Palavras-chave: arte contemporânea; instalação; santuário; cacto



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Transcrição:

SANTUÁRIO CACTU SAN1 Sandro Bottene2, Salète Regina Protti3. 1 Artigo de Conclusão do Curso de Graduação em Artes Visuais Bacharelado (2012) 2 Artista Visual e Professor Graduado em Artes Visuais pela UNIJUÍ, Licenciado (2009) e Bacharel (2012), Especialização em Artes Visuais: Cultura e Criação pelo SENAC/RS (2011). sandro.bottene@hotmail.com 3 Professora Mestre do Departamento de Humanidades e Educação DHE/UNIJUÍ, orientadora, saletep@unijui.edu.br Resumo: O presente artigo constitui-se como parte textual vinculado à instalação de arte contemporânea SanTUÁRIO CACTU San (2011), exposição apresentada de 10 a 17 de novembro na Sala de Exposições Java Bonamigo da UNIJUÍ. Esta destaca a temática cacto e apresenta, através da poética da arte, uma narrativa visual constituída por cinco momentos correlacionados. O espaço da instalação faz metáfora ao local do cactário: desloca o seu significado e transforma o ambiente em um santuário de arte. Num movimento ritualístico, o percurso da exposição inicia com o Ofertório que, representado por uma ceia, oferece o corpo do cacto como alimento. Em seguida, a narrativa conduz-se com o Oratório que discute a ideia de outros espaços sagrados e do ato penitente. Logo depois prossegue com a Adoração: composta por objetos que simbolizam o culto a uma divindade do gênero da planta. Continua com o Sacrifício destacando a relação entre vida e morte. Por último, representa a parte do Sepulcro pela construção de túmulos simbólicos. A metodologia dá-se através de referências bibliográficas e da análise da obra. A proposta do trabalho justifica-se como desenvolvimento desta linguagem, no aprofundamento do tema em pesquisa, na discussão e produção da arte contemporânea. Palavras-chave: arte contemporânea; instalação; santuário; cacto Introdução A representação de imagens, além de apresentar o poder comunicativo, sensível e expressivo do seu criador, demonstra uma intenção. Essa intenção, por sua vez, constitui-se de formas diferenciadas para atender e suprir as exigências para com a sociedade. Para Archer a arte é um encontro contínuo e reflexivo com o mundo em que a obra de arte, longe de ser o ponto final desse processo, age como iniciador e ponto central da subsequente investigação do significado (ARCHER, 2001, p. 236). Percebe-se que este aspecto significativo foi um importante traço dos anseios de uma determinada época. Em vista disso, o artista busca a expressão de uma temática que traduza sua produção estabelecendo o diálogo com o público. A ideia de estilo está ligada à ideia de recorrência, de constantes. Numa obra existe um certo número de construções, expressões, sistemas plásticos, literários, musicais, que são escolhidos e empregados pelo artista com certa frequência (COLI, 2006,

p. 27). Assim, pode-se dizer que o tema justifica (completa) a intenção ou o próprosito da obra/objeto de arte produzida pelo artista/autor. Seguindo este pensamento, de que cada artista explora ou pesquisa algo que instigue sua subjetividade, o artista contemporâneo tende a procurar discutir questões que possuam uma relação de proximidade com o assunto; uma relação interior (íntima de vida) para com a temática. A linguagem alimenta-se da subjetividade e da vivência do artista, ao mesmo tempo em que reafirma ou coloca em discussão questões oriundas da própria arte e da cultura (HEVIA, 2002, p. 128). O artista passa a enxergar e a expressar o mundo à sua volta com outro olhar traduzidos poeticamente através de sua produção. A partir disso disso, minha tradução visual no âmbito artístico aborda o tema cacto em virtude da particularidade do cultivo da planta como hobby iniciada em 2003. A proximidade frequente com o espaço do cactário e com seus moradores - os cactos, após alguns anos de experiência no manuseio, transformam a prática em algo sagrado, familiar e íntimo. Estar na estufa é um ato de celebração que acontece neste ambiente sagrado com os seres sagrados os quais se encontram transportados para o espaço da arte. O ateliê é um espaço de arte. O ateliê aparece como o lugar onde o artista guarda e cultua sua subjetividade, uma porção do espaço significada não apenas pelas realizações técnicas, mas também pelas buscas estéticas (MARINHO, 2004, p. 71). Ser cacticultor e ser artista são atividades de ofícios sagrados. O cactário é então levado para o espaço da arte, transformando-se no foco desta narrativa poética. O cacto torna-se um ser supremo, intocável e venerado, consequentemente, o mesmo ocorre com este espaço por ele habitado. O espaço do cactário adquire uma aura sagrada como de outros ambientes religiosos, ou seja, de um santuário. Esta relação de sacralizar o espaço vem a ser o elo representado na proposta do trabalho. Este vínculo de proximidade transforma a instalação e o próprio ato de sua construção em um ofício supremo. Tais aspectos encontram-se presentes e inseridos na proposta do santuário produzindo um ambiente com uma narrativa de arte ritualística relacionada aos afazeres dentro do cactário. Enfim, a narrativa apresenta a experiência pessoal de artista e sua subjetividade plástica abordando novos olhares, novas discussões e a delimitação de um espaço na rede interligada e conceitual da arte contemporânea. Metodologia O resultado do trabalho elaborado decorre metodologicamente, com base na produção prática e na teorização desta sobre o processo criativo pessoal construído através de uma narrativa poética, através do uso de leitura de fontes bibliográficas com citações de autores, da observação, da descrição e da análise da exposição: SanTUÁRIO CACTU San. Resultados e discussão A exposição intitulada SanTUÁRIO CACTU San, realizada nas dependências da Sala de Exposições Java Bonamigo entre os dias 10 e 17 de novembro de 2011, constitui-se de uma instalação que aborda a discussão do tema recorrente Cacto desenvolvido ao longo de outros trabalhos e, mais do que isso, constroe uma relação simbólica ressignificando o espaço da exposição como espaço do

cactário. A instalação procura transcender significados quando eleva a temática (cacto) como ser ou elemento sagrado e, simultaneamente consagra o espaço como um santuário de arte. O aspecto do sagrado, abordado neste espaço, advém de tantos outros que o ser humano constituiu ao longo de sua formação religiosa e/ou espiritual. Desde os tempos mais antigos, inclusive na Pré-História, e posteriormente, nos dias atuais, a humanidade mantém uma característica muito forte em relação à adoração de um ser superior cultuado em um ambiente destinado a rituais, encontros ou celebrações do ente adorado. Tais aspectos sacros representados e resgatados nesta instalação remetem aos trabalhos desenvolvidos, primeiramente, na série intitulada Devoradores do sagrado (2010) e recentemente, na série Corpo e sexualidade sagrado (2011). Contudo, outra referência neste trabalho deve-se em retomar a ideia de ambiente já discutida em outra instalação intitulada Ambiente aberto: o preencher do vazio (2010) realizada em forma de exposição coletiva. Desse modo, trata-se de dar prosseguimento tanto à temática mencionada inúmeras vezes, quanto à idealização da construção de um espaço que retratasse poeticamente/obviamente toda produção artística decorrente no bacharelado. O aspecto sagrado torna-se importante e constitui-se até na própria denominação do trabalho quando, simbolicamente, delimita-se uma aura de propriedade e insere, já no título da exposição, o autor (San = Sandro) através da organização formal das fontes visualizandas no início e no fim (três letras) que dão nome à obra. Trata-se de escrever com uso do recurso simétrico e expressar uma numerologia já presente como característica marcante em outros trabalhos. Assim, para constituir-se formalmente esse santuário foram delimitadas algumas questões levando em conta os elementos comuns encontrados em templos, igrejas ou qualquer lugar cuja função esteja ligada à religiosidade. Para tanto, o ambiente produzido fora dividido em cinco partes ou denominado como cinco momentos: Ofertório, Oratório, Adoração, Sacrifício e Sepulcro. Tais ações ritualísticas, como também podem ser compreendidas, remetem a algumas situações do cotidiano enquanto outras expressam questões fortes realizadas por culturas passadas. A narrativa visual da instalação inicia com o momento denominado de Ofertório. Para tal descrição utilizou-se da famosa passagem da Bíblia que se refere à Última Ceia de Cristo e os doze discípulos, consagrada através da obra de mesmo nome de Leonardo Da Vinci. Representação já muitas vezes apropriada, citada, relida em pintura e outras linguagens por diversos artistas em distintas épocas da sociedade. O ato de ofertar algo se apresenta como uma das ações mais antigas executadas em diversos espaços sagrados. Tal ato, o de depositar oferendas aos deuses ou divindade, serve como forma de doar-se e retribuir, de alimentar-se e viver. Assim, ao retratar a ceia de Cristo buscou-se reforçar esse elo de sagrado do momento simbólico e da forma significativa que tal cena demonstra nesta instalação e para a religião.

A narrativa segue com a parte da obra que se refere ao ato penitente no Oratório. Tal seguimento procede-se como complemento do primeiro (ofertar) justamente que após oferecer/partilhar com a divindade ocorre um momento de reflexão ou agradecimento através de orações. Este momento do santuário compõe-se da exibição do vídeo arte: Bem-Vindo: siga a luz vermelha (6, 2010). A ação acontece sob forma de ritual quando o espectador, num ato sagrado, participa da instalação ao ajoelhar-se no genuflexório como sinal de respeito e símbolo de fé através da oração. O vídeo desperta um momento de reflexão discutindo referências de memória, de gestos sagrados, de expressões interiores, de submissão a um ser divino. Além disso, o vídeo dialoga com a exposição quando, durante sua exibição, recria um novo espaço ao expandir-se deste local e revela outros espaços sagrados (casa/estufa). O próximo momento apresenta-se composto por imagens ou ícones de Adoração. O ato de idolatrar ou adorar um deus demonstrou-se fortemente recorrente em diversas culturas e períodos da civilização humana. Nesta parte, trata-se de cultuar o ser supremo o cacto elevando-o como deus na arte. Para tanto, empregou-se os recursos da presença da cruz, do ostensório e de elementos da mitologia grega mesclados ao contexto da temática cacto, em forma de papel artesanal, transformando-se em relíquia pela simbologia do corpo de Cristo/corpo dos cactus. Sobre a questão simbólica da mitologia grega utilizou-se reproduções de imagens de obras de divindades atribuídas aos deuses Hermes e Afrodite que, segundo a mitologia grega, são considerados os pais de Hermafrodito (o próprio termo deriva da junção do nome de ambos: dos deuses Hermes + Afrodite = Hermafrodita). Tal relação deve-se ao quesito da planta cacto ser uma espécie dotada de ambos os sexos, ou seja, a flor (parte responsável pela reprodução dos cactus) constitui-se de duas partes - o gineceu (órgão reprodutor feminino) e o androceu (órgão reprodutor masculino), cada qual com suas respectivas divisões. A flor, denominada como Monóclina ou Hermafrodita (dotada de órgãos reprodutores dos dois sexos; bissexual). O percurso ritualístico do santuário segue com o momento representado pelo Sacrifício. O significado deste momento possui uma dimensão sagrada de suma importância ao transmitir o ato de sacrificar a divindade, ou seja, trata-se de abordar o tema da morte, da perda deste ente querido. A representação da cena acontece através da construção de uma relação praticada por algumas culturas antigas que acreditavam que, sacrificando uma vida, em oferecimento aos deuses, suas preces seriam atendidas prontamente, isto é, realizar um sacríficio em troca de um bem maior. Ao referir-se sobre sacrifício, inevitavelmente vem a nossa mente uma relação de sangue e da cor vermelha justamente porque é ele que dá continuidade da vida, a circulação deste mantém-nos vivos. Nestes trabalhos, o elemento ou pigmento: sangue encontra-se presente em cada peça das obras reforçando o significado de sagrado e autenticando o momento do santuário. Outra relação presente no trabalho também é a referência do sacrifício realizado por Cristo ao ser morto na cruz visto que se trata de um tema sagrado relacionado com uma divindade. E por fim, a narrativa da instalação termina com o momento denominado de Sepulcro constituído por meio de alguns túmulos ou catacumbas sagradas que retratam o abrigo dos restos mortais de

divindades ou deuses. O local, considerado a morada eterna serve como parte do ritual final para o ser supremo o cacto. Obviamente, que depois de abordar a parte anterior do trabalho, o sacrifício, torna-se necessário. Finalizá-lo ou sepultá-lo, conforme outra relação que esta parte do trabalho aborda, é imprescindível. Para além dos túmulos, o que dá força à cena, constitui-se basicamente pela organização de dois elementos: o desenho de um cacto, elemento temático e norteador da pesquisa, na parede e a pintura na areia. Ambos resultam na representação de um pé de cactos e sua projeção sobre os túmulos. Esta parte da instalação não indica o final da pesquisa em si, apenas encerra a narrativa construída para este momento. 1. Emblema do Santuário. 2. Ceia Cactu san. 3. Oratório Cactu san. 4. Ícone de adoração. 5. Marcas do sacrifício. 6. Sepulturas. Conclusões A construção deste percuso textual busca mostrar, além da experiência prática como artista, a tentativa de consolidar o relato teórico do processo criativo através da análise da obra poética SanTUÁRIO CACTU San. A experiência teórica visa ampliar os conhecimentos dos próprios limites e instigar uma narrativa plástica continuada contribuindo para com a educação de um olhar crítico e transformador na arte contemporânea.

Agradecimentos Ao concluir este trabalho quero agradecer, especialmente, à minha professora orientadora e agora grande amiga, Salète Regina Protti, que acreditou no potencial do meu trabalho e oportunizou a experiência de ampliar meus conhecimentos sobre arte contribuíndo na trajetória da minha formação profissional como artista. Referências bibliográficas ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 263p. (Coleção a) COLI, Jorge. O que é arte. 15. ed. São Paulo: Brasiliense, 2006. 134p. (Coleção primeiros passos; 46) HEVIA, Arturo. Um marco referencial para o ensino da arte. In: BRITES, Blanca; TESSLER, Elida (org.). O meio como ponto zero: metodologia da pesquisa em artes plásticas. Porto Alegre: UFRGS, 2002, 152p. (Coleção Visualidade) MARINHO, Claudia. Espaço e criação. Os ateliês das cidades contemporâneas. In: MEDEIROS, Maria Beatriz de (org.). Arte em pesquisa: especificidades. v. 1. Brasília: UNB, 2004.