TRIBUNAL DE JUSTIÇA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL Apelação Cível nº. 0208784-57.2012.8.19.0001 Apelante: SERGIO LUIZ DE LUCAS Apelado: SULAMERICA SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDENCIA S.A. Relatora: DES. ELISABETE FILIZZOLA ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL. SEGURO DE VIDA EM GRUPO. INDENIZAÇÃO SECURITÁRIA. PRESCRIÇÃO ÂNUA. INTELIGÊNCIA DAS SÚMULAS 101 E 278 DO STJ. NEGATIVA DE PAGAMENTO DA INDENIZAÇÃO AO AUTOR. OCORRÊNCIA DA PRESCRIÇÃO. Nos termos do art. 206, 1º, inciso II, alínea b, do Código Civil, nas ações de cobrança ajuizadas pelo segurado em face do segurador, a prescrição ocorrerá em 1 (um) ano, a partir da violação do direito subjetivo do demandante, fato ocorrido após a negativa da seguradora a realização do pagamento, conforme precedentes jurisprudenciais do E. STJ. Autor que afirma ter sido indeferido o seu pleito pela seguradora há mais de um ano, confirmando, assim, a prescrição da pretensão, uma vez que o presente feito foi proposto mais de dois anos após a notificação. Sentença que se mantém. RECURSO DESPROVIDO. Vistos, relatados e discutidos os autos da Apelação Cível nº. 0208784-57.2012.8.19.0001, originário do Juízo de Direito da 7ª Vara Cível da Comarca da Capital, em que figuram, como apelante, SERGIO LUIZ DE LUCAS e, como apelada, SULAMERICA SEGUROS DE PESSOAS E PREVIDENCIA S.A. ACORDAM os Desembargadores que integram a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de
2 Janeiro em conhecer do recurso e, por unanimidade de votos, negar-lhe provimento. Adota-se o relatório constante dos autos. VOTO Trata-se de cobrança proposta pelo recorrente, postulando recebimento de seguro de acidente pessoal em virtude de lesão sofrida em 11/08/2008. Sustenta, sem razão, o Apelante que o prazo prescricional seria o quinquenal previsto no Código de Defesa do Consumidor, porém tal diploma legal não se aplica ao caso discutido nos autos, incidindo a legislação civilista. Nesse passo, o artigo 206, 1º, II do Código Civil estabelece o prazo prescricional de um ano para a ação do segurado contra o segurador. Art. 206. Prescreve: 1- Em um ano: I-...; II- a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra aquele, contado o prazo: a)..; b) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da pretensão; A sentença recorrida fundamentou-se no argumento de que teria decorrido um lapso temporal de mais de um ano da ciência do beneficiário da negativa de pagamento do seguro pela seguradora, por ter afirmado na petição inicial que teve ciência aos 25.08.2010 e ingressado com a ação em 30.05.2012. Segundo a jurisprudência dominante no Superior Tribunal de Justiça, aplicável o prazo prescricional ânuo nos casos de cobrança do segurado em grupo em face da seguradora, tendo como termo inicial a data da ciência inequívoca da incapacidade laboral.
3 Neste sentido, vale destacar os enunciados n.º 101 e 278 do Superior Tribunal de Justiça: Súmula 101 - A ação de indenização do seguro em grupo contra a seguradora prescreve em um ano. Súmula 278 - O termo inicial do prazo prescricional, na ação de indenização, é a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral. Assim, deve-se perquirir qual a data da ciência da recusa de pagamento, fato violador do direito subjetivo. A propósito (grifei): PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. SEGURO DE VIDA E SAÚDE. AUSÊNCIA DE RECUSA FORMALIZADA PELA SEGURADORA. PRESCRIÇÃO. TERMO INICIAL. CIÊNCIA INEQUÍVOCA DA MOLÉSTIA. PLURALIDADE DE PARÂMETROS RAZOÁVEIS. RELAÇÃO DE CONSUMO. INTERPRETAÇÃO TELEOLÓGICA E SISTEMÁTICA. PRONÚNCIA DE OFÍCIO EM DESVANTAGEM DA PARTE HIPOSSUFICIENTE. IMPOSSIBILIDADE. LEADING CASE. 1. O prazo prescricional de 1 (um) ano para o ajuizamento da ação indenizatória do segurado contra a seguradora tem como marco inicial a ciência inequívoca do sinistro. Súmula 278/STJ. 2. Constatado inequivocamente o sinistro, o prazo prescricional para o ajuizamento pode ser suspenso com a comunicação de sinistro à seguradora. Súmula 229/STJ. 3. O curso do prazo é retomado somente após a expressa recusa administrativa. Sendo inexistente a recusa, o prazo prescricional permanece suspenso. Precedente. 4. Decorrido o prazo ânuo entre o sinistro e o aviso administrativo ou - na falta deste - o ajuizamento da ação, o pedido de pagamento do prêmio segurado está prescrito. Súmula 101/STJ. 5. Havendo mais de um parâmetro relativo à ciência inequívoca do
4 sinistro, o intérprete deverá adotar aquele que mais favoreça o consumidor, sobretudo quando houver risco de pronúncia da prescrição de ofício (art. 279, 5º, do CPC). Conflito de valores solucionado por interpretação teleológica e sistemática de normas (arts. 3º, 2º, 6º, VIII, e 47 do CDC; art. 5º, XXXII, da CF/88), jurisprudência consolidada e princípios gerais do Direito (segurança jurídica e boa fé objetiva). 6. Recurso especial provido para anular o acórdão proferido em dissonância com o entendimento inaugurado na espécie. (REsp 1179817/SP, Rel Min. Nancy Andrighi, Terceira Turma, Julgado em 24/05/2011, DJe 01/06/2011) PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO DE SEGURO CONTRA ACIDENTES PESSOAIS. GLAUCOMA. EXCEÇÃO DE PRÉ- EXECUTIVIDADE. DILAÇÃO PROBATÓRIA. IMPOSSIBILIDADE. DIREITO CIVIL. PRESCRIÇÃO. COBRANÇA DE SEGURO. I - "A exceção de pré-executividade é espécie excepcional de defesa específica do processo de execução, admitida, conforme entendimento da Corte, nas hipóteses em que a nulidade do título possa ser verificada de plano, bem como quanto às questões de ordem pública, pertinentes aos pressupostos processuais e às condições da ação, desde que desnecessária a dilação probatória" (REsp 915.503/PR, Rel. Ministro HÉLIO QUAGLIA BARBOSA, QUARTA TURMA, DJ 26/11/2007). II - O prazo prescricional ânuo para cobrança de seguro se inicia na data em que o segurado tem ciência da sua incapacidade definitiva, suspende-se na data em que apresentado o requerimento administrativo e volta a fluir no dia em que ele é intimado da recusa da seguradora em conceder a indenização contratada. Nesse sentido as Súmulas 101 e 278 deste STJ. III - Recurso especial improvido.
5 (REsp 1063211/MG, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, Julgado em 19/10/2010, DJe 11/11/2010) Nesse sentido, repita-se, o próprio autor afirmou na petição inicial que a negativa da seguradora deu-se em 25/08/2010, sendo certo que a ação somente foi proposta em 30/05/2012, ou seja, mais de dois anos depois. Com isso, não merece qualquer reforma a sentença que reconheceu o decurso do lapso prescricional da pretensão autoral. Por tais fundamentos, conhece-se do recurso, negandolhe provimento. Rio de Janeiro, 06 de novembro de 2013. Des. ELISABETE FILIZZOLA Relatora