Nº 70024212110 COMARCA DE PORTO ALEGRE CARLA LEITE LAURENTIS A C Ó R D Ã O. Vistos, relatados e discutidos os autos.



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ACÓRDÃO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de. APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n /0-00, da Comarca de

Transcrição:

RESPONSABILIDADE CIVIL. PRESTAÇÃO INADEQUADA DE SERVIÇOS POR PROFISSIONAL LIBERAL. DENTISTA. NÃO-VERIFICAÇÃO. CONTRAPRESTAÇÃO DEVIDA. DANO MORAL. NÃO-CONFIGURAÇÃO. 1. Não restando minimamente demonstrada a falha na prestação dos serviços de odontologia contratados, não há falar em inexigibilidade da contraprestação avençada e tampouco em condenação dos réus ao pagamento de indenização por dano moral. 2. Desprovimento do apelo. APELAÇÃO CÍVEL QUINTA CÂMARA CÍVEL COMARCA DE PORTO ALEGRE JACIRA MARIA MULLER CARLA LEITE LAURENTIS GENTE CLUBE DE VIDA PROMOCOES E SERVICOS SOCIEDADE SIMPLES LTDA APELANTE APELADO APELADO A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos os autos. Acordam os Desembargadores integrantes da Quinta Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em negar provimento ao apelo. Custas na forma da lei. Participaram do julgamento, além do signatário, os eminentes Senhores DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK (PRESIDENTE) E DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO. Porto Alegre, 04 de junho de 2008. 1

DES. PAULO SERGIO SCARPARO, Relator. R E L A T Ó R I O DES. PAULO SERGIO SCARPARO (RELATOR) Inicialmente, adoto o relatório da sentença (fls. 222-224): Jacira Maria Müller ajuizou ação anulatória cumulada com pedido de danos morais contra Gente Saúde e Carla Leite Laurentis constando da inicial, em resumo, que a autora é participante do plano autogestão da empresa Gente Saúde, em que houve renovação do contrato em 23/09/2004. Em outubro de 2004, a requerente procurou a ré para fazer um tratamento odontológico e foi encaminhada à Dra. Carla Leite Laurentis. Acertou a forma de tratamento com referida profissional, ao custo de R$ 864,00, parcelado em quatro vezes de R$ 216,00, cada uma, efetuando o pagamento pelos cheques números 000317 a 000320 da Agência 0324 do Banco Bradesco S.A. No entanto, o resultado do tratamento não surtiu o efeito desejado. Ao retomar ao consultório, a profissional tentou solucionar os problemas ocorridos, de forma inexitosa. Nesse sentido, foi à sede da primeira co-ré para que lhe fosse custeado novo tratamento, pedindo que o profissional indicado, desta vez, não fizesse parte de seus quadros, já que não confiava mais nos mesmos, levando em consideração o tratamento realizado originariamente e que lhe ocasionou danos estéticos. A empresa, por sua vez, discordou da proposta feita pela autora e sugeriu-lhe novo tratamento, a ser feito por profissional credenciado junto àquela. Diante da controvérsia, a autora teve como rescindido o contrato e determinou ao Banco Bradesco a sustação dos títulos que ainda não haviam sido descontados. Ingressou no 2 JEC localizado nas dependências da UFRGS e lá a julgadora deu-se por incompetente, observando a complexidade do feito e a necessidade de realização de perícia técnica. Por isso, formulou o pedido de anulação dos títulos mencionados e de indenização pelos danos morais sofridos, em valor mínimo para custear novo tratamento. Juntou documentos. Meritoriamente refutou a tese trazida na inicial, eis que ao procurar a dentista já referida a autora desejava fazer várias intervenções dentárias, dentre elas restaurações e diagnósticos referentes a dois dentes. Nestes foi constatada a necessidade de realização de tratamento de canal (endodôntico) de forma imediata, pois havia necrose em um deles. A demandante foi alertada acerca da diversidade de coloração e que seria propícia a troca do pivô por um dente de porcelana, assim ficando acordado. Ao final do tratamento a requerente demonstrou satisfação com o resultado, e a profissional foi pega de surpresa quando se deparou com a sustação dos cheques. Ao entrar em contato com a paciente, esta afirmou não ter ficado satisfeita com o tratamento, sendo-lhe 2

sugerido retomo ao consultório, oportunidade em que houve o encapamento provisório do dente com resina, para que fosse tirado posteriormente novo molde e se substituísse a porcelana, com o intuito de alcançar o resultado perseguido pela autora. Esta não mais retomou ao consultório para finalizar o tratamento. Entretanto, a autora sustou três cheques e não dois como refere. Informou que a demandante ocultou o fato de que foram disponibilizadas várias soluções, inclusive tratamento com qualquer outro dentista credenciado pela empresa, tendo recusado as ofertas. Rebateu a tese de existência do dever de indenizar por supostos danos morais. Fundamentou juridicamente suas alegações. Pugnou pelo acolhimento da preliminar ou pela improcedência da demanda. Juntou documentos. Por sua vez, a co-ré Carla Leite Laurentis, em sua contestação (fls. 53/63), alegou que o pedido de anulação dos cheques números 000318, 000319 e 000320 da Agência 0324 do Banco Bradesco é juridicamente impossível, pois não se enquadra no art. 171 do Código Civil, observando que a autora abandonou precocemente o tratamento. Afirmou ter realizado raio x, quando verificou a necessidade de tratamento de canal no dente 11 (incisivo central superior direito), eis que estava com necrose pulpar visível e restaurações amplas, sendo confirmada a vitalidade negativa do mesmo. Isto é, o dente não era saudável e natural como afirma a autora na inicial. Além do mais, argumentou que a necessidade de prótese do dente 11 não ocorreu por conta da cor, mas sim porque foi verificada, após a abertura do dente, sua fragilidade e a necessidade de confecção de coroa. E, quanto ao dente 21, o raio x demonstrou que já havia sido realizado tratamento de canal e encontrava-se com pino metálico. A ré não tratou novamente o dente, pois não havia dor ou lesão periapical, embora a autora tivesse sido informada sobre o estado do dente, deixando, todavia, de realizar o tratamento para não onerar o preço do orçamento. Narrou a respeito do procedimento realizado na arcada da autora. Ressaltou que ao verificar a insatisfação da paciente com o tratamento sugeriu que fosse alterada a tonalidade dos dentes através de resina, de forma provisória, advertindo que seria necessária a repetição do trabalho de confecção de novas coroas. Dito isso, a autora não mais retomou ao consultório. Alertou que no documento trazido pela paciente, à fl. 13, é sugerida a substituição das coroas protéticas por outras de material diverso e de qualidade muito superior à contratada, o que geraria uma onerosidade que a autora não estava disposta a gastar na contratação feita originariamente. Impugnou as fotos trazidas. Requereu a improcedência da demanda. Juntou documentos. Sobreveio decisão, com o seguinte dispositivo: pelo exposto, julgo improcedente a ação proposta por Jacira Maria Müller contra Gente Saúde e Cana Leite Laurentis, responsabilizando a parte autora pelas custas do processo e pelos honorários advocatícios dos Drs. Procuradores das rés, 3

fixados em R$ 400,00, para cada profissional, com base no artigo 20, 3, letras a e c, do CPC, suspensa a exigibilidade enquanto perdurarem as circunstâncias autorizadoras do beneficio da AJG (fl. 228). Irresignada com o deslinde dado ao feito pelo juízo de origem, apela a autora. Alega, em síntese, que as rés lhe prestaram serviço defeituoso. Argumenta que a perita atuou de modo tendencioso, respondendo de modo distorcido aos quesitos que lhe foram apresentados. Enfatiza que a prova dos autos demonstra que a co-ré Cláudia Leite Laurentis não é especialista em prótese dentária, mas, isto, sim, em dentística. Acrescenta que restou demonstrado, inequivocamente, a falha na prestação dos serviços contratados. Requer o provimento do apelo, julgando-se procedente o pedido deduzido na inicial, declarando-se a nulidade dos cheques emitidos como contraprestação aos serviços prestados e condenando-se as rés ao pagamento de indenização por dano moral (fls. 231-236). Vieram-me os autos conclusos para julgamento. V O T O S DES. PAULO SERGIO SCARPARO (RELATOR) Não obstante ponderáveis, os argumentos expendidos pela apelante não têm o condão de alterar o deslinde dado ao feito pelo juízo de origem. A sentença, aliás, bem apreciou a controvérsia posta nos autos, razão pela qual, a fim de evitar despicienda tautologia, agrega-se a este voto parte dos fundamentos lançados na decisão (fls. 225-228): 2. Meritoriamente 4

A autora pretende obter a anulação dos três cheques que deu em contraprestação ao tratamento odontológico, eis que insatisfeita com o mesmo. Conforme relatado, a autora buscou tratamento odontológico com a primeira ré que, por sua vez, a encaminhou à Dra. Carla Leite Laurentis, segunda ré. O tratamento foi realizado por completo. Contudo, houve insatisfação da demandante quanto ao resultado alcançado, pelo argumento de que a coloração do dente havia mudado e porque sentia aspereza e incômodo. As provas trazidas no autos, entretanto, não corroboram a tese da autora. Ao verificar que o tratamento originário não foi satisfatório, a co-ré Gente Saúde disponibilizou outros profissionais para que fosse solucionada a insurgência. Por sua vez, a autora mencionou em sua inicial que não confiava mais nos profissionais credenciados junto à ré e queria indicação de um dentista que não integrasse o quadro da empresa. A desconfiança da autora não se justifica e não deveria se estender aos demais profissionais da rede credenciada. Além do mais o pedido de indicação de um profissional que não fizesse parte da rede demonstra-se, no mínimo, estranho já que a ré atua como intermediária entre pacientes e profissionais da área de saúde pertencentes ao seu quadro. Além da empresa, a própria odontóloga responsável pelo tratamento inicial quis providenciar novo tratamento e obter o resultado almejado pela autora, o qual teve início, sem ônus algum, tendo a autora no entanto deixado de comparecer ao consultório, para finalizá-lo. 2.1 Das provas colhidas A perícia realizada pelo DMJ constatou que os diagnósticos feitos pela dentista, ora ré, estavam corretos, assim como os procedimentos por ela realizados, e que a insatisfação resumia-se à cor do dente, como se depreende das fl. 101/102, no item denominado conclusão. As provas colhidas em audiência também asseveram a tese de que o tratamento endodôntico da feito pela Dra. Carta foi realizado com êxito e que não haveria óbice algum em alterar a cor do dente. Pelo depoimento da Dra. Perita, em audiência, é comum fazer um desgaste do dente e preencher com resina, de forma provisória, para depois refazer o tratamento (fl. 159/160). A conduta da profissional foi ética e correta, já que se dispôs, inclusive, a realizar novo tratamento, que só não foi finalizado porque a autora deixou de comparecer às consultas. Acresço apenas que nada há nos autos a demonstrar a apontada falha no serviço. A alegação de que a perita atuou de modo tendencioso não encontra amparo nos autos, pois não há no caderno processual quaisquer elementos a infirmar o laudo pericial ou as declarações da expert prestadas em audiência. 5

De igual modo, não tem o alcance que lhe atribuiu a apelante o fato de a co-ré Cláudia Leite Laurentis não possuir especialização em prótese dentária, mas, sim, em dentística. Com efeito, não se verificando a apontada deficiência nos serviços prestados, já que realizado de acordo com parâmetros técnicos adequados, tona-se irrelevante se o profissional detém ou não o titulo de especialista. Nesse sentido, já decidiu esta Corte de Justiça, em julgado de relatoria do eminente Desembargador Artur Arnildo Ludwig, assim ementado: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DENTISTA. RELAÇÃO REGIDA PELO CDC. RESPONSABILIDADE SUBJETIVA, BASEADA NA CULPA. CULPA NÃO COMPROVADA. HABILITAÇÃO DO PROFISSIONAL. ORTODONTIA. IMPERÍCIA. NÃO CONFIGURAÇÃO. - Com relação aos profissionais liberais, dentre os quais se incluem os dentistas, o Código Consumerista prevê como pressuposto da responsabilidade, a verificação da culpa, conforme dispõe o art. 14, 4º, do CDC. - No caso, não há como se concluir pela responsabilidade do réu. Isto porque, além de ter restado evidenciado a complexidade dos problemas apresentados pela autora, essa não se mostrou persistente no tratamento que ao que tudo indica foi realizado com técnica satisfatória. - Mesmo o profissional não reconhecido como especialista não pode ser responsabilizado por dano sem que se perquira a respeito da imperícia, imprudência ou negligência. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70017506213, Sexta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Artur Arnildo Ludwig, Julgado em 26/04/2007) Impõe-se, assim, a manutenção da sentença das fls. 222-228, da lavra do eminente magistrado Edson Jorge Cechet. do apelo. Com essas breves considerações, voto pelo desprovimento DES. JORGE LUIZ LOPES DO CANTO (REVISOR) - De acordo. DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK (PRESIDENTE) - De acordo. 6

DES. UMBERTO GUASPARI SUDBRACK - Presidente - Apelação Cível nº 70024212110, Comarca de Porto Alegre: "À UNANIMIDADE, NEGARAM PROVIMENTO AO APELO." Julgador(a) de 1º Grau: EDSON JORGE CECHET 7