RECURSO ESPECIAL Nº 89.397 - PE (1996/0012337-3) RELATOR : MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : JOSEMAR DE OLIVEIRA SANTOS NEVES E OUTROS RECORRIDO : EMÍLIO FERREIRA SOARES FILHO ADVOGADO : GUILHERME SOARES DE LIMA EMENTA RECURSO ESPECIAL. PREVIDENCIÁRIO. PROCESSO CIVIL. CONCESSÃO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. JULGAMENTO EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. 1. Em persistindo, na motivação do pedido e da decisão, um só e mesmo suporte fáctico, não há falar em julgamento extra petita, mas em observância do princípio iura novit curia, com maior força nos pleitos previdenciários, julgados pro misero. Precedentes. 2. Recurso improvido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEXTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro-Relator. Os Srs. Ministros Paulo Gallotti e Paulo Medina votaram com o Sr. Ministro-Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Hamilton Carvalhido. Brasília, 2 de março de 2004 (Data do Julgamento). MINISTRO Hamilton Carvalhido, Presidente e Relator Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 1 de 8
RECURSO ESPECIAL Nº 89.397 - PE (1996/0012337-3) RELATÓRIO EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator): Recurso especial interposto pelo Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, com fundamento no artigo 105, inciso III, alínea "a", da Constituição da República, contra acórdão da 1ª Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, assim ementado: "PREVIDENCIÁRIO E PROCESSUAL CIVIL. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. RECONHECIMENTO DO DIREITO. PRINCÍPIO DA ECONOMIA PROCESSUAL. - Reconhecida a incapacidade do apelante, através da realização de prova pericial, deve ser deferida a aposentadoria por invalidez, preenchidos os requisitos necessários. - Princípio da economia processual, que autoriza o conhecimento do pedido de restabelecimento de aposentadoria como sendo de instituição de aposentadoria. - Apelo a que se dá provimento. Decisão unânime." (fl. 101). Alega o recorrente que o Tribunal a quo, ao reformar o decisum de primeiro grau, concedendo o benefício de aposentadoria por invalidez ao segurado, incorreu em julgamento extra petita. Isso porque, como se recolhe das razões recursais, verbis : "(...) Como se vê, o autor requereu apenas a restauração de uma aposentadoria que teria sido encerrada pelo ora Recorrente, de forma arbitrária. Ao contrário do que afirmava o A., demonstrou o INSS que sua pretensão não poderia ser acatada, vez que o mesmo nunca havia sido aposentado pela Previdência, e que, portanto, não poderia reverter a uma situação na qual nunca estivera. Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 2 de 8
Ficou então o douto juiz monocrático frente a uma simples alternativa: conceder ou negar o pedido, único, reiteremos. Nestas alternativas, não teve S. Exa. dúvida em escolher a única correta, qual seja, negar o pedido, atendendo o mandamento do art. 459, visto que, se assim não o fizesse, estaria, também, descumprindo o art. 460, ambos do CPC. Decidindo de modo contrário, incorreram os ilustres membros da Turma do Egrégio TRF da 5ª Região em lamentável engano. (...)" (fl. 105). A negativa de vigência aos artigos 128, 459 e 460, todos do Código de Processo Civil, funda a insurgência especial. Recurso tempestivo (fl. 103), sem resposta e admitido (fl. 111). É o relatório. Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 3 de 8
RECURSO ESPECIAL Nº 89.397 - PE (1996/0012337-3) VOTO EXMO. SR. MINISTRO HAMILTON CARVALHIDO (Relator): Senhores Ministros, para Eliézer Rosa, "diz-se que um julgamento é extra petita quando o julgado está fora daquilo que foi pedido na demanda da parte autora. Estar fora pode ser para mais ou para menos do que foi pedido " (in Dicionário de Processo Civil, 2ª edição, José Bushatsky ed., pág. 263). In casu, foi este o pedido formulado na exordial: "(...) Isto posto, requer a citação do Instituto NAcional de Previdência Social - INPS, na pessoa de seu representante para responder por todos os termos da presente ação, aundo espera seja a mesma julgada procedente, seja o Instituto réu compelido a restabelecer a aposentadoria do requerente a partir da cessação, 23/08/1976, com o pagamento de todas as mensalidades vencidas, acrescidas de juros e correção, custas, honorários advocatícios com as cautelas da lei e demais cominações legais. (...)" (fl. 3). Para tanto, alegou o autor o seguinte: "(...) 1 - Acometido de Câncer, percebeu no posto de benefício de afogados a aposentadoria nº 31/12367690, no período de 01-07-71 a 23-08-76, período superior a cinco (5) anos - (doc. 3). 2 - Não se conformando com o cancelamento de sua aposentadoria e, incapacitado para manter sua subsistência, ainda em tratamento e restabelecimento da operação sofrida na espinha, onde estava localizado o mal incapacitante - CÂNCER, (doc-4), requereu diversos benefícios, tendo todos lhe sido negados. Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 4 de 8
3 - O Requerente não foi encaminhado ao centro de reabilitação profissional por não ter condições físicas, não houve audiência do Centro de Recuperação para avaliação das condições físicas do requerente, após o que, se proceder o cancelamento da aludida aposentadoria na forma prescrita junto àquele Centro, fez que a aposentadoria estava em manutenção há mais de cinco anos. 4 - Que, continua sofrendo mal incapacitante e ainda sem condição de manter sua sobrevivência, vivendo atualmente às expensas da família. (...)" (fls. 2/3). O juízo monocrático julgou improcedente o pedido formulado contra o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, asseverando que "(...) pode-se afirmar com certeza que o autor não gozou aposentadoria por invalidez e sim um auxílio-doença, cujo restabelecimento evidentemente seria possível se assim tivesse pleiteado. Só que o seu pedido na prefacial não é esse. Pediu o restabelecimento de algo que nunca teve. Tampouco posso conhecer de sua pretensão como instituição de aposentadoria por invalidez, ou conversão do auxílio-doença em aposentadoria por invalidez, eis que não me deixou qualquer dessas alternativas na peça vestibular, além de vedarem os arts. 128 e 460 do CPC sentença extra petita." (fl. 80). O Tribunal a quo, reformando o decisum monocrático, julgou procedente o pedido de aposentadoria por invalidez, asseverando, no que interessa à espécie, o seguinte, verbis : "(...) O MM. Juiz "a quo" julgou improcedente o pedido de restabelecimento de aposentadoria, à consideração de que o autor nunca havia gozado tal benefício, mas sim o auxílio-doença. Desta forma, não poderia restabelecer o que nunca existiu. Parece-me, contudo, demasiadamente rígida tal posição, uma vez que o próprio sentenciante reconhece que, tivesse o pedido sido formulado no sentido de ser convertido o auxílio-doença em aposentadoria por invalidez, ou mesmo no sentido de instituir a aposentadoria por invalidez, poderia ter sido atendido. Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 5 de 8
Ora, diante do reconhecimento do direito à aposentadoria por invalidez, pouca importância têm as palavras utilizadas no pedido: restabelecer, converter ou instituir o benefício. O princípio da economia processual autoriza o deferimento da aposentadoria, acaso tenha direito o autor. (...)" (fl. 97). O artigo 460 do Código de Processo Civil preceitua o seguinte: "Art. 460. É defeso ao juiz proferir sentença, a favor do autor, de natureza diversa da pedida, bem como condenar o réu em quantidade superior ou em objeto diverso do que Ihe foi demandado." Ao que se tem dos autos, o pedido formulado pelo autor é o de restabelecimento de sua aposentadoria por invalidez, que teria sido cancelada em 23 de agosto de 1976, por não ter sido ele encaminhado ao centro de reabilitação profissional e por ainda continuar sofrendo do mal que o incapacitou para o trabalho. E o Tribunal a quo, ao dar provimento ao apelo do segurado, julgou procedente o pedido de aposentadoria por invalidez, diante da gravidade da doença apresentada pelo autor, reconhecendo, ainda, a ausência de qualquer concessão de aposentadoria anterior. Em persistindo, na motivação do pedido e da decisão, um só e mesmo suporte fáctico, não há falar em julgamento extra petita, mas em observância do princípio iura novit curia, com maior força nos pleitos previdenciários, julgados pro misero. Vejam-se, a propósito, os seguintes precedentes jurisprudenciais: "PREVIDENCIÁRIO. AUXÍLIO-ACIDENTE. INCAPACIDADE PARA O TRABALHO. JULGAMENTO EXTRA PETITA. INOCORRÊNCIA. - Em tema de benefício previdenciário decorrente de acidente de trabalho, é lícito ao juiz, de ofício, enquadrar a hipótese fática no dispositivo legal pertinente à concessão do benefício cabível, em face da relevância da questão social que envolve o Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 6 de 8
assunto. - Não ocorre julgamento extra petita na hipótese em que o órgão colegiado a quo, em sede de apelação, mantém sentença concessiva do benefício da aposentadoria por invalidez, ainda que a pretensão deduzida em juízo vincule-se à concessão de auxílio-acidente, ao reconhecer a incapacidade definitiva da segurada para o desempenho de suas funções. - Recurso especial não conhecido." (REsp 412.676/RS, Relator Ministro Vicente Leal, in DJ 19/12/2002). "PROCESSUAL CIVIL E PREVIDENCIÁRIO. SENTENÇA. NULIDADE. EXTRA PETITA. APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. AUXÍLIO-DOENÇA. Não há nulidade por julgamento extra petita na sentença que, constatando o preenchimento dos requisitos legais para tanto, concede aposentadoria por invalidez ao segurado que havia requerido o pagamento de auxílio-doença. Precedentes. Recurso não conhecido." (REsp 293.659/SC, Relator Ministro Felix Fischer, in DJ 19/03/2001). "PREVIDENCIÁRIO - ACIDENTÁRIA. PEDIDO DE APOSENTADORIA POR INVALIDEZ. CONCESSÃO DE AUXÍLIO-ACIDENTE - DECISÃO EXTRA PETITA - INOCORRÊNCIA. I - Formulado pedido de aposentadoria por invalidez, mas não atendidos os pressupostos para o deferimento deste benefício, não caracteriza julgamento extra petita a decisão que, constatando supridos os requisitos para o direito ao auxílio-acidente, concede em juízo esse benefício. II - Recurso especial desprovido." (REsp 226.958/ES, Relator Ministro Gilson Dipp, in DJ 05/03/2001). Pelo exposto, nego provimento ao recurso. É O VOTO. Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 7 de 8
CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEXTA TURMA Número Registro: 1996/0012337-3 RESP 89397 / PE Números Origem: 8900041045 9305316972 PAUTA: 02/03/2004 JULGADO: 02/03/2004 Relator Exmo. Sr. Ministro HAMILTON CARVALHIDO Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro HAMILTON CARVALHIDO Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. ZÉLIA OLIVEIRA GOMES Secretário Bel. ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA AUTUAÇÃO RECORRENTE : INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS PROCURADOR : JOSEMAR DE OLIVEIRA SANTOS NEVES E OUTROS RECORRIDO : EMÍLIO FERREIRA SOARES FILHO ADVOGADO : GUILHERME SOARES DE LIMA ASSUNTO: Previdenciário - Benefícios - Aposentadoria - Invalidez CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEXTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Paulo Gallotti e Paulo Medina votaram com o Sr. Ministro Relator. Presidiu o julgamento o Sr. Ministro Hamilton Carvalhido. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 02 de março de 2004 ELISEU AUGUSTO NUNES DE SANTANA Secretário Documento: 458107 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 22/11/2004 Página 8 de 8