O Serviço Social na educação: possibilidades de intervenção frente a situações de exclusão social, poder e violência.



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Transcrição:

Fazendo Gênero 8 - Corpo, Violência e Poder Florianópolis, de 25 a 28 de agosto de 2008 O Serviço Social na educação: possibilidades de intervenção frente a situações de exclusão social, poder e violência. Micheli Klauberg Faustino (Colégio Marista e Municipal São José) Educação Serviço Social- Intervenção ST 11 - Exclusão social, poder e violência A educação é um processo universal e dinâmico, que para ser compreendido precisa estar relacionada com o contexto econômico, social e cultural.este saber pode ser adquirido nos diversos espaços onde há apropriação da cultura e de práticas sociais. A escola é um desses espaços onde o conhecimento, considerado a matéria-prima da educação escolar, desenvolve-se de forma sistematizada. De acordo com Piletti (1994, p9) o processo realizado nas escolas é denominado como educação formal, cujo os objetivos, conteúdos e meios são previamente traçados. Como consta nas diversas leis e regulamentações formais Brasileiras, a escola pública tem o papel, através da representação do Estado, proporcionar a todos os indivíduos as condições básicas para que se desenvolvam enquanto sujeitos de direitos. Para isso, é necessário que a escola possibilite aos indivíduos uma educação integral, considerando o indivíduo enquanto sujeito histórico, social e de direito, garantindo na escola um espaço de reconhecimento da cidadania. Portanto, a permanência de todos os alunos na escola implica em considerar a questão da diversidade, diferença e desigualdade existente na sociedade brasileira. De acordo com Zaidam (2003, p.144) acolher o aluno que chega á escola e construir propostas e projetos na unidade escolar ou nas redes de escolas, visando à inclusão, implica lidar com a diferença, num quadro de profunda desigualdade social... Conforme Paulo Freire (1996) em sua obra Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa, o ensinar não se restringe apenas em transferir conhecimentos, mas em criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção, por meio de relações estabelecidas. Para tanto, comenta com base na sua prática docente, que procurava ser crítico e inquiridor, porém aberto a indagações, á curiosidade, ás perguntas dos alunos, as suas inibições. No esforço de enfrentar esse conjunto de condições desfavoráveis que conduzem ao fracasso escolar a escola tornou-se permeável á ação profissional de diferentes técnicos, é nesse movimento e neste recorte da prática social que situamos a intervenção do serviço social junto a escola e suas demandas emergentes. Assim MARTINELLI nos coloca que: (...) mediações são categorias instrumentais pelas quais se processa a operacionalização da ação profissional. Se expressa pelo conjunto de instrumento. Recursos técnicos e estra-

tégias pelas quais a ação profissional ganha operacionalidade e concretude. São instancias de passagem da teoria para a prática, são vias de penetração nas tramas constitutivas do real. (1993:136). 2 Concordamos com SIMIONATO, 1997 quando ressalta que educadores e assistentes sociais são profissionais que compartilham desafios semelhantes, ambos têm na escola seu ponto de encontro. Dentre desses possíveis espaços de atuação profissional apresenta-se como ponto fundamental no contexto da profissão a dimensão educativa, procurando direcionar o processo de trabalho do assistente social através de ações interdisciplinares de orientação e informação, incentivando gestões participativas e contribuindo para a construção de novos sujeitos social A prática do Serviço Social no Colégio Marista e Municipal São José, (CMMSJ) oportuniza uma intervenção interdisciplinar envolvendo todo o contexto escolar: comunidade, família, educadores e educandos, estabelecendo mediação com a rede sócio assistencial e representação nos mecanismos de controle social de políticas públicas. O CMMSJ é uma unidade social da Província Marista do Brasil Centro Sul. Trata-se de uma parceria com a Prefeitura Municipal de São José. É uma unidade Social que desenvolve o serviço de ensino fundamental I e II, atende 980 educandos nos períodos matutino e vespertino; desenvolve também o serviço de orientação sócio familiar e sócio economia solidária. Intervindo nas situações sociais que caracterizam a relação aluno-família, e sua integração com a escola, é freqüente o educando refletir situações de negligencia e violência. Neste sentido, Fernanda Lia Silva (2004) em seu trabalho de conclusão de curso, ressalta que a violência, em todas as suas manifestações é atualmente, um dos principais problemas enfrentados, particularmente na sociedade brasileira. Esta deixa de ser um fato exclusivamente policial para ser um problema social que afeta a sociedade como um todo. É um tema com diversas possibilidades de abordagens, uma marca cada vez mais perigosa, alardeada entre as práticas sociais. Estudos de diferentes áreas demonstram que a violência ocasionada no âmbito familiar é potencializada por vários fatores de ordem social como a pobreza, o desemprego, a exclusão social, o consumo e tráfico de drogas, o alcoolismo, as aglomerações urbanas etc. A violência familiar se manifesta em suas formas mais acentuadas pela ação, através do espancamento ou do abuso sexual, ou pela omissão. Quando a violência não toma essas proporções o conflito familiar se desencadeia através da violência cotidiana, mais veladas e silenciadas, através da repressão, da restrição á liberdade, da exploração do trabalho... A violência pode ser um fator desencadeante de uma desconstrução de valores e verdades estabelecidos, trazendo sérios prejuízos também para a auto-estima do adolescente. As conseqüências desse processo não são apenas de ordem física, mas o são de ordem emocionais e muito graves.

3 Percebemos que a violência na escola não pode ser analisada como um fenômeno isolado, ela é parte de um processo, que vai além da escola, pois abrange uma série de fatores que envolvem o contexto social. No cotidiano da profissão o assistente social se depara com diversas situações de encaminhamentos, através do acompanhamento e mediação familiar procuramos desvendar as situações buscando alternativas para a superação dos conflitos. Na intervenção se faz necessário o uso de instrumentais como entrevista, visita domiciliar e relatórios que subsidiam a busca de recursos na rede sócio assistencial quando necessário. Através do diálogo com educandos e educadores percebemos que é fundamental envolver as famílias no processo de acompanhamento. Percebemos em algumas situações onde os educandos expressam conflito e vulnerabilidade em situações de violência. Ao resgatar a história de vida destas famílias, verificamos que muitas mulheres ocupam o lugar de chefe da família, o que a torna mais ocupada.esse é um fator grave para desencadear a violência física e algumas vezes psicológica, como ameaça de mandá-los morarem com o pai. Essa postura faz que a criança se sinta culpada e revoltada, também é uma violência repassada, de forma culpabilizadora de mãe para filho. Segundo Silva, 2004: A forma de violência utilizada por esses pais é a forma disciplinadora, que é vista e entendida por elas como condição para a educação de seus filhos. Percebe-se que a negligencia também é uma forma de violência, pois conforme a pesquisa as crianças que não sofreram violência física e sim negligencia foram deixadas aos cuidados da rua na convivência com mentores heróis, pessoas idolatradas na rua. São meninos com vulnerabilidades para a violência, pois já sofreram alguma forma de violência ou negligencia, seja na família ou da estrutura social. Acompanhando estes educandos percebemos que se encontravam mais vulneráveis á violência, sua falas reproduziam marcas da violência familiar e urbana que se refletia na escola, através da conversa informal procuramos resgatar o potencial positivo em cada indivíduo identificando algumas habilidades e potencialidades até então por eles nem pensadas. Acreditamos que cabe ao profissional de serviço social investigar, cada vez mais estar atento aos comportamentos orientando, buscando intervenção interdisciplinar e mediação com as famílias, na busca de uma nova visão de educação conforme prevê o Estatuto da criança e do adolescente onde devem ser vistos como sujeito de direitos e não como vítima de violência, pois este ciclo poderá se repetir ou ser contido, buscando uma convivência familiar adequada, mesmo sendo tão difícil em algumas situações.cabe ao assistente social diagnosticar as causas da negligencia, par poder definir o plano de intervenção que vise a reversão do quadro, e busca da implantação de políticas públicas voltada ás vítimas de violência doméstica, diminuindo a incidência deste fenômeno. Durante a trajetória profissional no Marista, interagimos com os educadores através de momentos de formação procurando dinamizar a legislação social e reflexão de temáticas envolvendo a

4 realidade do educando, bem como visitas na comunidade para aproximação e mediação com as famílias no seu território. Entendemos que a proposta coletiva dos possíveis caminhos de intervenção deve partir de uma reflexão conjunta onde a diversidade de percepções, conhecimentos e ideologias presentes em nosso cotidiano vislumbram como profissionais de educação poderão encarar alternativamente uma proposta de reformulação da prática educativa. Ao enfocarmos o serviço social como uma profissão interventiva, percebemos que surgem novas competências para o exercício profissional, diante da demanda de situações do cotidiano surgem novas possibilidades de intervenção através de projetos sistematizados com o intuito de envolver maior numero de indivíduos no atendimento. Enquanto atribuição do Assistente Social no CMMSJ, acompanhamos alguns projetos de intervenção com as famílias e comunidade com o objetivo de estabelecer mediação e parceria no processo ensino aprendizagem dos educandos, bem como refletir temáticas de direitos humanos, prevenção, orientações sobre a rede sócio assistencial, estabelecendo parcerias com a Universidade e ONGs que compõe a interface com o social. Acreditamos que tem sido muito positivo a participação das famílias nos projetos: família na escola e projeto: Valorização humana e sustentabilidade, pois ambos oportunizam resgatar a autoestima e valorização principalmente das mulheres mais fragilizadas despertando cidadania e empoderamento refletindo mudanças nas relações pessoais e familiares. Estes projetos estão estruturados no serviço de orientação sociofamiliar e sócioeconomia solidária da Instituição Marista. No espaço escolar se faz necessário o assistente social acompanhar famílias em situação de vulnerabilidade social sistematicamente, pois além de encaminhar e orientar quanto aos benefícios e direitos sociais, é preciso estar atentos a situações de fracasso escolar, dificuldades na aprendizagem e riscos de evasão escolar, através da experiência do projeto de ressignificação da aprendizagem verificamos que estas famílias trazem na sua história as mais variadas formas de exclusão social, como índice de analfabetismo e saúde precária, gerando desmotivação dos filhos para com os estudos. Estes desafios da exclusão social, poder e violência são categorias presentes no cotidiano profissional, é preciso romper com o ciclo da violência, pois suas conseqüências são refletidas diariamente no espaço escolar, a educação precisa estar pautada numa nova visão, conforme prevê o Estatuto da criança e do adolescente, uma educação sem violência, mas de respeito com limites, diálogo e amor. Acreditamos que as crianças e as famílias precisam aprender a não-violencia. Mas para que isto aconteça à própria educação deve ser moldada pelos princípios, regras e métodos da nãoviolencia. Neste sentido torna-se relevante o trabalho do Assistente Social no espaço escolar, como mediador das relações de confronto e de conquista de direitos, materializando a assistência social como política de inclusão, apontando para a construção coletiva da cidadania ativa, através de a-

5 ções e projetos que auxiliam os educandos as famílias e os educadores a levar em conta as múltiplas dimensões que envolvem o ato de educar e que se reconheçam como sujeitos capazes de intervir e transformar a realidade. Referencias bibliográficas FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários á prática educativa. 31 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. MARTINELLI, Gue Jussara.Educação Popular em Saúde: Em defesa da vida. Estudos Leopoldenses vol.29.n132.abril/maio 1993. SILVA, Fernanda Lia da. Violência na escola: um reflexo da violência social e urbana. Uma experiência realizada no Colégio Marista e Municipal São José.2004.103f. Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso em Serviço Social)- Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2004. PILLETTI, Nelson. História da Educação no Brasil. 4.ed.São Paulo:Ática,1994. ZAIDAN, Samira. Reformas educacionais e formação de professores no Brasil. In: OLIVEIRA, Dalila Andrade (org). Reformas educacionais na América Latina e os trabalhadores docentes. Belo Horizonte: Autêntica 2003.