Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº RJ (2003/ ) RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON RECORRENTE : BANCO CENTRAL DO BRASIL PROCURADOR : FRANCISCO SIQUEIRA E OUTROS RECORRIDO : REGINALDO REIS MENEZES ADVOGADO : JORGE DE OLIVEIRA BEJA EMENTA PROCESSO CIVIL - AÇÃO DE COBRANÇA - ATIVOS RETIDOS - LEGITIMIDADE - PRESCRIÇÃO - MP 168/90 - LEI 8.024/90 - BTNF Relativamente às contas de poupança com data de aniversário anterior ao dia 15, são responsáveis pela correção monetária os bancos depositários e, relativamente ao índice de março/90, é devido o IPC. 2. Relativamente aos saldos bloqueados das contas de poupança com data de aniversário posterior ao dia 15, é responsável pela correção monetária o BANCO CENTRAL, sendo devida a aplicação do BTNf para todo o período de bloqueio (inclusive relativamente a março/90). 3. A transferência dos saldos para o BACEN não se deu imediatamente após o bloqueio, mas no primeiro "aniversário" seguinte. 4. É qüinqüenal o prazo para intentar ações em desfavor da Fazenda Pública. 5. O termo a quo do prazo prescricional inicia-se em abril de 1990, a partir do bloqueio da conta, em razão da MP 168/ Recurso especial provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da SEGUNDA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dar provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Franciulli Netto, João Otávio de Noronha, Castro Meira e Francisco Peçanha Martins votaram com a Sra. Ministra Eliana Calmon. Brasília-DF, 5 de fevereiro de 2004(Data do Julgamento) MINISTRA ELIANA CALMON Relatora Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 1 de 8

2 RECURSO ESPECIAL Nº RJ (2003/ ) RECORRENTE : BANCO CENTRAL DO BRASIL PROCURADOR : FRANCISCO SIQUEIRA E OUTROS RECORRIDO : REGINALDO REIS MENEZES ADVOGADO : JORGE DE OLIVEIRA BEJA RELATÓRIO A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON: Trata-se de recurso especial interposto contra acórdão do Tribunal Regional da 2ª Região que, em apelação cível, decidiu que: 1) o prazo prescricional das ações relativas aos ativos retidos é vintenária; 2) há legitimidade passiva ad causam do BACEN para o pagamento da correção monetária dos cruzados novos bloqueados e 3) no mérito, condenou o BACEN ao pagamento do IPC no mês de março/90 e em todo o período do bloqueio. O BACEN sustenta ser parte ilegítima no feito e aponta violação dos arts. 1º, do Decreto /32 e 2º, do Decreto-lei 4.597/42, sob a alegação de ser qüinqüenal a prescrição da ação relativa à ação de cobrança da correção monetária dos ativos retidos, pedindo a respectiva pronúncia. No mérito, afirma ser aplicável o BTNF. Após contra-razões, subiram os autos, por força de agravo. É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 2 de 8

3 RECURSO ESPECIAL Nº RJ (2003/ ) RELATORA : MINISTRA ELIANA CALMON RECORRENTE : BANCO CENTRAL DO BRASIL PROCURADOR : FRANCISCO SIQUEIRA E OUTROS RECORRIDO : REGINALDO REIS MENEZES ADVOGADO : JORGE DE OLIVEIRA BEJA VOTO A EXMA. SRA. MINISTRA ELIANA CALMON (RELATORA): L E G I T I M I D A D E Em princípio, deve-se considerar que, nas ações nas quais se busca a correção monetária dos saldos das contas de poupança, cabe a legitimidade passiva tão-somente à entidade que tem a disponibilidade sobre os mesmos, ou seja, o BANCO CENTRAL apenas será responsável pela correção monetária após a transferência dos saldos em cruzados novos não convertidos em cruzeiros, e as instituições financeiras depositárias enquanto não efetivada a mencionada transferência, na forma do art. 9º da Lei 8.024/90. Entretanto, cabe salientar que o bloqueio não se confunde com a transferência de valores. Para melhor compreensão da matéria, é oportuna a transcrição de alguns dispositivos legais: Lei 8.024/90 (conversão da Medida Provisória 168/90) Art. 1º. Passa a denominar-se cruzeiro a moeda nacional, configurando a unidade do sistema monetário brasileiro. 1º. omissis 2º O cruzeiro corresponde a um cruzado novo. 3º. omissis Art. 6º. Os saldos das cadernetas de poupança serão convertidos em cruzeiros na data do próximo crédito de rendimento, segundo a paridade estabelecida no 2º do art. 1º, observado o limite de NCz$ ,00(cinqüenta mil cruzados novos). 1º. As quantias que excederem o limite fixado no "caput" deste artigo, serão convertidas a partir de 16 de setembro de 1991, em doze parcelas mensais iguais e sucessivas. 2º. As quantias mencionadas no parágrafo anterior serão atualizadas monetariamente pela variação do BTN Fiscal, verificada entre a data do próximo crédito de rendimentos e a data da conversão, acrescidas de juros equivalente a 6% (seis por cento) ao ano ou fração "pro rata". 3º. omissis Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 3 de 8

4 Art. 9º. Serão transferidos ao Banco Central do Brasil os saldos em cruzados novos não convertidos na forma dos arts. 5º, 6º e 7º, que serão mantidos em contas individualizadas em nome da instituição financeira depositante. 1º. omissis 2º. omissis 3º. omissis. Da leitura dos artigos transcritos verifica-se que: a) conversão é o fenômeno da transformação de cruzados novos em cruzeiros; b) os valores não superiores a NCz$ ,00 (cinqüenta mil cruzados novos) depositados em cadernetas de poupança, foram convertidos na data do próximo credito de rendimento; c) os valores superiores a NCz$ ,00 (cinqüenta mil cruzados novos) foram convertidos a partir de 16/09/91, em doze parcelas iguais e sucessivas; d) a correção monetária determinada foi a utilização do BTNF, considerando-se o termo inicial a data do próximo credito de rendimento e o termo final a data da conversão; e e) o art. 9º da citada lei determinou que seriam transferidos ao BANCO CENTRAL os saldos em cruzados novos não convertidos. Portanto, muito embora tenha sido bloqueados os cruzados novos superiores a NCz$ ,00 pela MP 168/90, em 16/03/90, a transferência para o BANCO CENTRAL só ocorreu a partir da próxima data de creditamento, popularmente chamada de data de aniversário ou data de vencimento de cada conta. Diferentemente, apenas para argumentar, os valores depositados em conta corrente foram transferidos imediatamente, tanto que o art. 5º, 2º da Lei 8.024/90 determinou a aplicação do BTNF a partir de 19/03/90. A transferência coincide com a conversão dos valores não superiores a NCz$ ,00 que, no caso das cadernetas de poupança, ocorreu na próxima data de creditamento. Cumpre esclarecer que a correção monetária, antes da MP 168/90, era feita com base no BTN, que estava atrelado ao IPC, e com a criação do BTNF desatrelou-se o IPC como indexador da correção monetária. O IPC de março/90 foi calculado com base na média dos preços apurados entre 16/02/90 e 15/03/90, no percentual de 84,32%, a ser aplicado em abril/90, à medida em que fossem "aniversariando" as contas de caderneta de poupança, conforme se depreende dos art. 10 e 17 da Lei 7.730/89, do teor seguinte: Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 4 de 8

5 Lei 7.730/89 Art. 10. O IPC, a partir de março de 1989, será calculado com base na média dos preços apurados entre o início da segunda quinzena do mês anterior e o término da primeira quinzena do mês de referência. mês anterior. Art. 17. Os saldos das cadernetas de poupança serão atualizados: I omissis II omissís III a partir de maio de 1989, com base na variação do IPC verificada no Portanto, no mês de março/90 foram as cadernetas de poupança corrigidas pelo IPC de fevereiro/90, nas suas datas-base ou datas de aniversário, quando havia a conversão dos cruzados novos não superiores a NCz$ ,00 e a transferência para o BANCO CENTRAL dos valores não convertidos, o que só ocorreria a partir de 16/09/91, em doze parcelas iguais e sucessivas. Por conseguinte, temos duas situações: a) as cadernetas de poupança com datas de aniversário na primeira quinzena de março/90 foram corrigidas pelas instituições financeiras, nesse mês, pelo IPC de fevereiro/90 (72,78%), e em abril/90, concomitantemente com a conversão e a transferência, consoante a Lei n /90, pelo IPC de março/90 (84,32%); b) as cadernetas de poupança com datas de aniversário na segunda quinzena de março/90 foram corrigidas pelas instituições financeiras, nesse mês, pelo IPC de fevereiro/90 (72.78%), quando houve a conversão e a transferência dos cruzados novos bloqueados ao BACEN, e em abril/90 pelo BTNF no percentual de 41,28%, porque já iniciado novo ciclo mensal. Através do Comunicado o BACEN reconheceu que deveria ser aplicado o IPC para as contas de poupança com data de aniversário no mês de abril/90, para os índices de atualização dos saldos, em cruzeiros, das contas de poupança, bem como para aqueles valores ainda não convertidos, o que corrobora o entendimento até aqui apresentado. Temos, ainda, as cadernetas de poupança abertas no período de 19 a 28 de março/90 que, segundo a Circular n do BANCO CENTRAL, foram corrigidas no mês de abril pelo BTNF. É importante destacar que não se deve confundir correção monetária do mês de março/90 com o expurgo inflacionário do mês de março (IPC), a ser aplicado na correção monetária de abril/90. Bem delimitada a matéria, quanto à legitimidade passiva, respondem as Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 5 de 8

6 instituições financeiras depositárias pela correção monetária de todos os depósitos das cadernetas de poupança em relação ao mês de março/90, e quanto ao mês de abril/90 (IPC de março/90) por aquelas cujas datas de aniversário são anteriores ao bloqueio dos cruzados novos. O BANCO CENTRAL deve figurar como responsável apenas pela correção monetária dos cruzados novos bloqueados que lhe foram transferidos, os quais passaram a ser corrigidos a partir de abril/90. P R E S C R I Ç Ã O Para o BACEN a prescrição é qüinqüenal e o prazo deveria ser computado a partir da MP 168/90, enquanto o acórdão decidiu que a prescrição é vintenária, nos termos do art. 177 do antigo Código Civil. Temos na espécie ação de cobrança da importância que o autor tinha depositado na CAIXA ECONÔMICA FEDERAL e, pelo teor do pleito, o seu inconformismo se voltou contra a sistemática da Lei 8.024/90 na data em que foi objeto de bloqueio as contas de que era titular. Entendo que não se pode contar a prescrição a partir da data da referida Lei ou da MP 168/90, como pretende o recorrente, porque a norma não teve efeitos concretos e só passou a incidir a partir do bloqueio de cada conta. Mas equivoca-se o Tribunal ao aplicar a prescrição do art. 177 do antigo Código Civil, quando a prescrição é qüinqüenal, nos termos do Decreto /32. Neste sentido já decidiu a Segunda Turma desta Corte: PROCESSO CIVIL - AÇÃO DE COBRANÇA - ATIVOS RETIDOS - PRESCRIÇÃO - MP 168/90 - LEI 8.024/90 - BTNF. 1. É qüinqüenal o prazo para intentar ações em desfavor da Fazenda Pública. 2. O termo a quo do prazo prescricional é o bloqueio da conta, em razão da MP 168/ A jurisprudência desta Corte sedimentou-se no sentido de que os ativos retidos devem ser corrigidos pelo BTNF. 4. Recurso especial provido. (REsp /RS, Relatora Ministra Eliana Calmon, unânime, DJ de 16/12/2002, página 00293) Assim, como a ação foi ajuizada em setembro/97, contado o prazo prescricional da data do bloqueio da conta, em abril/90, temos como deve ser pronunciada a prescrição, com a extinção do feito com julgamento de mérito. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 6 de 8

7 C O N C L U S Ã O Com estas considerações, DOU PROVIMENTO AO RECURSO ESPECIAL DO BACEN, para ajustar o julgado à jurisprudência desta Corte, conforme acima delimitado, extinguindo-se o processo com julgamento de mérito, na forma do art. 269, IV, do CPC. Em conseqüência, nos termos do art. 20, 4º do CPC, condeno o autor ao pagamento de honorários ao BACEN, que ora fixo em R$ 200,00 (duzentos reais). É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 7 de 8

8 CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA Número Registro: 2003/ RESP / RJ Números Origem: PAUTA: 05/02/2004 JULGADO: 05/02/2004 Relatora Exma. Sra. Ministra ELIANA CALMON Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro FRANCIULLI NETTO Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. WALLACE DE OLIVEIRA BASTOS Secretária Bela. BÁRDIA TUPY VIEIRA FONSECA AUTUAÇÃO RECORRENTE : BANCO CENTRAL DO BRASIL PROCURADOR : FRANCISCO SIQUEIRA E OUTROS RECORRIDO : REGINALDO REIS MENEZES ADVOGADO : JORGE DE OLIVEIRA BEJA ASSUNTO: Administrativo - Atuação do Estado no Domínio Econômico - Remuneração de Ativos Retidos / BACEN - MP nº 168/90 - Lei nº 8.024/90 - Correção Monetária - Caderneta de Poupança CERTIDÃO Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto da Sra. Ministra-Relatora." Os Srs. Ministros Franciulli Netto, João Otávio de Noronha, Castro Meira e Francisco Peçanha Martins votaram com a Sra. Ministra Relatora. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 05 de fevereiro de 2004 BÁRDIA TUPY VIEIRA FONSECA Secretária Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 24/05/2004 Página 8 de 8