IMPLEMENTAÇÃO DA LEI 10.216/2001 Modelo de Estrutura Helvécio Miranda Magalhães Júnior Secretário Municipal de Saúde - Belo Horizonte Presidente do CONASEMS
Lei 10.216/2001: um pouco da história Apresentada ao Congresso Nacional em 1989, a futura Lei Paulo Delgado seria discutida por 12 anos, sendo neste período objeto de intensas e calorosas discussões e disputas. De um lado, se colocavam os que se apostavam na perspectiva basagliana: a liberdade é terapêutica. De outro, os que continuavam a afirmar velhos mitos: a periculosidade e a incapacidade como condições inerentes à loucura, o que fazia supor não ser possível a substituição do hospital psiquiátrico.
Lei 10.216/2001: um pouco da história Até sua aprovação, em 06/04/01, a assistência aos portadores de sofrimento mental era regulada pelo Decreto-Lei 24.559 de 1934. Este texto autorizava, entre outras coisas, o poder de sequestro do portador de sofrimento mental, na medida em que autorizava a qualquer cidadão ou instituição o direito a solicitar a internação de um usuário, mesmo contra sua vontade.
O processo de discussão da projeto de lei produziu ressonâncias sociais destacando-se: a aprovação de leis estaduais de reforma psiquiátrica: RS em 1992; CE em 1993; PE em 1994; RN, PR e DF em 1995; ES em 1997; a criação de portarias ministeriais regulamentando a prestação de serviços e instituindo novos dispositivos; a decisão de alguns municípios, seguindo o exemplo santista, de implantar de serviços substitutivos; a construção de uma nova cultura clínica no campo da saúde mental, que passa a conjugar cidadania e cuidado.
A realidade que a lei ajudou a transformar Até o início da década de 90 existiam no país cerca de 100.000 leitos psiquiátricos e poucos mais de 200 CAPS; dos leitos existentes, 80% pertenciam à iniciativa privada e constituíam a conhecida indústria da loucura em Belo Horizonte existiam, em 1993, 2.250 leitos psiquiátricos distribuídos entre 02 hospitais públicos e 04 privados conveniados ao SUS; nenhum serviço substitutivo;
A Lei 10.216/2001 respondeu a uma demanda da sociedade, sendo sustentada ao longo dos anos pelo Movimento da Luta Antimanicomial, autor da insígnia Por uma sociedade sem manicômios, diretriz que orientou a criação dos serviços substitutivos.
Efeitos de Lei 10.216/2001 Reconhecimento dos direitos do portador de sofrimento mental; introdução da idéia de proteção como uma necessidade dos usuários; redirecionamento do modelo de assistência: da exclusão à inclusão a introdução da palavra do louco como fator de decisão no momento da internação (artigo 6º) impulsão à ampliação da rede substitutiva
Ainda um desafio: Pôr fim a uma das formas de violação exercida pelo manicômio: a ausência de documentação de milhares de usuários há longo tempo Internados e ampliação da rede de cuidado e de proteção de forma sustentável.
A história mineira e belo-horizontina Minas Gerais dispõe de legislação referente à reforma - leis 11.802 e 12.684 - desde 1995. Em 1993 Belo Horizonte dá início à construção da rede substitutiva, articulando sua criação à extinção do manicômio. Destaque no processo: interlocução com o movimento social
A rede assistencial de Belo Horizonte 09 CERSAMs: 07 CAPS III, 01 CAPSi e 02 CAPS-ad 01 Serviço de Urgência Psiquiátrica Noturna - SUP 57 Equipes de Saúde Mental na rede básica 09 Centros de Convivência 19 Serviços Residenciais Terapêuticos REDE QUE AINDA PRECISA AVANÇAR!
A rede assistencial de Belo Horizonte 09 equipes complementares de atenção à saúde mental da criança e do adolescente com 01 psiquiatra infantil, 01 fonoaudiólogo e 01 Terapeuta Ocupacional política de fomento ao trabalho e produção dos usuários: Incubadora de Empreendimentos Econômicos e Solidários da Saúde Mental Projeto Arte da Saúde
CERSAMI Nordeste CERSAM Barreiro
Efeitos da Política fechamento de 02 hospitais psiquiátricos; redução de cerca de 1.600 leitos; fechamento de mais um hospital, até dezembro de 2008, e redução de mais 200 leitos; inclusão de 163 usuários em SRT; redução do índice de internação; permanecem 260 leitos de agudos; 100 leitos de longa permanência.
Efeitos da Política Ampliação da rede assistencial, através da parceria com as Equipes de Saúde da Família e SAMU; presença dos usuários na vida da cidade; estabelecimento de parcerias intersetoriais (BHTrans, assistência social, educação, abastecimento, direitos humanos); instituições sociais diversas: PAI-PJ, Projeto Pólos, Cáritas Brasileira, Conselhos de Psicologia, etc.
Efeitos da Política Intervenção na Cultura Realização anual do desfile da Escola de Samba Liberdade Ainda que Tam-tam, em comemoração ao Dia da Luta Antimanicomial - 18 de Maio, com cerca de 3.000 participantes; Mostra de Arte Insensata (maio de 2008); participação dos usuários e dos serviços em inúmeros eventos culturais da cidade (exposições, feiras, etc).
Certamente, ainda há muito a fazer. É preciso trazer para a vida da cidade usuários que ainda se encontram excluídos. Nosso compromisso: oferecer acesso ao tratamento em liberdade a todo cidadão portador de sofrimento mental grave.
OBRIGADO! hmiranda@pbh.gov.br