CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA n o 001/2008:



Documentos relacionados
CP 013/14 Sistemas Subterrâneos. Questões para as distribuidoras

Companhia Energética de Minas Gerais

Nota Técnica 113/2007 SRD/SRE/ANEEL Metodologia para Projeção de Investimentos para o Cálculo do Fator X Contribuição da Audiência Publica 052/2007

MODELO PARA ENVIO DE CONTRIBUIÇÕES REFERENTE À CONSULTA PÚBLICA Nº 019/2014

DIRETORIA COMERCIAL PLANO DE OCUPAÇÃO DA INFRAESTRUTURA DA COELCE

(MAPAS VIVOS DA UFCG) PPA-UFCG RELATÓRIO DE AUTO-AVALIAÇÃO DA UFCG CICLO ANEXO (PARTE 2) DIAGNÓSTICOS E RECOMENDAÇÕES

CONTRIBUIÇÃO DO GRUPO CMS (CPEE, CSPE, CJE E CLFM) PARA A AUDIÊNCIA PÚBLICA ANEEL No 019/2005

O SEGURO DE VIDA COM COBERTURA POR SOBREVIVÊNCIA NO MERCADO SEGURADOR BRASILEIRO UMA ANÁLISE TRIBUTÁRIA

Agência Nacional de Energia Elétrica ANEEL. Procedimentos do Programa de Eficiência Energética PROPEE. Módulo 9 Avaliação dos Projetos e Programa

AUDIÊNCIA PÚBLICA 02/2007

POR QUE AS EMPRESAS NÃO DEVEM INVESTIR EM PROGRAMAS DE INCLUSÃO?

PROCURADOR-GERAL DO TCU LUCAS ROCHA FURTADO

MODELO PARA ENVIO DE CONTRIBUIÇÕES REFERENTE À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 005 /2014

LISTA DE VERIFICAÇAO DO SISTEMA DE GESTAO DA QUALIDADE

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

O Setor Informal e as Pequenas Empresas: Métodos Alternativos para o Apoio e a Geração de Emprego Rajendra Kumar

SISTEMA BRASILEIRO DE PAGAMENTOS E O COMÉRCIO

Análise de Conjuntura

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: IR DIFERIDO

REGULAMENTO DO PROGRAMA PROFESSOR VISITANTE DA UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ (PPV-UTFPR)

ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS PROGRAMAS DE APOIO ÀS PMEs NO BRASIL Resumo Executivo PARA BAIXAR A AVALIAÇÃO COMPLETA:

MANUAL DE GERENCIAMENTO DO RISCO DE LIQUIDEZ

7 etapas para construir um Projeto Integrado de Negócios Sustentáveis de sucesso

ESTRUTURA DE GERENCIAMENTO DE RISCO DE LIQUIDEZ. 1 ) Introdução

Número: / Unidade Examinada: Município de Bujaru/PA

POLÍTICA DE DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA O MERCADO DE CAPITAIS

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

CÓDIGO DE ÉTICA AGÊNCIA DE FOMENTO DE GOIÁS S/A GOIÁSFOMENTO

!+,(-. / %01213"&$$(

CONSELHO DE REGULAÇÃO E MELHORES PRÁTICAS DE FUNDOS DE INVESTIMENTO DELIBERAÇÃO Nº 68

DIRETRIZES E PARÂMETROS DE AVALIAÇÃO DE PROPOSTAS DE CURSOS NOVOS DE MESTRADO PROFISSIONAL

Normas Internacionais de Avaliação. Preço Custo e valor Mercado Abordagem de valores Abordagens de avaliação

ULHÔA CANTO, REZENDE E GUERRA - ADVOGADOS. Contribuição à Audiência Pública ANEEL nº 052/2007 Aprimoramento da Resolução Normativa ANEEL nº 234/2006

CONSULTA PÚBLICA CP 018/2014. Contribuição do Grupo Energias do Brasil EDP

NOTA TÉCNICA Nº 005/2010 SRE/ADASA

CONTRIBUIÇÕES À CONSULTA PÚBLICA Nº 15/2014 NOTA TÉCNICA 353/2014 SFF/ANEEL

POLÍTICA DE PROMOÇÃO À SAÚDE E PREVENÇÃO DE DOENÇAS

MODELO PARA ENVIO DE CONTRIBUIÇÕES REFERENTE À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº10/2016

análisederisco empresarial

Ano: 2012 Realiza Consultoria Empresarial Ltda.

FORMULÁRIO DE INFORMAÇÕES COMPLEMENTARES

PREFEITURA DE GOIÂNIA 1 GABINETE DO PREFEITO

Audiência Pública nº 006/2015

QUALIFICAÇÃO E CERTIFICAÇÃO DE PESSOAL EM CORROSÃO E PROTEÇÃO

Quando um dos controladores apresentar estágio função de demanda (geralmente botoeira de pedestre), a união não deverá ser efetivada.

Curso Superior de Tecnologia em Gestão de Recursos Humanos. Professora Mestranda Elaine Araújo

Planejamento Estratégico Setorial para a Internacionalização

Seguro-Saúde. Guia para Consulta Rápida

TRANSIÇÃO DAS CERTIFICAÇÕES DOS SISTEMAS DE GESTÃO DA QUALIDADE E SISTEMAS DE GESTÃO AMBIENTAL, PARA AS VERSÕES 2015 DAS NORMAS.

NORMA BRASILEIRA DE CONTABILIDADE TÉCNICA DO SETOR PÚBLICO NBCT (IPSAS)

O Índice de Aproveitamento de Subestações e o Planejamento da Expansão: um Estudo de Caso

PERGUNTAS E RESPOSTAS

Oficina Cebes DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E SAÚDE

GESTÃO DE RISCO OPERACIONAL

TERMO DE REFERÊNCIA PARA A AUDITORIA DE DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS DO PRODAF

Manual do Revisor Oficial de Contas. Projecto de Directriz de Revisão/Auditoria 860

RESPOSTA A PEDIDO DE IMPUGNAÇÃO

Política de Trabalho de Conclusão de Curso - TCC

BTG PACTUAL PARTICIPATIONS, LTD. POLÍTICA DE DIVULGAÇÃO DE INFORMAÇÕES RELEVANTES E PRESERVAÇÃO DE SIGILO

NORMA ISO Sistemas de Gestão Ambiental, Diretrizes Gerais, Princípios, Sistema e Técnicas de Apoio

Audição da CIP na Comissão de Trabalho e Segurança Social 27 de janeiro de 2016

CONTRIBUIÇÕES REFERENTES À AUDIÊNCIA PÚBLICA Nº 068/2011 COPEL DISTRIBUIÇÃO S/A

ipea políticas sociais acompanhamento e análise 7 ago GASTOS SOCIAIS: FOCALIZAR VERSUS UNIVERSALIZAR José Márcio Camargo*

AVISO (20/GAOA/2015)

Política monetária e senhoriagem: depósitos compulsórios na economia brasileira recente

CONTRIBUIÇÕES DA COPEL DISTRIBUIÇÃO S/A AP 001/2007

Regulação em Projetos Transnacionais de Infraestrutura Aspectos Econômicos. Arthur Barrionuevo FGV - Escolas de Administração e Direito

newsletter Nº 84 JANEIRO / 2014

REQUERIMENTO DE INFORMAÇÃO N..., DE 2011 (Do Deputado BETO MANSUR)

Cliente Empreendedorismo Metodologia e Gestão Lucro Respeito Ética Responsabilidade com a Comunidade e Meio Ambiente

Canal Energia - 15/04/2016 Distribuidoras: novo arranjo pós renovação?

AUDIÊNCIA PÚBLICA - AP 028/2014. Contribuição do Grupo Energias do Brasil EDP

SÚ MÚLA DE RECOMENDAÇO ES AOS RELATORES Nº 1/2016/CE

Carta de Adesão à Iniciativa Empresarial e aos 10 Compromissos da Empresa com a Promoção da Igualdade Racial - 1

Projeto de Resolução n.º 565/XII/2.ª

O termo compliance é originário do verbo, em inglês, to comply, e significa estar em conformidade com regras, normas e procedimentos.

POLÍTICA DE REMUNERAÇÃO DOS MEMBROS DOS ÓRGÃOS DE ADMINISTRAÇÃOE DE FISCALIZAÇÃO DA CAIXA ECONÓMICA MONTEPIO GERAL

MINISTÉRIO DA FAZENDA Secretaria de Acompanhamento Econômico

O Banco Central do Brasil em 29/06/2006 editou a Resolução 3380, com vista a implementação da Estrutura de Gerenciamento do Risco Operacional.

BARDELLA S/A INDÚSTRIAS MECÂNICAS CNPJ/MF Nº / COMPANHIA ABERTA

Qualidade de Software

NOME DA INSTITUIÇÃO: Greenpeace Brasil

ACORDO DE PARIS: A RECEITA PARA UM BOM RESULTADO

MELHORES PRÁTICAS DA OCDE

1. Regular com ressalvas a gestão do(s) seguinte(s) responsável(is)

Marcos Bragatto Superintendente de Regulação e Comercialização de Eletricidade ap049_2011@aneel.gov.br

PRODUTOS DO COMPONENTE Modelo de Gestão Organizacional Formulado e Regulamentado

Fernando Goulart Diretoria da Qualidade

CAPITAL DE GIRO: ESSÊNCIA DA VIDA EMPRESARIAL

POLÍTICA DE RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Política de Gerenciamento de Risco Operacional

Transcrição:

CONTRIBUIÇÃO AO PROCESSO DE AUDIÊNCIA PÚBLICA n o 001/2008: Procedimentos para análise dos limites, condições e restrições para participação de agentes econômicos nas atividades do setor de energia elétrica 10 de Março de 2008 1

ÍNDICE 1. Introdução...3 2. Princípios e fundamentos da proposta ANEEL...3 3. Avaliação da Nota Técnica...5 3.1 O Conceito de mercado...5 3.2 Captura de ganhos de sinergia...5 4. Conclusões...7 2

1. Introdução O objetivo desta nota é apresentar a contribuição da ABRADEE ao processo de Audiência Pública 001/2008 que trata dos procedimentos para análise dos limites, condições e restrições à participação de agentes econômicos nas atividades do setor de energia elétrica, cujos aspectos técnicos estão descritos na Nota Técnica n o 341/2007 SEM/ANEEL. Não obstante a AP abarcar as atividades de geração, transmissão e distribuição, nos ateremos apenas à atividade de distribuição. Este texto está estruturado de modo a descrever sucintamente os princípios gerais e os fundamentos da NT, analisá-los e, finalmente, apresentar sugestões de aperfeiçoamento. 2. Princípios e fundamentos da proposta ANEEL Sob a ótica da distribuição, a Nota Técnica: i) resgata as discussões no âmbito da AP 001/2000 quanto ao problema da definição de mercado que melhor se adapta ao tratamento de questões concorrenciais e à imposição de limites per se, e ii) coloca a problemática do poder de mercado sob a perspectiva do novo modelo do setor elétrico. Após o processo de análise, a NT técnica passa à abordagem das propostas de encaminhamento colocando-as sob a ótica da apropriação dos ganhos de eficiência e produtividade advindos do ato de concentração. No que se refere à definição de mercado e imposição de limites de concentração, a priori a NT questiona com base em contribuições da Secretaria de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda (SEAE), a imposição destes limites, concordando que participação de mercado não é condição nem necessária nem suficiente para caracterizar condições concorrenciais de mercado. E vai além, ao também concordar com aquela Secretaria que o conceito de mercado adotado na Resolução 278/2000 mercado no sentido de sistemas apresenta pouca efetividade no que concerne à análise de concorrência. Admite, portanto, que o conceito que traz efetividade a questões concorrenciais é o de mercado relevante, adotado pelo SBDC. Esta definição de mercado leva a ANEEL a constatar que, nas áreas de atuação de cada concessionária de distribuição, ou seja, no seu mercado relevante, não faz sentido se pensar na possibilidade do exercício de poder de mercado uma vez que as distribuidoras são consideradas monopólios naturais, estando sujeitas ao arcabouço regulatório da Agência. No que concerne ao novo modelo do setor elétrico, demonstra-se na NT que o Ambiente de Contratação Regulada (ACR) elimina a possibilidade de exercício de poder de mercado, e ainda favorece a modicidade tarifária ao determinar que as compras de energia se dêem via leilão regulado e realizado pela própria Aneel. 3

Posto isto, a análise da ANEEL se dá no sentido de mostrar que a convivência entre o conceito de mercado do SBDC e o novo modelo do setor elétrico, torna ociosas as preocupações acerca do exercício de poder de mercado por parte dos agentes de distribuição. Neste sentido, o anexo desta contribuição 1 traz, entre outras coisas, exemplos da jurisprudência do SBDC no sentido de corroborar a ausência de preocupações concorrenciais. Porém, de modo surpreendente, a NT sugere que, mesmo diante de toda aquela avaliação, e sem apresentar argumentos adicionais, operações que resultem em participações de mercado superiores a 35% devem ser analisadas sob a ótica da defesa da concorrência. Isso, mesmo após discorrer sobre o conceito de mercado relevante como sendo a própria área da concessão, ou seja, participação de 100%, e de entender que os mercados regionais ou nacional não são efetivos para a análise da concorrência. A parte da Nota Técnica que se ocupa dos encaminhamentos está focada nos eventuais ganhos de eficiência e produtividade advindos de movimentos de concentração. A ANEEL dá a entender que só permitirá que as operações se concretizem se o novo controlador da distribuidora conseguir mostrar os benefícios que os consumidores poderão usufruir após a concentração. Mais ainda, além da descrição dos benefícios, deve ser apresentada a forma pela qual estes benefícios serão repartidos, em prol da modicidade tarifária. Diz a NT no tópico 67, fl 16: Dessa maneira, a autorização de tal operação estaria associada à demonstração, por parte dos interessados, da redução de custos associada (economias da operação), bem como do repasse dos ganhos de eficiência no interesse da modicidade tarifária. Além disso, deverá ser demonstrado que tal operação terá efeitos positivos sobre a qualidade dos serviços, no caso medido em termos dos indicadores tradicionais de DEC e FEC, mais a redução das perdas totais, de maneira especial as perdas não técnicas. A posição da ANEEL pode ser resumida pelo tópico 68, fl 16: (...) Com tal sistemática, a análise de um ato de concentração envolvendo distribuidoras não seria feita a partir de uma simples identificação de um índice de participação no mercado, mas levando em conta os efeitos da operação sobre os custos gerenciáveis. Contudo, sempre que a operação em análise resultar em uma participação igual ou maior a um determinado percentual do mercado nacional de distribuição (por exemplo: 35%), a mesma deve ser também avaliada sob a perspectiva do poder de mercado, o que deve considerar, preferencialmente, a ótica do mercado relevante. 1 Parecer LCA sobre Concentração no segmento de distribuição de energia elétrica: análise do ato regulamentar submetido à Audiência Pública 001/2008 da ANEEL, Março de 2008. 4

3. Avaliação da Nota Técnica Neste tópico procederemos à avaliação das propostas e dos argumentos da Nota Técnica 341/2007. Destacamos nossa discordância com a proposta da captura dos ganhos de eficiência e produtividade advindos do ato de concentração e das outras exigências da ANEEL explicitadas na NT: 74. Dessa maneira, as operações envolvendo o segmento de distribuição devem ser avaliadas considerando (i) a demonstração, por parte dos interessados, da redução dos custos associados à operação, (ii) o seu nível de contratação à época da operação, (iii) demais demonstrações de ganhos e eficiência oriundos da operação em análise (redução de perdas técnicas, melhora nos índices de desempenho DEC e FEC, dentre outros), (iv) a proposta de como tais ganhos seriam compartilhados com os consumidores visando a modicidade tarifária e (v) o limite de participação no mercado de distribuição nacional. Com relação a avaliação de poder de mercado, concordamos integralmente com a abordagem do SBDC. 3.1 O Conceito de mercado Diante dos argumentos apresentados na própria NT, qualquer análise adicional nos parece redundante. A lógica do sistema de distribuição de energia elétrica apresenta-se muito simples e clara: operações de concentração entre monopólios naturais resultam, evidentemente, em monopólios naturais. Como estes são fortemente regulados, e ainda por cima operam sob o abrigo do novo modelo do setor elétrico que reduziu significativamente as possibilidades de interferência em preços e tarifas das distribuidoras, não existe qualquer possibilidade de haver exercício de poder de mercado. Não se justifica, portanto, que o regulador avalie as operações de aquisição e fusão no segmento de distribuição sob a ótica de poder de mercado. 3.2 Captura de ganhos de sinergia Como observado anteriormente, o regulador manifesta a intenção de: i) conhecer os possíveis ganhos de produtividade e eficiência provenientes do ato de concentração redução de custos, DEC, FEC, perdas, etc ii) condicionar a aprovação das operações de fusão e aquisição ao repasse destes ganhos aos consumidores. Estas intenções não são razoáveis na medida em que observamos a estrutura regulatória vigente no setor de distribuição e os possíveis incentivos advindos de reorganizações societárias entre os agentes de distribuição. Com efeito, no que se refere à estrutura regulatória, a sua lógica se baseia na captura de ganhos de produtividade e eficiência com vistas à modicidade tarifária, respeitados os padrões 5

de qualidade. Assim, o mecanismo de price cap, com a metodologia adotada pela ANEEL para cálculo do fator X, da Empresa de Referência (ER) e para a avaliação de ativos (BRR) a preços de mercado por meio de um Banco de Preços, fornecem as ferramentas suficientes para que o regulador, no momento de cada revisão tarifária e sem a necessidade de levar em conta o fato de uma determinada empresa pertencer ou não a um grupo econômico compartilhe com a sociedade parte dos possíveis ganhos de eficiência conseguidos pelas empresas entre os ciclos de revisão. Portanto, não é coerente com os princípios da regulação por incentivos introduzir algo como uma nova revisão tarifária no momento que precede uma operação de alteração de composição acionária que resulte em concentração de mercado. Não é aceitável que haja uma tentativa de captura de eventuais ganhos de sinergia que são estimados e têm influência direta na definição do valor da empresa. A fim de garantir o sinal econômico que incentive a maior eficiência através de novos movimentos societários, é importante que os ganhos de sinergia advindos da concentração sejam apropriados pelo grupo consolidador. As tarifas, assim como os padrões de qualidade e procedimentos do serviço devem ser definidos pelo regulador independente do controle societário, sem considerar se a empresa pertence ou não a um grupo econômico ou se o controlador é privado ou estatal. Assim, no que concerne aos incentivos em jogo nas estratégias dos agentes no mercado, o procedimento proposto pela ANEEL tem o condão de retirar da estratégia de consolidação seu principal incentivo qual seja, os eventuais ganhos de escala derivados da operação. Portanto, se considerarmos que os ganhos de escala são forte vetor de aumentos futuros de produtividade, não é razoável, do ponto de vista de uma regulação por incentivos eficiente, desincentivá-los como opção empresarial de desenvolvimento das empresas e do setor como um todo. Aqui, mais uma vez, nos referenciamos ao anexo a esta contribuição, que faz uma discussão mais pormenorizada do funcionamento do mecanismo regulatório. Adicionalmente, a intenção manifestada pela Aneel de capturar os ganhos obtidos com as operações societárias levaria a uma situação absurda na qual a tarifa dependeria do controle acionário da distribuidora. O fato de a distribuidora pertencer a um grupo econômico resultaria numa penalização já que teria uma tarifa menor. Se a mesma distribuidora fosse vendida, a tarifa teria que ser revisada para refletir o novo arranjo societário. Ressalta-se ainda o risco de deterioração do valor de mercado das distribuidoras que a proposta de captura de ganhos de sinergia da Aneel traz. Ora, se ao adquirir uma distribuidora, potenciais ganhos de sinergia deverão ser repassados na forma e montante a serem definidos pelo regulador somente após a concretizada a aquisição, como é possível precificar o valor da empresa que está sendo adquirida? Encontramo-nos numa referência circular onde o valor a ser pago pela empresa depende da tarifa que não é conhecida e ainda 6

que fosse conhecida e os ganhos fossem repassados, isso levaria a uma redução do valor a ser pago pela empresa. No que diz respeito às outras exigências da ANEEL, como reduções de DEC, FEC e perdas, a mesma linha de argumentação acima se mostra também válida. De fato, níveis de qualidade já são exigidos no âmbito do arcabouço regulatório existente, logo, não parece fazer sentido qualquer alteração em função de alteração no controle acionário. Por fim, faz-se necessário destacar que, de acordo com o Artigo 54 da Lei 8.884/94, os aspectos de aumento de produtividade, melhoria de bens ou serviços, eficiência e repartição de benefícios somente são avaliados caso os atos de concentração em questão limitem a livre concorrência ou resultem na dominação de mercados relevantes, situação absolutamente diversa da realidade do mercado de distribuição ora em análise. Outro ponto trazido pela NT diz respeito à verificação do nível de contratação à época da operação. Ora, após a Lei 10.848 a distribuidora é obrigada a contratar 100 % da sua carga por meio de leilões aprovados e realizados pela ANEEL. A menos que haja a fusão de duas áreas de concessão, o que não é o que normalmente acontece, a mera aquisição de uma distribuidora por um grupo econômico não afeta em nada os seus níveis de contratação de energia elétrica e as suas obrigações de contratação perante o regulador. 4. Conclusões As conclusões e sugestões desta contribuição são divididas, conforme nossa linha de argumentação, em poder de mercado e captura de ganhos de sinergia. Em relação ao poder de mercado enfatizamos nossa concordância e da própria ANEEL com a opinião manifestada pelo Sistema Brasileiro de Defesa da Concorrência (SBDC), que se vale do conceito de mercado relevante para concluir que, em sendo este a área de concessão já regulada pela condição de monopólio natural, não faz sentido pensar-se em qualquer exercício de poder de mercado no segmento de distribuição. Além disso, as distribuidoras estão sujeitas ao novo marco regulatório (Lei 10.848) que determina a contratação de 100 % da sua carga através de leilões regulados pela Aneel e ainda impede a participação em outras atividades fora da distribuição. No tocante aos ganhos de sinergia, o atual aparato regulatório da ANEEL, não obstante os necessários aperfeiçoamentos, já capturam os ganhos de eficiência advindos de rearranjos societários por meio dos parâmetros de custo e produtividade do modelo da Empresa de Referência e por meio do Banco de Preços para avaliação dos ativos. Qualquer tentativa de captura adicional dos ganhos de produtividade advindos de fusões e aquisições levará ao desincentivo destes movimentos prejudicando consumidores e acionistas, além de criar a 7

absurda situação em que as tarifas de equilíbrio da concessão passam a depender da estrutura de controle societário da concessionária. Isto posto, sugerimos que o procedimento da Aneel para apreciação de alteração do controle acionário deve se restringir ao disposto nos contratos de concessão, ou seja, deve ser mantido o mesmo rito que vinha sendo adotado até agora para aquisições que resultavam em uma participação de mercado abaixo de 20% sem qualquer análise sob a ótica de poder de mercado e a questão de limites de concentração (sugestão na minuta de resolução anexa). Eventuais ganhos de eficiência que sejam alcançados pelo ato de concentração não devem ser capturados pelo regulador quando da análise do ato. 8