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Transcrição:

Sumário 1 Introdução... 1 2 Dinâmica dos Fluxos de Caixa... 2 3 Capital Circulante Líquido (CCL) e Conceitos Correlatos... 4 4 Necessidade de capital de giro (NCG)... 6 5 Saldo em Tesouraria (ST)... 9 6 Reflexões sobre a relação entre CCL, NCG e ST... 11 7 Interpretação dos Dados da Empresa ANALISADA... 14 1 Introdução Vimos, no estudo dos índices de giro, ou atividade, o conceito de Ciclo, que corresponde ao período compreendido entre: (a) o desembolso, pelo pagamento de mercadorias ou insumos de produção, tais como a matéria-prima; e (b) o recebimento de valores pela venda, da mercadoria ou do produto acabado. A figura a seguir ilustra o conceito acima referido. Os ciclos de uma empresa: (1) ciclo econômico, (2) ciclo financeiro e (3) ciclo operacional; e Os respectivos períodos: (a) período médio de estoques, (b) período médio de pagamento e (c) período médio de cobrança compra de matéria prima Recebimento da venda Ciclo Período médio de Estoques Venda Período médio de cobrança período médio de pagamento pagamento das compras Ciclo Ciclo Econômico Pela definição do conceito, bem como pela visualização da figura acima, resta imediata a compreensão de que, para que a entidade possa levar a efeito sua atividade, é necessário contar com recursos, pelo menos durante o Ciclo. Em outras palavras, como nesse período, já teria havido consumo, mas ainda não teria ocorrido o recebimento de caixa, a atividade da entidade teria que ser financiada, com recursos próprios ou de terceiros. Luiz Eduardo Santos Página 1 de 15

Porém, aqui surgem os seguintes questionamentos: (1) Qual é a quantia necessária para garantir o funcionamento da entidade, ou seja, para financiá-la durante o Ciclo? (2) Existem esses recursos no patrimônio da entidade? (3) De onde esses recursos estariam se originando de capitais próprios, de capitais de terceiros de longo prazo ou de capitais de terceiros de curto prazo? Pois bem, são justamente esses questionamentos que esclareceremos neste ponto de nossa matéria. 2 Dinâmica dos Fluxos de Caixa Em decorrência de sua atividade, a entidade experimenta a entrada e a saída de dinheiro (ou de itens equivalentes a dinheiro). Assim, o caixa funciona como um repositório desse valor, recebendo fluxos positivos, de operações que geram caixa e emitindo fluxos, negativos, de operações consumidoras de caixa. Se, em decorrência de sua atividade, a entidade gerar, no período, mais caixa do que o consumir, o repositório cresce. Ao contrário, se no período o consumo de caixa for maior, o repositório será esvaziado. Para verificar esse comportamento, é necessário considerar a velocidade com que os elementos patrimoniais se transformam em caixa e a velocidade com que o caixa é transformado em outros elementos patrimoniais, tudo isso - é claro - em decorrência da atividade normal da entidade. Então, para uma compreensão adequada dessa dinâmica de geração e consumo de caixa, sugerimos imaginar a entidade como uma linha de produção de dinheiro, que tem por insumo básico o próprio dinheiro. Vejamos como funciona uma linha de montagem padrão (tipicamente industrial): (a) insumos entram no processo produtivo, (b) esses insumos são trabalhados e se transformam em produtos em elaboração, e (c) os produtos em elaboração, sofrendo mais processamentos, transformam-se em produtos acabados. A figura abaixo ilustra o funcionamento padrão de linhas de montagem. Insumo Produto Produto Produto Processamento 1 Intermediário 1 Processamento 2 Intermediário 2 Processamento 3 Acabado Agora, vamos analisar a linha de montagem acima proposta. (1) Se a velocidade de realização do "Processamento 1" for maior do que a velocidade de realização do "Processamento 2", irá se acumular uma pilha do Produto Intermediário 1, esperando para ser trabalhada, sem acúmulo do Produto Intermediário 2 ou do Produto Acabado. Luiz Eduardo Santos Página 2 de 15

(2) Ao contrário, se a velocidade de realização do "Processamento 1" for menor do que a velocidade do "Processamento 2", não haverá acúmulo do Produto Intermediário 1, com os insumos fluindo na linha de produção, até tornarem-se o Produto Intermediário 2. (3) Porém, se a velocidade de realização do "Processamento 3" for menor do que a velocidade de realização dos processamentos 1 e 2, ocorrerá o acúmulo do Produto Intermediário 2. Assim, visualmente, pelo acúmulo de produtos intermediários, podemos verificar as velocidades relativas dos correspondentes processos de sua elaboração, na linha de produção. Agora, transportando essa ideia para o giro da atividade da entidade, considerado aqui como uma linha de produção de caixa, temos a seguinte situação. Direitos Venda a prazo Creditórios Recebimento da venda a prazo Compra à vista Estoque Caixa Venda à vista Caixa Pagamento da compra a prazo Obrigação Compra a prazo Consumo de Caixa Geração de Caixa Apresentando essa questão por outro ponto de vista, vejamos o processo de consumo de caixa e de geração de caixa na representação patrimonial da entidade. 1 Consumo Caixa ATIVO PASSIVO Fornecedores Compras a prazo Estoque Compras à vista PL Pagamento de compras a prazo Repare que, quanto maior for o acúmulo de estoque, maior será a velocidade do processo de consumo de caixa. Ao contrário, quanto maior for o acúmulo de obrigações (de pagamento a fornecedores), menor será a velocidade de consumo de caixa. Luiz Eduardo Santos Página 3 de 15

2 - Consumo Caixa ATIVO PASSIVO Clientes Recebimento de vendas a prazo Estoque PL CMV DESPESA RECEITA Receita de Venda Vendas (à vista e a prazo) Repare que, quanto maior for o acúmulo de estoque e de direitos creditórios (a receber de clientes), menor será a velocidade do processo de geração de caixa. Ora, é com base nessa comparação que poderemos calcular o valor dos recursos necessários para financiar o giro da entidade. 3 Capital Circulante Líquido (CCL) e Conceitos Correlatos Neste item, analisaremos os conceitos de: (a) capital circulante líquido, (b), (c), (d) e (e) Passivo Circulante. Sabemos que: - o (AC) é definido singelamente como o conjunto de recursos de curto prazo da entidade, e - o (PC), por sua vez, é definido, também de forma simplificada, como o conjunto de obrigações de curto prazo. Com base nos dois conceitos acima, podemos definir o conceito de Capital Circulante Líquido (CCL). O CCL corresponde à diferença entre os valores do e do Passivo Circulante. CCL (=) AC (-) PC Obs.: o Capital Circulante Líquido também é denominado Capital de Giro (CDG). Quando o CCL é positivo, podemos concluir que há recursos de curto prazo em valor superior ao das obrigações de curto prazo, no patrimônio da entidade. Nessa situação, verifica-se que apenas parte dos recursos de curto prazo teria sido financiada pelas obrigações de curto prazo, sendo a parte restante financiada por obrigações de longo prazo ou por capitais próprios. Luiz Eduardo Santos Página 4 de 15

A figura a seguir ilustra essa situação: ATIVO AC ANC PASSIVO PC PNC PL Parcela financiada com recursos de curto prazo Parcela financiada com recursos de longo prazo e capitais próprios. Repare que: (a) como o Ativo é formado pela soma dos recursos de curto e longo prazo, respectivamente do (AC) e do Ativo não Circulante (ANC), o Passivo é formado pelas obrigações de curto e longo prazo, respectivamente do (PC) e do Passivo não Circulante (PNC) e o Patrimônio Líquido (PL) corresponde à diferença entre o valor do Ativo e do Passivo; (b) então, o CCL também pode ser calculado pela diferença entre o valor total do Passivo não Circulante e do Patrimônio Líquido e o valor do Ativo não Circulante. CCL (=) PNC (+) PL (-) ANC Agora, o é composto por duas partes: (a) o (ou cíclico), composto pelos recursos de curto prazo relativos ao giro do negócio da entidade, por exemplo: - Clientes; - adiantamentos a fornecedores; e - estoques; e (b) o (ou errático), composto pelos demais recursos de curto prazo, não relacionados às atividades operacionais da entidade, por exemplo: - disponibilidades; - aplicações financeiras; e - créditos concedidos. De forma semelhante, o também é composto por duas partes: (a) o, composto pelas obrigações de curto prazo decorrentes da operação da entidade, por exemplo: - Fornecedores; - impostos a recolher; e - salários; e - o, composto pelas demais obrigações de curto prazo, relacionadas ao financiamento das atividades da entidade, por exemplo: - empréstimos e financiamentos de curto prazo; Luiz Eduardo Santos Página 5 de 15

- duplicatas descontadas; e - outras dívidas. A figura a seguir ilustra os conceitos de Ativo e (operacional x financeiro). ATIVO CIRCULANTE PASSIVO CIRCULANTE FINANCEIRO FINANCEIRO Disponibilidades Empréstimos Aplicações financeiras Duplicatas Descontadas Créditos concedidos OPERACIONAL OPERACIONAL Fornecedores Clientes Salários Estoques Tributos a Recolher Adiantamento a Fornecedores PASSIVO NÃO CIRCULANTE ATIVO NÃO CIRCULANTE PATRIMÔNIO LÍQUIDO ARLP CAPITAL INVESTIMENTOS RESERVAS IMOBILIZADO AJUSTES INTANGÍVEL PREJUÍZOS ACUMULADOS 4 Necessidade de capital de giro (NCG) Fórmula ( ) (-) (=) NCG Definição e comentários A necessidade de capital de giro (NCG), conforme o próprio nome indica, pode ser entendida como a quantidade mínima de numerário necessária para desenvolvimento da atividade básica de compra e venda. A NCG, também conhecida pelo nome Necessidade de Investimento em Giro, é definida pela diferença entre os valores: (1) do e (2) do. Para compreendermos esse conceito, devemos levar em consideração o que segue. Com relação ao : (a) considerando que há um ciclo infinito de compra e venda de mercadorias, quanto maiores forem os valores mantidos em estoque, maior será o tempo necessário para sua venda e (b) considerando que há um ciclo infinito de venda e recebimento de valores, quanto maiores forem os valores a receber de clientes, maior será o tempo necessário para seu recebimento. Assim, quanto maior for o ativo circulante operacional, maior será a necessidade de capital de giro da empresa. Ao contrário, com relação ao : (a) considerando que há um ciclo infinito de aquisição de fatores de produção (trabalho de empregados e mercadorias para venda) e de remuneração destes fatores de produção (pagamento de salários e encargos, bem como pagamento de fornecedores e tributos), quanto Luiz Eduardo Santos Página 6 de 15

maiores forem os valores de salários a pagar, fornecedores e tributos a pagar, maior terá sido o prazo concedido à entidade, para seu pagamento. Assim, quanto maior for o passivo circulante operacional, menor será a necessidade de capital de giro da empresa. A figura a seguir ilustra as conclusões apresentadas. ATIVO CIRCULANTE OPERACIONAL PASSIVO CIRCULANTE OPERACIONAL NCG Contextualizando, quando em decorrência da natureza do negócio da empresa, do nível de atividade e do ciclo financeiro ocorrerem saídas de caixa antes das respectivas entradas (os pagamentos das aquisições forem anteriores aos recebimentos pelas respectivas vendas), haverá uma necessidade de aplicação de recursos no caixa da empresa (com origem em empréstimos ou capital próprio sócios), para honrar os compromissos operacionais. Frise-se que esses empréstimos geram juros a pagar e o capital próprio gera dividendos a pagar, impactando de ambas as maneiras a rentabilidade para o acionista. Nesse caso, a NCG é positiva. Quando, ao contrário, ocorrerem entradas antes das respectivas saídas (ex. compra a prazo e venda à vista), não há necessidade de aplicação de recursos no caixa, pois o próprio passivo circulante operacional resulta em origem de recursos para o caixa que, ficando com sobras, caracteriza uma NCG (necessidade de capital de giro) negativa. A seguir, ilustramos o conceito com um exemplo, nos termos a seguir: Considerando: - compra diária, à vista, por 10,00 e - venda por 15,00. Prazos: - 10 dias de estocagem - 5 dias para recebimento Obs.: pagamento do lucro ao final de cada mês Luiz Eduardo Santos Página 7 de 15

No primeiro mês de operação da empresa, o fluxo de valores decorrente da atividade irá gerar/consumir caixa e resultará em receitas/custos conforme tabela abaixo: Dia Compra Venda Pagamento Recebimento Necessidade de caixa Lucro (-) Dividendos pagos 1 10,00 0,00 10,00 0,00 10,00 0,00 0,00 2 10,00 0,00 10,00 0,00 20,00 0,00 0,00 3 10,00 0,00 10,00 0,00 30,00 0,00 0,00 4 10,00 0,00 10,00 0,00 40,00 0,00 0,00 5 10,00 0,00 10,00 0,00 50,00 0,00 0,00 6 10,00 0,00 10,00 0,00 60,00 0,00 0,00 7 10,00 0,00 10,00 0,00 70,00 0,00 0,00 8 10,00 0,00 10,00 0,00 80,00 0,00 0,00 9 10,00 0,00 10,00 0,00 90,00 0,00 0,00 10 10,00 0,00 10,00 0,00 100,00 0,00 0,00 11 10,00 15,00 10,00 0,00 110,00 5,00 0,00 12 10,00 15,00 10,00 0,00 120,00 10,00 0,00 13 10,00 15,00 10,00 0,00 130,00 15,00 0,00 14 10,00 15,00 10,00 0,00 140,00 20,00 0,00 15 10,00 15,00 10,00 0,00 150,00 25,00 0,00 16 10,00 15,00 10,00 15,00 145,00 30,00 0,00 17 10,00 15,00 10,00 15,00 140,00 35,00 0,00 18 10,00 15,00 10,00 15,00 135,00 40,00 0,00 19 10,00 15,00 10,00 15,00 130,00 45,00 0,00 20 10,00 15,00 10,00 15,00 125,00 50,00 0,00 21 10,00 15,00 10,00 15,00 120,00 55,00 0,00 22 10,00 15,00 10,00 15,00 115,00 60,00 0,00 23 10,00 15,00 10,00 15,00 110,00 65,00 0,00 24 10,00 15,00 10,00 15,00 105,00 70,00 0,00 25 10,00 15,00 10,00 15,00 100,00 75,00 0,00 26 10,00 15,00 10,00 15,00 95,00 80,00 0,00 27 10,00 15,00 10,00 15,00 90,00 85,00 0,00 28 10,00 15,00 10,00 15,00 85,00 90,00 0,00 29 10,00 15,00 10,00 15,00 80,00 95,00 0,00 30 10,00 15,00 10,00 15,00 175,00 100,00 100,00 Luiz Eduardo Santos Página 8 de 15

No segundo mês, o referido fluxo assume os seguintes valores: Dia Compra Venda Pagamento Recebimento Necessidade de caixa Lucro (-) Dividendos pagos 31 10,00 15,00 10,00 15,00 170,00 5,00 0,00 32 10,00 15,00 10,00 15,00 165,00 10,00 0,00 33 10,00 15,00 10,00 15,00 160,00 15,00 0,00 34 10,00 15,00 10,00 15,00 155,00 20,00 0,00 35 10,00 15,00 10,00 15,00 150,00 25,00 0,00 36 10,00 15,00 10,00 15,00 145,00 30,00 0,00 37 10,00 15,00 10,00 15,00 140,00 35,00 0,00 38 10,00 15,00 10,00 15,00 135,00 40,00 0,00 39 10,00 15,00 10,00 15,00 130,00 45,00 0,00 40 10,00 15,00 10,00 15,00 125,00 50,00 0,00 41 10,00 15,00 10,00 15,00 120,00 55,00 0,00 42 10,00 15,00 10,00 15,00 115,00 60,00 0,00 43 10,00 15,00 10,00 15,00 110,00 65,00 0,00 44 10,00 15,00 10,00 15,00 105,00 70,00 0,00 45 10,00 15,00 10,00 15,00 100,00 75,00 0,00 46 10,00 15,00 10,00 15,00 95,00 80,00 0,00 47 10,00 15,00 10,00 15,00 90,00 85,00 0,00 48 10,00 15,00 10,00 15,00 85,00 90,00 0,00 49 10,00 15,00 10,00 15,00 80,00 95,00 0,00 50 10,00 15,00 10,00 15,00 75,00 100,00 0,00 51 10,00 15,00 10,00 15,00 70,00 105,00 0,00 52 10,00 15,00 10,00 15,00 65,00 110,00 0,00 53 10,00 15,00 10,00 15,00 60,00 115,00 0,00 54 10,00 15,00 10,00 15,00 55,00 120,00 0,00 55 10,00 15,00 10,00 15,00 50,00 125,00 0,00 56 10,00 15,00 10,00 15,00 45,00 130,00 0,00 57 10,00 15,00 10,00 15,00 40,00 135,00 0,00 58 10,00 15,00 10,00 15,00 35,00 140,00 0,00 59 10,00 15,00 10,00 15,00 30,00 145,00 0,00 60 10,00 15,00 10,00 15,00 175,00 150,00 150,00 Repare que, para manter a operação nos termos acima propostos, auferindo e distribuindo lucros de R$ 150,00 por mês, é necessário manter em caixa um valor de até R$ 175,00. 5 Saldo em Tesouraria (ST) Fórmula ( ) Capital Circulante Líquido (CCL) (-) Necessidade de Capital de Giro (NCG) Definição e comentários O saldo em tesouraria corresponde ao valor que sobra do Capital Circulante Líquido (CCL ou CDG), depois de descontado o montante referente à Necessidade de Capital de Giro (NCG). Por um lado, o CCL representa o total de recursos de curto prazo, depois de deduzidas as obrigações de curto prazo. Luiz Eduardo Santos Página 9 de 15

Por outro lado, a NCG representa o valor mínimo de recursos em caixa necessário à manutenção da operação. Assim, o Saldo em tesouraria corresponde ao valor dos recursos de curto prazo, não comprometidos com obrigações de curto prazo, que sobram, depois de garantida a operação da entidade. Alternativamente, o Saldo em Tesouraria também denominado Saldo de Disponível também pode ser apurado pela diferença entre (1) o e (2) o Passivo circulante financeiro, conforme fórmula abaixo: ( ) (-) Para confirmarmos essa segunda fórmula, voltamos à primeira ( ) Capital Circulante Líquido (CCL) (-) Necessidade de Capital de Giro (NCG) Lembramos que o CCL é a diferença entre o e o. ( ) (-) (-) Necessidade de Capital de Giro (NCG) Porém, tanto o quanto o correspondem ao somatório de suas parcelas operacional e financeira. ( ) (+) (-) (-) (-) Necessidade de Capital de Giro (NCG) Por Fim, temos que a Necessidade de Capital de Giro equivale à diferença entre o Ativo Circulante e o. ( ) (+) (-) (-) (-) (+) Então, basta simplificarmos os termos inversos, conforme assinalado. ( ) (+) (-) (-) (-) (+) Luiz Eduardo Santos Página 10 de 15

Com isso, chegamos exatamente à fórmula alternativa proposta. ( ) (-) O termo Saldo de Disponível é muito elucidativo, para indicar o conceito de Tesouraria. Com efeito, ele representa, do total do CCL (=) CDG (=) AC (-) PC, o valor que sobra após garantir a necessidade de capital de giro NCG. 6 Reflexões sobre a relação entre CCL, NCG e ST Neste item, interpretaremos 6 (seis) possíveis situações em que a entidade pode se encontrar, com o objetivo de classificar a viabilidade financeira de suas operações 1. Situação CCL NCG ST Classificação I + - + Excelente II + + + Sólida III + + - Insatisfatória IV - + - Péssima V - - - Muito Ruim VI - - + Alto Risco (a) Situação I Excelente: CCL positivo, NCG negativa e ST positivo. Saldo em Tesouraria Positivo Ativo não Circulante Passivo não Circulante e Patrimônio Líquido NCG Negativa CCL Positivo Repare que, nessa situação, o giro operacional se auto-financia, sem necessidade de capital de giro. Ou seja, o prazo para pagamento de suas compras (componente principal do Passivo Circulante ) é superior ao prazo de venda e recebimento (determinante do Ativo Circulante ). Adicionalmente, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Positivo, ou seja, com sobra de recursos de curto prazo, em relação às obrigações de curto prazo. 1 Essa classificação é utilizada por Eliseu Martins, e outros, em Análise Didática das Demonstrações Contábeis (Atlas, 2014), com base na proposta de Roberto Braga, em Análise avançada do capital de giro (FIPECAFI, 1991). Luiz Eduardo Santos Página 11 de 15

E, finalmente, ainda há saldo positivo em tesouraria, revelando uma sobra de recursos financeiros não financiados por obrigações financeiras de curto prazo, para utilização, se necessário. (b) Situação II - Sólida: CCL positivo, NCG positiva e ST positivo. NCG Positiva Saldo em Tesouraria Positivo Ativo não Circulante Passivo não Circulante e Patrimônio Líquido CCL Positivo Repare que, nessa situação, o giro operacional necessita de capital para financiamento. Ou seja, o prazo para pagamento das compras (componente principal do ) é inferior ao prazo de venda e recebimento (determinante do ). Portanto, a Necessidade de Capital de Giro é positiva. Porém, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Positivo, ou seja, tem sobra de recursos de curto prazo, em relação às obrigações de curto prazo. E, adicionalmente há saldo positivo em tesouraria, revelando uma sobra de recursos financeiros não financiados por obrigações financeiras de curto prazo, para utilização, se necessário. Essa situação é muito comum. (c) Situação III - Insatisfatória: CCL positivo, NCG positiva e ST negativo. NCG Saldo em Tesouraria Positiva Negativo Ativo não Circulante Passivo não Circulante e Patrimônio Líquido CCL Positivo Repare que, nessa situação, o giro operacional necessita de capital para financiamento. Ou seja, o prazo para pagamento das compras (componente principal do ) é inferior ao prazo de venda e recebimento (determinante do ). Portanto, a Necessidade de Capital de Giro é positiva. Pois bem, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Positivo, ou seja, tem sobra de recursos de curto prazo, em relação às obrigações de curto prazo. Luiz Eduardo Santos Página 12 de 15

Mas, infelizmente, o saldo em tesouraria é negativo, revelando que não há sobra de recursos financeiros financiados por obrigações financeiras de longo prazo ou por capitais próprios, paga garantir o capital de giro necessário. Nessa situação, a empresa, para manter sua atividade, dependendo dos prazos relativos de vencimento dos direitos e obrigações de curto prazo, poderá ter que recorrer a nova capitação de recursos, próprios (aumento de capital) ou de terceiros (contratação de empréstimos). (d) Situação IV - Péssima: CCL negativo, NCG positiva e ST negativo. NCG Positiva Saldo em Tesouraria Negativo CCL Negativo Ativo não Circulante Passivo não Circulante e Patrimônio Líquido Repare que, nessa situação, o giro operacional necessita de capital para financiamento. Ou seja, o prazo para pagamento das compras (componente principal do ) é inferior ao prazo de venda e recebimento (determinante do ). Visualmente, verificamos o maior do que o Passivo Circulante, portanto, a Necessidade de Capital de Giro é positiva. Entretanto, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Negativo, ou seja, tem mais obrigações de curto prazo do que recursos de curto prazo. Repare que parte do Ativo não Circulante da entidade é financiado com recursos oriundos do. E, para piorar a situação, o saldo em tesouraria é negativo, revelando que não há sobra de recursos financeiros financiados por obrigações financeiras de longo prazo ou por capitais próprios, para garantir o capital de giro necessário. Assim, a entidade tem que financiar seu giro com recursos oriundos de passivos financeiros de curto prazo. (e) Situação V Muito Ruim: CCL negativo, NCG negativa e ST negativo. Ativo não Circulante Passivo não Circulante e Patrimônio Líquido NCG Negativa Saldo em Tesouraria Negativo CCL Negativo Luiz Eduardo Santos Página 13 de 15

Repare que, nessa situação, pelo menos para o financiamento do giro operacional não é necessário capital. Isso, porque o é superior ao Ativo Circulante. Portanto, a Necessidade de Capital de Giro é negativa. Ocorre, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Negativo, ou seja, tem mais obrigações de curto prazo do que recursos de curto prazo. Repare que parte do Ativo não Circulante da entidade é financiado com recursos oriundos do. De qualquer maneira, ainda que não haja necessidade de capital de giro, o saldo em tesouraria é negativo, revelando que não há sobra de recursos financeiros financiados por obrigações financeiras de longo prazo ou por capitais próprios, caso seja necessário. (g) Situação VI Alto Risco: CCL negativo, NCG negativa e ST positivo. NCG Negativa ST Positivo CCL Negativo Ativo não Circulante Passivo não Circulante e Patrimônio Líquido Repare que, nessa situação, para o financiamento do giro operacional não é necessário capital. Isso, porque o é superior ao. Portanto, a Necessidade de Capital de Giro é negativa. Ocorre, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Negativo, ou seja, tem mais obrigações de curto prazo do que recursos de curto prazo. Repare que parte do Ativo não Circulante da entidade é financiado com recursos oriundos do. Por outro lado, ainda que não haja necessidade de capital de giro, o saldo em tesouraria é positivo, revelando que há sobra de recursos financeiros financiados por obrigações financeiras de longo prazo ou por capitais próprios, caso seja necessário. A classificação como de alto risco é decorrente da necessidade de utilização de fontes de financiamento de curto prazo, para aquisição de recursos de longo prazo, o que pode resultar em dificuldade de quitar obrigações. 7 Interpretação dos Dados da Empresa ANALISADA Considerando as Demonstrações Contábeis de nossa empresa Analisada, assim como as memórias de cálculo propostas neste tópico, para levantamento do Capital Circulante Líquido CCL, da Necessidade de Capital de Giro - NCG e do Saldo em Tesouraria, temos a seguinte situação, para cada um dos três períodos 20x1, 20x2 e 20x3. Luiz Eduardo Santos Página 14 de 15

20X1 20X2 20X3 ( ) 16.980,00 18.075,00 21.705,00 (-) -5.130,00-6.300,00-7.610,00 (=) Capital Circulante Líquido 11.850,00 11.775,00 14.095,00 ( ) 11.650,00 12.070,00 12.980,00 (-) -2.875,00-3.710,00-3.730,00 (=) Necessidade de Capital de Giro 8.775,00 8.360,00 9.250,00 ( ) 5.330,00 6.005,00 8.725,00 (-) -2.255,00-2.590,00-3.880,00 (=) Saldo em Tesouraria 3.075,00 3.415,00 4.845,00 Nos três períodos analisados, a empresa ANALISADA apresentou: - Capital Circulante líquido (CCL) positivo; - Necessidade de Capital de Giro (NCG) positiva; e - Saldo em Tesouraria (ST) também positivo. Nesse caso, podemos classificar a situação da empresa analisada como Sólida. Repare que, como o é superior ao, o giro operacional necessita de capital para financiamento. Portanto, a Necessidade de Capital de Giro é positiva. Porém, a entidade tem um Capital Circulante Líquido Positivo, ou seja, tem sobra de recursos de curto prazo, em relação às obrigações de curto prazo. E, adicionalmente há saldo positivo em tesouraria, revelando uma sobra de recursos financeiros não financiados por obrigações financeiras de curto prazo, para utilização, se necessário. Luiz Eduardo Santos Página 15 de 15