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Transcrição:

Bolsista: Ana Cecília Almeida Accetturi RA 119060 Orientador: Profª. Drª. Anna Christina Bentes da Silva Local de Execução: Universidade Estadual de Campinas Vigência: 01 de agosto de 2013 a 31 de julho de 2014 Gêneros midiáticos em foco: Analisando a organização textual-discursiva do programa televisivo Conexões Urbanas 1. Resumo Este projeto tem por objetivo verificar aspectos textuais-discursivos do programa Conexões Urbanas em diferentes situações comunicativas. Nossos objetivos são: analisar o papel da edição das perguntas, a organização tópica e algumas características genéricas do programa e, assim, observar as relações entre esse gênero midiático televisivo e algumas das estruturas de poder e autoridade. Para tanto, pretendemos estudar 10 programas Conexões Urbanas. As análises serão desenvolvidas com base nas teorias de autores como Bakhtin (1979), Hanks (2008) e Fávero; Jubran et al. (2010) que possibilitam articular o estudo dos gêneros do discurso e das interações na mídia televisiva. 2. Introdução Este projeto tem como objetivo geral examinar algumas características textuaisdiscursivas do programa Conexões Urbanas. Pretendemos observar especificamente a organização tópica do programa, além do papel da edição das perguntas, em outras palavras, do papel do corte de tais perguntas da superfície do texto do programa; por fim, pretendemos também analisar algumas de suas características genéricas. Acreditamos que o presente projeto pode contribuir para a compreensão de como o programa é estruturado por princípios etnográficos, o que o transforma em um programa alternativo em relação aos produzidos na grande mídia. É de fundamental importância considerar aqui que a etnografia, prática sociológica criada pela Escola de Chicago, trata de descrever todas as atividades de determinado grupo e/ou de uma determinada etnia, para poder construir uma compreensão da vida social desses grupos. É importante lembrar ainda que seu método de realização é qualitativo, proveniente de situações naturais de comunicação. Uma de suas vertentes, a etnografia urbana, a qual iremos dar maior ênfase neste projeto, engloba pesquisas que envolvem formas de sociabilidade e processos sociais básicos nas mais diversas dimensões da sociedade urbana. De acordo com COMAROFF (2010), (...) precisamos da etnografia para conhecer a nós mesmos (...). Porque a etnografia serve, ao mesmo tempo, para tornar estranho o que é familiar

e familiar o que é estranho, e ainda mais para compreender ambos. (p. 08). Assim, a etnografia está relacionada à reflexão sobre o mesmo e sobre o outro. Para Bakhtin (1979), não há linguagem sem a dialogia, ou seja, para que a linguagem exista deve haver, sempre, a implicação do outro, de um alguém. Fiorin (2006) ainda postula que o principio constitutivo de qualquer enunciado vem do dialogismo, o modo de funcionamento real da linguagem. Bakhtin (1979) afirma o dialogismo só é possível entre enunciados provenientes de diferentes sujeitos falantes. Pressupõe o outro (em relação ao locutor) membro da comunicação verbal. (p. 295) Assim, um enunciado, por ser uma unidade real da comunicação verbal, reúne tanto o intuito discursivo do locutor quanto a chamada atividade responsiva ativa do interlocutor, uma escuta qualificada. Ao mesmo tempo em que há a intenção de um determinado sujeito de construir seu discurso, há a inteligibilidade do outro, o qual deve concordar ou discordar, refutar, completar ou adaptar o discurso anterior, o que implica ainda em outro conceito fundamental, o do acabamento do enunciado. Este, considerando a alternância dos sujeitos falantes, é indispensável para tornar possível uma reação ao enunciado. De tal maneira, acreditamos que as teorias de destaque da fala do outro, implicadas por políticas etnográficas em relação à sociedade são fundamentais para a abordagem dos gêneros que compõem o programa e das ações de textualização correspondentes. 3. Pressupostos teóricos O conceito de gênero do discurso, assim como o de enunciado, postulado e estudado por Mikhail Bakhtin, ainda permanece como objeto de interesse de muitos linguistas e estudiosos de diversas áreas. Pensando que Bakhtin definiu o gênero como um agrupamento de meios para olhar e conceituar a realidade (Bakhtin; Medvedev, 1985 apud Hanks, 2008, p.83), pensamos logo que isso ocorre em função de esferas da atividade humana, sejam elas quais forem, mas sempre considerando-as ligadas à utilização da língua. Esta utilização da língua só é realizada por meio de enunciados, sejam estes orais ou escritos, mas sempre concretos e únicos. Sendo assim, o todo deste enunciado se constitui através de três elementos primordiais, o conteúdo temático, o estilo e a construção composicional. Cada esfera de utilização da língua apropria e elabora então tipos relativamente estáveis de enunciado, e é isso que Bakhtin chama de gêneros do discurso, caracterizados como dialógicos, plurilíngues e heterogêneos.

Nesse projeto apresentaremos o ponto de vista de Hanks (2008) sobre o problema dos gêneros discursivos. Para o autor, os gêneros discursivos, se tomados a partir de uma abordagem formal, dialogam com a visão de Bakhtin, na medida em que consistem em agrupamentos estáveis de elementos composicionais, temáticos e estilísticos. Para Hanks (2008): os gêneros do discurso são entendidos tanto como resultantes de atos historicamente específicos, como dimensões constitutivas em função das quais a ação é possível. Os gêneros, então, na condição de tipos de discurso, derivam sua organização temática da inter-relação entre sistema de valores sociais, convenções linguísticas e o mundo representado (p. 71). Quando relacionados à fala do outro, os gêneros podem ser vistos, conforme Voloshinov (1986), como tendências sociais constantes a uma recepção ativa do discurso de outros falantes. Assim, a recepção do outro funciona como uma avaliação e revestimento de significado ao discurso precedente, o que engloba, portanto, a concepção de dialogismo e, posteriormente, o conceito do acabamento do enunciado, já explicitado aqui. Hanks (2008) postula que o dualismo entre formas sociais pré- constituídas e improvisos inovadores é fundamental para estabelecer a relação entre os gêneros discursivos e a prática. Além disso, é importante levar em consideração a diferença existente entre os gêneros do discurso primários e os gêneros do discurso secundários. Aqueles mais simples e estes mais complexos, dados em circunstâncias de comunicação cultural. Tais gêneros secundários absorvem os primários de qualquer espécie, os quais surgiram em contextos de situações de comunicação verbal espontânea. Nesse momento, acreditamos ser importante ressaltar que o programa Conexões Urbanas, por englobar, dentre outras práticas, interações verbais mais informais protagonizadas por José Junior (doravante JJ) e seus convidados, pode ser considerado um gênero secundário do discurso, dado que tal programa é produzido em uma esfera cultural complexa, a mídia televisiva, uma esfera de comunicação mais regulada. O apresentador/entrevistador José Junior consegue construir um lugar para esse programa na mídia televisiva a partir do momento em que adota como principal estratégia a ênfase na tradição de mediação, ao acompanhar de perto diferentes perspectivas em relação a um mesmo tema, abrindo espaço para diferentes vozes oriundas de diversos contextos e situações. 4. Objetivos 4.1.Objetivo Geral

Analisar aspectos textuais-discursivos do programa Conexões Urbanas. 4.2.Objetivos Específicos Descrever a organização tópica do programa a partir da análise das falas dos participantes do programa Conexões Urbanas em diferentes situações comunicativas. Analisar o papel da edição das perguntas realizadas durante o programa. Analisar algumas características genéricas do programa. 5. Metas semestrais No período que compreende os meses de agosto de 2013 a janeiro de 2014, teremos como metas: levantamento bibliográfico e elaboração de resenhas; transcrição dos 10 programas Conexões Urbanas selecionados; elaboração das primeiras análises da organização tópica dos programas e elaboração do relatório parcial. No segundo período (fevereiro a julho de 2014), faremos uma análise do papel da edição das perguntas e de alguns aspectos de sua constituição genérica, mais especificamente as relações entre esse gênero e estruturas de poder e autoridade; por fim, elaboraremos o relatório final. 6. Metodologia O programa Conexões Urbanas, um programa que pode ser considerado como um programa de reportagens, que segundo Machado (2001), se caracterizam por apresentarem formas que estão na raiz mais profunda de toda a nossa cultura: aquelas que se fundam no diálogo. Dizemos formas em geral e no plural, porque, na televisão, o diálogo pode assumir as mais variadas modalidades: a entrevista, o debate, a mesa redonda e até mesmo o monólogo que pressupõe algum tipo de interlocução com um diretor oculto ou com o telespectador.(p. 72) Por tratar de assuntos de forma mais longa e elaborada, diferentemente de uma notícia, o programa Conexões Urbanas começou sua segunda temporada em 23 de outubro de 2009, constituindo-se de 13 episódios, com a apresentação de José Junior, o coordenador-executivo do AfroReggae, organização que luta pela transformação social através da cultura e da arte. As reportagens de José Junior englobaram as seguintes temáticas: o conflito e a violência nas favelas do Rio; o jornalismo em áreas conflituosas; a importância dos negros na moda brasileira; o genocídio ocorrido em

Darfur, no Sudão; a pirataria; e o trabalho realizado pelo Nós no Morro, o qual promove acesso à arte e à cultura para os moradores das favelas cariocas. No site 1 do canal Multishow, que transmite o programa Conexões Urbanas há uma classificação própria acerca de seu conteúdo: um programa que funciona como o braço televisivo de um movimento social, cujo objetivo é criar elos de conhecimento, cultura e afetividade entre os diversos guetos em que a sociedade se dividiu: ricos e pobres, brancos e pretos. A proposta é de prender o telespectador com assuntos sobre tecnologia social, sustentabilidade, cidadania e, segundo eles, principalmente, a paz. Seu alvo final é o de gerar reflexão e ação por parte de seu público telespectador. Já segundo o site do AfroReggae, o programa Conexões Urbanas aborda temas complexos de forma descontraída. O conceito de tópico a ser empregado em nosso projeto é o postulado por Jubran (1992). Esse conceito foi formulado a partir da observação dos turnos de fala em textos conversacionais. Sendo assim, o falante escolhe como ponto de partida de seu enunciado um elemento qualquer que avalia ser o objeto de atenção de seu interlocutor. Para a formulação do conceito, o Grupo de Organização Textual- Interativa do Projeto de Gramática do Português Falado (PGPF) conferiu ao tópico duas propriedades: a centração e a organicidade. A centração é fundamental para textualidade pois o tópico é assumido ponderando acerca do que se fala. Outro aspecto importante abordado pela autora é a função interacional do tópico discursivo: o produtor de um texto, seja falado ou escrito, orienta suas escolhas lingüístico- discursivas em função do interlocutor presente no intercâmbio oral ou pretendido no evento comunicativo realizado por meio da escrita. (Jubran, 2006, p. 35). A segunda propriedade tópica é a organicidade. Ela é manifestada pela articulação intertópica, promovendo abertura de tópico, quanto na intratópica, dando encaminhamento a um tópico. (Jubran, 2006, p. 36). A organicidade é responsável pela percepção de continuidade de um tópico (intratópico) ou a mudança de tópico (intertópico) que é marcada por elementos coesivos. Temos, portanto, que a centração é responsável tanto pela propriedade referencial do texto como por permitir que seja delimitada a unidade concreta de análise que é o segmento tópico. Um dos gêneros mais importantes na composição do programa Conexões Urbanas é a entrevista. Esse gênero pode ser considerado um evento particular de interação social, 1 Todas as informações sobre o programa estão disponíveis nos sites: http://multishow.globo.com/conexoes-urbanas/sobre-o-programa/ e http://www.afroreggae.org

ou seja, como postulam Fávero; Jubran et al (2010, p.128) como uma criação coletiva, pois produz-se não só internacionalmente, mas também de forma organizada e é o lugar em que os interactantes constituem relações especiais de dominância ou igualdade, convivência ou conflito, familiaridade ou distancia. Assim, segundo Marcuschi (1986), os textos de entrevistas são usualmente tidos, dialogicamente, como caracteristicamente assimétricos, pois um dos participantes da interação pode iniciar, orientar, dirigir ou concluir a interação sobre o outro participante em questão. No programa a ser analisado, percebemos, em algumas situações, a não exibição de perguntas. Considerando os trechos constituídos de perguntas e respostas diretas, assim como os trechos em que não há claramente uma pergunta, nossa proposta é compreender o que regula essa alternância (presença/ausência de perguntas) principalmente discutindo o par Pergunta/Resposta postulados por Fávero; Jubran et al (2010), já que o contexto, a interação e as perguntas organizam o texto conversacional de qualquer entrevista. Desse modo, as perguntas devem ser vistas como elementos que permitem organizar o texto falado, principalmente o das entrevistas, revelando diferentes graus de interação. Segundo os autores, as perguntas formuladas durante uma entrevista televisiva dinamizam a interação verbal, ajustam a participação dos interlocutores, reorganizam o contexto e permitem ao entrevistador explorar a organização sequencial e, automaticamente, a organização contextual como recurso criativo para a organização das atividades em que entrevistador e entrevistado estejam engajados (p. 139) O par Pergunta/Resposta é responsável por focalizar o tópico discursivo e pela progressão do texto em sua totalidade. Ao mesmo tempo em que a pergunta pede uma informação, constrói um lugar específico no interior do qual um problema pode ser publicamente situado. No programa Conexões Urbanas, observamos no trecho abaixo, um exemplo de pergunta definida e sua resposta direta: JJ a polícia civil tem noção... do quantitativo bélico que existe nas mãos dos traficantes no Rio de Janeiro? AT a gente tem uma noção do que a gente vai enfrentar... a gente tem... inclusive trabalhado no sentido de tentar não permitir a chegada dessas armas no Rio de Janeiro... temos prendido aí... traficantes internacionais... indo para a Bolívia indo para o Paraguai da onde vem grande parte desse armamento Já nos trechos nos quais não há uma pergunta demarcada e direta, destacamos um fragmento logo no inicio do programa. A única situação dada é o lançamento do desafio por parte do entrevistador (JJ) aos seus telespectadores, a partir de uma breve contextualização do tema e do conteúdo do programa:

JJ você lê no jornal que a violência (es)tá cada vez pior...será que essa é toda a verdade? ((corte de cena: JJ aparece em um helicóptero)) é por isso que a segunda temporada do Conexões Urbanas vai mostrar os dois lados de uma tragédia carioca...são dois programas...((corte de cena, JJ está na rua e no fundo da cena há alguns policiais)) um com a visão da polícia ((corte de cena)) e na semana que vem com a visão dos bandidos (...) ((na rua com viaturas ao fundo)) você tira suas próprias conclusões. CO ((cenas do interior da casa do delegado CO, o delegado se arruma para o trabalho)) toda noite antes d uma operação eu nunca durmo... procuro não pensá(r) mas não dá... eu não tenho costume não... (vo)cê sabe por que? porque eu não tenho rotina... cada dia pode acontecer uma coisa nova um fato novo... essa é uma das... características desse trabalho... não tem rotina... tchau filho... lá fora tem muita coisa... ((CO sai de casa)) essa hora eu peço a Deus... para me guiar... que eu faço de melhô(r)... ((corte de cana, CO anda em direção a porta da delegacia)) eu vi a primeira pessoa ser morta na minha frente com quat(r)o anos de idade... cresci:: vendo gente ser morta Vemos que, textualmente, em certos momentos, o programa pode ser estruturado pelo par pergunta-resposta, e, em ouros momentos, esse elemento estruturador não está presente. Um de nossos objetivos é descobrir as razões pelas quais isso acontece.

7. Cronograma Atividades Ago Set Ou t 1.Levatament o Bibliográfico 2. Transcrição dos dados 3. Análise dos dados 4. Elaboração de relatório parcial 5. Elaboração de relatório final Nov Dez Ja n Fev Mar Ab r Mai Jun Jul 8. Bibliografia BAKHTIN, M.M. (1979) Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes. COMAROFF, J & COMAROFF, J. Etnografia e imaginação histórica. Tradução de Iracema Dulley e Olivia Janequine. IN: Proa Revista de Antropologia e Arte [on-line]. Ano 02, vol.01, n. 02, nov. 2010. Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/proa/traducoesii/comaroff.html, acesso em: 11/4/2013. FIORIN, J.L. (2006) O dialogismo. In: Introdução ao Pensamento de Bakhtin. São Paulo: Ática, pp.18-59. HANKS, W.F. (2008) Língua como prática social: das relações entre língua,cultura e sociedade a partir de Bourdieu e Bakhtin. Anna Christina Bentes, Renato C. Rezende, Marco Antônio Rosa Machado (orgs). São Paulo: Cortez. JUBRAN, C. C. A. S.; URBANO, H. et al. (1992). Organização tópica da conversação. Em: Rodolfo Ilari (Org.). Gramática do português falado. Campinas: Editora da UNICAMP, vol. II Níveis de análise lingüística, pp. 357-439. JUBRAN, C.C.A.S. (2006). Revisitando a noção de tópico discursivo. Caderno de Estudos Lingüísticos. v.48: pp.33-41. MACHADO, A. (2001) A televisão levada a sério. 2ª. Edição. São Paulo: SENAC. VOLOSHINOV, V.N. (1986) Marxism and the philosophy of language. Trad. Ladislav Matejka e I.R. Titunik. Cambridge, MA: Harvard University Press.