CONSELHO DA MAGISTRATURA Processo nº 0384698-38.2012.8.19.0001 Interessado: VILMA PUGLIESE SEIXAS Suscitante: CARTÓRIO DO 5 OFICIO DE REGISTRO DE IMÓVEIS RELATORA: DES. MARIA SANDRA KAYAT DIREITO Reexame necessário. Dúvida. Negativa de averbação do direito à vaga de garagem junto à matrícula do apartamento. Sentença de Improcedência da Dúvida. Encaminhamento dos autos a este E. Conselho da Magistratura, por imposição do artigo 89, 2º do CODJERJ. Parecer do Ministério Público de 2 Grau, opinando pela reforma da sentença para que a Dúvida seja julgada procedente. Inteligência do artigo 1109 do CPC. Razoabilidade que se impõe diante da documentação acostada aos autos. Correta a decisão no caso concreto. Sentença mantida. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos da Dúvida n nº 0384698-38.2012.8.19.0001, em que é suscitante o CARTÓRIO DO 5 OFÍCIO DO REGISTRO DE IMÓVEIS DA COMARCA DA CAPITAL/RJ e interessada VILMA PUGLIESE SEIXAS.
ACORDAM os Desembargadores integrantes do CONSELHO DA MAGISTRATURA, por unanimidade de votos, em sede de reexame necessário, MANTER A SENTENÇA DE 1º GRAU, nos termos do relatório e voto da Relatora. RELATÓRIO Trata-se de Dúvida suscitada pelo Oficial do Cartório do 5º Ofício de Registro de Imóveis da Cidade do Rio de Janeiro ao Exmo. Dr. Juiz de Direito da Vara de Registros Públicos da Comarca da Capital, que se iniciou a partir de requerimento para averbação, junto à matrícula nº 115642, de vaga de garagem vinculada ao imóvel situado à Rua Nascimento Silva, n 07, apto. 606, Ipanema, nesta cidade. Em sua inicial (fls.03 e 04) o Oficial suscitante esclarece que deixou de efetuar a averbação requerida, pois não consta na matrícula do referido apartamento que este tenha direito à vaga de garagem mencionada apenas na Convenção de Condomínio. Não podendo atender à exigência formulada, a interessada requereu ao Oficial Registrador (fls.05/08) que suscitasse o procedimento de dúvida que ora se apresenta. Documentos anexados (cópias): escritura de convenção de condomínio (fls.13/35); instrumento particular de aditamento, retificação e ratificação da convenção de condomínio (fls.36/52); certidão de ônus reais (fls.61 e 62); escritura de inventário e partilha de bens do
Espólio de Antônio dos Santos Seixas outorgado comprador (fls.65/68- verso); escritura de compra e venda e cessão, com pacto adjeto de hipoteca e respectiva certidão (fls.69/72 e 73/79-verso). Impugnação às fls.83/86 sustentando que o direito à vaga de garagem constou na escritura de compra e venda do imóvel em questão, bem como na escritura de Convenção de Condomínio, deixando de ser mencionada na matrícula do imóvel por erro material do Registrador. opinando pela improcedência da Dúvida. Promoção do Ministério Público às fls.93 e 93-verso improcedente. Sentença de fls.94 e 95 julgando a Dúvida Sem recurso, os autos vieram a este E. Conselho da Magistratura, em razão do duplo grau obrigatório de jurisdição, nos termos do disposto no artigo 89, 2º, do CODJERJ. Parecer do D. Ministério Público às fls. 132/141 opinando pela reforma da sentença para que a dúvida seja julgada procedente. É O RELATÓRIO. VOTO No caso em comento, a parte interessada requereu junto ao Cartório do 5º Ofício do Registro de Imóveis da Capital a
averbação junto à matrícula nº 115642, de vaga de garagem vinculada ao imóvel situado à Rua Nascimento Silva, nº 07, apartamento 606, Ipanema, nesta cidade. O Titular do referido cartório não procedeu ao requerido sob a alegação de não consta na matrícula do apartamento em questão, o direito à vaga de garagem, segundo ele, mencionada apenas na Convenção de Condomínio. situação apresentada. Feitas as iniciais considerações, passa-se à análise da Na escritura de compra e venda e cessão datada de 30 de julho de 1971 (fls.73/79) e lavrada no Livro 1190, fl.70, junto 22º Ofício de Notas, figuraram como vendedores José Joel Salgado Bastos e sua mulher Maria Magdalena de Paiva Bastos, figurando como segunda interveniente, cedente e vendedora de benfeitorias Maria Conceição Tavares Macedo Serejo e outros, que outorgaram a Antônio dos Santos Seixas e a sua mulher Vilma Pugliese Seixas ora interessada o imóvel nº606 e sua respectiva vaga de garagem nos seguintes termos: Pela 2ª Cedente também no prólogo desta qualificada me foi então dito que nos termos da escritura de 21.11.63, lavrada no 18 Ofício de Notas, antes citada, tornou-se promitente cessionária dos direitos à compra de fração - de 1/120 antes citada; que, com seus recursos próprios, construiu o apartamento 606 com direito a uma vaga na garage aquela fração vinculada e cujo terreno tomou o n 7 da Rua Nascimento Silva, de cuja construção nada deve e acha-se em fase de averbação no competente cartório imobiliário. (grifado)
Dito isso, em que pese a brilhante argumentação da Douta Procuradoria, no sentido de que a convenção de condomínio não poderia conceder aos proprietários dos apartamentos do edifício em questão o direito exclusivo de propriedade sobre uma área delimitada, vê-se que a vaga de garagem em questão já estava descrita na escritura de compra e venda e cessão com pacto adjeto de hipoteca de 30/07/71, registrada em setembro de 1971 e anexada às fls.73/79. Existe, portanto, além da convenção de condomínio declarando tal direito, uma escritura que também comprova a existência da referida vaga, o que evidencia o cabimento da averbação inicialmente pleiteada. Com efeito, ainda que em matéria de registros públicos se preze pela observância da legalidade estrita e pela segurança jurídica, deve haver, in casu, uma mitigação com a razoabilidade. Como é cediço, o princípio da razoabilidade é uma diretriz de senso comum, ou mais exatamente, de bom-senso, aplicada ao Direito. Assim sendo, não seria razoável que, diante da documentação acostada aos autos, o Juízo Registral negasse à parte interessada a averbação por ela pretendida, sendo certo que tal ato não constituiria qualquer abalo à segurança jurídica. Cabe adotar, na situação aqui ventilada, a solução mais conveniente e oportuna, conforme autoriza o disposto no artigo 1109 do Código de Processo Civil:
Art. 1.109. O juiz decidirá o pedido no prazo de 10 (dez) dias; não é, porém, obrigado a observar critério de legalidade estrita, podendo adotar em cada caso a solução que reputar mais conveniente ou oportuna. (grifado) É de se destacar, por oportuno, que esta tem sido a orientação adotada por este Egrégio Conselho em situações análogas, conforme as ementas abaixo transcritas: REEXAME NECESSÁRIO. PROCEDIMENTO DE DÚVIDA. PRETENSÃO DE AVERBAÇÃO DO DIREITO AO USO DE VAGA DE GARAGEM. HIPÓTESE DOS AUTOS EM QUE A RECUSA DO OFICIAL REGISTRADOR CALCOU-SE NO FATO DE A CONVENÇÃO DO CONDOMÍNIO NÃO ESTAR REGISTRADA, BEM ASSIM PORQUE TAL DIREITO NÃO SE ENCONTRAVA DISCRIMINADO JUNTO À MATRÍCULA DO IMÓVEL. APRESENTAÇÃO PELO INTERESSADO DE PROVAS CONSISTENTES VINCULANDO O DIREITO E O USO EFETIVO DA GARAGEM À SUA UNIDADE CONDOMINIAL. APLICAÇÃO AO CASO CONCRETO DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE, REDUNDANDO NO ACOLHIMENTO DO REQUERIMENTO DE AVERBAÇÃO, SEM IMPLICAR EM VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE REGISTRAL OU À SEGURANÇA JURÍDICA. MANUTENÇÃO, EM DUPLO GRAU OBRIGATÓRIO DE JURISDIÇÃO, DA IMPROCEDÊNCIA DA DÚVIDA SUSCITADA. (Conselho da Magistratura, Processo nº0331304-19.2012.8.19.0001, Relatora Desembargadora Jacqueline Lima Montenegro, Julgamento em 11/07/2013) DUPLO GRAU OBRIGATÓRIO DE JURISDIÇÃO. SERVIÇO REGISTRAL. DÚVIDA. REQUERIMENTO DE AVERBAÇÃO DE VAGA DE GARAGEM. NEGATIVA EM VIRTUDE DE NÃO CONSTAR NA
MATRÍCULA Nº. 38628, REFERENTE AO IMÓVEL, DIREITO À VAGA DE GARAGEM. EXISTÊNCIA DE CONVENÇÃO DE CONDOMÍNIO REGISTRADA, OUTORGANDO DIREITO À QUOTA PARTE NO CONDOMÍNIO DA GARAGEM. SENTENÇA DE IMPROCEDÊNCIA DA DÚVIDA, ENTENDENDO RAZOÁVEL RECONHECER O DIREITO À INTERESSADA, FRENTE AO PRINCÍPIO DA IGUALDADE. REEXAME NECESSÁRIO. PARECER DA PROCURADORIA GERAL DA JUSTIÇA OPINANDO PELA REFORMA DA SENTENÇA. PEDIDO QUE TEM NATUREZA JURÍDICA DE AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE REGISTRO IMOBILIÁRIO. EXIGÊNCIA DIANTE DA QUEBRA DO PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE REGISTRAL. RECUSA QUE NÃO SE REVELA PRUDENTE E RAZOÁVEL, DEVENDO PREVALECER NA PRESENTE AFERIÇÃO O PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE. INTELIGÊNCIA DO ARTIGO 1.109 DO CPC. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. IMPROCEDÊNCIA DA DÚVIDA.. (Conselho da Magistratura, Processo nº 0364838-22.2010.8.19.0001, Rel. Des. Marcus Basílio, j. 02/02/2012) Por fim, cabe ressaltar que, embora seja louvável a cautela adotada pelo Oficial Registrador ao suscitar o presente procedimento, não merece reparo a sentença que julgou a Dúvida improcedente. Isto posto, em sede de reexame necessário, voto no sentido de manter a decisão de improcedência da Dúvida. Rio de Janeiro, 12 de dezembro de 2013. Desembargadora MARIA SANDRA KAYAT DIREITO Relatora