A IMPORTÂNCIA DA ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL As prevalências de sobrepeso e obesidade cresceram de maneira importante nos últimos 30 anos. A importância que a obesidade vem assumindo no Brasil não pode ser ignorada e, a anunciada epidemia de obesidade para os Estados Unidos, é fato também no Brasil. Paralelamente, a prevalência de doenças crônicas não-transmissíveis vem aumentando e entre as principais causas destas doenças está a alimentação inadequada. Portanto, o estabelecimento de dietas saudáveis deve contemplar como prioridade a prevenção do ganho de peso. Incluir o consumo alimentar e a atividade física no âmbito de comportamentos para uma vida saudável é talvez a mais importante tarefa de promoção da saúde. Neste cenário, as medidas de prevenção ocupam lugar de destaque, não só em função de que a prevenção precoce das doenças associa-se a melhor qualidade de vida, mas também porque, as medidas terapêuticas para a obesidade, um dos principais problemas nutricionais do presente, têm sido de pouca valia. Destaca-se que a prevenção e o tratamento da obesidade apresentam-se como um dos grandes desafios deste século. Hoje existem evidências científicas que apontam o impacto da alimentação saudável na prevenção das mortes prematuras, causadas por doenças crônicas não-transmissíveis como as doenças cardíacas e o câncer. Assim, uma proposta de alimentação saudável deve contemplar dietas que estejam ao alcance da sociedade como um todo, e que tenham um impacto sobre os mais importantes fatores relacionados às várias doenças. De acordo com os princípios de uma alimentação saudável, todos os grupos de alimentos devem compor a dieta diária. A alimentação saudável deve fornecer água, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, minerais e fibras, os quais são insubstituíveis e indispensáveis ao bom
funcionamento do organismo. A diversidade dietética que fundamenta o conceito de alimentação saudável pressupõe que nenhum alimento específico ou grupo deles isoladamente, é suficiente para fornecer todos os nutrientes necessários a uma boa nutrição e conseqüente manutenção da saúde. As proibições ou limitações impostas devem ser evitadas, a não ser que façam parte de orientações individualizadas e particularizadas do aconselhamento nutricional de pessoas portadoras de doenças ou distúrbios nutricionais específicos, devidamente fundamentadas e esclarecidas. Mesmo as dietas para perda ou manutenção do peso corporal, que exigem redução calórica, devem atender ao padrão alimentar e nutricional considerado adequado. Além disso, deve ser uma oportunidade de aprender e exercitar a reeducação alimentar, atendendo aos quesitos da adequação em quantidade e qualidade, prazer e saciedade. A formação dos hábitos alimentares se processa de modo gradual, desde a infância, logo, é necessário que as mudanças de hábitos sejam alcançadas a médio/ longo prazo, sob orientação do nutricionista. Não se deve esquecer que, nesse processo, também estão envolvidos valores culturais, sociais, afetivos, emocionais e comportamentais, que precisam ser cuidadosamente integrados às propostas de mudanças. A ciência comprova aquilo que ao longo do tempo a sabedoria popular e alguns estudiosos, há séculos, apregoavam: a alimentação saudável é a base para a saúde. A natureza e a qualidade daquilo que se come e se bebe é de importância fundamental para a saúde e para as possibilidades de se desfrutar todas as fases da vida de forma produtiva e ativa, longa e saudável. Salienta-se ainda que a prática de atividade física é igualmente estratégica para redução e manutenção do peso saudável. Não é possível dissociar o consumo alimentar do gasto energético. Para tal necessita-se de avaliação médica e orientação/ acompanhamento do professor de educação física. Recomenda-se, portanto, modificações permanentes no estilo de vida. CONSTRUINDO UM ESTILO DE VIDA SAUDÁVEL Coma devagar e mastigue bem os alimentos; Consuma alimentos variados, em quatro a seis refeições ao dia (Café da manhã, colação, almoço, lanche, jantar e ceia), em horários determinados e com moderação. Pular refeições não emagrece e prejudica a saúde;
Arroz e feijão devem ser consumidos todos os dias, acompanhados de legumes e vegetais folhosos; Alterne o consumo de peixes, aves, carne vermelha, soja e ovos. Retire a pele e a gordura aparente das carnes; Prefira as frutas inteiras, se possível, com casca e bagaço, 4 a 5 porções variadas, todos os dias, na forma natural. As frutas são excelentes sobremesas; Tome leite e coma produtos lácteos, com baixo teor de gordura, pelo menos 3 vezes por dia; Inclua alimentos integrais ricos em fibras em sua alimentação (pães, biscoitos, torradas, arroz e massas); Reduza o açúcar. Evite refrigerantes e bebidas alcoólicas; Use sal com moderação. Evite alimentos industrializados, como enlatados e embutidos (salame, salsicha, mortadela e presunto), que contêm muito sódio/sal. Aumente o uso de temperos naturais como alho, cebola, salsa, salsinha, coentro, louro, manjericão, orégano e cebolinha; Evite frituras. Consuma preparações assadas, cozidas, grelhadas ou ensopadas. Para cozinhar use óleos vegetais (soja, milho, girassol ou canola) e para temperar prefira azeite de oliva; Para lanches prefira frutas (naturais ou desidratadas), sucos, vitaminas, iogurtes e queijos com pouca gordura, sanduíches naturais e/ou barras de cereais ao invés de biscoitos recheados/ amanteigados, bolos e salgadinhos; Não se esqueça de tomar bastante água durante o dia, no mínimo, dois litros por dia. Contudo, evite o excesso de líquidos nas grandes refeições (almoço e jantar); Procure seu médico para iniciar a prática de atividade física. Faça uma avaliação com um professor de educação física. Se possível, exercite-se todos os dias. Inclua na sua rotina andar a pé, subir escada, jogar bola, dançar, passear e outras atividades. Benefícios para a saúde já são observados com 30 minutos diários de atividade física. Mantenha um peso saudável (eutrofia) e evite o ganho de peso após os 20 anos (Tabela 1). Evite também o aumento da circunferência da cintura (Tabela 2); Tabela 1: Classificação do estado nutricional de adultos, segundo o Índice de Massa Corporal (IMC). IMC (kg/m 2 ) Classificação < 16,0 Magreza grau III 16,0 a 16,9 Magreza grau II 17,0 a 18,4 Magreza grau I 18,5 a 24,9 Eutrofia 25,0 a 29,9 Pré-Obeso
30,0 a 34,9 Obesidade grau I 35,0 a 39,9 Obesidade grau II 40,0 Obesidade grau III ou mórbida Fonte: OMS, 1997 Calcule o seu IMC: IMC = peso atual (kg)/ estatura (m) 2. Tabela 2: Circunferência da cintura de acordo com o gênero. Risco de complicações metabólicas associadas à obesidade Elevado Muito Elevado Homem 94 cm 102 cm Mulher 80 cm 88 cm Fonte: OMS, 1998. IMPORTANTE: Essas recomendações foram elaboradas para pessoas saudáveis. Pessoas portadoras de doenças ou distúrbios nutricionais específicos precisam de dietas especiais e devem receber orientações específicas e individualizadas, de um nutricionista, de acordo com o seu estado de saúde. Nutricionista: Isabela E. A. da Matta CRN4 2002100725 Mestre em Nutrição Humana UFRJ Especialista em Nutrição Clínica UFF isabeladamatta@hotmail.com
Referências: LESSA, I. Doenças crônicas não transmissíveis no Brasil: um desafio para a complexa tarefa da vigilância. Ciênc Saúde Coletiva; 9:931-43, 2004. MINISTÉRIO DA SAÚDE (MS). SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE. DEPARTAMENTO DE ATENÇÃO BÁSICA. COORDENAÇÃO-GERAL DA POLÍTICA DE ALIMENTAÇÃO E NUTRIÇÃO. Guia Alimentar para a População Brasileira. Promovendo a Alimentação Saudável. Série A. Normas e Manuais Técnicos. Brasília, 2006. REPETTO, Giuseppe; RIZZOLLI, Jacqueline and BONATTO, Cassiane. Prevalência, riscos e soluções na obesidade e sobrepeso: Here, There, and Everywhere. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. vol.47, n.6, pp. 633-635, 2003. SICHIERI, Rosely. Epidemiologia da Obesidade. Rio de Janeiro: EDUERJ, 1998. SICHIERI, Rosely; COITINHO, Denise C.; MONTEIRO, Josefina B; COUTINHO, Walmir F.. Recomendações de alimentação e nutrição saudável para a população brasileira. Arq Bras Endocrinol Metab [online]. vol.44, n.3, pp. 227-232, 2000. VINHOLES, Daniele Botelho; ASSUNCAO, Maria Cecília Formoso; NEUTZLING, Marilda Borges. Freqüência de hábitos saudáveis de alimentação medidos a partir dos 10 Passos da Alimentação Saudável do Ministério da Saúde. Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública [online]. vol.25, n.4, pp. 791-799, 2009. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Report of a consultation group on obesity. Preventing and managing the global epidemic. Geneva, 1998. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Report of a Joint FAO/WHO Consultation. Preparation and use of foodbased dietary guidelines. Geneva, 1998. Genebra, 1997. WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO).Obesity: preventing and managing the global epidemic.