainda a necessidade de esforços significativos no **
13 13 rumo da qualidade. Em 2000, as taxas de abandono eram de 12,0% e de 16,4%, no ensino fundamental e médio, respectivamente. Em 2006, passaram a ser de 7,5% e 15,3%. Com relação às taxas de reprovação: em 2000, 10,7% e 7,5%, no ensino fundamental e médio, respectivamente; em 2006, 13% e 11,5%. Vários fatores devem ser mobilizados para a melhoria da qualidade. A valorização dos profissionais da educação é um dos mais relevantes, seja no tocante à formação e qualificação permanente, seja com respeito à remuneração e a uma carreira digna e estimulante. Nesse sentido, ampliaram-se as oportunidades de formação em nível superior e, recentemente, estabeleceram-se o piso salarial nacional do magistério público e a obrigação de revisão dos planos de carreira. **
14 14 Estes esforços obviamente requerem investimentos. Os mecanismos de financiamento previstos na Constituição de 1988, aos quais se adicionaram os critérios e procedimentos de redistribuição, eqüidade e co-responsabilidade, por meio do FUNDEF e hoje do FUNDEB, são condições indispensáveis para a sustentabilidade deste processo. No entanto, parece haver consenso da necessidade de maiores investimentos. A despesa pública atual com educação situase em torno de 4% do PIB e já existem metas definidas por importantes movimentos da sociedade, como o Todos Pela Educação, no sentido de que, até 2022, seja alcançado o patamar de pelo menos 5% do PIB. Muitos outros aspectos poderiam ser mencionados neste pronunciamento. Citei apenas alguns dos mais importantes, para evidenciar as conquistas e sinalizar os desafios ainda a ser enfrentados. **
15 15 Gostaria de concluir no sentido de que um dos grandes legados da Carta Constitucional em vigor é o de que os direitos do cidadão e as obrigações do Estado, em matéria educacional, em todos os seus níveis e modalidades, deixaram de ser considerados como normas programáticas, cuja execução estaria condicionada à discricionariedade e conveniência da administração pública, e passaram a ser exigíveis ao tempo da necessidade social efetivamente verificada. Penso que, em boa medida, os avanços na educação brasileira, nos últimos vinte anos, encontram suporte na Constituição de E que esta Carta define os limites e meios indispensáveis para o encaminhamento de soluções adequadas para os problemas que ainda se apresentam. Há, pois, que saudá-la e preservá-la. **
16 16 Muito obrigado. **
17 17 ArquivoTempV.doc **
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