8ª BIENAL INTERNACIONAL DA ARQUITETURA Workshop para Qualificação Urbana em Cidades-Sede da COPA 2014 Belo Horizonte Alternativas para as propostas da Copa em Belo Horizonte 24 a 27 de novembro de 2009 A adaptação de cidades para a Copa da FIFA adota um referencial mais ou menos padronizado de ações urbanísticas que inclui, em síntese, a adequação (ou construção) do estádio e a garantia de acesso e hospedagem ao público do evento. Além dessa garantia mínima para viabilidade do evento é sempre recomendado utilizar seu efeito catalisador e sua visibilidade para a construção de um legado de intervenções para a cidade sede, evitando a herança de dívidas e de infra estrutura ociosa. A percepção geral da equipe que participou do workshop sobre a cidade de Belo Horizonte foi de que as propostas urbanísticas para a cidade contemplam, sobretudo, a questão da mobilidade urbana e, de forma menos intensa, a adequação do estádio e da hospedagem. Cabe destacar que o trabalho da equipe teve como foco a preocupação com a sustentabilidade, tema principal da Bienal de Arquitetura e que, embora difundido conceitualmente, parece encontrar dificuldade de assimilação pelo cotidiano técnico, administrativo e político. Por exemplo, qual a real viabilidade de um sistema de transporte coletivo público com tecnologia não poluente? Quais os entraves para efetivação de um pedágio urbano, sobretudo em áreas saturadas, como o Hipercentro de Belo Horizonte? Qual seria a impossibilidade do uso do automóvel através de cooperativa, tal como implantado em Estocolmo 1.recentemente? Qual a força da legislação e o limite para a criação de áreas de interesse paisagístico? E o aproveitamento comunitário dessas áreas, inclusive para produção de alimento? Qual vem sendo, de fato, as ações que priorizam o pedestre e sua mobilidade? 1 A solução consiste de carros para aluguel espalhados na cidade o que, associado ao pedágio, reduziu em 35% o volume de automóveis em Estocolmo.
Partindo desse referencial, será apresentada a seguir uma breve descrição das propostas e das alternativas discutidas durante o Workshop que buscam, sobretudo, complementar as soluções e trazer para a discussão o futuro que se espera e o que está sendo delineado para Belo Horizonte. As propostas foram organizadas em três tópicos: (a) mobilidade; (b) estádio e entorno; e (c) hospedagem. 1. Mobilidade A especial atenção à questão da mobilidade em Belo Horizonte é justificada pelos graves problemas de deslocamento na cidade e a oportunidade de por em prática um complexo plano de ações 2 que busca reverter o saturado esquema de circulação radial da cidade e o atual predomínio do veículo particular em detrimento do transporte coletivo. Neste contexto, as propostas priorizadas para a Copa 2014 incluem a conclusão do alargamento da avenida Antônio Carlos e a implantação de um sistema de ônibus rápido neste corredor. Complementa essa proposta a implantação, também, do BRT no corredor das avenidas Pedro II/Carlos Luz, garantindo a integração entre a área central (região hoteleira, que também será adaptada para o sistema de BRT) e o local do estádio. Sobre a mobilidade, os seguintes aspectos foram discutidos pela equipe do wortkshop: - Pelo que foi apresentado, a mobilidade priorizada e a opção pelo ônibus rápido não contempla de forma direta a possibilidade de integração metropolitana, sobretudo através da malha ferroviária existente. Essa rede ferroviária metropolitana poderia ser convertida em eixos de mobilidade capazes de absorver o grande volume de deslocamento intra-metropolitano, maior responsável pela saturação da estrutura viária, além de democratizar o acesso ao espaço urbano e, neste caso, ao evento em seu sentido mais amplo. 2 Em 2007, a Prefeitura de Belo Horizonte concluiu o VIURBS, um conjunto de propostas que prevê 148 intervenções para criar alternativas transversais de trânsito de uma região a outra, descongestionando o hipercentro da capital. Conceitualmente, o Viurbs enfatiza o planejamento para médio e longo prazo, com intervenções previstas em cerca de dez anos (Fonte: www.pbh.gov.br)
- A equipe entende que a priorização do transporte coletivo através de grandes obras viárias contém sempre o estímulo ao transporte privado, uma vez que reduz o tempo de deslocamento e aumenta a capacidade das vias. Daí a importância de esse tipo de intervenção sempre trabalhar com criação de faixas segregadas, investimentos na qualidade do serviço e no planejamento da rede, aspectos fundamentais para reverter o atual predomínio de veículos particulares. Na seção transversal tipo do corredor de BRT da avenida Antônio Carlos a solução do BRT foi amparada pelo alargamento da avenida e grandes impactos na malha urbana do entorno, incluindo desapropriações, redução da mobilidade de pedestres e segmentação dos bairros residenciais. - Os impactos das intervenções viárias na malha urbana contém grande potencial de requalificação e, noutro oposto, formação de áreas residuais e/ou criação de barreiras para a mobilidade de pedestres. No caso de Belo Horizonte, as intervenções viárias aparentemente dão prioridade à geometria viária regional em detrimento de diagnósticos locais e estudos urbanísticos integrados, sobretudo nas intervenções priorizadas para a Copa. Quais os caminhos possíveis para o aproveitamento destas áreas? Existe um plano de desenho urbano integrado para a
cidade? Qual a agenda de revitalização urbana dessas áreas? Diante do enfoque da sustentabilidade ambiental e social, qual seriam os novos usos urbanos e os novos modelos de intervenção adequados? A equipe recomenda a elaboração de estudo dessas áreas e sua utilização como lugares potenciais para uma nova mentalidade de intervenção na cidade. Um dos trechos que está sendo desapropriado para o alargamento da avenida Antônio Carlos. Tradicionalmente o tratamento urbano dessas áreas prioriza a questão funcional da avenida em detrimento da reversão do impacto para o bairro. - No caso da região central e centro-sul de Belo Horizonte, a solução do BRT, embora adequada às avenidas (Antônio Carlos, Carlos Luz, Paraná e Santos Dumond), foi considerada de alto impacto urbanístico, sobretudo em áreas de uso misto (Savassi) e áreas de grande valor histórico/turístico e referencial (Afonso Pena, Praça Sete e Praça da Liberdade). Durante o workshop a equipe propôs o estudo de veículo mais sofisticado, de baixo impacto, preferencialmente sobre trilhos, capaz de rivalizar com a preferencia pelo veículo particular e potencializar a vocação turística e cultural da área. Cabe destacar que esse tipo de solução já é viável em diversas capitais do país.
Simulação de inserção de um veículo tipo VLT na região da Savassi, priorizando o baixo impacto na paisagem e na mobilidade. O veículo poderia ser facilmente integrado ao BRT através do prédio da atual rodoviária e complexo da lagoinha. 2. Estádio e entorno A primeira observação da equipe do Workshop sobre o entorno do estádio em Belo Horizonte foi o caráter pontual e de pouca expressão da intervenção quando comparado com o porte das intervenções de outras cidades, sobretudo após a redução do escopo do projeto original. Neste sentido, o equilíbrio entre o risco de se construir uma estrutura ociosa e o legado do evento para a cidade foi considerado aquém do potencial do evento e da região de inserção do estádio. A equipe discutiu as seguintes questões: - Uma estação de integração entre os dois principais corredores da copa (BRT Pedro II e Antônio Carlos), além de aumentar eficiência do sistema, contribuiria para acesso aos equipamentos de lazer da região (museu, parques, restaurantes e orla da lagoa), contribuindo para diversidade social e apropriação desta região pela população de Belo Horizonte. Por outro lado, a ligação possibilitaria também uma melhor utilização do equipamento construído (estacionamento, principalmente). A ligação ocorreria através de rotor nas avenidas Cel. Oscar Paschoal, Antônio Abrahão Caran e C, conforme figura abaixo.
Simulação de estação de integração como estratégia de democratização da estrutura da Pampulha. - É fundamental que esta Estação de Integração esteja diretamente integrada ao estacionamento coberto do estádio como estratégia garantia da sustentabilidade do equipamento (ou mesmo sua ampliação). Por outro lado, embora o tráfego de veículo que passa pelo local em direção ao centro seja menor, a possibilidade de deixar o carro e prosseguir o trajeto em ônibus rápido é importante em todos os vetores da capital. No futuro, caso haja política de cobrança de pedágio, a proximidade entre o estacionamento e as duas linhas de ônibus rápido seria fundamental para funcionamento do sistema. - A heterogeneidade da ocupação da Pampulha, aliada aos diferentes interesses dos atores evolvidos, requer um plano para a região que possibilite conciliar: manutenção do acervo arquitetônico, estímulo à apropriação dos espaços, estímulo à diversidade social na região, manutenção do tecido consolidado, controle da especulação nas áreas desocupadas, sustentabilidade dos equipamentos propostos para a copa e proteção nas áreas de diretrizes especiais. A equipe acha oportuno destacar as estratégias de proteção utilizadas pelo CONPRESP em São Paulo criando zonas especiais de patrimônio cultural na região, desde já integradas ao evento.
Com binação de patrimônio modernista, área verde, equipamentos urbanos e uso turístico na região da Pampulha - Uma primeira leitura do projeto do estádio sugere que houve redução da permeabilidade e da área verde da região. Quais as soluções ecológicas incorporadas ao projeto e qual prioridade (compromisso) dada a essas soluções? Por que a grande laje (um incômodo padrão nas soluções em todas as capitais funcionalmente condicionado pela necessidade de vagas cobertas) não pode receber tratamento mais permeável e abrigar jardins e arborização de porte? A aridez do espaço não corresponde ao clima e potencial uso do local. 3. Hospedagem Belo Horizonte possui potencial turístico para eventos e recentemente vem investindo no aumento da capacidade de recepção (hotelaria, transporte, capacitação e espaços de eventos). Para a Copa, a cidade precisa aumentar o número de leitos e espaços de grande e média capacidade. Diante dessa demanda, a equipe sugere as seguintes estratégias:
- Revisão de Legislação para incentivo à hotel reversível para flat/kitchenette uma vez que existe atualmente uma flagrante demanda por pequenos apartamentos na cidade, sobretudo na região hoteleira, não atendida pelo mercado imobiliário e desestimulada pela atual legislação. Como desdobramento desta proposta, poderia ser criado uma interface com a intenção de se ocupar imóveis vazios por habitação de baixa renda no Hipercentro, previsto no Plano de Reabilitação desta região. A idéia é combinar a utilização dos edifícios para hospedagem que mais tarde seria revertida em residências. - O aumento de quartos poderia também ser usada como estratégia de integração metropolitana uma vez que existem pólos de grande potencial turístico que, se integrados à utilização das ferrovias, conforme proposto, poderiam ser viabilizados (por exemplo, Inhotim, Sabará, Caeté, entre outros). Equipe Participante do Workshop Cláudia Pires Daniel Medeiros de Freitas. Arquiteto Urbanista. Eduardo