Tribunal de Contas da União

Transcrição

1 Tribunal de Contas da União Dados Materiais: Decisão 111/97 - Plenário - Ata 09/97 Processo nº TC 0l5.766/96-9. Interessado: Identidade preservada. Entidade: Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA. Relator: Auditor Lincoln Magalhães da Rocha. Representante do Ministério Público: não atuou. Unidade Técnica: SECEX/AM. Especificação do "quorum": Ministros presentes: Homero dos Santos (Presidente), Adhemar Paladini Ghisi, Carlos Átila Álvares da Silva, Paulo Affonso Martins de Oliveira, Iram Saraiva, Humberto Guimarães Souto, Bento José Bugarin e o Ministro-Substituto José Antonio Barreto de Macedo. Assunto: Denúncia. Ementa: Denúncia formulado contra a SUFRAMA. Fragilidade do controle do cadastro das empresas que usufruem de incentivos fiscais. Procedência em parte. Determinação. Juntada às contas. Data DOU: 08/04/1997 Página DOU: 6811 Data da Sessão: 19/03/1997 Relatório do Ministro Relator: Grupo I - Classe VII - PLENÁRIO (SIGILOSO) -TC / Natureza: Denúncia. -Ementa: Denúncia. Improcedência em parte. Fragilidade do controle do cadastro das empresas que gozam dos benefícios fiscais. Determinações. Conhecimento ao interessado. Juntada às contas

2 ordinárias. Tratam os autos de Denúncia apresentada a esta Corte de Contas acerca de cota de importação destinada pela SUFRAMA à empresa W. Martins & Cia Ltda, no valor de US$ 7,786, Assevera o denunciante que a SUFRAMA, ao distribuir a aludida cota, não observou que a empresa W. Martins estava com suas atividades encerradas, conforme pedido de baixa de inscrição na Secretaria de Fazenda-SEFAZ, bem como, direcionou um valor bem superior à média que normalmente é conferida às firmas cadastradas. 3. Realizada inspeção pela SECEX/AM, visando apurar o objeto da denúncia, foi produzido o Relatório de fls. 75/78, o qual, pela sua abrangência e profundidade, transcrevo a seguir: "4. Inicialmente nos informamos a respeito de todo o procedimento adotado pela Autarquia para a distribuição das quotas de importação para o setor comercial da Zona Franca de Manaus A determinação dos limites individuais de importação (quotas) pelas empresas comerciais instaladas na Zona Franca de Manaus no período de contingenciamento, que abrange os meses de maio/96 a abril/97, foi feita com base nos critérios estabelecidos no Decreto nº 1.894, de 03 de maio de 1996 (fls. 20/23) O î 2º do art. 1º deste Decreto estabelece que os limites de importação serão proporcionais à participação de cada empresa no total de importações realizadas pelo conjunto de empresas comerciais no período de contingenciamento anterior (maio/95 a abril/96) O art. 5º do retrocitado decreto dispõe que o limite de importações não poderá representar um acréscimo superior a 20% (vinte por cento) em relação ao valor efetivamente importado no período de maio/95 a abril/ A Resolução nº 22 do Conselho de Administração da SUFRAMA-CAS de 09 de agosto de 1996 (fls. 10/11) estabelece ainda como limites individuais de importação para as empresas comerciais estabelecidas na ZFM o valor concedido no período de contingenciamento anterior, caso seja superior ao concedido com base nos critérios do Decreto nº 1.894/ Segundo a Portaria nº 152/96, do Gabinete da Superintendência da Zona Franca de Manaus (fls. 12/19), para efeito de cálculo do limite de importação de que trata o î 2º do art. 1º do Decreto nº 1.894/96, serão computadas as importações de bens de informática e de capital realizadas no exercício anterior, por

3 empresas comerciais, uma vez que, não obstante descontingenciadas, são incentivadas Ao analisarmos os valores das quotas concedidas pela SUFRAMA, observamos, através de amostragem, que os cálculos efetuados estão de acordo com os critérios estabelecidos na legislação que rege a matéria Para estarem habilitadas a usufruir dos incentivos fiscais concedidos pelo Governo Federal, as firmas comerciais da ZFM devem estar cadastradas junto à SUFRAMA. O cadastro é renovado anualmente, sendo exigidos inicialmente e por ocasião da renovação os seguintes documentos: a) Contrato Social b) CGC c) Inscrição Estadual d) Alvará de funcionamento fornecido pela Prefeitura de Manaus e) Certidões negativas do FGTS, INSS e Tributos Federais O cadastramento é feito em setor específico (depto. de cadastro - DECAD), estando totalmente informatizado. Os critérios para o cadastramento de empresas/instituições, objetivando os incentivos fiscais administrados pela SUFRAMA estão dispostos na Portaria nº 192/95-SUFRAMA (fls. 71/74) Atendido o requisito de cadastramento e definido o valor das quotas de importação, é gerada para as empresas apenas uma expectativa de direito de efetivação das importações. A utilização real das quotas é feita através da liberação das Guias de Importação e Declarações de Importação. Cada vez que uma empresa efetua uma importação, seu valor é subtraído da quota que lhe foi destinada, ficando disponível um saldo para futuras importações a serem feitas durante o período de contingenciamento. Tal processo também é totalmente informatizado e realizado por setor específico A Resolução nº 22/96, de 9 de agosto de 1996, do Conselho de Administração da SUFRAMA, determina que as empresas comerciais comuniquem o valor total da quota a ser utilizada, no período de maio de 1996 até abril de 1997, até a data de , sob pena de terem os saldos das quotas remanescentes nesta data cancelados Acontecendo o cancelamento dos saldos das quotas, os mesmos serão redistribuídos às demais empresas, conforme estabelecido na Resolução nº 21/96, de 9 de agosto de 1996, do Conselho de Administração da SUFRAMA. 5. Devidamente esclarecidos os processos de distribuição e

4 utilização das quotas de importação, passamos a analisar o objeto da denúncia, que é a quota distribuída à empresa W. Martins & Cia. Ltda Esta empresa, com base nos critérios estabelecidos para o cálculo das quotas teria direito no período de contingenciamento de maio de 1996 a abril de 1997 ao valor de US$ ,81. Através da Portaria nº 152, de (fls. 12/19) foi aprovada a concessão deste valor. No dia a firma W. Martins solicitou sua baixa de inscrição junto à Entidade (fl. 05), que atualmente já se encontra cancelada Observamos na documentação à fl. 47 que a empresa não utilizou efetivamente nenhum valor da quota que lhe foi concedida, pois para que se efetive a autorização para importação, devem ser observados alguns procedimentos de controle da autarquia sobre a situação da empresa, quais sejam: verificação do cadastro, da inexistência de dívidas para com a SUFRAMA e da existência de saldo na sua quota de importação Como não houve usufruto do benefício fiscal pela empresa, entendemos, s.m.j., que esta questão esteja elidida. Ressaltamos ainda que em razão do estabelecido na Resolução nº 22/96 e 21/96 (itens 4.9. e 4.10.) este valor será redistribuído às demais empresas no primeiro quadrimestre de Pertinente à existência de dois endereços distintos nos cadastros da SUFRAMA e da Secretaria Estadual de Fazenda, fomos informados que tal fato ocorreu por falha da entidade, que não procedeu à alteração no Sistema de Cadastro, de modo que continuava constando o endereço anterior da empresa, na Rua Saldanha Marinho, Sala Verificamos "in loco" os endereços citados e constatamos que no endereço da Rua Saldanha Marinho, 656, sala 851, centro, funciona um estacionamento. Fomos informados pela administradora do local que é comum a mesma receber correspondência endereçada a esta firma naquele endereço. No cadastro da Empresa junto à carteira de Comércio exterior do Banco do Brasil (fls. 52), consta o mesmo endereço acrescido do nome do edifício Alfredo Cunha. Verificamos que este edifício localiza-se no número 606 desta rua e não no número 656 que está registrado no cadastro da SUFRAMA. Assim acreditamos que tenha havido um erro na identificação do número do imóvel onde se localizava a Empresa no início de suas operações.

5 No último endereço da firma fomos informados que realmente ela se estabeleceu ali, mas que já tinha sido desativada há aproximadamente uns seis meses. Tal data coincide com o período em que a mesma solicitou baixa de sua inscrição junto à SUFRAMA A ocorrência destes fatos evidencia uma deficiência do controle da Autarquia em algumas ocasiões, quais sejam: a) o chefe do setor de cadastro nos informou que antes de ser aprovado o cadastro inicial de uma firma é feita uma inspeção na mesma para verificar a sua existência material e que o relatório é parte integrante do cadastro. Não verificamos na documentação da Empresa W. Martins a existência de tal relatório. Se ele tivesse sido feita à época, com certeza teria sido desfeita a incorreção do seu endereço. b) a Autarquia, quando promoveu a renovação deste cadastro não procedeu à alteração do seu endereço, visto que em todas as certidões apresentadas já constavam o novo endereço Ainda a esse respeito, analisando a sistemática adotada para o cadastramento das empresas comerciais para utilização dos incentivos concedidos através do Decreto nº 288/67, verificamos que as certidões negativas que dele devem fazer parte têm validade de apenas seis meses, o que significa que pelo menos durante seis meses a SUFRAMA concede os incentivos a empresas sem ter certeza se estas se encontram em débito ou não com os tributos federais, estaduais e municipais. No nosso entendimento, devem ser adotados procedimentos que evitem a ocorrência de tais fatos, pois caso venham a se concretizar, estaria o Estado concedendo benefícios fiscais a empresas que não cumprem os seus compromissos com o mesmo. 6. Ante o exposto, propomos o encaminhamento dos autos ao Gabinete do Ministro-Relator, Dr. Lincoln Magalhães da Rocha, sugerindo que: I - seja conhecida a presente denúncia, para considerá-la, em parte, improcedente; II - seja determinado à Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA que adote providências com vistas a efetuar um rigoroso controle do cadastro das empresas que gozam dos benefícios fiscais por ela administrados, especificamente quanto à: a) necessidade de se evitar a concessão de benefícios sem a comprovação por parte das empresas de que não se encontram em débito com os Tributos Federais; b) atualização, concomitantemente, de todos os dados das

6 empresas, tais como endereços e alterações estatutárias. III - seja dada ciência ao Interessado da decisão que vier a ser proferida, bem como do relatório e voto; e IV - seja juntado este processo às contas da SUFRAMA referente ao exercício de 1996." 4. A Secretária de Controle Externo, Dra. Helena Montenegro Valente, endossou as conclusões oferecidas pela equipe de inspeção (fl. 79). Voto do Ministro Relator: O resultado da inspeção levada a termo pela Secretaria de Controle Externo revela que não houve grave irregularidade por parte da SUFRAMA, conforme teor da presente denúncia, porém, demonstra que os controles administrativos voltados para o cadastramento de empresas que gozam dos benefícios fiscais supervisionados pela Autarquia são frágeis e de pouca confiabilidade. Dessa forma, acompanho as sugestões da Secretaria Técnica no sentido de determinar à SUFRAMA que adote providências imediatas relacionadas ao saneamento do problema. 2. Assim, alinhando-me aos pareceres emitidos pela SECEX/AM, proponho que o Tribunal adote a decisão que ora submeto a este Egrégio Plenário. Decisão: O Tribunal Pleno, diante das razões expostas pelo Relator, DECIDE: 1 - conhecer da presente denúncia por preencher os requisitos de admissibilidade constantes do Art. 213 do Regimento Interno do TCU, para, no mérito, considerá-la parcialmente improcedente, no que tange à conotação de grave irregularidade cometida pela SUFRAMA, constante da peça acusatória; 2 - determinar à Superintendência da Zona Franca de Manaus - SUFRAMA que adote providências com vistas a efetuar um rigoroso controle do cadastro das empresas que gozam dos benefícios fiscais por ela administrados, especificamente no que diz respeito: 2.l - à necessidade de se evitar a concessão de benefícios sem a comprovação, por parte das empresas, de que não se encontram em débito com os Tributos Federais; à atualização, concomitante, de todos os dados das empresas, tais como endereços e alterações estatutárias; 3 - dar conhecimento ao interessado do inteiro teor do

7 Relatório, Voto e Decisão ora proferida; 4 - determinar a juntada do presente processo às contas ordinárias da SUFRAMA referentes ao exercício de l996; e 5 - retirar a chancela de sigiloso aposta aos autos. Indexação: Denúncia; SUFRAMA; Incentivo Fiscal; Cadastro; Empresa; Importação;