DECISÃO JR Agência Nacional de Aviação Civil - Brasil Nº AI: 004/SAC IL/2007 PROC.:Nº: 60800.008849/2010-18 Nº PROC.: 625.972.10-3 NOME DO INTERESSADO: TAM LINHAS AÉREAS ISR PASSAGEIRO: 026/SAC SV/2007 OLGA MARIA SANTOS DE MAGALHÃES RELATOR: Edmilson José de Carvalho Mat. SIAPE nrº 173.357 RELATÓRIO - Trata de recurso impetrado pela empresa supracitada por multa pecuniária imposta através de processo administrativo por infração aos preceitos da Lei nº 7.565 de 19 de dezembro de 1986 que dispõe sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica CBAer, na sua essência o seu artigo 289. - Passageira insatisfeita com a execução do contrato de transporte aéreo formaliza seu protesto junto a Fiscalização da ANAC do Aeroporto de Salvador/BA (SBSV), através do Impresso de Sugestões e Reclamação nº 026/SAC SV/2007 (fl. 01) registrando que em 05 de janeiro de 2007, tinha reserva confirmada no vôo TAM 3454, para o trecho Ilhéus/BA (SBIL) > SBSV e o mesmo foi cancelado, sendo que o vôo não fez escala em SBIL, realizando o percurso São Paulo/SP (SBSP) > SBSV direto, sendo que o restante dos vôos das empresas aéreas TAM e da GOL realizaram-se normalmente. O cancelamento impossibilitou seu embarque no vôo TAP 156 (SBSV> Lisboa/POR) de 5 de janeiro de 2007 pela TAP Air Portugal (fl.02). O vôo da TAM (SBIL>SBSV) apenas se realizou no dia 6 de janeiro de 2007 (TAM 3452), ocasionando mais um dia de estadia em Ilhéus/BA, custos que não foram suportados pela TAM. Pela perda do vôo da TAP, a TAM fez uma reserva junto a empresa aérea TAP Air Portugal, colocando-a em lista de espera para o vôo da TAP 156 de 6 de janeiro de 2007, mas sem qualquer garantia de existência de lugar nesse vôo. Com a indicação da TAP Air Portugal de que o vôo estaria lotado, a TAM apenas se disponibilizou para solicitar novamente posição preferencial na lista de espera, declinando por inteiro a sua responsabilidade no fato de não ter sido possível o embarque para Lisboa em devido tempo. - A Fiscalização registra em Relatório (fl.03) que a passageira tinha reserva confirmada e check-in pronto para o vôo TAM 3454 do dia 05 de janeiro de 2007, com embarque previsto para ás 15h20min e decolagem para ás 15h45min, sendo informado que o pouso foi cancelado por falta de condições metereológicas e deixou de fornecer as facilidades de alimentação, hospedagem, comunicação e transporte a passageira, sendo a mesma reacomodada no dia seguinte no vôo TAM 3452 ás 08h25min. - O presente processo administrativo foi iniciado através da lavratura do Auto de Infração nº 004/SAC IL/2007 (fl. 05) para a empresa acima citada por ao cancelar o voo TAM 3454 do dia 05 de janeiro de 2007, deixou de proporcionar as facilidades de hospedagem, alimentação e comunicação à passageira [com reserva confirmada e despachada]. Capitulado no CBAer, artigo 302, inciso III, alínea p. - Empresa não apresentou Defesa onde findado o prazo estipulado no Auto de Infração foi dado continuidade aos trâmites do processamento da infração detectada na inicial do presente processo administrativo sancionador (fl. 07). - A Autoridade de Aviação Civil competente em 1ª instância em processo administrativo da ANAC (fl. 09) encaminha Ofício nº 575/2010/GFIS/SER/ANAC de 30 de junho de 2010, Página 1 de 6
convalidando o Auto de Infração, alterando a capitulação do ato infracional imputado para o CBAer, artigo 302, inciso III, alínea u, oferecendo novo prazo de defesa a interessada (20 vinte- dias). Ofício recebido pela autuada em 12 de julho de 2010 (fl.11). - Empresa não apresentou Defesa onde findado o prazo estipulado no Auto de Infração foi dado continuidade aos trâmites do processamento da infração detectada na inicial do presente processo administrativo sancionador. - A Autoridade de Aviação Civil competente em 1ª instância em processo administrativo da ANAC (fls. 12-13) em 25 de outubro de 2010, considerou que a empresa acima citada, conforme imputado no Auto de Infração deixou de disponibilizar a passageira com reserva confirmada as facilidades previstas na legislação após cancelamento de vôo contratado e reacomodação em prazo superior a 4(quatro) horas, sendo imputada uma sanção pecuniária de R$7.000,00 (sete mil reais) conforme previsto no CBAer, art. 302, inciso III, alínea u, considerando o previsto na Resolução nº 25 de 25 de abril de 2008, quanto a Tabela de Infrações e a ausência de circunstâncias atenuantes ou agravantes previsto no artigo 22 da mesma Resolução. Eis o breve relatório. RESUMO DO RECURSO - Empresa impetra recurso tempestivamente (fls.20-21), alegando que o atraso do voo em tela se deu de forma alheia a vontade da empresa aérea e por intenso tráfego aéreo, que envolve questões de segurança. Alega ainda que existem acontecimentos que ultrapassam as forças humanas e corporativas, alheio a vontade das partes, cujos os efeitos não se podiam evitar ou impedir, que tolhe a obtenção d do resultado almejado. Continua suas alegações afirmando que sempre que fatos dessa natureza ocorrem fica empresa obrigada a conceder as facilidades que minimizem o transtorno causado, sendo corretamente concedidas as facilidades, porém o fato da Sra. Olga não ter aceitado as facilidades não significa dizer que as mesmas não tenham sido oferecidas. Requer a anulação do processo ou, sucessivamente, a revisão do valor da multa. PARECER DO RELATOR PRELIMINARMENTE: - O Auto de Infração é o ato princípio de um processo administrativo, assim está descrito na Lei nº 7.565 de 19 de dezembro de 1986, que dispõe o sobre o Código Brasileiro de Aeronáutica (CBAer): Art. 291. Toda vez que se verifique a ocorrência de infração prevista neste Código ou na legislação complementar, a autoridade aeronáutica lavrará o respectivo auto, remetendo-o à autoridade ou ao órgão competente para a apuração, julgamento ou providências administrativas cabível. - Onde a Resolução ANAC nº 25 de 25 de Abril de 2008, complementa: Art. 4º O processo administrativo terá início com a lavratura do Auto de Infração AI. - O auto de infração como principal documento de um processo administrativo traz embutido em si um dispositivo primordial para sua validade, que é o enquadramento, pois é parte inerente do princípio da legalidade, no qual demonstra taxativamente que foi estabelecida uma regra de cumprimento pelo poder regulador, legalmente concedido, vinculado a uma prévia cominação legal. Página 2 de 6
NO MÉRITO: - Conheço o recurso por estarem presentes os requisitos de sua admissibilidade e passo a relatar. - O CBAer ordena: Art. 230. Em caso de atraso de partida por mais de quatro horas, o transportador providenciará o embarque do passageiro, em vôo que ofereça serviço equivalente para o mesmo destino, se houver, ou restituirá, de imediato, se o passageiro o preferir, o valor do bilhete de passagem. - O presente processo foi originado após lavratura do Auto de Infração (fl.05) que retrata em seu bojo a ocorrência da transportadora aérea não disponibilizar as facilidades previstas na legislação em vigor ao passageiro após cancelamento de vôo contratado e reacomodação por mais de 4(quatro) horas, considerando o horário do contrato original, e após convalidação (fl.09) enquadra a ocorrência no CBAer: Art. 302. A multa será aplicada pela prática das seguintes infrações: (...) III Infrações imputáveis à concessionária ou permissionária de serviços aéreos: (...) u) Infringir as Condições Gerais de Transporte, bem como as demais normas que dispõem sobre serviços aéreos; Grifos meu. - Assim versa as Condições Gerais de Transporte aprovadas pela Portaria nº 676/CG-5 de 13 de novembro de 2000, onde estes artigos estavam vigentes a época da ocorrência descrita: Art. 22. Quando o transportador cancelar o vôo, ou este sofrer atraso, ou, ainda, houver preterição por excesso de passageiros, a empresa aérea deverá acomodar os passageiros com reserva confirmada em outro vôo, próprio ou de congênere, no prazo máximo de 4(quatro) horas do horário estabelecido no bilhete de passagem aérea. 1º Caso este prazo não possa ser cumprido, o usuário poderá optar entre: viajar em outro vôo, pelo endosso ou reembolso do bilhete de passagem. 2º Caso o usuário concorde em viajar em outro vôo do mesmo dia ou do dia seguinte, a transportadora deverá proporcionar-lhe as facilidades de comunicação, hospedagem e alimentação em locais adequados, bem como o transporte de e para o aeroporto, se for o caso. Grifos meu. - O cerne do protesto do passageiro (fl.01 e verso) prende-se ao fato de ter que aguardar por 16h40min por ser embarcado de vôo contratado originalmente sem receber assistência adequada pela empresa transportadora. O Auto de Infração (fl.05) que ensejou a abertura do presente processo imputa a empresa aérea o fato de não proporcionar as facilidades dispostas no fragmento legal transcrito acima, que expressa taxativamente quanto a obrigação da empresa transportadora que atrasa um vôo contratado e não reacomoda o passageiro contratante em um período inferior a 4(quatro) horas, onde é imperativo a obrigação de oferecer assistência ao passageiro que aguarda o cumprimento do contrato de transporte, conservando em suas linhas o verbo imperativo deverá que é vinculante ao fato de estar obrigado a fazer uma ação, não permitindo discricionariedade de juízo a quem deva cumpri-la. Sobre o assunto já está pacificado neste colegiado, que já tornou público o seu entendimento através do seguinte enunciado: Página 3 de 6
ENUNCIADO Nº 05/JR/ANAC 2009 TÍTULO: Excludente de responsabilidade e concessão de facilidades DATA DA APROVAÇÃO: 13ª Sessão de Julgamento da Junta Recursal da ANAC, de 26/03/2009. PUBLICAÇÃO: Internet rede mundial de computadores - site da ANAC (http://www.anac.gov.br/transparencia/juntarecursal.asp ou http://www.anac.gov.br/transparencia/enunciados_juntarecursal.asp) ENUNCIADO: A oferta de facilidades, na forma prevista na legislação vigente, não configura mera liberalidade, mas um dever. Assim, deve a empresa aérea fornecer as facilidades, ainda que o não embarque no horário previsto tenha decorrido de caso fortuito ou força maior. REFERÊNCIA NORMATIVA: art. 231 da Lei n. 7.565, de 19.12.1986; art. 22, 2º da Portaria 676/CG-5/2000. - Após 2(duas) oportunidades de apresentação de defesa, negligenciado, em seu direito, pela empresa aérea, a mesma impetra recurso fazendo referencia equivocada aos fatos descritos no presente processo, tratando o voo cancelado (TAM 3454 do dia 05 de janeiro de 2007) como se houvesse apenas atraso no mesmo. Além disso, descreve em recurso que foi oferecido as facilidades previstas na legislação e que não foram aceitos pela reclamante, no entanto esta argumentação não encontra respaldo nem no protesto inicial da passageira (fl.01) nem no descrito no Relatório da Fiscalização (fl.03), assim a empresa transportadora não se desincumbiu do ônus que lhe cabia, não apresentando nenhuma prova do alegado, conforme preceitua a Lei nº 9.784 de 29 de janeiro de 1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal: Art. 36. Cabe ao interessado a prova dos fatos que tenha alegado... - Há de se lembrar, que a atuação da concessionária de serviço de transporte aéreo não se esgota na prestação da obrigação principal (transporte de passageiros), impondo-se que preste assistência aos usuários do serviço quando da ocorrência de atraso ou cancelamento de vôos, minorando, assim, os danos já suportados pelos mesmos, visto se tratar de não cumprimento de cláusulas contratuais por parte da empresa transportadora. - Em análise ao quantum da multa aplicada, voto por NEGAR PROVIMENTO ao pedido estipulado em Recurso, e mantenho, o valor da sanção em decisão prolatada pelo competente órgão decisório de primeira instância administrativa, considerando que o valor aplicado se encontrava em consonância com a legislação vigente a época do fato IAC 012-1001 de 31 de janeiro de 2003, anexo 6, Tabela de Infrações, correspondente ao enquadramento estipulado no Auto de Infração, CBAer, artigo 302, inciso III, aliena u - onde a legislação atual - Anexo I da Resolução ANAC nº 25 de 25 de abril de 2008 não trouxe condições mais favoráveis, mesmo considerando o previsto no seguinte fragmento legal da mesma Resolução: Art. 22. Para efeito de aplicação de penalidades serão consideradas circunstâncias atenuantes e agravantes. - Portanto, infere-se que a sentença recorrida não merece qualquer reparo, mantém-se o valor da sanção pecuniária no patamar presente. É o voto do Relator. Rio de Janeiro, 06 de julho de 2011. EDMILSON JOSÉ DE CARVALHO Membro da Junta Recursal da ANAC Matricula SIAPE nº 173.357-5 Página 4 de 6
Agência Nacional de Aviação Civil - Brasil CERTIDÃO DE JULGAMENTO JR AUTUAÇÃO Nº AI: 004/SAC IL/2007 PROC.:Nº: 60800.008849/2010-18 Nº PROC.: 625.972.10-3 NOME DO INTERESSADO: TAM LINHAS AÉREAS ISR PASSAGEIRO: 026/SAC SV/2007 OLGA MARIA SANTOS DE MAGALHÃES RELATOR: Edmilson José de Carvalho Mat. SIAPE nrº 173.357-5 PRESIDENTE DA SESSÃO: Sergio Luis Pereira Santos ASSUNTO: Cancelamento de vôo e reacomodação em prazo superior a 4(quatro) horas Não disponibilização de facilidades Enquadramento no CBAer, artigo 302, inciso III, alínea u combinado com a Port. 676/GC5 de 131100, artigo 22, parágrafos 1º e 2º. CERTIDÃO Certifico que Junta Recursal da AGÊNCIA NACIONAL DE AVIAÇÃO CIVIL ANAC, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Junta, por unanimidade, negou provimento ao recurso, mantendo o valor da sanção pecuniária aplicada pelo órgão decisório de primeira instância administrativa, nos termos do voto do Relator. O Presidente da Junta Recursal, Sr. Sergio Luis Pereira Santos e o Membro da Junta Recursal Sr. Carlo André Araripe Leite votaram com o Relator. Rio de Janeiro, 07 de julho de 2011. Sergio Luis Pereira Santos PRESIDENTE DA JUNTA RECURSAL Página 5 de 6
DESPACHO JR Agência Nacional de Aviação Civil - Brasil Encaminhe-se a Secretaria da Junta Recursal para as providências de praxe. Rio de Janeiro, 07 de julho de 2011. Sergio Luis Pereira Santos PRESIDENTE DA JUNTA RECURSAL Página 6 de 6