PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <http://www.pubvet.com.br/texto.php?id=190>. Valor nutrutivo da mandioca brava (Manihot sp.) Adelmo Ferreira de Santana¹, Magna Coroa Lima², Érica Cristina Araújo de Souza² ¹ Professor da Escola de Medicina Veterinária da Universidade Federal da Bahia (EMEV-UFBA). ² Alunas de Graduação da EMEV-UFBA. RESUMO Este trabalho teve o objetivo de conhecer os valores nutritivos da mandioca brava assim como também comparar com os dados da literatura. A mandioca brava é uma planta que possui boa aceitabilidade pelos animais comumente utilizada no semi-árido, devido à alta palatabilidade essa planta é uma boa alternativa na alimentação no período seco. É citado em diversos trabalhos que a manihot possui um alto valor nutritivo e ainda existe autor que diz que o milho pode ser substituído na alimentação pela manihot. Foram verificados valores diferentes no aspecto nutricional e essa diferença é provavelmente devido à forma de processamento da planta. PALAVRAS CHAVE: Mandioca brava, Manihot sp, valor nutritivo de plantas.
ABSTRACT This work had as objective to know the nutritional value of cassava brava as well as compare with the literature data. The brave cassava is a plant that possesss good acceptability for the animals and is common in our half-barren one, had to rise palatabilidade this plant is a good alternative in the feeding in the dry period. It is cited in diverse works that manihot possesss one high nutritional value and still author exists who says that the maize can be changed in the feeding for manihot. In the revision it was verified different values in the nutricional aspect and this difference probably must the form of processing of the plant. Keys-Words: Brave cassava, Manihot sp, nutritional value of plants. INTRODUÇÃO A oferta de alimentos para os rebanhos no período de estiagem constitui-se em barreira para o fortalecimento da caprinocultura em função do baixo desempenho dos animais. A utilização de reservas estratégicas para oferecer aos rebanhos em períodos de seca é uma alternativa viável para sucesso dos sistemas de produção pecuária, em particular da caprinocultura no semi-árido nordestino (MESQUITA, 2005). Segundo Soares (1989), o sistema radicular da maniçoba é bastante desenvolvido, formado por raízes tuberosas, onde acumula suas reservas, e proporciona à planta grande capacidade de resistência à seca, sendo uma das primeiras espécies da caatinga a desenvolver sua folhagem logo após o início do período chuvoso. Esta necessidade de produção e conservação de forragens de boa qualidade para fornecimento no período de seca regulariza a oferta de volumosos
durante todo o ano o que provoca uma busca de plantas nativas adaptadas e que sejam capazes de amenizar o problema (ALLEM et al., 2007). A maniçoba pode ser considerada uma forrageira com alto grau de palatabilidade, por ser bastante procurada por animais em pastejo. Além desse alto nível palatabilidade, ela ainda possui um razoável teor de proteína e também uma boa digestibilidade (ARAÙJO, 2004). No Brasil, a mandioca é freqüentemente cultivada para exploração econômica das raízes tuberosas e, eventualmente, da parte aérea na alimentação animal, apesar do seu alto valor nutritivo e ótima aceitabilidade pelos animais (JUNIOR et al., 2005). Segundo MADRUGA citado por MODESTI (2006) à folha da mandioca é um alimento rico em proteínas, vitaminas e minerais a baixo custo, que são na maioria das vezes desperdiçadas em todas as regiões brasileiras. No Nordeste brasileiro, há uma elevada quantidade de espécies que recebem o nome vulgar de maniçoba ou mandioca brava, sendo as principais: maniçobado-ceará (Manihot glaziovii Muell. Arg.), maniçoba-do-piauí (M. piauhyensis Ule.) e maniçoba-da-bahia (M. dichotoma Ule e M. caerulescens Pohl). Na área do Submédio São Francisco predomina a espécie M. pseudoglazovii (ARAÙJO, et al. 2004). As plantas de gênero Manihot apresentam em sua composição, quantidades variáveis de glicosídeos cianogênicos que ao se hidrolisarem e mediante a ação da enzima linamarase, dão origem ao ácido cianídrico (HCN). Este ácido, dependendo da quantidade ingerida por um animal, pode provocar intoxicação ou até mesmo morte súbita (SOUZA, et al.2006).
Devido à sua composição química, a maniçoba pode ser conservada na forma de silagem, sendo que nesse processamento de ensilagem se consegue uma redução no teor de HCN, diminuindo consideravelmente o risco de intoxicação A silagem de maniçoba tem bom valor nutritivo e é bem aceita por ovinos. (MATOS, et al. 2006). MATERIAS E MÉTODO As amostras foram coletadas no município de Central localizado no semi-árido baiano, após a coleta o material foi pesado e seco naturalmente ao sol, depois colocado em embalagens de plásticas e conduzidos ao LANA (laboratório de nutrição animal da escola de medicina veterinária da universidade federal da Bahia) onde foram feitas as análises. Amostras foram levadas à estufa de circulação forçada de ar à 55ºC por 72 horas, para secagem do material e para determinação da matéria seca (MS). Os teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN) e fibra em detergente ácido (FDA) foram obtidas segundo método adotado por Silva (1981). RESULTADOS E DISCUSSÃO A casca de mandioca é um subproduto proveniente da pré-limpeza da mandioca na indústria, constituído de ponta da raiz, casca e entrecasca. Este resíduo apresenta 85% de umidade. Para sua utilização, faz-se necessário à secagem do material ao sol durante três dias, atingindo teor de MS de aproximadamente 88%, segundo experimento realizado a casca de mandioca pode substituir o milho como fonte de energia, sem alterar o desempenho de novilhas terminadas em confinamento (PRADO, et al.2000).
Neste experimento obtevemos os seguintes resultados: 96,40%de MS, 7,5 de EE, 22,26%PB, 6,8% DE CINZAS; 33,42% de FDN; 19,96 de FDA; 11,89% de Celulose, 13,46% de Hemicelulose, 8,07% de Lignina, 30,03 % de carboidratos não fibrosos (CNF). As silagens de maniçoba emurchecida apresentaram teores mais elevados de MS, MM, EE, FDN, FDNc e NIDA que as silagens de maniçoba fresca, que pode ser atribuído ao próprio processo de desidratação parcial do material. Apesar dos percentuais de FDA não apresentarem diferenças significativas, as silagens emurchecidas mostram FDA superior, como os demais nutrientes (SOUZA, et al. 2006). Média dos valores (p.100 MS) de composição química da maniçoba in natura emurchecida e fresca. (Manihot epruinosa). Forrageira MS MM EE PB FDN FDA PT(eq. mg) CHOs Emurchecida 31,97 8,28 2,70 16,95 47,82 33,83 17,81 9,52 Fresca 23,01 8,08 2,97 16,16 47,98 33,43 17,18 14,00 (SOUZA, 2006). Os coeficientes de digestibilidade dos nutrientes da silagem de maniçoba foram acima de 60 % para as frações estudadas, ressaltando-se o da MS (72,49%), PB (64,89%), CT (76,72%), CNF (86,42%) e o NDT de 70,49%. O consumo de MS e MO foram, respectivamente de 678 e 605 g/d, 2,00 e 1,78 do PV e 48,10 e 42,91 g/pv 0,75 e, para a PB, FDNcp, CT, CNF e NDT, foram de 104,2; 197,0; 471,3, 281,5 e 486,19 g/d (MATOS et al., 2006). O teor de matéria seca do feno de maniçoba apresenta um comportamento elevado ao quadrado com relação ao tempo de desidratação, o tempo estimado para a desidratação da maniçoba até o ponto de feno é de 35,48
horas e não foram verificadas perdas de PB, FDN e MM durante o processo de fenação. (PINTO, et al. 2006). Análises químicas bromatológicas das folhas e dos ramos tenros da Manihot pseudoglaziovii, Freqüentemente apresentam os seguintes valores (% na MS): 20,88(PB), 8,30 (EE), 13, 96, 49, 98, 6, 88, 62,30 %, respectivamente para proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra bruta, extrato não nitrogenado (ENN), cinzas e digestibilidade (ARAUJO, et al. 2004). A tabela abaixo nos fornece os valores médios da composição química - bromatológica da matéria natural da maniçoba e da maniçoba mais o farelo de palma, no momento da ensilagem. Tratamentos Variáveis MS(%) CHOs(%) PB(%) FDN(%) N-NH3 PT ph (% NT) A0 27,24 12,77 14,35 44,76 0,27 41,08 5,22 A10 32,19 15,36 13,12 44,84 0,34 45,66 5,39 A20 38,19 16,55 9,86 45,81 0,35 48,08 5,57 A30 43,07 15,23 9,50 45,12 0,42 52,58 5,52 A40 48,29 13,37 8,17 46,13 0,55 55,09 5,56 A0 = sem aditivo; A10 = 10% de farelo de palma; A20 = 20% de farelo de palma; A30 = 30% de farelo de palma; A40 = 40% de farelo de palma. Fonte: ANDRADE (2008) CONCLUSÃO Diversos autores encontraram diferentes resultados referentes ao teor de matéria seca da mandioca, Neste experimento foram encontrados 96,40% de matéria seca enquanto que SOUZA (2006) apresentou 31,97 % de matéria seca para a mandioca emurchecida e 23,01% de matéria seca para a mandioca
fresca, já MATOS et al. (2006) Obtiveram em experimento 72,49% de matéria seca na silagem, ANDRADE (2008) 27,24% de meteria seca na silagem, PRADO (2000) encontrou 88,68 % de MS na casca da mandioca. Os valores para Proteína bruta também diferiram nos referentes trabalhos, Neste experimento foi encontrado 22,26% de PB enquanto SOUZA (2006) encontrou 16,95 % PB para mandioca emurchecida e 16,16%PB para mandioca fresca, MATOS (2006) 64,89 % PB na ensilagem, ARAÚJO (2004) 20,88 % PB nas folhas e ramos tenros, ANDRADE (2008) PB na matéria natural, e PRADO (2000) 3,37% PB na casca da mandioca. Esses valores diferiram nos trabalhos provavelmente aos diferentes processamentos da manihot e também as diferentes espécies que foram trabalhadas por estes autores sem citações especificas. REFERÊNCIAS ANDRADE, M.V.M.de. MANIÇOBA (Manihot glaziovii), Disponível em: < http://www.cca.ufpb.br/lavouraxerofila/pdf/manicoba.pdf> Acesso em 08 de janeiro de 2008. ALEM A. C; MENDES, R. A; CAVALCANTI, J; SOARES, J. G. G; SALVIANO, L.M.C; CARVALHO, P. C. L; Recursos genéticos de maniçobas (Manihot spp. Euphorbiaceae) para forragem no Nordeste semi-árido. Recursos Genéticos e Melhoramento de Plantas para o Nordeste Brasileiro. Disponível em: <http://www.cpatsa.embrapa.br/catalogo/livrorg/manicobarecursosgeneticos.pdf> Acesso em 08 de Janeiro de 2008. ARAÙJO, G. G. L; MOREIRA, J. N; FERREIRA, M. A; TURCO, S. H. N; SOCORRO, E. P; Consumo voluntário e desempenho de ovinos submetidos a dietas contendo diferentes níveis de feno de maniçoba. Revista Ciência Agronômica, Vol. 35, N 1 jan. - jun., 2004: 123 130. JUNIOR, N. S. C; VIANA, A. E. S; MATSUMOTO, S. N; SYDIAMA, T; AMARAL, C. L. F; PIRES, A. J. V; RAMOS P. A. S. Efeito do nitrogênio sobre o teor de ácido cianídrico em plantas de mandioca. Maringá, v. 27, n. 4, p. 603-610, Oct. /Dec., 2005. MATOS, D. S; GUIM, A; BATISTA, A. M. V; PERREIRA, O.G MARTINS.V; Composição química e valor nutritivo da silagem de maniçoba (Manihot Epruinosa) Arquivos de zootecnia vol. 54, N. 208, p. 628, 2006. MODESTI, C. F; Obtenção e caracterização de concentrado protéico de folhas de mandioca submetido a diferentes tratamentos. Dissertação de mestrado, 2006.
PINTO, M. S. C; ANDRADE, M. V. M; SILVA, D. S; PEREIRA, W. E; Curva de desidratação da maniçoba (MANIHOT PSEUDOGLAZIOVII) durante do processo de fenação Arch. Zootec. 55 (212): 389-392. 2006. PRADO, I. N; MARTINS, A. S; ALCATE, C.R; ZEUOLA, L. M; MARQUES, J. A; MARQUES, J. A; Desempenho de Novilhas Alimentadas com Rações Contendo Milho ou Casca de Mandioca como Fonte Energética e Farelo de Algodão ou Levedura como Fonte Protéica Rev. bras. Zootec., 29(1):278-287, 2000. SILVA, D. J. Análise de alimentos (métodos químicos e biológicos). Viçosa, MG: UFV, 1981. 116p. SOARES, J.G.G. Utilização e produção de forragem de maniçoba. In: ENCONTRO NORDESTINO DE MANIÇOBA, 1. 1989. Recife. Anais... Recife: IPA, 1989. P. 20-28. (Coleção Mossoroense, C). SOUZA, E. J. O; GUIM, A; BATISTA, A. M. V; ZUMBA, E. R. F; SANTOS, E. P; SOUZA, K. S; SANTOS, G. R. A; LINS, N. B; MATOS, D. S; Qualidade de silagem da maniçoba (Manihot epruinosa) emurchecida. Arquivos de zootecnia vol. 55, n 212 p. 352,2006.