LIVRO VERDE SOBRE UMA MAIOR EFICÁCIA DAS DECISÕES JUDICIAIS NA UNIÃO EUROPEIA: PENHORA DE CONTAS BANCÁRIAS
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- Lívia Marroquim Capistrano
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1 LIVRO VERDE SOBRE UMA MAIOR EFICÁCIA DAS DECISÕES JUDICIAIS NA UNIÃO EUROPEIA: PENHORA DE CONTAS BANCÁRIAS PARECER SOLICITADO PELO CESE CONSELHO ECONÓMICO E SOCIAL EUROPEU CONTRIBUTO DA CTP CONFEDERAÇÃO DO TURISMO PORTUGUÊS I Caracterização geral ao disposto sobre acção executiva no ordenamento jurídico português Em Portugal, acção judicial executiva é aquela pela qual um cidadão ou uma pessoa colectiva requerem ao Tribunal a adopção de medidas adequadas à reparação efectiva de um direito seu que tenha sido violado. Ressalva, pois, que à exigência por via judicial do cumprimento de um dever, corresponde a concretização coerciva do seu conteúdo. A acção executiva tem como características: visar o pagamento de uma quantia certa, visar a entrega de uma coisa certa e a prestação de um facto positivo ou negativo. No caso português, tanto no caso da execução para entrega de coisa certa como no da execução para a prestação de um facto, caso o executado não cumpra a obrigação, ocorrerá sempre a conversão em execução para pagamento de quantia certa. Neste último tipo de acção, não existindo pagamento voluntário do devedor, realiza-se a denominada penhora dos seus bens ou direitos e, em casos particulares, dos de terceiro, como ocorre quando os bens estejam vinculados à garantia do crédito ou sejam objecto de acto praticado em prejuízo do credor. 1
2 Em fase posterior procede-se à entrega directa de dinheiro ao credor, à atribuição ao exequente dos bens penhorados, ao pagamento de quantias extraídas dos rendimentos produzidos ou à venda seguida da entrega ao credor dos montantes pecuniários apurados. II Breves notas sobre o regime dos bens penhoráveis Em traços gerais, o panorama legislativo nacional em relação aos tipos de bens que podem ser atingidos pela execução, processa-se de acordo com os seguintes critérios e limites: Estão sujeitos à execução todos os bens do devedor susceptíveis de penhora. Todavia, em casos especialmente previstos na lei, podem ser penhorados bens de terceiro, desde que a execução tenha sido movida contra ele. A penhora limita-se aos bens necessários para provir o pagamento da dívida exequenda e das despesas previsíveis da sua execução, estando submetida a condições especiais. Ou seja, só podem ser penhoradas as coisas e direitos susceptíveis de avaliação pecuniária, não o podendo ser os bens que estejam fora do comércio. Assim, não podem ser, em absoluto, penhorados: a) As coisas ou direitos inalienáveis; b) Os bens do domínio público do Estado e das restantes pessoas colectivas públicas; c) Os objectos cuja apreensão seja ofensiva dos bons costumes ou careça de justificação económica, pelo seu diminuto valor venal; d) Os objectos especialmente destinados ao exercício de culto público; e) Os túmulos; 2
3 f) Os bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na residência permanente do executado, salvo se se tratar de execução destinada ao pagamento do preço da respectiva aquisição ou do custo da sua reparação; g) Os instrumentos indispensáveis aos deficientes e os objectos destinados ao tratamento de doentes. Os bens do Estado e das restantes pessoas colectivas públicas, de entidades concessionárias de obras ou serviços públicos ou de pessoas colectivas de utilidade pública que se encontrem especialmente afectados à realização de fins de utilidade pública, estão isentos de penhora, salvo, tratando-se de execução para pagamento de dívida com garantia real. Estão igualmente isentos de penhora, os instrumentos de trabalhos e os objectos indispensáveis ao exercício da actividade ou formação profissional do executado 1. São impenhoráveis: a) Dois terços dos vencimentos, salários ou prestações de natureza semelhante, auferidos pelo executado; b) Dois terços das prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de outra qualquer regalia social, seguro, indemnização por acidente ou renda vitalícia, ou de quaisquer outras pensões de natureza semelhante, que tem como limite máximo o montante equivalente a três salários mínimos nacionais à data de cada apreensão e como limite mínimo, quando o executado não tenha outro rendimento e o crédito exequendo não seja de alimentos, o montante equivalente a um salário mínimo nacional. 1 Salvo se: a) O executado os indicar para penhora; b) A execução se destinar ao pagamento do preço da sua aquisição ou do custo da sua reparação; c) Forem penhorados como elementos corpóreos de um estabelecimento comercial. 3
4 São igualmente impenhoráveis a quantia em dinheiro ou o depósito bancário resultantes da satisfação de crédito impenhorável, nos mesmos termos em que o era o crédito originariamente existente, salvo quando se trate de matéria subtraída à disponibilidade das partes. Podem ser objecto de uma execução os bens imóveis, os bens móveis, os direitos e expectativas de aquisição, os abonos ou vencimentos, os depósitos bancários, os bens indivisos, as quotas em sociedades e os estabelecimentos comerciais. III Considerações gerais acerca do modo de penhora de contas bancárias em Portugal No que concerne em concreto à penhora das contas bancárias, é obrigação das instituições de crédito em Portugal quando notificadas para que se possa proceder à penhora de saldos de contas de depósito bancário, comunicar ao agente de execução, no prazo de 15 dias, o montante dos saldos existentes ou a inexistência de conta ou saldo. A penhora que incida sobre depósito existente em instituição legalmente autorizada a recebê-lo é feita através de notificação, preferentemente por comunicação electrónica, e mediante despacho judicial. A notificação é feita directamente às instituições de crédito, com a menção expressa de que o saldo existente, ou a quota-parte do executado nesse saldo, fica cativo desde a data da notificação e só é passível de movimentação pelo agente de execução até ao limite da dívida exequenda e das despesas previsíveis da execução. IV Principais questões levantadas no Livro Verde temas para debate e discussão 4
5 1. Viabilidade de estabelecimento de um sistema europeu de penhora de contas bancárias? 2. Em que circunstâncias é que o credor pode requerer uma ordem de penhora? 3. Quais Condições de emissão da penhora? 4. Como se processa a audição do devedor? 5. Informações exigidas sobre a conta bancária? 6. Qual a competência Jurisdicional? 7. Montante e limites da ordem de penhora no âmbito do sistema europeu? 8. Montantes isentos da execução? 9. Efeitos da ordem de penhora? 10.Protecção do devedor? 11.Ordem de prioridade de credores concorrentes? 12.Conversão em medida executória? V Apreciação conclusiva tendo por base a conjugação com o regime jurídico português e as propostas constantes do Livro Verde O Sistema actualmente em vigor em Portugal alvo de uma recente reforma está do ponto de vista conceptual satisfatoriamente construído. Poder-se-á criticar a sua morosidade em virtude de alguns mecanismos processuais ainda pouco agilizados. Todavia, do ponto de vista daquilo que é a protecção dos interesses jurídicos do credor e do devedor, parecem estar criadas as estruturas de defesa adequadas à situação. Quando se consideram os modelos de processo executivo existentes nas várias ordens jurídicas, constata-se que têm todos um ponto comum, ou seja, a apreensão e a satisfação do crédito. Trata-se portanto de executar um crédito pecuniário, ou um direito a uma prestação de um facto que o devedor não realize. 5
6 Nesse seguimento, penhoram-se bens e, seguidamente, vendem-se, adjudicam-se ou consignam-se os rendimentos. Nos casos em que está em causa a prestação duma coisa, ela é apreendida e entregue ao exequente. Contudo, as várias ordens jurídicas diferem fundamentalmente, em relação a aspectos fulcrais, tais como: a) Intervenção na execução do tribunal e do juiz; b) Extensão do título executivo; c) Formas de processo executivo; d) Posição dos credores em face da acção executiva alheia; e) Descoberta dos bens patrimoniais do devedor. Como anteriormente referimos, consideramos o direito português, mais generoso que os restantes direitos europeus, designadamente, na concessão da exequibilidade. Pensamos que apesar dos direitos do exequente serem altamente respeitáveis, dever-se-á ter sempre em linha de consideração o direito do executado se defender contra execuções injustas. Se a celeridade do sistema de execução nacional pode ser melhorada, ele deverá ter sempre em linha de consideração o respeito pelos direitos que assistem a exequente e executado. Por outro lado, é essencial saber distinguir a execução do título judicial da execução de títulos formados extrajudicialmente, por vezes em circunstâncias contestáveis. No caso deste último, o seu valor probatório é ilidível sendo-lhe conferida uma maior amplitude nos casos de oposição à execução, do que contra a decisão judicial. 6
7 No direito processual civil vigente em Portugal e, de acordo com a tradição dos países latinos, à excepção de países como a França, o juiz guarda a direcção formal do processo executivo. Na grande generalidade dos casos, só o controlo judicial pode evitar que, se cometam danos irreparáveis ou de difícil reparação, nomeadamente, em casos de penhora. Pelo conjunto das várias reflexões anteriormente expostas, a CTP mostra algumas reservas em relação ao modo em como é apresentada neste Livro Verde a proposta sobre penhora de contas bancárias ao nível da União Europeia, designadamente, ao nível da garantia jurisdicional e da uniformização de critérios entre ordenamentos jurídicos diametralmente opostos em termos de concepção e estrutura jurídica. Contudo, consideramos que esta discussão deverá evoluir, por compartimentos isolados, passo a passo, até à última das etapas propostas no livro verde. A posição da CTP aqui é vertida, é inicial e pretende dar sequência a uma discussão que se espera profícua, por modo a analisar da pertinência, ou não, de criação de um sistema comum a nível da U.E. atinente à penhora de contas bancárias. Lisboa, 17 de Janeiro de
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