A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 1



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Transcrição:

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 1 NODÁRIO, C. S. 2 ;POZZOBON; K. 2 ;SCARIOT, I. 2 ; SILVA, T. R. 2 ;GONÇALVES, C. S. 3 1 Trabalho de Revisão Teórica 2 Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil 3 Orientadora do Curso de Psicologia do Centro Universitário Franciscano (UNIFRA), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: estrelacn@hotmail.com; kelpozzobon@hotmail.com; iassana.scariot@hotmail.com; ticiane_girl@hotmail.com; camilapsico@hotmail.com. RESUMO O brincar é um processo facilitador no desenvolvimento infantil, é através das brincadeiras que as crianças expressam sentimentos, o que contribui para seu desenvolvimento enquanto sujeito. Este estudo busca conhecer qual a importância do brincar para o desenvolvimento da criança. A partir disso, consultou através de um levantamento teórico materiais com relevância no tema do brincar e sua contribuição para o desenvolvimento infantil. Este método de pesquisa, conforme Gil (2006) é desenvolvido a partir de material já elaborado e que abrange principalmente livros e artigos científicos. Acredita-se que o momento lúdico deve ser visto como constituinte do sujeito, que vivencia e experimenta, construindo suas relações interpessoais. Dessa maneira, compreende-se a necessidade de criação e valoração de espaços onde a criança possa exercitar a ludicidade. O tema brincar é relevante e de interesse das áreas da saúde e educação, isso possibilita pensar em estratégias colaborativas para a formação destes profissionais. Palavras-chave: Brincar; Criança; Lúdico; Desenvolvimento Infantil. 1. INTRODUÇÃO Desde a infância se passa por descobertas e conquistas, estas provêm do corpo e da corporeidade, as crianças interagem com o mundo ao seu redor intensamente, sendo estas o alicerce para seu desenvolvimento e suas inter-relações neste contexto de mundo. A criança, ao brincar, explora e compreende o mundo ao seu redor, pela curiosidade descobre coisas e situações novas. Interagindo ludicamente com o mundo real, por meio de desenhos, pinturas, danças, cantos, rabiscos, bagunça, brincadeiras, entre outros, a criança estabelece uma harmônica sintonia entre os seus mundos, onde então acontece o aprendizado, o desenvolvimento e o crescimento infantil. Através das brincadeiras as crianças expressam seus sentimentos, o que contribui para seu desenvolvimento enquanto ser humano, o que torna o mundo infantil questionador e inovador contribuindo para as atividades lúdicas. Dessa maneira, percebe-se que não somente a criança pode brincar, este também faz parte do mundo do adulto, também chamado de atividade lúdica. A atividade lúdica é indispensável à vida humana quando situada como ingrediente que oferece melhoria a qualidade de vida e deve ser pensada a partir de aspectos subjetivos, que retratem 1

emoções, afetos, bem-estar. Para expressar estes estados da consciência nem sempre a pessoa encontra palavras adequadas que retratem exatamente o que sente, já que há sensações que se produzem no corpo, que são impossíveis de serem descritas por palavras. A partir dos motivos apresentados este estudo busca conhecer qual a importância do brincar para o desenvolvimento da criança. Para tanto, consultou através de um levantamento teórico materiais com relevância no tema do brincar e a sua contribuição para o desenvolvimento infantil, e as ações da criança sobre a ação de brincar. 2. REFERENCIAL TEÓRICO O brincar facilita a comunicação consigo e com os outros, propiciando experiências inéditas de desintegração e integração do ser humano. Oferecer espaço para o sujeito brincar, segundo Vygotsky (1988), é, também, oferecer espaço para reorganizar experiências e construir conhecimento através da resolução de situação- problemas. O brincar é um fenômeno natural e complexo, Azevedo (2008) identifica que, serve a várias funções, entre elas a comunicação, as atividades lúdicas podem ser empregadas como um instrumento para restabelecer a relação de ajuda, na medida em que subsidia a expressão não- verbal da criança.no brincar, a criança interpreta variados papéis, assume responsabilidades, estabelece relações, desenvolve atitudes de respeito e de cooperação, aprimorando etapas do desenvolvimento cognitivo, afetivo, social e psicomotor, percebendose capaz de vencer desafios e vivenciar cada papel. O simples ato de brincar representa um recurso para a criança compreender o mundo ao seu redor e o que acontece com ela, possibilitando a elaboração de conflitos, frustrações e traumas. Segundo Azevedo (2008) as brincadeiras perfazem toda a infância da criança e as levam a repetirem situações prazerosas, expressarem seus medos e fantasias não verbalizadas, tornando-se uma forma importante de comunicação por vezes ignorada pela equipe. Acordando com o autor anterior, Winnicott (1966) aponta que as crianças têm prazer em todas as experiências de brincadeira física e emocional. Podemos ampliar o âmbito de suas experiências fornecendo materiais e idéias, mas parece ser preferível fornecer essas coisas parcimoniosamente e não em excesso, visto que as crianças são capazes de encontrar objetos e inventar brincadeiras com muita facilidade, e isso dá-lhes prazer. 2

Winnicott (1966) expõe que é fácil perceber que as crianças brincam por prazer, mas é difícil para as pessoas verem que as crianças brincam para dominar angustias, controlar idéias ou impulsos que as conduzem à angustia se não forem dominados. Neste sentido, o espaço do brincar, muitas vezes, é pouco valorizado pelos adultos. Conforme Falkenbach (1999) o que leva o adulto a se afastar deste sentido da atividade lúdica são as influências sócioculturais. Kishimoto (1998) expõe que ao brincar, a criança não está preocupada com os resultados. É o prazer e a motivação que impulsionam a ação para explorações livres. A conduta lúdica, ao minimizar as conseqüências da ação, contribui para a exploração e a flexibilidade do ser que brinca, incorporando a característica que alguns autores denominam futilidade, um ato sem conseqüência. O prazer e a motivação iniciam o processo de construção do conhecimento, que deve prosseguir co sua sistematização, sem a qual não se pode adquirir conceitos significativos. Winnicott (1975) especifica também que a característica essencial do que desejo comunicar refere-se ao brincar como uma experiência, sempre uma experiência criativa, uma experiência na continuidade espaçotempo, uma forma básica de viver. Vygotsky (1998) nos diz que o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas, que são mediadas por ferramentas técnicas e semióticas. Pensando nisso, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito; rompendo com a visão tradicional de que ela é atividade natural de satisfação de instintos infantis, o autor apresenta o brincar como uma atividade em que, tanto os significados social e historicamente produzidos são construídos, quanto novos podem ali emergir. A paritr de Winnicott (1966) é através da brincadeira que ocorre um ambiente de comunicação profunda e direta da criança com o seu próprio eu, o eu é ao mesmo tempo descoberto e construído. Para Brougerè (1997) a brincadeira é o mais alto grau do desenvolvimento infantil, porque ela é a manifestação livre e espontânea do interior, a manifestação do interior exigida pelo próprio interior. De acordo com Winnicott (1966) a brincadeira é um meio fundamental da criança resolver os problemas emocionais que fazem parte do desenvolvimento. A brincadeira é também um dos métodos característicos da manifestação infantil, um meio para perguntar e para explicar. Para Vygotsky (1998), a brincadeira de faz-de-conta cria uma zona de desenvolvimento proximal, pois no momento que a criança representa um objeto por outro, 3

ela passa a se relacionar com o significado a ele atribuído, e não mais com ele em si. Assim, a atividade de brincar pode ajudar a passar de ações concretas com objetos para ações com outros significados, possibilitando avançar em direção ao pensamento abstrato. O brincar é concebido, a partir de Winnicott (1975) em vários tempos. No primeiro tempo, o bebê e o objeto estão fundidos. A visão que o bebê tem do objeto é subjetiva. A mãe suficientemente boa se orienta para concretizar aquilo que o bebê está pronto a encontrar. A isto Winnicott chama de criatividade primária, que só é possível mediante uma ação digamos apaixonada da mãe na direção de seu bebê uma ação que só aos poucos vai se desfazendo. No segundo tempo, o objeto é repudiado como não-eu, aceito de novo e objetivamente percebido. Neste tempo, a mãe devolve ao bebê o objeto que ele repudiou A brincadeira de papéis é presente na teoria de Brougerè (1997), onde a criança, com a ajuda de seu corpo, desempenha um papel. O brinquedo é um prolongamento do corpo, prolongamento este que é fácil de fazer: dois dedos são suficientes para imitar um revólver. Para Silva e Aguiar (2006) a utilização do brinquedo é muito importante, pois ajuda a criança a descarregar sua tensão, pode diminuir a ansiedade e reorganizar sua vida, seus sentimentos, e compreender o seu mundo. Ao que se refere as necessidades das crianças, Vygotsky (1988) destaca que estas devem ser consideradas, pois é a partir dos desejos não realizáveis imediatamente que os brinquedos e brincadeiras surgem de modo a resolver essa tensão no mundo ilusório e imaginário, onde os desejos podem ser realizados. O brinquedo, na qualidade de "estimulante material para fazer fluir o imaginário infantil", concretiza-se no "lúdico em ação", ou seja, na brincadeira em si (Kishimoto, 1998, p. 26). No momento em que a criança se mimetiza com o objeto, em absoluto tal objeto determina e delimita a sua infinita máscara imaginária infantil. Constitui-se, efetivamente, em um objeto híbrido e dialógico, o qual assume papéis dos mais diversos tipos, conforme a curiosidade e o interesse da criança. Para Brougerè (1997) a regra produz um mundo especifico marcado pelo exercício, pelo fazer de conta, pelo imaginário. A criança pode, sem riscos, inventar, criar, tentar, neste universo.a brincadeira é um meio de minimizar as conseqüências de seus próprios atos e, por isso, aprender numa situação que comporta menos riscos. Na opinião de Leite e Shimo (2007) existem dois tipos de brinquedo, o normativo e o terapêutico. Atividades espontâneas que levam ao prazer, sem, no entanto, precisar alcançar um objetivo, constituem o brinquedo normativo, e a sala de recreação é o melhor local para desenvolvê-lo. Já o brinquedo terapêutico necessita de um profissional para 4

direcionar a criança. É necessário estimulá-la a participar, e o brinquedo tem como meta conduzir a criança. O brinquedo e o brincar colaboram para o desenvolvimento do ser humano que segundo Vygotski (1998) é um processo dialético, marcado por etapas qualitativamente diferentes determinadas pela atividade mediada, justamente o que o promove. Via atividade o homem é capaz de transformar sua própria história e a história da humanidade, posto que por seu intermédio transforma o contexto social em que se insere e ao mesmo tempo se transforma. O homem, enquanto sujeito é capaz de transformar sua própria história e a da humanidade, uma vez que por seu intermédio muda o contexto social em que se insere, ao mesmo tempo em que é modificado. 3. METODOLOGIA Para os propósitos deste estudo, foram selecionados e analisados materiais bibibliográficos contendo estudos de teóricos de referência no desenvolvimento infantil, como Winnicott, Vygotsky E Brougère. O método utilizado pelo artigo consiste em uma pesquisa bibliográfica, que conforme Gil (2006) é desenvolvido a partir de material já elaborado e que abrange principalmente livros e artigos científicos. O mesmo autor, também, considera indispensável o estudo histórico. Foi realizado um levantamento bibliográfico a respeito do tema juntamente com uma pesquisa exploratória e descritiva de caráter qualitativo. Diante disso, o trabalho justificou-se como exploratório por levantar informações e dados que permitiram uma melhor compreensão dos temas. Pois, as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e idéias, tendo em vista, a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores (GIL, 2006. p. 43). 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES A importância dos brinquedos para o desenvolvimento humano reside no fato de que estes não determinam a ação da criança, pois os objetos perdem sua força determinadora. Na brincadeira, a criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que vê. 5

Assim, é alcançada uma condição em que começa a agir independentemente daquilo que vê (VYGOTSKY, 1998). O brinquedo pode, então, adquirir para a criança outros sentidos, seja a partir de sua própria ação e imaginação, seja na trama de relações que estabelece com os amigos com os quais produz novos sentidos e os compartilha. Assim, percebe-se que através da brincadeira, a criança tem a possibilidade de experimentar novas formas de ação, exercitálas, ser criativa, imaginar situações e reproduzir momentos e interações importantes de sua vida, resignificando-os. A criança adquire experiência brincando. De acordo com Winnicott (1966) a brincadeira é uma parcela importante da sua vida. As experiências tanto externas como internas podem ser férteis para o adulto, mas para a criança essa riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e na fantasia. E é por isso que podemos pensar a infância como um processo gradual de formação de uma crença. Crença em pessoas e coisas que é elaborada a pouco a pouco, através de inumeráveis experiências boas. Acredita-se que os jogos e as brincadeiras são uma forma de lazer no qual estão presentes as vivências de prazer e desprazer. Representam uma fonte de conhecimento sobre o mundo e sobre si mesmo, contribuindo para o desenvolvimento de recursos cognitivos e afetivos que favorecem o raciocínio, tomada de decisões, solução de problemas e o desenvolvimento do potencial criativo. A brincadeira assume um papel essencial porque se constitui como produto e produtora de sentidos e significados na formação da subjetividade da criança. O brincar infantil exemplifica-se com preocupação e compromisso com os elementos da brincadeira. Há um gosto à brincadeira e uma resistência a sair dela, ainda que a criança não confunda o brincar e o seu poder imaginativo com a realidade socialmente aceita. Assim a cada brincar uma coisa nova a descobrir e a prender (FRANCO,2003). O brincar criativo é um modo de se enfrentar com a realidade que valoriza esta alegria de viver. O brincar dentro da realidade ou fora dela, se apresenta como a possibilidade de criar, de colocar um tom pessoal na experiência, de rearranjar campos. No Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), a brincadeira está colocada como um dos princípios fundamentais, defendida como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças. Assim, a brincadeira é cada vez mais entendida como atividade que, além de promover o 6

desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, a formação de um cidadão crítico e reflexivo. A partir de Brougère (1997) que a criança constrói sua experiência de se relacionar com o mundo de maneira ativa, vivencia experiências de tomadas de decisões. Acredita-se que a subjetividade da criança vai se formando nas interações que estabelece com seus parceiros nos contextos cotidianos. Pois a brincadeira é um espaço social, uma vez que não é criada espontaneamente, mas em conseqüência de uma aprendizagem social e supõe uma significação conferida por todos que dela participam. A criança pode dar outros sentidos aos objetos e jogos, seja a partir de sua própria ação ou imaginação, seja na trama de relações que estabelece com os amigos com os quais produz novos sentidos e os compartilha. Em um jogo qualquer, ela pode optar por brincar ou não, o que é característica importante da brincadeira, pois oportuniza o desenvolvimento da autonomia, criatividade e responsabilidade quanto a suas próprias ações. Machado (2001) identifica que no desenvolvimento da criança é próximo dos cinco anos, surge uma nova alternativa para as crianças se expressarem: as atividades construtivas. Na criança individual em evolução de amadurecimento, surge outra alternativa à destruição muito importante: é a construção. Em condições favoráveis de ambiente, um impulso construtivo relaciona-se com a crescente aceitação pessoal de responsabilidade pelo aspecto destrutivo da natureza infantil. É um dos mais importantes sintomas de saúde, numa criança, quando surge e se mantém a atividade lúdica construtiva (WINNICOTT, 1966) A brincadeira é de fundamental importância para o desenvolvimento infantil na medida em que a criança pode transformar e produzir novos significados. Em situações dela bem pequena, bastante estimulada, é possível observar que rompe com a relação de subordinação ao objeto, atribuindo-lhe um novo significado, o que expressa seu caráter ativo, no curso de seu próprio desenvolvimento. O brincar deve ser essencialmente espontâneo e despreocupado. Segundo Kishimoto (1998) a criança, quando brinca, não faz isso para aprender, construir, elaborar ou significar qualquer coisa. Embora isso tudo possa acontecer durante a brincadeira, não é isso que qualifica o brincar. O brincar tem um fim nele mesmo. 7

5. CONCLUSÃO É no brincar e talvez apenas no brincar que a criança e o adulto experimentam liberdade suficiente para criar e criar-se. (WINNICOTT, 1975, pág 79) Acredita-se que o momento lúdico deve ser visto como constituinte do sujeito, o qual, a partir de vivências que experimenta, constrói suas relações interpessoais. O sujeito é desenvolvimento e processualidade permanente sem nunca ficar estático em sua condição subjetiva atual. Então, ocasiões que permitam a criança brincar e se expor beneficiará sua subjetividade. Os autores levantados concordam em afirmar que a constuição do sujeito se dá através de experiências lúdicas, como o brincar. É no brincar que a criança se descobre enquanto sujeito, se socializa, e se desenvolve psiquicamente e fisicamente. Contudo o brincar é uma forma de linguagem e que através dele a criança constrói e organiza experiências em seu texto, seu mundo, sua vida. Este brincar tem uma função cognitiva e explicativa de organizar a experiência de vida da criança. O relaxamento que nasce de experiências de confiança é a base para a atividade criativa que se manifesta na brincadeira. A soma destas muitas experiências e oportunidades de criação é que permite a formação de um sentimento verdadeiro de self. É um espaço potencial, ou seja, um espaço onde toda a potência do indivíduo se mobiliza em busca de uma concretização não obsessiva (FRANCO, 2003). É através do brincar, que a criança terá condições de construir sua identidade, socializar-se, enquanto parte integrante de um grupo, conhecer e reconhecer-se, sentir emoções e expressá-las. Logo, a partir deste estudo, compreende-se a necessidade de criação e valoração de espaços onde a criança possa exercitar a ludicidade, assim como no ambiente escolar, hospitalar, clínico, entre outros. O tema brincar é relevante e de interesse das áreas da saúde e educação que interagem diretamente com as crianças, o que possibilita pensar em estratégias colaborativas para a formação destes profissionais. REFERÊNCIAS AZEVEDO, Dulcian M. de. (et al). O brincar enquanto instrumento terapêutico: opinião dos acompanhantes. Revista Eletrônica de Enfermagem. 2008. 8

BAUER, Martin W.; GASKELL, George. Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. Rio de Janeiro: Vozes, 2002. BROUGERÈ, Gilles. Brinquedo e Cultura. 2. Ed. São Paulo: Cortez, 1997. FALKENBACH, Atos P. Lúdico na visão do adulto: uma abordagem psicopedagógica. (1999) Disponível em < http://www.puppin.net/ciepre/leituras/ludico.pdf >. Acesso em: 15 Set. 2010. FRANCO, Sérigio de G. O brincar e a experiência analítica. Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica. vol.6 no.1 Rio de Janeiro, 2003. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s1516-14982003000100003&lang=pt> Acesso em : 05 Set 2010. GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 5.ed. São Paulo: Atlas, 2006. KISHIMOTO, Tizuko M. O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira, 1998. LEITE, T.M.; SHIMO, A.K. O brinquedo no hospital: uma análise da produção acadêmica dos enfermeiros brasileiros. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v. 11, n.2. 2007. SANTOS, Maria E. R. (et al). O impacto emocional da hospitalização da criança. JN: Jornal de Pediatria. Vol. 56. 1984. SANTOS, Santa M. P. A ludicidade como ciência. 2. Ed. Petrópolis- RJ: Vozes, 2008. SILVA, Elaine A.; AGUIAR, Oscar X. de. A importância do brincar na pediatria em hospital. Revista Científica Eletrônica de Psicologia. Ano IV. N. 7. São Paulo. 2006 VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. 6. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. WINNICOTT, D.W. A criança e o seu mundo. Tradução: Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1966. WINNICOTT, D. W. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1975.. 9