Operadores e Função de Onda para Muitos Elétrons. Introdução à Física Atômica e Molecular UEG Prof. Renato Medeiros

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Transcrição:

Operadores e Função de Onda para Muitos Elétrons Introdução à Física Atômica e Molecular UEG Prof. Renato Medeiros

Aproximação de Hartree-Fock A maior preocupação da química quântica é encontrar e descrever uma solução aproximada da equação de Schroedinger. Para isso vamos usar a Aproximação de Hartree-Fock para este propósito, principalmente quando se trata de problemas de muitos elétrons. Além disso, ela é o primeiro passo para aproximações mais apuradas e mais precisas. Vamos ver algumas das ideias básicas da aproximação. Retornaremos com mais detalhes no cap. 03.

Uma função de onda simples antissimétrica, que pode descrever o estado fundamental de um sistema de N-elétrons, pode ser descrito como um determinante de Slater Ψ 0 = X 1 X 2! X N Pelo princípio variacional, a melhor função de onda é aquela que nos fornece a menor energia possível, ou seja Devemos otimizar a função de onda via orbitais de spin. Minimizando a energia via escolha dos orbitais de spin, podemos encontrar uma equação, chamada de aproximação de Hartree-Fock, o qual determina os melhores orbitais de spin.

A equação de Hartree-Fock é uma equação de autovalor da seguinte forma: Onde é um operador efetivo de um elétron, chamado de operador Fock, e possui a seguinte forma: Onde é o potencial médio experimentado pelo i-ésimo elétron devido aos outros elétrons restantes. A essência da aproximação de HF é trocar o complicado problema de muitos elétrons pelo problema de um elétron no qual a repulsão elétron-elétron é tratada de maneira mediana. Como o operador Fock depende dos spins orbitais dos outros elétrons, a aproximação HF é não linear e deve ser solucionada interativamente

O procedimento para solucionar a aproximação de HF é chamada de método de campo auto consistente (SCF). A ideia do método SCF é simples chutamos um spin orbital inicial e calculamos o campo médio Então resolvemos a equação do autovalor para um novo conjunto de spin orbitais. Usando este novo spin orbital, calculamos novamente o campo médio. Repetimos o procedimento até que a auto consistência seja alcançada, ou seja o campo não seja alterado e o orbital de spin usado para construir o operador Fock é o mesmo que sua autofunção. A solução do problema de auto valor HF nos fornece um conjunto de spins orbitais HF ortonormais com energia orbital. Os spins orbitais com menores energias são chamados de orbitais spins ocupados

O determinante de Slater formado por estes orbitais spin é a função de onda do estdo fundamental HF e é a melhor aproximação variacional do estado fundamental do sistema. Os demais orbitais (com energias maiores) são chamados de orbitais virtuais ou não ocupados. Em princípio temos temos um número infinito de soluções da equação de HF e um número infinito de orbitais não ocupados. Na prática a a equação HF é solucionada com um conjunto finito de funções base spacial Um determinante de Slater simples formado é o estado fundamental HF variacional, o qual é representado por:

Modelo de base mínima: H 2 Vamos introduzir um modelo simples que será usado durante todo o curso. Iremos usar uma base mínima que descreve o H 2 : MO-LCAO Neste modelo, cada átomo de hidrogênio possui um orbital atômico 1s e os orbitais moleculares (MO) são formados por uma combinação linear dos orbitais atômicos (LCAO) O sistema de coordenadas é mostrado na figura a seguir. O orbital exato 1s do átomo centrado em R, tem a forma: Chamado de orbital de Slater.

Por simplicidade utilizaremos os orbitais de Gaussian O conjunto de orbitais moleculares espaciais pode ser expandindo em um conjunto de funções base espaciais. Para obter os orbitais moleculares exatos para o H 2 nós precisamos de um número infinito de termos na expansão acima. Usando apenas duas funções base, teremos o conjunto base mínimo. Uma escolha obvia para as duas funções é o orbital atômico 1s dos átomos.

Dados dois orbitais espaciais, podemos formar quatro orbitais de spin: possuem a menor energia correspondendo ao estado ligado possuem a maior energia correspondendo ao estado não ligado O estado fundamental HF neste modelo é um determinante simples:

Podemos usar a notação para simplificar E com isso podemos escrever o estado fundamental HF, como:

Determinantes Excitados O procedimento HF produz um conjunto de spins orbitais. O estado fundamental HF é a melhor aproximação para o estado fundamental do sistema. Outros determinantes podem ser escritos para representar os estados excitados (fora do estado fundamental) Um determinante simplesmente excitado pode ser escrito como

Um duplamente excitado pode ser escrito por

Forma da Função de Onda Exata e Interação de Configuração ( C.I.) Vamos agora usar os dos determinantes excitados Adotemos um conjunto completo de funções Qualquer função de uma única variável pode ser expandida como: Se a função for de duas variáveis, podemos expandir da seguinte maneira:

Visto que a constante é uma função de uma única variável, podemos expandir da seguinte maneira E, portanto, Se nossa função tiver que ser antissimétrica, ou seja Então finalmente

Como todos os determinantes possíveis podem ser escritos em referência ao determinante de HF, podemos escrever a função de onda exata para qualquer estado do sistema como sendo

A energia exata dos estados fundamental e excitados de um sistema são os autovalores da matriz Hamiltoniana formada pelo conjunto completo. Como cada elemento deste conjunto completo pode ser definido por uma configuração de orbital de spin do qual é formado, podemos chamar este procedimento de interação de configuração ( CI ). O menor autovalor da matriz Hamiltoniana, chamado de é a energia não relativística do estado fundamental de um sistema na aproximação de Born-Oppenheimer. A diferença entre esta energia e a energia limite HF, é denominada energia de correlação:

O procedimento acima não pode ser implementado na prática pois dependeríamos de um conjunto infinito de base. Se trabalharmos com um conjunto finito de base Então o determinante formado por estes spin orbitais não forma uma base completa de N-elétrons. Diagonalizando uma matriz Hamiltoniana finita formada por esse conjunto de determinantes fornece soluções que são exatas dentro de um subespaço de um elétron expandido pelos 2K orbitais de spin. Quando fazemos essa expansão, temos o procedimento chamado de full CI. Mesmo para sistemas pequenos e com um conjunto de base pequeno, o numero de determinantes usado no full CI é muito grande.

Na prática podemos truncar o full CI e usar apenas uma pequena fração dos determinantes possíveis. Vamos ilustrar isso: Tomemos novamente o exemplo do H 2 Temos 4 orbitais de spin Como temos dois elétrons, teremos 6 determinantes possíveis O determinante HF do estado fundamental é dado por Os determinantes simplesmente excitados são dados por

E apenas um determinante duplamente excitado Dentro do espaço abrangido pelo conjunto de base mínimo, a função de onda exata deve ser a combinação linear desses 6 determinantes A função de onda é então dada por