Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 74/97 - Plenário - Ata 06/97 Processo nº TC 016.626/94-0 (Sigiloso) Responsável: Ary Cícero de Moraes Ribeiro, ex-diretor-geral. Interessado: Antônio Fúcio de Mendonça Neto (Denunciante). Órgão: Imprensa Nacional. Relator: Ministro Carlos Átila Álvares da Silva. Representante do Ministério Público: Não atuou. Unidade Técnica: 4ª SECEX. Especificação do "quorum": Ministros presentes: Homero dos Santos (Presidente), Fernando Gonçalves, Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva (Relator), Iram Saraiva, Humberto Guimarães Souto, Bento José Bugarin e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo. Assunto: Denúncia sobre possíveis irregularidades na doação de aparas de papel. Ementa: Denúncia contra a Imprensa Nacional. Doação de aparas de papel à Associação de servidores. Autorização concedida com base em parecer favorável da CJ/MJ. Procedência da denúncia. Acolhimento das justificativas apresentadas. Determinação. - Parecer Jurídico. Respaldo jurídico. Entendimento já firmado pelo TCU. - Entidade Privada. Concessão de subvenções auxílios e contribuições pecuniárias por órgãos e entidades da Administração Federal. Entendimento já firmado pelo Tribunal. Data DOU: 11/03/1997 Página DOU: 4757 Data da Sessão: 26/02/1997
Relatório do Ministro Relator: GRUPO I - CLASSE VII - Plenário TC nº 016.626/94-0 (com 01 Volume) - Sigiloso NATUREZA: Denúncia. ÓRGÃO: Imprensa Nacional. RESPONSÁVEL: Ary Cícero de Moraes Ribeiro, ex-diretor-geral. INTERESSADO: Antônio Fúcio de Mendonça Neto (Denunciante). EMENTA: Denúncia sobre possíveis irregularidades na doação de 20% do total diário de aparas de papel pela Imprensa Nacional à respectiva Associação de Servidores. Alegação do responsável de estar respaldado por parecer jurídico. Procedência da denúncia. Acolhimento das razões de justificativa apresentadas. Determinação ao Órgão. Conhecimento ao autor. Levantamento do sigilo. Encaminhamento de cópia à Entidade e juntada às contas. Trata o presente processo de Denúncia formulada pelo Sr. Antônio Fúcio de Mendonça Neto relacionada com a doação de 20% da totalidade diária de aparas de papel pela Imprensa Nacional à respectiva Associação de Servidores-ASDIN, com possíveis irregularidades que consistiriam resumidamente no que se segue: 1. a ASDIN, entidade de direito privado, não tem finalidade filantrópica e, portanto, não poderia ser contemplada com doações pela Administração Federal; 2. as aparas de papel constituem patrimônio da União, e devem ser alienadas mediante licitação na modalidade leilão, com o resultado devendo ser revertido ao Fundo da Imprensa Nacional-FUNIN; 3. a concessão, por órgãos e entidades da Administração Federal, de subvenções, auxílios e contribuições pecuniárias, a qualquer título, a entidades privadas está proibida pelo disposto nas Leis nºs 7.800/89, 8.074/90 e 8.211/91, e corroboradas pelos Decretos nºs 99.509/90 e 99.658/90; 4. foi negado pedido de doação efetuado pelo Comitê Regional da "Ação da Cidadania contra a Fome, a Miséria e pela Vida", com base em pareceres da CISET/MJ e da Consultoria Jurídica do mesmo Ministério - CJ/MJ, posto que o referido Comitê não seria entidade filantrópica reconhecida pelo Governo Federal. Cumpre ressaltar que o autor da denúncia ajuizou em 31/01/95 Ação Popular contra a União, tendo o Juiz Federal da 2ª Vara concedido liminar determinando a imediata suspensão da doação em questão.
Por proposta da 4ª SECEX - que mencionou deliberações deste Tribunal no sentido de que, conforme a legislação mencionada no item 3 supra, é vedada a concessão de contribuições pecuniárias a associações de servidores (Decisão Administrativa nº 008/92, Sessão Plenária Sigilosa de 14/04/92, Ata nº 14/92 - fl. 36) -, determinei a audiência do Sr. Ary Cícero de Moraes Ribeiro, ex-diretor-geral da Imprensa Nacional (fl. 51). O referido responsável apresentou o expediente de fls. 54/57 contendo suas razões de justificativa expressas sinteticamente nos seguintes termos: 1. as doações de aparas de papel à ASDIN tiveram início na gestão anterior, quatro meses antes de sua posse no cargo; 2. ao saber das doações, só autorizou sua continuidade após obter o parecer favorável da CJ/MJ sobre a legalidade do ato; 3. restringiu as doações às aparas de papel inservíveis, e determinou que a ASDIN comprovasse a aplicação dos recursos obtidos com a venda das aparas somente em benefícios assistenciais aos servidores da Imprensa Nacional. A 4ª SECEX informou que o Tribunal tem se manifestado no sentido de não responsabilizar os gestores pelas irregularidades que tenham cometido quando tiverem agido sob o entendimento de parecer jurídico (Anexo III da Ata nº 37/84, Sessão Plenária de 29/05/84, e Acórdãos do Plenário nºs 56/92 e 103/95); mais recentemente, o Ministério Público pronunciou-se no sentido de que "o apelo a tal entendimento somente pode ser admitido a partir da análise de cada caso, isto é, deve-se verificar 'se o parecer está devidamente fundamentado, se defende tese aceitável, se está alicerçado em lição de doutrina ou de jurisprudência'" (Parecer lavrado no TC 005.766/95-8 - Decisão Plenária nº 289/96, Ata nº 19/96). Considerando que o parecer da CJ/MJ (fls. 104/105) - no sentido de que as aparas de papel constituem "resíduo", e não material inservível para os efeitos do Decreto nº 99.658/90, que condiciona em tais casos a doação somente a entidades filantrópicas, e apontando o inciso II, alínea "a", do art. 17 da Lei nº 8.666/93 como sendo a base legal para a continuidade da doação - atende ao pressuposto acima transcrito, a 4ª SECEX propõe (fls. /148): a) sejam acolhidas as razões de justificativa apresentadas pelo responsável, sem prejuízo de que se determine à Imprensa
Nacional a observância do disposto no 4º do art. 8º e o art. 15 do Decreto nº 99.658/90, c/c o art. 17 da Lei nº 8.666/93, quando do desfazimento de material considerado genericamente inservível; b) seja dado conhecimento ao autor da denúncia, retirada a chancela de sigiloso e arquivado este processo. É o Relatório. Voto do Ministro Relator: Verifica-se nos autos que a denúncia em pauta atende aos requisitos de admissibilidade previstos no art. 213 do Regimento Interno deste Tribunal, podendo, assim, ser conhecida. Com efeito, foi apropriada a conclusão da 4ª SECEX de que o respaldo jurídico obtido pelo responsável estava devidamente fundamentado e continha tese aceitável, não podendo o mesmo sofrer sanção por ter atuado ao abrigo de tal parecer, conforme jurisprudência deste Tribunal. Deve prevalecer, não obstante, o entendimento de que a legislação vigente veda a doação de materiais, ainda que constituídas de resíduos ou classificados como "inservíveis", a entidades privadas que não tenham sido oficialmente reconhecidas como filantrópicas e sem fins lucrativos. É cabível, portanto, a determinação que a 4ª SECEX propõe seja endereçada à Imprensa Nacional. Além disso, tendo em vista que a Tomada de Contas da Imprensa Nacional relativa ao exercício de 1994 já se encontra naquela Unidade Técnica (TC 007.423/95-0), entendo que devem os autos ser a ela juntados para o oportuno exame em conjunto e em confronto. Assim, com essa observação, VOTO por que seja adotada a Decisão que submeto ao Plenário. Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 1. conhecer da denúncia em pauta, por preencher os requisitos de admissibilidade previstos no art. 213 do Regimento Interno deste Tribunal, para considerá-la procedente; 2. acolher as razões de justificativa apresentadas pelo Sr. Ary Cícero de Moraes Ribeiro; 3. determinar aos atuais dirigentes da Imprensa Nacional que observem o disposto nos arts. 8º, 4º, e 15 do Decreto nº 99.658/90, c/c o art. 17 da Lei nº 8.666/93, e alterações posteriores, quando da alienação ou doação de material considerado
genericamente inservível; 4. levantar a chancela de SIGILOSO que recai sobre estes autos; 5. encaminhar ao denunciante, bem como à Imprensa Nacional, cópia desta Decisão, bem como do Relatório e Voto que a fundamentam; e 6. determinar a juntada destes autos aos da Tomada de Contas da Imprensa Nacional, exercício de 1994 (TC 007.423/95-0), para exame em conjunto e em confronto. Indexação: Denúncia; FUNIN; Imprensa Nacional; Parecer; Responsável; Licitação; Associação de Servidores; Doação; Material Inservível; Alienação de Bens; Assessoramento Jurídico; Responsabilidade do Agente; Gestor;