O FUTURO DA ZONA EURO. José da Silva Lopes



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Transcrição:

O FUTURO DA ZONA EURO José da Silva Lopes IDEFF, 29-11-2011 1

VIAS ALTERNATIVAS PARA FAZER FACE À CRISE DA ZONA EURO As propostas que têm vindo a ser apresentadas por economistas, comentadores e políticas são muito variadas e, como é natural, são frequentemente diferentes ou até opostas entre si. I - Austeridade para reduzir os desequilíbrios financeiros II - Promoção do crescimento económico III - Auxílios da União Europeia IV- Política do Banco Central Europeu V - Incumprimento por parte dos países com mais problemas de dívida externa VI - Aprofundamento da União Política na Zona Euro VII - Saída da Zona Euro 2

I - AUSTERIDADE 3

AUSTERIDADE - 1 Na Zona Euro, políticas keynesianas em 2009 e políticas de austeridade (orçamentais e monetárias), a partir de 2010 Os defensores da austeridade sustentam que ela é fundamental para ganhar a confiança dos mercados e assim conseguir mais crescimento económico no futuro Mas não têm sido assim. Os mercados exigem austeridade e crescimento económico, mas esses objectivos são contraditórios. O total dos saldos das contas públicas dos países da Zona Euro desceu de um défice de 6,4% do PIB em 2009 para 4,1 % em 2011 e para um valor projectado de 3,4% em 2012. A política monetária do BCE de 2010 e 2011 ficou longe de ser expansionista. O volume da procura interna no conjunto da Zona Euro, depois de ter descido 3,7% em 2009, aumentou apenas 1,1% em 2010 e segundo as estimativas e previsões da Comissão Europeia no Outono de 2011, subirá apenas 1% no presente ano e 0,3% em 2012. Está previsto que o PIB só subirá 3,9% nos triénio 2010-2012, o que nem sequer chega para anular o efeito da queda de 4,2% em 2009. A taxa de desemprego que foi de 7,6% em 2008 agravou-se progressivamente e atingirá 10% em 2011 no conjunto da Zona Euro 4

AUSTERIDADE - 2 A austeridade resulta em Contracções do PIB e aumentos do desemprego Impõe sacrifícios à população difíceis de suportar e pode conduzir a distúrbios sociais As contracções do PIB tendem a dar origem a um círculo vicioso Por isso, os críticos da austeridades sustentam que como ela não conduz só por si a maior confiança dos mercados, deve ser precedida por políticas de algum expansionismo que evitem recessões e produzam algum crescimento económico. Só posteriormente se deverá proceder de forma gradual à correcção dos desequilíbrios orçamentais e da balança de pagamentos através de mais contenção e restritividade nas políticas orçamental e monetária. Os países com mais dificuldades em obter financiamentos para as suas dívidas públicas e com maiores desequilíbrios externos têm porém pouca margem de manobra para seguirem essa orientação, salvo se obtiverem auxílios externos em montantes adequados. A viabilidade da Zona Euro exige tais auxílios. 5

II - PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO 6

PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO -1 Tanto a corrente conservadora dominante na União Europeia, como os críticos dessa corrente consideram que a promoção do crescimento económico é uma das vias fundamentais para se sair da crise da Zona Euro. A corrente conservadora entende que as políticas da procura devem servir unicamente para, através da austeridade, corrigir os desequilíbrios financeiros e económicos existentes e que o crescimento económico deve ser promovido apenas por políticas dirigidas ao lado da oferta, assentes em reformas estruturais Os críticos da corrente conservadora sustentam que as políticas da procura têm um papel fundamental não só para evitar quebras do crescimento económico a curto prazo e como também para estimular esse crescimento a médio prazo. as políticas dirigidas ao lado da oferta são também indispensáveis, mas não dispensam o contributo das políticas da procura. 7

PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO - 2 Entre as reformas estruturais defendidas pelas correntes conservadoras destacam-se: as reformas estruturais na área das finanças públicas com vista a impor mais disciplina sobre elas e a evitar défices orçamentais; a redução de impostos, que quando situam em níveis relativamente altos, são considerados como obstáculos ao crescimento económico: as privatizações de empresas públicas; a reestruturação dos sistemas de segurança social para evitar que o seu financiamento e os seus encargos pese menos nas receitas e nas despesas do Estado: a maior liberalização das regulamentações dos mercado de trabalho e outros mercados de produtos s serviços. a maior defesas da concorrência 8

PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO - 3 Os críticos da corrente conservadora, embora concordem com algumas das reformas propostas por essas correntes põem em destaque a contribuição do Estado: para a formação e manutenção de capital humano (educação, formação profissional, saúde); para o progresso tecnológico, que favorece a produtividade das empresas; para a promoção de investimentos em infra-estruturas necessária ao progresso das actividades produtivas para a correcção das falhas de mercado mais gritantes para a maior coesão social que, segundo muitos economistas, tem efeitos positivos sobre o crescimento económico. Os mesmos críticos sustentam que a consolidação orçamental demasiado violenta tem efeitos adversos sobre o crescimento económico a médio a longo prazo. Além disso, observam que: os efeitos das reformas estruturais só aparecerão a médio e a longo prazo; e que é natural que várias dessas reformas não venham a produzir os resultados que têm sido apregoadas 9

PROMOÇÃO DO CRESCIMENTO ECONÓMICO - 4 Os países membros da Zona Euro enfrentam difíceis problemas de crescimento económico provocados por: impossibilidade de vários países da Zona Euro de recorrerem a desvalorizações cambiais para melhorarem a sua competitividade. concorrência agressiva da China e de outras economias emergentes. políticas de austeridade a que os países com desequilíbrios financeiros mais graves não conseguem escapar políticas restritivas da procura interna postas em prática na Alemanha, apesar de haver larga margem para políticas mais expansionistas Aumento da competitividade da Alemanha á custa de crescimento de salários inferior ao da produtividade, em contraste com a maioria dos outros países membros da Zona Euro. Desde 2000 a 2011 os CTUPs cresceram na Alemanha 15% menos do que no conjunto da EU-15 Alemanha Resto da Zona Euro (12) 2000-2008 2008-2012 2000-2008 2008-2012 PIB 1,4 0,5 1,9-0,6 Procura Interna 0,5 0,9 2,0-1,3 Exportações 6,8 2,4 3,5 1,9 10

III -AUXÍLIOS AOS ESTADOS MEMBROS COM MAIORES DIFICULDADES FINANCEIRAS 11

AUXÍLIOS AOS ESTADOS MEMBROS COM MAIORES DIFICULDADES FINANCEIRAS Fundo Europeu de Estabilidade Financeira Mecanismo de Estabilidade Financeira Problemas Recursos insuficientes Alavancagem Garantias dos Estados membros Não intervém os mercados da dívida pública (primários e secundários) Euro-obrigações (Eurobonds) Oposição da Alemanha Estes auxílios são fundamentais para complementar as intervenções do Banco Central Europeu Jogo de empurra entre o BCE e os governos 12

IV POLÍTICAS DO BANCO CENTRAL EUROPEU 13

POLÍTICAS DO BANCO CENTRAL EUROPEU - 1 Muitos economistas dos mais destacados sustentam que a crise da Zona Euro só pode ser vencida se o Banco Central Europeu actuar como prestamista de última instância. O BCE deverá garantir que intervirá até onde for necessário para fazer com que as taxas de juro a que os títulos da dívida pública são transaccionados nos mercados não ultrapassam limites razoáveis. Até agora as intervenções do BCE tem sido muito limitadas. Desde Maio de 2010 o BCE despendeu apenas cerca de 200 b. de na aquisição no mercado secundário de títulos da Grécia, da Irlanda de Portugal, da Espanha e da Itália. Essas intervenções não evitaram subidas desmesuradas dos juros das dívidas públicas desses países nos mercados. Os Bancos Centrais dos EUA e do Reino Unido têm-se mostrado muito abertos a actuar como prestamistas de última instância que o BCE.. Assim se explica, por exemplo, que as taxas de juro para a dívida pública a 10 anos terem sido ultimamente da ordem de 7% na Espanha e de apenas á volta de 2,3% no Reino Unido Isso, apesar de as finanças públicas espanholas (com valores previstos para 2011 de 6,6% do PIB no défice orçamental e de 70% no peso da dívida pública) estarem numa posição bastante mais sólida do que as do Reino Unido (défice orçamental de 9,4% e peso da dívida pública de 84%) 14

POLÍTICAS DO BANCO CENTRAL EUROPEU - 2 As intervenções do Banco Central Europeu devem dirigir-se essencialmente a problemas de falta de liquidez, isto é a situações de taxas de juro demasiado elevadas que não são provocadas por perspectivas bem fundamentadas de insustentabilidade da dívida pública. Quando a dívida pública é claramente insustentável a prazo, a solução não pode estar só nos financiamentos do BCE. Nesses casos, são necessárias outras soluções: condicionalismos e limitações às finanças públicas e por vexes também aos financiamentos ao sector privado; e apoios a médio prazo de Fundos da EU e de Eurobonds As opiniões do BCE, da Alemanha e dos economistas conservadores são contrárias às intervenções mais activas nos mercados da dívida pública. Os seus argumentos são os seguintes: Os Estatutos do BCE não permitem o apoio financeiro (bail out) a favor das dívidas públicas dos países membros. O objectivo fundamental do BCE é manter a inflação em níveis muito baixos (de não mais de 2%). A intervenção em grande escala do BCE nos mercados da dívida pública poria em risco esse objectivo e diminuiria a reputação do BCE, provocando a subida dos prémios de risco contidos nas taxas de juro do Euro. 15

POLÍTICAS DO BANCO CENTRAL EUROPEU - 3 Contra-argumentos dos que defendem fortes intervenções do BCE para estabilizar os mercados da dívida pública dos países da Zona Euro (continuação). O combate á inflação não deve ser o objectivo principal da política económica. Embora o combate a taxas de inflação elevadas seja difícil e custoso, as taxas de inflação moderadas durante períodos não muto longos podem favorecer o crescimento e o emprego, nomeadamente por permitirem reduções em termos reais das taxas de juro e dos salários e por facilitarem ajustamentos nos preços relativos. Bastaria que o BCE anunciasse uma política de grande abertura ás intervenções nos mercados das dívidas públicas para que os mercados acalmassem Por causa desse efeito, para se combater a instabilidade nos mercados financeiros as intervenções efectivas do BCE acabariam provavelmente por ser bastante moderadas Sem um papel decisivo do BCE nos mercados da dívida pública, o risco de colapso da Zona euro é muito elevado. 16

VI -APROFUNDAMENTO DA UNIÃO POLÍTICA NA ZONA EURO 17

APROFUNDAMENTO DA UNIÃO POLÍTICA NA ZONA EURO - 1 A presente crises da Zona Euro reforçou a opinião dos que, desde o início, consideram que a Zona Euro não poderia funcionar adequadamente sem uma coordenação apertada das finanças públicas dos Estados membros e sem um orçamento federal com uma dimensão significativa. Muitos consideram que a coordenação não deve incidir apenas sobre as finanças públicas e deve estender-se também às políticas com efeito na competitividade e ao endividamento externo total dos diversos países. Todavia a ambição de federalismo na Europa tem vindo cada vez mais a perder força. Os nacionalismos é que têm vindo a triunfar. Numa recente reunião, A. Merkel e N. Sarkosy anunciaram a intenção de promoverem a revisão do Tratado de Lisboa no sentido de se avançar para mais União Política na União Europeia. O que têm em vista é essencialmente reforçar a coordenação das políticas de finanças públicas e possivelmente algumas políticas relacionadas com a competitividade 18

APROFUNDAMENTO DA UNIÃO POLÍTICA NA ZONA EURO - 2 Mais especificamente o que Merkel-Sarkosy pretendem é endurecer o Pacto de Estabilidade e Crescimento, impondo penalizações mais severas pelo não cumprimento dos seus limites, estabelecendo a regra dos orçamentos equilibrados insistentemente defendida pela Alemanha e intervindo no processo de aprovação dos Orçamentos e das Contas do Estado pelos parlamentos dos Estados Membros. Para esse efeito admite-se a criação de um Ministério das Finanças Europeu com poderes supranacionais para vigiar, controlar e sancionar as políticas orçamentais dos Estados Membros. É de admitir que também se pretenda conferir poderes à União Europeia para intervir em políticas que tenham efeitos na competitividade, nomeadamente as políticas do mercado de trabalho Basicamente o que a Alemanha procura impor é a germanização da Zona Euro. Não há quaisquer indicações de que Merkel-Sarkosy e outros países influentes da União Europeia pensem em reforçar os poderes das instituições europeias, nomeadamente a Comissão e o Parlamento, virem a ter mais poderes em relação aos governos e parlamentos nacionais, como seria necessário num verdadeiros projecto de União Política. 19

APROFUNDAMENTO DA UNIÃO POLÍTICA NA ZONA EURO - 3 Não será por isso de esperar a ampliação do Orçamento comunitário com características federais, que permitam: que a União cobre directamente impostos em todos os países membros, à semelhança, embora certamente no mesmo grau, do que acontece em países organizados de forma federal financiar o reforço e a extensão de políticas comuns, como a da investigação e desenvolvimento, as de coesão social, as de uma rede europeia de transportes, as de apoio a pequenas e médias empresas, as de desenvolvimento regional, etc.; contribuir para atenuar, através de estabilizadores automáticos, as dificuldades dos países atingidos por choque assimétricos ou choques cíclicos; fornecer auxílios financeiros adequados a países com mais problemas de endividamento externo ou crises económicas mais profundas. 20

VII - SAÍDAS DA ZONA EURO OU O COLAPSO DESSA ZONA 21

SAÍDAS DA ZONA EURO OU O COLAPSO DESSA ZONA - 1 Quatro cenários possíveis A. Colapso da Zona euro, voltando todos os países a ter as suas moedas nacionais B. Saída da Zona Euro de países com mais dificuldades de financiamento ou de crescimento económico C. Saída da Zona Euro da Alemanha. que poderia ou não ser acompanhada por outros países com políticas e condições mais semelhantes O Cenário A tornou-se muito provável na última semana, salvo se na Cimeira de chefes de Estado e de Governo marcada para 9 de Dezembro a Alemanha alterar radicalmente a suas posição relativamente à emissão de Eurobonds e ao papel do BCE como prestamista de última instância na área das dívidas públicas. Esse cenário, para além de outras dificuldades muito sérias que provocaria, implicaria um enfraquecimento da União Europeia que poderia levar a que esta ficasse reduzida a una Zona de Comércio Livre As maiores dificuldades estariam na designação da moeda (o euro ou a nova moeda nacional) em que passariam a estar denominados os contratos actualmente expressos em euros, nomeadamente os que se referem a activo e passivos financeiros (com especial destaque para os créditos e os depósitos bancários 22

SAÍDAS DA ZONA EURO OU O COLAPSO DESSA ZONA - 2 O Cenário B: significa que os países que saíssem da Zona Euro voltariam a poder desvalorizar a sua nova moeda nacional e a conduzir a sua própria política monetária resultaria quase pela certa em ganhos da competitividade perante o exterior, dessa forma animando o crescimento económico; implicaria subidas muito consideráveis da inflação facilitaria subidas dos preços dos bens transaccionáveis em relação aos não transaccionáveis, que seria favorável à redução do desequilíbrio externo e ao estímulo do crescimento económico as melhorias da competitividade assentariam na redução real de salários e outros rendimentos, e teriam em termos reais, custos sociais elevados, embora certamente mais suportáveis do que os das políticas de contracção da procura interna os economistas com tendências mais conservadoras objectam todavia que os efeitos positivos da desvalorização cambial se esgotariam rapidamente e que a subida da inflação prejudicariam o crescimento económico As experiências dos países que desvalorizaram fortemente em situações de crise não fornecem grande suporte às teses conservadoras. 23

SAÍDAS DA ZONA EURO OU O COLAPSO DESSA ZONA - 3 Cenário B (continuação) Deve no entanto reconhecer-se que a efectividade das desvalorizações cambiais vai enfraquecendo à medida que os agentes económicos vão perdendo a ilusão monetária e vão incorporando expectativas inflacionárias no seu comportamento. Esse processo poderá porém desenvolver-se com bastante mais lentidão do que os conservadores admitem. Prova-o a experiência das desvalorizações do escudo nos anos de 1976 a 1989. Argumenta-se que as desvalorizações cambiais levariam a aumentos consideráveis das taxas de juro reais, por estas passarem a incorporar altos prémios de risco. Esse efeito tenderia a neutralizar os eventuais efeitos positivos sobre a competitividade e o crescimento que as desvalorizações possam produzir Pode no entanto responder-se que os prémios de risco actualmente incorporados pelos mercados financeiros nas taxas de juro dos países com maiores dificuldades de financiamento são já exorbitantes e poderiam provavelmente descer se esses países saíssem da Zona euro. 24

SAÍDAS DA ZONA EURO OU O COLAPSO DESSA ZONA 4 O problema de longe mais grave seria porém o da denominação dos activos e passivos financeiros em euros ou na nova moeda que os substituísse. Os preços, salários, impostos e remunerações do capital praticados internamente passariam a ser denominados na nova der moeda nacional. O mesmo sucederia com elevado grau de probabilidade com muito activos e passivos financeiros de residentes sobre outros residentes. As dívidas e outros passivos em relação a não residentes teriam porém de manter-se em euros. O que aconteceria com obrigações ou outros passivos em que os detentores são simultaneamente residentes e não residentes? Como a saída do Euro levaria à rápida depreciação da nova moeda nacional e a grandes subidas da inflação: Haveria fortes perdas no valor real dos activos que passassem a estar denominados na nova moeda nacional. A partir do momento em que muitos dos possuidores desse activos começassem a recear a sério que a saída da Zona euro procurariam transferi-los para o exterior e seria provável uma corrida aos bancos. Seria necessário que previamente se instaurassem controlos sobre os movimentos de capitais, mas o Tratado da União não permite tais controlos, O peso das referidas dívidas e passivos que continuassem a ser denominados em Euros e o dos respectivos rendimentos em relação aos rendimentos e aos activos dos devedores agravar-se-ia enormemente. Haveria riscos de colapso do sistema bancário e de falências em série de empresas e particulares. 25

SAÍDAS DA ZONA EURO OU O COLAPSO DESSA ZONA - 5 Cenário C A saída da Alemanha e de outros países que acompanham mais de perto as políticas económicas alemãs levaria ao fim da integração monetária na Europa. Tal como ela hoje existe. Passaria a haver: ou duas zonas monetárias europeias a que fosse comandada pela Alemanha e outra, mais fraca, que fosse constituída por parte ou pela totalidade dos outros actuais membros da Zona Euro ou o retorno de grande parte dos países europeus a moedas nacionais Em qualquer caso, a moeda alemão ou da união monetária que ela comandasse tenderia a valorizar-se-ia substancialmente às dos restantes países da Zona Euro. Isso implicaria perdas de competitividade e possivelmente menos crescimento económico para a Alemanha. Mas traria provavelmente benefícios para os restantes países membros da Zona Euro, que com as suas moedas depreciadas em relação à alemã, veriam a sua competitividade reforçada e ficariam mais livresv dos efeitos da política alemã de empobrecer o vizinho 26