Potente ação anti-leucêmica do blinatumomabe. alternativos

Documentos relacionados
Novas Perspectivas da Equipe Multiprofissional para o Transplante Haploidêntico

SELEÇÃO DE MÉDICOS RESIDENTES PARA 2017 ÁREA DE ATUAÇÃO COM PRÉ-REQUISITO GABARITO

Transplante de Células Tronco Hematopoéticas

TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA

Doença Residual Mínima (DRM) e Transplante de Células Tronco Hematopoéticas (TCTH)

NK CELL ADOPTIVE IMMUNOTHERAPY FOR RELAPSED/REFRACTORY ACUTE MYELOID LEUKEMIA A SAFETY AND FEASIBILITY CLINICAL TRIAL: PRELIMINARY RESULTS

Farmácia Clínica em Oncologia: Como eu faço no TCTH?

O que fazemos de melhor?

LOCAL: CENTRO DE EDUCAÇÃO EM SAÚDE ABRAM SZAJMAN (CESAS) BLOCO A 1ºSS 26 DE JUNHO DE 2018, TERÇA-FEIRA

GABARITO RESIDÊNCIA MÉDICA R1-2017

Como eu trato hiperleucocitose e leucostase

Excipientes: mono-hidrato de ácido cítrico, di-hidrato de trealose, cloridrato de lisina, polissorbato 80, hidróxido de sódio

Alessandra Comparotto de Menezes IHOC-2013

Leucemias Agudas: 2. Anemia: na leucemia há sempre anemia, então esperamos encontrar valores diminuídos de hemoglobina, hematócrito e eritrócitos.

Excipientes: mono-hidrato de ácido cítrico, di-hidrato de trealose, cloridrato de lisina, polissorbato 80, hidróxido de sódio

PROGRAMAS DAS PROVAS NÍVEL E

PROTOCOLOS DE TRATAMENTO DE DOENÇAS HEMATOLÓGICAS

25/08/2015 (terça feira)

Total Body Irradiation (TBI): indicações e protocolos

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ JULIANE MORANDO

Oncologia Pediátrica E N F. S I M O N E R. PAC H E C O D E AB R E U I TAC I - H C F M

Doença do enxerto contra o hospedeiro crônica. Abordagem da Ginecológica Lenira Maria Queiroz Mauad Hospital Amaral Carvalho

O Cancro - Aspectos gerais O termo Cancro é aplicado e utilizado genericamente para identificar um vasto conjunto de doenças que são os tumores malign

INTRODUÇÃO AOS MODELOS DE FRAGILIDADES APLICADOS A DADOS DE LEUCEMIA LINFOBLASTÍCA

O QUE FAZEMOS DE MELHOR?

Declaração de Conflito de Interesse

Mucosite oral: perfil dos pacientes pediátricos do Hospital das Clínicas da UFMG

Área: Hematologia Geral relacionada a transplantes Sub-tópico: Hematologia Geral relacionada a transplantes Trabalho: 1

PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

ENFERMAGEM. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Leucemia mieloide crônica e outras doenças mieloproliferativas crônicas

REGISTRO DE TCTH EM SMD

RECONHECIMENTO CLÍNICO & DIAGNÓSTICO. Dra. Lucilene Silva Ruiz e Resende Disciplina de Hematologia Depto. de Clínica Médica FMB - UNESP Botucatu 2014

LEUCEMIAS. Profª Ms. Priscila Ferreira Silva

Individualização de Protocolos de Mobilização e Coleta de CPH por Aférese

Centros de Transplantes do Brasil: Complexo Hospitalar de Niterói - RJ O que Fazemos de Melhor? Plano Terapêutico

III Curso de Sinalização Celular no Câncer

PROGRAMA PRELIMINAR SALA PEDIATRIA 29 DE AGOSTO DE 2013 (QUINTA-FEIRA)

Centro de Hematologia e Hemoterapia Hemocentro Universidade Estadual de Campinas Unicamp 2

Mieloma Múltiplo. por Citometria de Fluxo. Dra Maura R Valério Ikoma Laboratório de Citometria de Fluxo

Curso de atualização à distância em SMD - organizado pelo GLAM

2. METODOLOGIA 3. DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Declaração de Conflito de Interesse. Nenhum

5. No resumo executivo do documento apresentado pela CONITEC lê-se: Os estudos incluídos apontam para benefício nesse contexto.

CONHECIMENTO GOTAS. neoplasias hematológicas: leucemia mieloide crônica

INDICAÇÕES PARA USO CLÍNICO DE HEMOCOMPONENTES. Concentrado de Hemácias (CH)

Leucemia mieloide crônica e outras doenças mieloproliferativas crônicas

Circular 0430/99 São Paulo, 15 de Outubro de 1999.

17/03/2011. Marcos K. Fleury Laboratório de Hemoglobinas Faculdade de Farmácia - UFRJ mkfleury@ufrj.br

FISIOTERAPIA AÇÕES DE EDUCAÇÃO NO PRÉ, TRANS E PÓS TCTH. Karla Ribeiro Costa Pereira

BOARD REVIEW: XII CURSO DE REVISÃO EM HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA

Aplicações clínicas de células tronco hematopoiéticas

EFFECTIVENESS OF VITAMIN D SUPPLEMENTATION DURING AND AFTER ALLOGENEIC HSCT

φ Fleury Stem cell Mastócitos Mieloblastos Linfócito pequeno Natural Killer (Grande linfócito granular) Hemácias Linfócito T Linfócito B Megacariócito

HEMOCENTRO RP PROCEDIMENTO OPERACIONAL USO DE HEMOCOMPONENTES ESPECIAIS

12 PROVA DE CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS ALERGISTA. Com relação à corticoterapia sistêmica na dermatite atópica grave, assinale a resposta CORRETA:

T E R M O D E C O N S E N T I M E N T O E S C L A R E C I D O TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA TRANSPLANTE AUTÓLOGO

PEDIDO DE CREDENCIAMENTO DO SEGUNDO ANO NA ÁREA DE ATUAÇÃO HEMATOLOGIA E HEMOTERAPIA PEDIÁTRICA

Tratamentos do Câncer. Prof. Enf.º Diógenes Trevizan

Patricia Weinschenker Hematologista HIAE Responsável pelo Ambulatório Leucemias FM ABC

12h30 13h00 Transplante de Medula Óssea Dra. Adriana Seber Comitê de Tratamento do Grupo Brasileiro de SMD na Infância IOP- GRAACC- Unifesp

Hemocomponentes filtrados, irradiados e lavados. Fabiana Sinnott Ghaname

Terapia genética, CAR T-Cell é esperança de tratamento câncer de sangue

TÍTULO: ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO FRENTE A TERAPIA COM CÉLULA TRONCO HEMATOPOÉTICA AUTOLOGA EM CRIANÇAS PORTADORAS DE LEUCEMIA LÍNFOIDE AGUDA

ALTERAÇÕES CROMOSSÔMICAS, PROGNÓSTICO E DIRETRIZES TERAPÊUTICAS NA LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA

TMO em Crianças Avanços no Transplante da Leucemia Linfóide Aguda

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ESCOLA DE ENFERMAGEM MICHELLE HILLIG SCHMIDT

Protocolo. Cuidados Transfusionais em TCTH

Chat com o Dr. Abrahão Dia 14 de agosto de 2014

FACULDADE SÃO LUCAS CURSO DE BIOMEDICINA. Vanderley Francisco da Silva

Aplasia de Medula Óssea. Doença esquecida

AVALIAÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-HLA NO TCTH COM DOADORES ALTERNATIVOS:

PERFIL DOS PACIENTES ATENDIDOS EM UM AMBULATÓRIO MULTIPROFISSIONAL PÓS-TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOIÉTICAS

Programa de Residência Médica TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA-R3. Comissão de Residência Médica COREME

APLICAÇÕES ATUAIS DA CITOMETRIA DE FLUXO NA ROTINA LABORATORIAL

05/11/2013. Extremo mau prognóstico: . Altas leucometrias/snc +. Respondedores Lentos. Indicação precisa de TMO alogeneico na primeira remissão.

Chat com o Dr. Leandro Dia 9 de junho de 2011

GABINETE DO MINISTRO PORTARIA Nº 1.317, DE 30 DE NOVEMBRO DE 2000

Indicações em transplante de células-tronco hematopoéticas em pacientes adultos com leucemia linfoide aguda

Apresentação de Centros de Transplantes no Brasil: O que fazemos de melhor

4. COMO É FEITO O DIAGNÓSTICO MIELOIDE CRÔNICA (LMC)? E MONITORAMENTO DE LMC? É uma doença relativamente rara, que ocorre

ACADEMIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Complicações pulmonares após transplante de células tronco hematopoéticas

(destaque aqui)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE MEDICINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA: CIÊNCIAS MÉDICAS

Chat com a Dra. Sandra Dia 08 de outubro de 2015

ATUAÇÃO DO ENFERMEIRO NO TRATAMENTO DA LEUCEMIA MIELÓIDE CRÔNICA

Reirradiação após recidiva de tumor em cabeça e pescoço : Indicações e Resultados. Priscila Guimarães Cardoso R3 - Radioterapia

PROTOCOLOS DE TRATAMENTO DE DOENÇAS HEMATOLÓGICAS

Tratamento da LMC em Primeira Linha!

Leucemia Linfóide Aguda. Adriana Seber

Associação entre Índice de Massa Corporal e Desfecho Clínico em Transplante de Células-Tronco Hematopoiéticas Alogênico

IMUNIZAÇÃO NOS PACIENTES PÓS TRANSPLANTE DE CÉLULAS TRONCO HEMATOPOÉTICAS (TCTH)

PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

TÍTULO: MONITORAMENTO DE DOENÇA RESIDUAL MÍNIMA PÓS TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA EM PACIENTES COM LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA

Nefroblastoma PROTOCOLO SIOP2001. Versão eletrônica atualizada em Março 2009

Programa de Formação da Subespecialidade de Oncologia Pediátrica

ABORDAGEM DA FISIOTERAPIA NA DOENÇA DO ENXERTO CONTRA O HOSPEDEIRO CRÔNICA

Ritha Capelato 4⁰ ano Medicina UFGD DOENCAS LINFOPROLIFERATIVAS MALIGNAS

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ ANGELA DA COSTA BARCELLOS MARQUES

Transcrição:

Potente ação anti-leucêmica do blinatumomabe associado à infusão de leucócitos do doador para tratar recidiva de leucemia linfóide aguda de linhagem B pediátrica após transplante alogênico de células-tronco hematopoiéticas com doadores alternativos Adriana Seber, Valéria Ginani, Roseane Gouveia, Juliana Francielle Marques, Francisca Santos, Adriana Lima, Claudinéia Andrade, Cristiane Leite, Douglas Costa, Priscila Mendes Paiva

Recidiva de leucemia linfóide aguda após TCTH Grave e geralmente fatal, exceto em raros casos de recidiva extra-medular ou tardia, em que é possível realizar radioterapia e/ou segundo transplante alogênico As respostas da LLA à infusão de leucócitos do doador (DLI) são desapontadoras Além disso, a possibilidade de doença do enxerto contra o hospedeiro grave é muito grande quando a DLI é administrada precocemente após TCTH com doadores alternativos

Recidiva de leucemia linfóide aguda após TCTH Um segundo TCTH pode ser realizado se a recidiva ocorre mais de 6 a 12 meses após o 1º, mas dois condicionamentos mieloablativos são associados a alta mortalidade associada ao procedimento Assim, são poucas as alternativas de tratamento para LLA recidivada após TCTH

Recidiva de leucemia linfóide aguda após TCTH Blinatumomabe é uma molécula bi-específica construída para aproximar linfócitos T CD3+ e os blastos CD19+, induzindo apoptose da célula tumoral Sua vida média é curta, o que implica em infusão contínua As respostas na recidiva após TCTH são habitualmente transitórias

Recidiva de leucemia linfóide aguda após TCTH O racional para combinar Blinatumomabe e DLI é guiar os linfócitos T CD3+ do doador para as células leucêmicas CD19+, potencialmente aumentado a efetividade de ambas as estratégias e reduzindo a chance de DECH https://doi.org/10.1016/j.mcna.2015.06.004 http://mutated-unmuated.blogspot.com/2011/06/how-bite-antibodies-work.html

Métodos Blinatumomabe foi iniciado em infusão contínua para pacientes com recidiva morfológica de LLA > 48 horas e resolução dos sintomas clínicos associados à liberação de citocinas Dose escalonada de leucócitos do doador, uma DLI em cada ciclo de blinatumomabe Remissão completa e/ou algum sinal de DECH aguda ou crônica

Resultados Quatro crianaçs foram tratadas com blinatumomabe para recidiva de LLA após TCTH Mediana de idade ao TCTH: 8,5 anos (3-18)

Resultados 1o) Menina de 3 anos, LLA MLL+ recidivada 4 meses após TCTH não aparentado 10x12 Não teve nenhuma resposta ao blinatumomabe e DLI Hiperleucocitose, leucostase, DECH aguda Faleceu por sepse fúngica após quimioterapia de resgate Os três outros pacientes atingiram remissão completa

Resultados 2o) Menina de 4 anos com LLA MLL+ recidivada 2 meses após TCTH não aparentado 10x10 Resposta completa ao Blinatumomabe (5 ciclos) DLI 1,5 x 10 7 CD3/kg no 2º ciclo DECH crônica oral, genital e pulmonar (?) Remissão completa por 8 meses Recidiva atual sem resposta à blinatumomab -> QT R17 AraC e VP 25 mg/m 2 IVC Encaminhamento para CAR CD22

Resultados 3o) Menino de 13 anos LMC crise blástica linfoide recidivada após dois TCTH (aparentado e não aparentado 10x10) Resposta completa a blinatumomabe DLI 1x10 8 CD3/kg com DECH crônica leve de pele e ocular resolvida apenas com tratamento topico. Dois meses após suspensão do blinatumomabe apresentou aumento do BCR-ABL e DRM 0,01%

Resultados 3o) Reiniciada a medicação

Resultados 3o) Cloroma na vigência de blinatumomabe Negado uso associado blinatumomabe + inotuzumabe Inotuzumabe compassivo ( www.pfizercares.com ) Resolução da dor desde a 1ª dose Plaquetas 200 mil -> 28 mil/mm 3

Resultados 4o) Menino de 18 anos com LLA Ph+ submetido a TCTH haploidêntico da mãe em 3a remissão Recidiva medular um ano após TMO 5 ciclos de blinatumomabe e DLI Aumento progressivo de 1x10 6 até 1x10 8 CD3/kg DECH aguda na vigência de encefalite aguda por Coxsackie DECH crônica moderada já resolvida com tratamento sistêmico e mantem-se em remissão há 2,5 anos

Conclusão No total, três das quatro crianças atingiram remissão completa de LLA recidivada após TCTH A resposta se mantém além de 2,5 anos apenas em uma Todas apresentaram DECH cortico-responsivo Concluímos que esta estratégia é factível e deve ser explorada para o tratamento de recidiva de LLA de linhagem B após TCTH (mesmo) com doadores alternativos.

Roseane Gouveia & Valéria Ginani