ESTADO DO TOCANTINS PODER JUDICIÁRIO COMARCA DE PALMAS 3ª VARA CRIMINAL PROCESSOS N os 5021457-83.2013.827.2729 e 5021453-46.2013.827.2729 DECISÃO Tratam-se de queixas oferecidas por Eudival Coelho Barros, Gilsomar Alves Gomes e José Ronaldo dos Santos contra Robispierre Melo Xavier, todos qualificados nas petições iniciais, em que se atribuiu ao querelado a prática de fatos supostamente ofensivos aos querelantes, materializados em notícia veiculada pela internet, em 19 de fevereiro de 2013, da qual teriam tomado conhecimento em março de 2013. Pediu-se a condenação do querelado nas penas dos crimes de calúnia, injúria e difamação. As queixas foram originalmente oferecidas ao Juizado Especial Criminal de Palmas, que, em audiência realizada no dia 24/03/2014, determinou a remessa dos processos ao juízo comum, haja vista que a pena dos crimes ultrapassaria o limite de competência daquele juízo (eventos 47 e 74, respectivamente). Os processos vieram então a esta 3ª Vara Criminal. Caso viesse a seguir os estritos ditames procedimentais, este juízo deveria exigir dos querelantes o pagamento das custas processuais e depois ouviria o Ministério Público para eventual aditamento das queixas etc. Posteriormente, designaria data para realização da audiência de conciliação para só então decidir se receberia ou não as queixas. No entanto, hei de poupar os querelantes desta despesa, além de preservar o tempo do Ministério Público, das partes e da escrivania que certamente deve ser mais bem aproveitado em questões que tenham pertinência, e rejeitarei de plano as queixas, pelas razões adiante expostas.
que segue: O art. 44 do Código de Processo Penal dispõe o Art. 44. A queixa poderá ser dada por procurador com poderes especiais, devendo constar do instrumento do mandato o nome do querelante e a menção do fato criminoso, salvo quando tais esclarecimentos dependerem de diligências que devem ser previamente requeridas no juízo criminal (sublinhei). No caso vertente, as primeiras procurações outorgadas pelos querelantes a seus advogados não contêm, sequer implicitamente, referência aos fatos criminosos que teriam sido cometidos pelo querelado, como se vê no documento PROC2 do evento 1, que reproduzo abaixo: Com se vê, as procurações não atendem ao que prevê a aludida regra processual, pois nem mesmo o nomen juris dos crimes foram referidos no documento, que, portanto, devem ser considerados ineptos para a finalidade a que destinavam. É de se observar ainda que os querelantes não subscreveram as petições iniciais, situação que poderia suplantar a falta apontada, consoante jurisprudência assentada sobre a matéria. 2
Observo ainda que foram posteriormente apresentadas outras procurações, anexadas nos eventos 15 e 18, respectivamente, que, do mesmo modo, não atendem ao preceito legal invocado, conforme reprodução abaixo: Além de não estarem adequadas à finalidade proposta, é de se consignar que as procurações foram lavradas em 25/10/2013, tiveram a firma reconhecida em 06/11/2013 e juntadas ao processo somente em 11/11/2013, ou seja, depois de ultrapassado o prazo decadencial de 6 meses, que se conta da data em que a ofensa teria sido produzida. Em decisão sobre a questão em comento, o Supremo Tribunal Federal asseverou o seguinte, mutatis mutandis: EMENTA: - Queixa-crime. - Não-ocorrência da prescrição da pretensão punitiva pela pena em abstrato. - A procuração outorgada ao advogado do querelante, ao se limitar a dar o nomen iuris dos crimes que a queixa atribui ao querelado, não atende à finalidade a que visa o artigo 44 do Código de Processo Penal, e que é a da fixação da responsabilidade por denunciação caluniosa no exercício do direito personalíssimo de queixa. Precedentes do S.T.F. - Ademais, essa omissão não foi suprida com a subscrição, pelo 3
querelante, da queixa conjuntamente com seu patrono, nem é ela mais sanável no curso da ação penal por já se encontrar esgotado o prazo de decadência previsto no artigo 38 do Código de Processo Penal. Queixa-crime rejeitada. (Inq 1696/SP Relator: Min. Moreira Alves Julgamento: 27/11/2002 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação: DJ 07-03-2003 PP- 00034 EMENT VOL-02101-01 PP-00031). Justiça, verbis: Igual é o entendimento do Superior Tribunal de AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. QUEIXA. CRIMES CONTRA A HONRA. INSTRUMENTO DE MANDATO SEM MENÇÃO AO FATO CRIMINOSO. OMISSÃO NÃO SANADA DENTRO DO PRAZO DECADENCIAL. NEGADO PROVIMENTO. 1. O instrumento de mandato com poderes especiais conferido a procurador legalmente habilitado, para a propositura de queixa nos crimes contra a honra, que não contém a menção ao fato delituoso, constitui omissão que obsta o regular prosseguimento da ação penal, se não for sanada dentro do prazo decadencial. 2. A falha na representação processual do querelante pode ser sanada a qualquer tempo, desde que dentro do prazo decadencial. Inteligência dos artigos 43, III, 44 e 568, todos do Código de Processo Penal. 3. Negado provimento ao agravo regimental. (AgRg no REsp 471111/RS Relatora: Ministra Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/MG) Órgão Julgador: Sexta Turma Data do Julgamento: 19/06/2008 Data da Publicação/Fonte: DJe 04/08/2008). O Tribunal de Justiça do Tocantins seguiu esse posicionamento no julgado abaixo mencionado: 4
RECURSO EM SENTIDO ESTRITO. CALÚNIA E DIFAMAÇÃO. LAVRATURA DE DOCUMENTO PÚBLICO NARRANDO GESTÃO FRAUDULENTA DE SINDICATO. QUEIXA-CRIME. PROCURAÇÃO. AUSÊNCIA DE MENÇÃO AO FATO CRIMINOSO. SANEAMENTO DO VÍCIO. DECADÊNCIA. O vício na representação processual do querelante (ausência de descrição do fato criminoso na procuração, bem como de subscrição conjunta de queixa-crime por suposta difamação e calúnia, decorrente da lavratura de declaração pública narrando gestão fraudulenta de sindicato), sanado somente após o esgotamento do prazo decadencial (escritura lavrada em 10/09/10 e queixa ofertada em 15/03/11, após os seis meses do prazo decadencial previsto no artigo 38 do Código de Processo Penal) conduz à absolvição sumária por extinção da punibilidade dos agentes. (Recurso em Sentido Estrito nº 50000063-59.2013.827.0000 Relator: Des. Marco Villas Boas j. em 23/04/2013). Tendo em vista que as procurações não obedeceram aos ditames legais, não havendo possibilidade de que sejam corrigidas, ausenta-se pressuposto para recebimento das queixas. Diante do exposto, rejeito as queixas, com fundamento no art. 395, inciso II, do Código de Processo Penal. Intimem-se os querelantes e o querelado, através de seus advogados, e ainda o representante do Ministério Público que atua neste juízo. E, se esta decisão transitar em julgado sem modificação, promova-se a baixa definitiva dos processos. Palmas/TO, 26 de março de 2014. Rafael Gonçalves de Paula Juiz de direito 5