O APRENDIZADO DE MATEMATICA PARA DEFICIENTES VISUAIS NO INSTITUTO DOS CEGOS



Documentos relacionados
II Encontro MPSP/MEC/UNDIME-SP. Material das Palestras

O PROCESSO DE INCLUSÃO DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: UM ESTUDO DE METODOLOGIAS FACILITADORAS PARA O PROCESSO DE ENSINO DE QUÍMICA

INCLUSÃO ESCOLAR: UTOPIA OU REALIDADE? UMA CONTRIBUIÇÃO PARA A APRENDIZAGEM

A Educação Bilíngüe. » Objetivo do modelo bilíngüe, segundo Skliar:

O ORIENTADOR FRENTE À INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA NA ESCOLA REGULAR DE ENSINO

O ENSINO DE QUÍMICA PARA DEFICIENTES VISUAIS: ELABORANDO MATERIAIS INCLUSIVOS EM TERMOQUÍMICA

A FORMAÇÃO DO PROFESSOR E A EDUCAÇÃO INCLUSIVA: UMA BARREIRA ENTRE A TEORIA E A PRÁTICA

EDUCAÇÃO ESPECIAL: A INCLUSÃO ESCOLAR DOS ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS NA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE CÁCERES

Deficiência auditiva parcial. Annyelle Santos Franca. Andreza Aparecida Polia. Halessandra de Medeiros. João Pessoa - PB

PATRÍCIA NEVES RAPOSO UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

CONFECÇÃO DE MAPAS TÁTEIS E SUA APLICAÇÃO NO ENSINO DE HISTÓRIA E GEOGRAFIA

O USO DE SOFTWARES EDUCATIVOS: E as suas contribuições no processo de ensino e aprendizagem de uma aluna com Síndrome de Down

Atendimento Educacional Especializado

EDUCAÇÃO INCLUSIVA: ALUNO COM DEFICIÊNCIA MÚLTIPLA NO ENSINO REGULAR

OS CONHECIMENTOS DE ACADÊMICOS DE EDUCAÇÃO FÍSICA E SUA IMPLICAÇÃO PARA A PRÁTICA DOCENTE

Projeto em Capacitação ao Atendimento de Educação Especial

Especialização em Atendimento Educacional Especializado

Autorizada reprodução total ou parcial, desde que citada a fonte.

EDUCAÇÃO INCLUSIVA DE ALUNOS COM DEFICIÊNCIA: DIREITO À DIVERSIDADE

PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO N O, DE (Do Sr. Eduardo Barbosa) O Congresso Nacional decreta:

Responde às singularidades

Curso de Especialização Educação Infantil 2ª Edição EMENTA DAS DISCIPLINAS

REFORÇO AO ENSINO DE FÍSICA PARA CURSOS TÉCNICOS INTEGRADOS DO INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA

POLÍTICAS PÚBLICAS PARA AS ALTAS HABILIDADES / SUPERDOTAÇÃO. Secretaria de Educação Especial/ MEC

REFLEXÕES INICIAIS DE ATIVIDADES PEDAGÓGICAS PARA INCLUIR OS DEFICIENTES AUDITIVOS NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA.

ACESSIBILIDADE E FORMAÇÃO DE PROFESSORES: EXPERIÊNCIA COM UM ALUNO CEGO DO CURSO DE GEOGRAFIA, A DISTÂNCIA

QUAL A (RE)ORIENTAÇÃO POLÍTICO-PEDAGÓGICA DA MODALIDADE EDUCAÇÃO ESPECIAL NO MUNICÍPIO DE ITAGUAÍ/RJ? REFLETINDO SOBRE A META 4

Iniciando nossa conversa

TRABALHO PEDAGÓGICO NA PERSPECTIVA DE UMA ESCOLA INCLUSIVA. Profa. Maria Antonia Ramos de Azevedo UNESP/Rio Claro.

A UTILIZAÇÃO DE RECURSOS VISUAIS COMO ESTRATÉGIA PEDAGÓGICA NO PROCESSO DE ENSINO - APRENDIZAGEM DE ALUNOS SURDOS.

A IMPORTÂNCIA DOS FUNCIONÁRIOS NO PROCESSO EDUCATIVO NAS ESCOLAS

EDUCAÇÃO E CIDADANIA: OFICINAS DE DIREITOS HUMANOS COM CRIANÇAS E ADOLESCENTES NA ESCOLA

EXPLORANDO ALGUMAS IDEIAS CENTRAIS DO PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS ENSINO FUNDAMENTAL. Giovani Cammarota

A Educação Brasileira dos Surdos: Um Novo Mundo a Ser Desvendado

Orientação às Famílias

V Seminário de Metodologia de Ensino de Educação Física da FEUSP Relato de Experiência INSERINDO A EDUCAÇÃO INFANTIL NO CONTEXTO COPA DO MUNDO.

Esfera: 10 Função: 12 - Educação Subfunção: Educação Especial UO: Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação

ALFABETIZAÇÃO DE ESTUDANTES SURDOS: UMA ANÁLISE DE ATIVIDADES DO ENSINO REGULAR

A importância da TIC no processo da Inclusão Escolar Agnes Junqueira

Estado da Arte: Diálogos entre a Educação Física e a Psicologia

O olhar do professor das séries iniciais sobre o trabalho com situações problemas em sala de aula

UMA PROPOSTA DE DRAMATIZAÇÃO PARA ABORDAGEM DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO ENSINO MÉDIO

Necessidade e construção de uma Base Nacional Comum

Educação especial: um novo olhar para a pessoa com deficiência

Profª. Maria Ivone Grilo

O DESAFIO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL EM PATOS, PARAÍBA: A PROFICIÊNCIA DOS ALUNOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE PATOS

TÍTULO: AUTISMO INFANTIL: UM ESTUDO DA LEGISLAÇÃO ACERCA DA INCLUSÃO NO ENSINO REGULAR

Disciplina Estrutura e Funcionamento da. Licenciatura em Química Professor: Weslei Cândido

Resolução nº 30/CONSUP/IFRO, de 03 de outubro de 2011.

ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE ITAPETININGA CURSO CBMAE ARTIGO DE NEGOCIAÇÃO. A importância da comunicação na negociação. Aluna: Bruna Graziela Alves Cleto

PAINEL A MÚSICA NA LINGUAGEM DOS PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

SECRETARIA DA EDUCAÇÃO DO ESTADO DE SÃO PAULO

O ENSINO FUNDAMENTAL DE 9 ANOS: CONTRIBUIÇÕES PARA UM DEBATE

CONSIDERAÇÕES SOBRE A EXPERIMENTAÇÃO DE QUÍMICA NO ENSINO MÉDIO

AS NECESSIDADES EDUCACIONAIS ESPECIAIS E A INCLUSÃO

ADAPTAÇÃO DE MATERIAIS MANIPULATIVOS COMO ALTERNATIVA METODOLÓGICA NO ENSINO DE MATEMÁTICA PARA ESTUDANTES COM DEFICIÊNCIA VISUAL NO ENSINO REGULAR

2 - Sabemos que a educação à distância vem ocupando um importante espaço no mundo educacional. Como podemos identificar o Brasil nesse contexto?

OLIMPÍADA BRASILEIRA DE MATEMÁTICA DAS ESCOLAS PÚBLICAS (OBMEP): EXPERIÊNCIAS VIVENCIADAS A PARTIR DO PIBID UEPB MONTEIRO

PROJETO DE LEI N O, DE 2004

PLANO DE ENSINO E ESTRATÉGIAS

Um mundo de formas do concreto ao abstrato

Mídia e Tecnologia: experiência do jornal escolar no Projeto Mais Educação na Escola Marechal Rondon em Santa Maria/RS 1

A INCLUSÃO ESCOLAR DE UM ALUNO SURDO: UM ESTUDO DE CASO NA REGIÃO DO CARIRI ORIENTAL DA PARAÍBA

ESCOLA ESTADUAL REYNALDO MASSI JOÃO BATISTA ALVES DE SOUZA SIRLENE SOUZA BENEDITO VIRGENS

:: Legislação. Unidade: Câmara de Educação Básica. Número: 79/2009 Ano: Ementa:

A Defensoria Pública é a instituição com previsão constitucional para prestar assistência jurídica integral às pessoas que não têm condições

O que são Direitos Humanos?

CONFECÇÃO DE MODELOS BIOLÓGICOS PARA ALUNOS CEGOS NO SEGUNDO SEGMENTO

FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES 1

PROJETO BRINQUEDOTECA: BRINCANDO E APRENDENDO

MATRÍCULA: DATA: 15/09/2013

POLÍTICAS INSTITUCIONAIS DE ACESSIBILIDADE. - Não seja portador de Preconceito -

RELATÓRIO DE TRABALHO DOCENTE OUTUBRO DE 2012 EREM JOAQUIM NABUCO

CURSOS PRECISAM PREPARAR PARA A DOCÊNCIA

PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DE BIBLIOTECAS ESCOLARES NA CIDADE DE GOIÂNIA

ESCOLA: Créditos. Um lugar de e para Todos. PROJETO: Com Passos

A individualização e a flexibilidade na construção de contextos educacionais inclusivos

Fundamentos e Práticas em Libras II

PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU MESTRADO EM CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO SILMARA SILVEIRA ANDRADE

Carla de Carvalho Macedo Silva (CMPDI UFF)

A NECESSIDADE DA PESQUISA DO DOCENTE PARA UMA PRÁTICA PEDAGÓGICA INCLUSIVA, PRINCIPALMENTE NA EDUCAÇÃO ESPECIAL E NO TRABALHO COM AUTISTAS

Contribuições da tecnologia assistiva para a prática pedagógica inclusiva na educação infantil

Dispõe sobre o atendimento educacional especializado aos alunos identificados com altas habilidades ou superdotados no âmbito do Município de Manaus.

O interesse por atividades práticas contribuindo na alfabetização através do letramento

OS LIMITES DO ENSINO A DISTÂNCIA. Claudson Santana Almeida

PROJETO DE LEI N.º 3.394, DE 2012 (Do Sr. Manoel Junior)

Falta preparo para inclusão de crianças com deficiência na escola regular

JANGADA IESC ATENA CURSOS

PARECER DOS RECURSOS

LEVANTAMENTO DOS MARCOS LÓGICOS E LEGAIS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

TEXTO RETIRADO DO REGIMENTO INTERNO DA ESCOLA APAE DE PASSOS:

RESOLVE: CAPÍTULO I DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

VIII JORNADA DE ESTÁGIO DE SERVIÇO SOCIAL

POLÍTICAS DE SAÚDE PARA OS SURDOS E O PRINCÍPIO DE UNIVERSALIDADE

ESTRATÉGIAS DE APRENDIZAGEM INCLUSIVAS: ENTRE ENCANTOS E DES(ENCANTOS) PALAVRAS-CHAVE: Estratégias. Aprendizagem. Inclusão

Elvira Cristina de Azevedo Souza Lima' A Utilização do Jogo na Pré-Escola

ENSINO DA DISCIPLINA DE GEOMETRIA ANALÍTICA PARA ALUNOS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA

REFLEXÕES SOBRE A UTILIZAÇÃO DE JOGOS CARTOGRÁFICOS COMO RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE GEOGRAFIA

A IMPORTÂNCIA DAS DISCIPLINAS DE MATEMÁTICA E FÍSICA NO ENEM: PERCEPÇÃO DOS ALUNOS DO CURSO PRÉ- UNIVERSITÁRIO DA UFPB LITORAL NORTE

Transcrição:

O APRENDIZADO DE MATEMATICA PARA DEFICIENTES VISUAIS NO INSTITUTO DOS CEGOS Flávio Silva Santos Albuquerque Universidade Estadual da Paraíba; qpena@live.com Alécio Soares da Silva Faculdade de ciências humanas e sociais de Iguarassu; mataspe@hotmail.com Carlos Rhamon Batista Morais Universidade Estadual da Paraíba; qpdoia@gmail.com Gessika Demetrio de Alcântara Universidade Federal de Campina Grande; gessiiiiiika@gmail.com Elvira Bezerra Pessoa Universidade Estadual da Paraíba; bioelvira@gmail.com RESUMO Essa pesquisa foi realizada com visitas no Instituto dos Cegos na Cidade de Campina Grande. Foram entrevistados os professores e observados os alunos com objetivos de analisar o aprendizado da Matemática especialmente a geometria.verificamos que os alunos freqüentam as aulas normalmente na escola tradicional e vai até instituto em busca do apoio, um reforço didático apropriado com a assistência específica ao aluno cego que complementa suas aulas regulares. A principal dificuldade que o aluno enfrenta na escola regular é um ensino mais inclusivo especialmente para os cegos e professores com metodologias que seja para todos independente de sua deficiência. Se dirigir ao instituto não se trata de orientação, mas necessidade, pois somente lá o aluno tem um auxílio apropriado a suas necessidades especiais, pois temos professores capacitados em Braille e metodologias adequadas para o desenvolvimento do ensino e aprendizado desses alunos. Para o ensino da matemática, em especial, o conteúdo de geometria eles buscam e produzem seu próprio material que exemplifica e define conceitos abordados a partir de adaptações nas figuras que são utilizadas. PALAVRAS CHAVE: Educação, geometria, deficiente visual. RESUMEN Esta investigación se llevó a cabo visitas en el Instituto de Ciegos en la ciudad de Campina Grande. Los profesores fueron entrevistados y estudiantes observados con objetivos para analizar el aprendizaje de las matemáticas, especialmente la geometría. Encontramos que los estudiantes típicamente asisten a clases en la escuela tradicional y va a iniciar la búsqueda de apoyo, una mejora educativa apropiada con asistencia específica al estudiante ciego que complementa sus clases regulares. La principal dificultad que enfrentan los estudiantes en la

escuela regular es una educación más inclusiva especialmente para los ciegos y los profesores con metodologías que es para todos, independientemente de su discapacidad. Ir al instituto no es acerca de la orientación, pero es necesario, pues sólo existe el estudiante tiene la ayuda adecuada a sus necesidades especiales, porque hemos entrenado maestros en Braille y metodologías apropiadas para el desarrollo de la enseñanza y el aprendizaje de estos estudiantes. Para la enseñanza de las matemáticas, en particular, la geometría de los contenidos que buscan y producen su propio material que ejemplifica y define conceptos cubiertos de ajustes en las cifras que se utilizan. PALABRAS CLAVES: Educación, Geometría, Deficiencia visual. 1. INTRODUÇÃO Entende-se por inclusão a adaptação e transformação da sociedade para que portadores de necessidades especiais tenham suas necessidades e diferenças respeitadas, proporcionando, a todos, oportunidades iguais. Educandos portadores de necessidades especiais estão bem amparados por leis, faltando, muitas vezes, colocá-las em prática. A maior parte dos professores não recebe nenhuma preparação para receber esses alunos. Cabe a cada um buscar recursos e metodologias adequadas a cada caso. O ensino da Matemática de maneira geral fica disperso e inconsistente se não adotar meios de visualização de gráficos, equações, figuras geométricas. Enfim, precisa-se muito do apoio visual para melhor ensinar e ser compreendido pelos alunos. A partir dessa compreensão, deve-se identificar corretamente o aluno portador de deficiência visual. A partir desse entendimento sobre a pessoa com a deficiência visual, existe um aparato legal de leis, tratados, parâmetros curriculares, e tudo o mais que diz respeito à inclusão desses alunos. Entende-se por inclusão a adaptação e transformação da sociedade, para que portadores de necessidades especiais tenham suas necessidades e diferenças respeitadas, proporcionando, a todos, oportunidades iguais (LOPES, 2008). Independentemente de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, a Constituição da República do Brasil, de 1988, sustenta pleno desenvolvimento de todos os cidadãos, garante o direito à escola para todos e coloca como princípio para a Educação o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de cada um (BRASIL, 1988). Pretendemos verificar com este trabalho as metodologias utilizadas para o

ensino da matemática eficazes na aprendizagem de alunos com deficiência visual no Instituto do Cegos na cidade de Campina grande. 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 Matemática para deficientes visuais e as Leis Segundo Batista (2005) os deficientes visuais apoderam-se desses conceitos a partir de experiências táteis, olfativas e auditivas. Entretanto, o recurso didático mais eficiente e de fácil acesso é o tato. Dessa forma, deve-se explorar, quando possível, atividades de ensino de matemática que utilizem materiais concretos e que explorem as funções táteis. Nesta concepção, Moura (s/d) destaca que a nova perspectiva do ensino da matemática, no qual o aluno constrói seu conhecimento através da interação, é que permite a utilização de material manipulável como ferramenta de aprendizagem. Independentemente de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação, a Constituição da República do Brasil, de 1988, garante pleno desenvolvimento de todos os cidadãos, garante o direito à escola para todos e coloca como princípio para a Educação o acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa e da criação artística,segundo a capacidade de cada um (BRASIL, 1988). A lei nº 7.853/89 prevê a inclusão de portadores de deficiências no sistema educacional desde a pré-escola, incluindo todas as etapas da educação, sejam as escolas públicas, privadas ou especiais. Esta lei garante ainda Educação Especial, obrigatória e gratuita em estabelecimento público de ensino, permitindo acesso de alunos portadores de deficiência aos mesmos benefícios dos demais educandos (BRASIL, 1989). O Estatuto da Criança e do adolescente (ECA), de 1990, garante à criança e ao adolescente o direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho. É dever do Estado assegurar atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino (BRASIL, 1990). O texto da Declaração de

Salamanca, sobre princípios, política e prática em Educação Especial, de 1994, sem efeito de lei, diz que princípio fundamental seria a escola inclusiva, para que alunos aprendam juntos, sempre que possível, independentemente dos cuidados especiais ou diferenças que possam existir entre eles. Importante assegurar educação para todos, respeitando os ritmos de aprendizagem e atingindo todas as etapas de ensino em cada área (ESPANHA, 1994). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), de 1996, assegura aos educandos com necessidades especiais recursos educativos, professores especializados, bem como professores do ensino regular, capacitados para a integração desses educandos em classes comuns, assegurando também a terminalidade específica para cada caso (BRASIL, 1996). A Convenção da Guatemala (1999), promulgada no Brasil pelo Decreto nº 3.956/2001, afirma que portadores de deficiência devem ter os mesmos direitos humanos e liberdades que as demais pessoas, incluindo a educação como forma de promover cada educando para a vida, eliminando os obstáculos para o acesso à escolarização (BRASIL, 2001). Pela lei, a criança portadora de necessidades especiais deve ser matriculada em escola comum, convivendo com quem não tem deficiência e, caso seja necessário, tem o direito de ser atendida, também, em uma instituição que possua recursos, terapias e materiais para ajudar o estudante a ir bem na escola comum (CAVALCANTE, 2009). Pode-se perceber que alunos portadores de necessidades especiais estão bem amparados por leis, faltando, muitas vezes, efetivamente, colocá-las em prática. A LDB é clara, assegurando aos educandos com necessidades especiais recursos educativos, professores especializados, bem como professores do ensino regular capacitados, porém não é isso que se vê na maioria das escolas regulares, especialmente as públicas. A maior parte dos professores não recebe nenhuma preparação para receber esses alunos.

3. METODOLOGIA 3.1 Local A cidade de Campina Grande-PB possui o Instituto dos Cegos, uma instituição não governamental especializada no ensino dos deficientes visuais e com baixa visão. Onde é realizado o trabalho de apoio reforçando as aulas que eles têm em uma escola regular. Para o aprendizado do Braille (sistema de comunicação escrita para cegos) é necessário um curso de aprendizagem especifico, disponibilizado no próprio instituto dos cegos. A problematização das atividades matemáticas não ocorrem de forma atrativa de acordo com suas necessidades especiais. O ensino carece de materiais adequados para o melhor desempenho da aula, como o livro didático apropriado, materiais manipuláveis, figuras sólidas, imagens com textura e materiais audiovisuais. Os recursos utilizados, desde que selecionados e adequados à capacidade sensorial e nível de desenvolvimento do educando e ao conteúdo a ser dominado, são considerados instrumentos valiosos no processo de aprendizagem do deficiente visual, à medida que, numa exploração detalhada, lhe permitirão estabelecer relações, analisar, elaborar seus próprios conceitos e relatar; favorecerão, ainda, a aquisição do hábito de busca, de pesquisa, de elaboração, habilitando-o ao esforço consciente para o desenvolvimento de sua própria aprendizagem. (PRANE, 2011, p. 3). O planejamento das aulas não ocorre de modo convencional, pois como o ensino é de apoio o aluno tem a liberdade auto-didática de seleção dos conteúdos a serem estudados. O professor apenas reforça as atividades das aulas regulares, complementando o conhecimento dos alunos. Na figura 1 vemos a foto do instituto.

Figura 1: Instituto dos cegos Fonte: Instituto dos Cegos de Campina Grande-PB Figura1, imagem frontal do instituto dos cegos, localizado em Campina Grande- PB, local utilizado a esta pesquisa sobre o ensino de matemática a deficientes visuais. 4. ANÁLISE E DISCUSSÃO A problematização do conteúdo é a principal dificuldade que o aluno enfrenta. Decodificar uma questão e chegar a linha de pensamento coerente é um grande desafio, adentrar uma linguagem de interpretação clara é necessário para qualquer aprendizado. Fernandes (2004, apud PRANE, 2011, p. 2) diz que recebendo os estímulos adequados para empregar outros sentidos, como o tato, a fala e a audição, o educando com deficiência visual estará apto a aprender como qualquer vidente, desde que se respeite a singularidade de seu desenvolvimento cognitivo. A partir do que foi citado, observemos algumas imagens de materiais desenvolvidos no próprio instituto para explicar como são ensinados os conteúdos de matemática no mesmo. plana. Na figura 2 verifica-se a metodologia utilizada para o ensino de geometria

Figura 2: Geometria Plana em alto relevo Fonte: Instituto dos Cegos de Campina Grande-PB Na figura 2 a imagem em alto relevo é utilizada para exemplificação de conceitos de geometria plana, Segundo Bonjorno (2006, p, 103) Por volta de 300 a.c., o matemático grego Euclides sistematizou o grande conteúdo de matemática acumulado até então na obra Os elementos, em 13 volumes. Euclides expôs de forma lógica e simples o saber matemático e, na parte de Geometria, procurou definir todos os termos que iria utilizar. Os matemáticos, mais tarde, diante da impossibilidade de definir todos os termos geométricos fundamentais e os denominaram conceito primitivo: o ponto, a reta e o plano. Definir todo o conceito de geometria plana não é tão simples, é essencial esse contato do aluno com a figura através do relevo para por a idéia de ponto, plano e reta. Para introduzir esse conteúdo, começamos questionando os alunos a respeito do conteúdo, por exemplo: o que estuda a geometria plana? Qual a contribuição da geometria plana para o cotidiano? Após introduzimos o conceito exemplificamos e então justificamos todo o conteúdo. Na figura 3 temos em plano uma película esférica:

Figura 3: Imagem geográfica da América do norte Fonte: Instituto dos cegos de Campina Grande-PB Observa-se na figura 3 a imagem da superfície esférica do globo terrestre identificamos a América do norte em alto relevo, nessa imagem, a partir da curva do tropico de câncer nos deparamos com a geometria não euclidiana, que tem como meio de estudo a superfície não plana. Ainda na figura 3 temos a divisão política da América do norte, mostrando em superfície plana a existência da superfície esférica. Ao analisar o globo, temos as linhas horizontais expressando as retas como linhas que cortam o globo. Já na construção do mapa temos essas mesmas linhas horizontais sendo curvas no plano. Tal conteúdo não é abordado no ensino básico, dessa maneira o aluno acaba ficando desprovido de conceitos geométricos, dificultando a criação de figuras mentais e posteriormente a aprendizagem em outros conteúdos matemáticos. No instituto o estudo da geométrica não euclidiana não acontece, mesmo assim eles finalizam suas idéias sobre superfícies esféricas devido à necessidade de interpretar a construção geográfica do globo terrestre. Para criação e manipulação de imagens e mapas mentais, os professores do

instituto adaptam as figuras que serão utilizadas, dando textura às cores e traços as formas. É importante ressaltar que nem sempre a leitura ficará simples, mas é um recurso utilizado que possibilita a interpretação. A carência de um material didático e a implantação de matérias manuseáveis exclusivo para cegos é extremamente significante, como também a busca de novos meios e idéias para enriquecer a didática e melhorar o ensino. Como disse SACKS Se inserir no mundo cego, não se trata de compensação e sim de uma nova ordem. CONCLUSÃO O ensino para com deficientes visuais, não é fácil principalmente quando de apoio que é o caso do instituto dos cegos, pois buscar medidas suficientes a aprendizagem é o principal desafio, obedecer a uma metodologia singular ou tradicional os coloca muitas vezes de braços cruzados como vimos nas imagens exemplificadas no presente trabalho, a carência de material não promove o desenvolvimento suficiente a aprendizagem necessária aos alunos. É necessário plantar sementes, fazer algo que não somente ensine conteúdos escolares, mas que ensine para a vida em sociedade como é visto no ensino/aprendizado não só da matemática, mas de outras disciplinas no instituto, eles não possuem material adequado e suficiente, porém não deixam de ensinar. Chamar de apoio o trabalho feito com os alunos é o mínimo, pois o instituto além de transmitir e reformular conteúdos didáticos acaba educando seus alunos em vida.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS BATISTA, C. G. Formação de conceitos em crianças cegas: questões teóricas e implicações educacionais. Psicologia: Teoria e Pesquisa, v. 21, n.1, p. 007-015, janabril, 2005 BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988. Disponível em: www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituição/constitui%c3%a7ao.htm. Acesso em: 21/07/2015. BRASIL. Lei nº 7.853/89, de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas 183 O ensino da matemática... - Arielma da Luz Ferreira et al. portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - Corde, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ L7853.htm. Acesso em: 22/07/2015. BRASIL. Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. Disponível em: www. planalto.gov.br/ccivil_03/leis/ BRASIL. Decreto nº 3.956, de 8 de outubro de 2001. Convenção de Guatemala. Promulga a Convenção Interamericana para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Pessoas Portadoras de Deficiência. Disponível em http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/ pdf/guatemala.pdf. Acesso em: 22/07/2015. CAVALCANTE, Meire. As leis sobre diversidade. 2007. Disponível em: http:// revistaescola.abril.com.br/inclusao/inclusao-no-brasil/ leis- diversidade- 424523. shtml. Acesso em: 22 /07/ 2015.

LOPES, Esther, Estratégias para Inclusão do Aluno com necessidades Educacionais Especiais no Ensino Regular, Londrina 2008. Disponível em http://www.diaadiaeducacao ALMEIDA, Cínthia Soares de, Dificuldades de aprendizagem em Matemática e a percepção dos professores em relação a fatores associados ao insucesso nesta área, 2006. MIRANDA, Maria de Jesus Cano, Deficiência visual e o ensino da matemática: relato de uma trajetória escolar bem sucedida, 2011. PRANE, B, Matemática para deficientes visuais no ensino médio regular: desafios, possibilidades e perspectivas, 2011. SACKS, Oliver, O olhar da mente, 2010. BONJORNO, José Roberto, Matemática fazendo a diferença, 2006