Música e Serviço Social Integrando Saberes 1



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Transcrição:

Música e Serviço Social Integrando Saberes 1 Ana Luiza Leal Liliam Barros Heliana Soria 2 UFPA/ICA O Projeto MÚSICA E SERVIÇO SOCIAL integrando saberes resulta de um processo construído no Projeto Luamim peças interventivas na realidade, onde a música tem demonstrado a sua potencialidade de intervenção social e tem instigado a produção acadêmica de estudantes e professores de variadas áreas do conhecimento. Desde 1992 esse projeto vem ofertando oficinas de prática musical a crianças e adolescentes dos bairros do Guamá e da Terra Firme, registrando a importância da relação de graduandos de Serviço Social com graduandos de Música, no sentido de aporte de conhecimentos que aumentem o leque de opções e técnicas específicas de ambas as áreas de conhecimento. Esse projeto amplia para os seus participantes as possibilidades de intervir na realidade, construindo-a / reconstruindo-a, atendendo a uma demanda atual de interdisciplinaridade, com muitas possibilidades de ampliação de atendimento às necessidades de abertura de campo de estágio curricular, trabalhos de pesquisa e extensão em diversas áreas do conhecimento. Palavras - chaves: Música; Serviço Social; Resiliência; Cultura. RESILIÊNCIA E CULTURA: em que medida as práticas musicais edificam a resiliência? - Música como cultura Para falarmos da música como cultura, temos que ter em mente o conceito de etnomusicologia, conhecida como antropologia da música (Merriam, 1964), que é a ciência que objetiva o estudo da música em seu contexto cultural ou o estudo da música como cultura. A etnomusicologia dá ênfase ao contexto no qual a música está inserida, fator que corrobora para a compreensão dos fazeres musicais segundo o ponto de vista dos atores sociais. Nesse sentido, compreender a música implica, também, em valorizar o conhecimento musical das comunidades pesquisadas. Os diversos estudos que vêm sendo realizados com comunidades tradicionais urbanas ou de contextos mais rurais têm sido direcionados rumo às demandas dessas comunidades, com vistas ao fortalecimento 1 Trabalho desenvolvido na Universidade Federal do Pará no período de julho de 2006 a julho de 2008 dentro do programa PROINT da referida instituição. 2 Ana Luiza Leal é doutoranda em Educação pela Universidad Autônoma de Asuncion email: analuiza@ufpa.br, Líliam Barros é doutora em Música pela UFBA - email liliam_barros@yahoo.com.br e Heliana Baia é doutora em Serviço Social email:hbesoria@ufpa.br. 1

e valorização de suas práticas musicais. Esse aspecto é fundamental para contribuir com a resiliência em comunidades que estão passando por processos de desgastes sociais. Justamente nesse ponto pode haver diálogo entre as disciplinas Etnomusicologia, Educação Musical e Serviço Social. - Resiliência em contexto No Brasil o conceito de resiliência não tem sido objeto de muitos estudos e produções acadêmicas, apesar de dado seu potencial, ser um conceito significativo para a área da Educação e da Psicologia da Educação. No mundo atual em que as dificuldades e desafios se apresentam de forma mais acirrada, esse conceito precisa ser formado para se preservar psicologicamente diante dessas circunstâncias desfavoráveis, tendo uma atitude positiva, otimista e perseverante durante e após os embates. Essa formação, nesse contexto traduziria sua resiliência, que é a capacidade de responder de forma mais consistente aos desafios e dificuldade, ou seja, é a capacidade de enfrentamento, superação e fortalecimento do homem frente às adversidades. Estudos têm demonstrado, dentro da Neuropsiquiatria, que nosso cérebro tem a capacidade de adaptar-se diante dos acontecimentos vivenciados em nosso dia-a-dia, sendo que o ambiente em que estamos inseridos tem grande papel transformador. Nesse contexto, nossa capacidade de renovação é completa, assim como acontece o mesmo com nossas atitudes, pensamentos e formas de assimilação para determinados acontecimentos e, por ser o homem único, há diferenças comportamentais em cada indivíduo. Certas pessoas, diante dos dissabores da vida, além de confrontarem as situações, enfrentam as tensões com desenvoltura, fazendo de cada experiência um aprendizado positivo. Ou seja, desenvolveram ao longo da vida um comportamento resiliente. - Práticas musicais edificando a resiliência A escola deve contribuir para a resiliência através de mecanismos de proteção como um clima dialógico na comunidade escolar, valorização dos estudantes como protagonistas, trabalho coletivo, participação da família e da comunidade nas atividades 2

escolares e, dentre outros aspectos, práticas educacionais que edificam a resiliência, como as práticas musicais. Arte e cultura têm que estar no coração de todo desenvolvimento com qualidade de vida, fomentando-se a cooperação artístico-cultural em todos os níveis. Segundo Loureiro não deixar que se perca essa qualidade social da arte que há de fortalecer comunidades emocionais, unidas pelo sentimento, solidificadas pela emoção. (Loureiro, 1999, ano, p. 61). A arte em geral e de modo especial a música é considerada como um dos mais importantes fatores de resiliência, pois a utilização de sons, ritmos e melodias ajuda a restabelecer a saúde física e mental de alguns pacientes. É o que garantem médicos das mais diferentes especialidades, que utilizam a musicoterapia como recurso terapêutico. O efeito terapêutico da música, porém, vai muito além do aspecto tranqüilizante de uma sonata ou de uma sinfonia, pois estudos garantem que a música potencializa a reabilitação de pacientes em casos de doenças degenerativas do cérebro, além de induzir a liberação de certas substâncias, como dopamina e serotonina, que proporcionam sensação de prazer e bem-estar. A música ajuda os indivíduos a se expressarem melhor emocionalmente aliviando as tensões, favorecendo o convívio social e buscando superar a adversidade. Em alguns casos, a música consegue desviar o foco de atenção do indivíduo da dor e do sofrimento para a alegria e o prazer. Sendo assim, transformar a dor em peça de arte é um dom comum entre pessoas que aprendem a sublimar o sofrimento de forma reparadora (Assis, 2006, p.95), ou seja, a estratégia de cicatrização por meio da arte e do humor é considerada um dos fatores de resiliência mais preciosos. - Etnomusicologia participativa e Serviço Social Como já dito anteriormente, etnomusicologia geralmente é definida como o estudo da música como cultura, integrando perspectivas abertas por disciplinas como a musicologia, antropologia, acústica musical, semiótica e outras. A cultura é também um dos fatores impulsionadores do Serviço Social, cuja existência se faz pelo fato de criar modos de explicação, interpretação, compreensão e de ação com sujeitos de conhecimento com os quais pensa na relação de 3

suas vidas com a memória histórica, reescrevendo e instituindo novos modos de vida no processo civilizatório. Contribui para responder aos conflitos e necessidades apresentados intensa e cotidianamente em todas as nações nas várias relações sociais, no planejamento, na execução de políticas públicas e de programas sociais para melhoria das condições de vida de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Sendo Etnomusicologia e Serviço Social áreas distintas de conhecimento, apesar de terem alguma afinidade, devemos refletir de que maneira podem acontecer aproximações entre essas duas áreas visando a possibilidade de criar condições de desenvolver a música como cultura dentro de um contexto de adversidade social, utilizando-a como um mecanismo de enfrentamento das dificuldades. - Procedimentos Lidando com os problemas: A maneira de encarar os problemas cotidianos varia de indivíduo para indivíduo e, embora cada pessoa disponha de um acervo de estratégias para enfrentar as dificuldades, ela escolhe algumas e se acostuma a usá-las. Compreender como as pessoas mais resilientes enfrentam as dificuldades é um tema recente que vem sendo estudado atualmente, sendo que o foco principal desses estudos é denominado coping. Coping pode ser definido pela forma como as pessoas comumente reagem ao estresse. Estas reações estão relacionadas a demandas situacionais, fatores pessoais e recursos disponíveis. Porém, medidas de coping geral raramente contemplam os fatores situacionais. A mensuração de coping no ambiente ocupacional deve considerar os recursos e estratégias disponíveis, permitir agilidade ao preenchimento e satisfazer critérios psicométricos usuais. Sendo assim, podemos definir coping como estratégias adaptativas, comportamentais e cognitivas que um indivíduo utiliza frente aos diferentes estresses, avaliados pelos indivíduos como situações que sobrecarregam ou excedem seus recursos pessoais. Por estilos de coping define-se a tendência que determinada pessoa tem de utilizar uma estratégia em maior ou menor grau frente à adversidade. Fugindo dos problemas: 4

Existe o coping de evitação, quando há comportamento de evitar os problemas. Dentre esses são comuns o bloqueio emocional, atitudes de distração e expressões emocionais de dor, tristeza ou raiva, podendo significar o adiamento do sofrimento de lidar com o agressor em situações que exigem solução. Outras estratégias são extravasar a agressividade por meio da música, dança e esportes e extravasar a raiva por meio de expressões emocionais como o grito ou o choro. É importante destacar nesse ponto a música como fuga e relacionar com as funções da música de Alan P. Merriam (1964) que formulou uma "teoria da etnomusicologia", na qual reforçou a necessidade da integração dos métodos de pesquisa musicológicos e antropológicos. Para ele, música é um meio de interação social, produzida por especialistas, que são os produtores, para outras pessoas, que são as receptoras. Nesse contexto, o fazer musical é um comportamento aprendido, através do qual sons são organizados, possibilitando uma forma simbólica de comunicação na interrelação entre indivíduo e grupo.. Para entender a música enquanto produto e estrutura construída seria necessário, de acordo com Merriam, aprender a entender conceitos culturais, que fossem responsáveis pela produção destas estruturas. - O Projeto MÚSICA E SERVIÇO SOCIAL integrando saberes Esse projeto resulta de um processo construído no Projeto Luamim peças interventivas na realidade, que prevê o desenvolvimento de ações de ensino, extensão e pesquisa na área do Serviço Social no contexto das ciências da cultura, objetivando integrar cultura / produção / criação intelectual e artística / ciência. Dentro do conceito peças interventivas, a música tem demonstrado a sua potencialidade de intervenção social e tem instigado a produção acadêmica de estudantes e professores de variadas áreas do conhecimento. As Artes têm atendido muito mais aos interesses das classes dominantes em detrimento das forças expressivas populares, que buscam espaços de expressão na sociedade sendo os seus produtos, muitas vezes, subtraídos pelo capital e vendidos sem retorno em forma de benefícios 5

sociais (o carnaval, o boi bumbá e tantas formas de expressão artística pelo Brasil são exemplos). O projeto Luamim, desde 1992, vem ofertando oficinas de prática musical a crianças e adolescentes dos bairros Guamá e Terra Firme, registrando a importância da relação de graduandos de Serviço Social com graduandos de Música, no sentido de aporte de conhecimentos que aumentem o leque de opções e técnicas específicas de ambas as áreas de conhecimento, cujos alunos registram em seus relatórios que a prática compartilhada trouxe-lhes a possibilidade de engajamento social e o conhecimento das peças interventivas não apenas como oferta de oficinas e cursos de arte e comunicação, mas de um método de intervenção de trabalho social. Em 2006 houve a parceria dos Cursos de Música e Serviço Social através do Projeto Música e Serviço Social integrando saberes, aprovado pelo PROINT- Programa Integrado Ensino, Pesquisa e Extensão, com recursos da UFPA inserindo acadêmicos de Música, disponibilizando e dando-lhes oportunidades para que viessem a atuar e desenvolver suas habilidades técnicas, como futuros arte-educadores, em grupos altamente vulneráveis. O Projeto MÚSICA E SERVIÇO SOCIAL- integrando saberes amplia para os seus participantes as possibilidades de intervir na realidade, construindo-a / reconstruindo-a. Atende a uma demanda atual de interdisciplinaridade, com muitas possibilidades de ampliação de atendimento às necessidades de abertura de campo de estágio curricular, trabalhos de pesquisa e extensão não somente para Música e Serviço Social como para outras áreas do conhecimento artístico como dança, teatro e artes plásticas bem como para outras áreas das Ciências Humanas, como Comunicação e Turismo. Esse trabalho está sendo desenvolvido através de oficinas de canto coral como instrumento de sociabilização, musicalização e resiliência de jovens entre 14 a 17 anos residentes no bairro do Guamá, em Belém-PA, estudantes em uma escola pública municipal, compreendendo a música no contexto sócio-histórico da sociedade. REFERÊNCIAS ASSIS, S. G. de. Resiliência: enfatizando a proteção dos adolescentes. Porto Alegre: Artmed, 2006. 6

CUNHA, Alyne. Música, uma intervenção na realidade. Artigo científico. UFPA. Belém, 2007. EVELIN, B. Serviço Social no Contexto das Ciências da Cultura. Texto revisto da Tese de Doutorado. apresentada à PUC/SP em 1994. Belém, 2006. digitado. LOUREIRO, J. J. P. Arte e desenvolvimento. Belém: Cadernos IAP 1, 1999. MERRIAM, A. The Anthropology of Music. Evanston: Northwestern University Press. 1964. TAVARES, J. ( org.). Resiliência e Educação. São Paulo: Cortez, 2002. 7