A PRESENÇA DA ARTE NO PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO
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- Mirella Cipriano Palha
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1 A PRESENÇA DA ARTE NO PROJETO PROFISSIONAL DO SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO Sandra Maria Zanello de Aguiar, Universidade Estadual do Centro-Oeste/Setor de Ciências Sociais Aplicadas. Palavras-chave: ação social, arte Resumo: Este ensaio teórico tem como propósito mostrar a prática profissional do assistente social na área da educação apoiada na teoria de Antonio Gramsci, mais precisamente sob a ótica da relação entre arte e educação, necessária ao desenvolvimento do processo ensino e aprendizagem. Utilizou-se de autores que trouxessem subsídios a respeito da educação como parâmetro ao desenvolvimento de aptidões e vocações especialmente, voltadas a vivências singulares. Introdução O assistente social esteve presente nas escolas públicas de ensino fundamental e médio, aproximadamente, duas décadas, ou seja, nos anos de 1970 a Privilegiava a sua intervenção, especialmente, no núcleo familiar dos alunos, por entender que as problemáticas sociais expressadas por aquele segmento e constatadas pela comunidade escolar, se originavam do processo das relações sociais empreendidas pelos membros constituintes daquele núcleo. Utilizava-se da visita domiciliar como meio de conhecer o espaço vivido do aluno, para propor estratégias de intervenção no âmbito da escola e da família. Com a entrada de novas requisições apontadas no mundo do trabalho, a partir dos anos de 1980, e com a flexibilização acompanhada de reorientações das atividades de outras profissões das Ciências Sociais e Humanas, fez com que o Serviço Social se afastasse da área da educação. Essas outras profissões se alinharam de forma a cumprir com um ideário neoliberal, ou seja, o uso de técnicas e procedimentos mais pontuais que mostrassem resultados imediatos, de maior eficiência. O Serviço Social, ao privilegiar a sua ação no núcleo familiar, por meio da utilização de visitas domiciliares, provavelmente, o fez na perspectiva de conhecer a raiz das problemáticas sociais. Esse tipo de ação exige tempo, porque a análise e a síntese do produto das suas atividades laborais estão centradas na
2 2 participação dos indivíduos composta da história social dos seus cotidianos, facilitada pelo conhecimento do processo de mudança. No ano de 2006, o governo do Estado do Paraná editou lei que torna possível o reingresso do assistente social às instituições públicas de ensinos fundamental e médio. Este é o momento da profissão de Serviço Social se estruturar teórica e metodologicamente para assumir o seu lugar neste espaço sócio-ocupacional. Diante destas considerações preliminares, esta pesquisa foi realizada com a intenção de contribuir à prática profissional do serviço social na educação, composto de uma proposta metodológica que tem como fio condutor a teoria crítica. Esta teoria e seu método têm como embasamento filosófico o materialismo histórico e dialético de Antonio Gramsci, marxista contemporâneo, que ao dar materialidade à subjetividade, garante ao processo do ensino-aprendizagem a liberdade, a justiça social e a igualdade de direitos dos indivíduos envolvidos nesse processo. Por se constituírem, também, em pressupostos do Serviço Social na objetivação e construção do Projeto Ético-Político da profissão, o assistente social a partir desta proposta poderá estar atuando interdisciplinarmente com outras profissões presentes na educação como arte, de forma mais concreta e efetiva. Materiais e Métodos As obras teóricas escolhidas para este estudo estiveram centradas no Cadernos de Cárcere, de Antonio Gramsci, privilegiando-se os seus escritos dirigidos à educação como arte do diálogo; em Paolo Nosella orientando o estudo na lógica da liberdade e emancipação, seguido dos ensinamentos de Karl Marx, afirmando que a educação não deve se constituir em mercadoria, mas em breves e efetivos conhecimentos. Resultados e Discussão: A educação como arte O ato de aprender não é um simples ato. É um movimento entre o sentir, o compreender e o saber 1. Constitui-se em uma condição sine qua non para transformar os subalternos em indivíduos livres. Faz-se acompanhar de atitudes éticas e políticas, na sua objetividade e subjetividade, em outras palavras, sem perder a visibilidade do todo e das possibilidades nelas existentes, para superação do estado de coisas que o movimento interno do neoliberalismo produz. Ou, melhor, dizendo, [...] mais precisamente, como o método que se orienta, sempre, pela análise concreta de situações concretas. (SAVIANI in NOSELLA, p. 13, 2004). A construção do conhecimento concreto se dá a partir do senso comum, ou seja, pelas experiências acumuladas, por um arcabouço de situações concretas, ou na melhor expressão o concreto é concreto por 1 Categorias fundamentais, para Gramsci, na consideração da passagem do senso comum à produção de conhecimentos. É o mote rumo à liberdade.
3 3 ser a síntese de múltiplas determinações, logo, unidade da diversidade (MARX,2004:229). Pode-se dizer, portanto, que é uma composição de vivências próprias carregadas de objetividades e subjetividades. Ou seja, os indivíduos quando comunicam de si mesmos aos outros [...] as experiências reais de seus componentes singulares transformam isso num patrimônio coletivo: a classe operária educou-se comunisticamente, pelos seus próprios meios, pelos seus próprios sistemas (GRAMSCI apud NOSELLA, 2004:76). Nota-se que o conceito de senso comum vem acompanhado de circunstâncias do ambiente social, ou como diria Gramsci [...] é o pensar difuso do ambiente social (GRAMSCI, 1965, p. 363) representando um espaço educador magnânimo e primordial, acrescentado do contraponto do estabelecimento de uma direção hegemônica que viabilize um processo educativo às gerações mais novas. O espaço vivido ou o ambiente social significam a porta de entrada para a autonomia, que no seu movimento interno traz a disciplina dos hábitos, da constância dos objetivos. Estes propósitos são profundamente refletidos por Gramsci nos seus Quaderni del Cárcere que, até mesmo, anuncia a necessidade em se educar os educadores. Retomando-se a prática profissional do assistente social na área da educação, sobretudo, pautada na visita domiciliar, nota-se que em uma perspectiva pedagógica este instrumento de ação dá visibilidade ao ato de educar os educadores, ou seja, o núcleo familiar. Por que esta afirmativa? O assistente social ao acessar o mundo particular dos indivíduos adentra em um complexo de múltiplas relações estreitamente interdependentes, que somente pela via da reflexão e da discussão fundadas em uma filosofia de conteúdos irá proporcionar condições concretas para o encaminhamento conjunto de ações práticas produtivas e históricas, na perspectiva do sentir, do compreender e do saber, a respeito do cotidiano de suas existências. Desta maneira, a presença do método de exposição 2 é fundamental à compreensão dos acontecimentos históricos determinados e aqueles a serem determinados pelos atores envolvidos no processo, viabilizando o conhecimento das suas estruturas internas, de modo a superar a visão fatalista, aparente e a-histórica, e, sobretudo, o desenvolvimento da confiança em suas possibilidades.isto se traduz na concepção da filosofia da práxis que se constitui em uma, Atividade teórico-política e histórico-social dos grupos subalternos que procuram desenvolver uma visão de mundo global e um programa preciso de ação dentro do contexto em que vivem, com os meios que têm à disposição, visando a construir um projeto hegemônico alternativo de sociedade (Gramsci, 1999:99). 2 Considera-se, neste estudo, que este método se compõe de reflexões e discussões necessárias para a superação do senso comum.
4 4 E para Gramsci, em seus Cadernos do Cárcere, a filosofia da práxis consiste em uma ciência da dialética ou gnosiologia voltando-se a três considerações, assim descritas: 1 Práxis técnico-produtiva que considera o trabalho como célula histórica` elementar, na formação de si mesmos, na mediação ativa que temos com a natureza e com as outras pessoas. Ou seja, é preciso ver onde vivem as pessoas e onde se manifestam as sua idéias, para a definição das coisas. Pensa-se diferente, num palácio e numa choupana. Portanto, é nosso ser social que determina a nossa consciência. 2 Práxis científico-experimental, atividade pública de reflexão e pesquisa, enquanto construção de um conhecimento e de uma ciência voltados para a humanização do mundo e a expansão da democracia. Unidade perfeita de teoria e prática. 3 Práxis histórico-política, mediação entre vontade humana (superestrutura) e a estrutura econômica, entre o Estado e a sociedade civil, entre histórias locais e o contexto global (relações sociais) dos grupos subalternos. Cabe compreender estas determinantes postas por Gramsci dentro de perspectivas de pensar o mundo pelas suas relações e seus processos implicando em pensar dialético e historicamente o fazer pedagógico do Serviço Social, e investir-se de uma postura investigativa frente aos elementos novos que emergem no cotidiano da vida dos indivíduos permitindo-lhes, efetivamente, a participação do processo de objetivação e apropriação do conhecimento. A efetivação desta ruptura dialética se dá através de experiências com o cotidiano das relações sociais que envolvem aqueles indivíduos fortemente marcados pelo modo de viver e pensar as coisas, na reprodução de uma visão imediatista, fatalista e burguesa, de viés conservador. Segundo REIS, citando GRAMSCI, Entendendo-se a educação como projeto político, qualquer prática educativa (com função de reprodução, ou socialização, ou reelaboração do saber, das relações de poder e do papel do educador) é sempre determinada por [...] uma concepção de mundo implicitamente manifesta na arte, no direito, na atividade econômica e em todas as manifestações da vida individual e coletiva (REIS, 2005, p. 159). Tais considerações permitem, portanto, a construção de uma metodologia de trabalho fundada na lógica da liberdade e emancipação, apoiada nas vivências individuais e coletivas, que fortalece a visão interdisciplinar no serviço social.
5 5 Conclusões Este estudo proporcionou o conhecimento teórico dos autores investigados, sempre na perspectiva de que a educação não é um processo isolado das relações sociais em geral, nem mesmo mera mercadoria. Referências GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira, MARX, Karl. O Capital. São Paulo. Civilização Brasileira, NOSELLA, Paolo. A escola de Gramsci. São Paulo, REIS, William Gonçalves dos. Questões sobre o ensino de Arte na Educação Básica. IN Ciências Humanas em Revista. São Luis, v 3, n 2, 2005, p Disponível em eis_v3_n2.pdf
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