Myelography in orange-spined-hairy-dwarfporcupine (Sphiggurus villosus)

Documentos relacionados
AGENESIA EM COLUNA LOMBAR EM FELINO RELATO DE CASO

Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas. Emergências Neurológicas

Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS.

DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL TÓRACO-LOMBAR EM FELINO DOMÉSTICO RELATO DE CASO

EDITAL Nº 20 /2015 FUNDAÇÃO MUNICIPAL DE ENSINO SUPERIOR DE BRAGANÇA PAULISTA

Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS.

EXAME DE URETROGRAFIA CONTRASTADA PARA DIAGNÓSTICO DE RUPTURA URETRAL EM CANINO RELATO DE CASO

Anais do 38º CBA, p.0882

No caso de uma lesão, a mielografia serve para identificar a extensão, o tamanho e o nível da patologia. Outro aspecto importante nesse exame é a

Estudo por imagem do trauma.

FRATURA DE MANDÍBULA SECUNDÁRIA À DOENÇA PERIODONTAL EM CÃO: RELATO DE CASO

Recuperação de função neurológica após tratamento conservativo de luxação atlantoaxial em cão politraumatizado Relato de caso

PROGRAMA DE APRIMORAMENTO PROFISSIONAL - PAP MICHELLE LOPES AVANTE

NEUROCIRURGIA o que é neurocirurgia?

ANEXO I ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: CIRURGIA DE PEQUENOS ANIMAIS

Campus Universitário s/n Caixa Postal 354 CEP Universidade Federal de Pelotas.


Ciência Rural ISSN: Universidade Federal de Santa Maria Brasil

Mielografia lombar no diagnóstico de extrusão do disco intervertebral toracolombar em cães: estudo prospectivo

USO DE FIXADOR ESQUELÉTICO EXTERNO TIPO II NA OSTEOSSÍNTESE DE TÍBIA E FÍBULA DE CADELA

Raças Top de Ohio que o Parta Pugshund!!!!

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR

EDITAL Nº23/2012 (RETIFICADO)

Estudo clínico-radiográfico da subluxação atlantoaxial congênita em cães Clinic-radiographic study of congenital atlantoaxial subluxation in dogs

DIAGNÓSTICO DA DOENÇA DO DISCO INTERVERTEBRAL EM CÃES ATRAVÉS DA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA E DA TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

Gerais. Recebido: 25 de Janeiro de 2018; Revisado: 11 de março de 2018.

LESÕES TRAUMÁTICAS DA COLUNA

ASPECTOS ULTRASSONOGRÁFICOS DE NEOPLASIA HEPÁTICA EM PERIQUITO AUSTRALIANO (Melopsittacus undulatus): RELATO DE CASO

Diagnóstico por imagem da coluna lombar

Médico Cirurgia de Coluna

TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR

Tratamento cirúrgico de condroma extradural lombar em cão - relato de caso. Surgical treatment of lumbar extradural chondroma in a dog - case report

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Disponível em: <

Prof. Fernando Ramos Gonçalves _Msc

PUBVET, Publicações em Medicina Veterinária e Zootecnia. Regeneração espontânea da lesão do plexo braquial no gato: Relato de caso

ANEXO IV CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DAS PROVAS E RESPECTIVAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

A maioria das crianças com traumatismo craniano são jovens, do sexo masculino e têm trauma leve.

Esofagograma. Esofagograma ESÔFAGO E ESTÔMAGO 07/03/2018. Preparo do animal: Profa. Dra. Juliana PeloiVides 07/03/2018.

RELAÇÃO ENTRE AS DIMENSÕES DO CORAÇÃO, A MORFOMETRIA TORÁCICA E AS ONDAS DO ECG EM CÃES

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

Médico Vet...: HAYANNE K. N. MAGALHÃES Idade...: 12 Ano(s) CRMV...: 2588 MICROCHIP/RG..: Data de conclusão do laudo..: 02/04/2019

Eixos e Planos de Construção do Corpo de Vertebrados

Médico Vet...: REINALDO LEITE VIANA NETO. MICROCHIP/RG..: Data de conclusão do laudo..: 17/12/2018

42º Congresso Bras. de Medicina Veterinária e 1º Congresso Sul-Brasileiro da ANCLIVEPA - 31/10 a 02/11 de Curitiba - PR 1

Introdução. Graduanda do Curso de Medicina Veterinária UNIVIÇOSA. 2

área acadêmica. estudo por imagem da coluna vertebral

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS DAS PROVAS E RESPECTIVAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

DISCOPATIA TORACOLOMBAR

ESPONDILOPATIA CERVICAL OU SÍNDROME DE WOBBLER:

PLANO DE ENSINO DA DISCIPLINA

Debates prós e contras

É o estudo contrastado das articulações sinoviais e estruturas de tecidos moles relacionadas. As articulações que podem ser examinadas por este

Deformidades no crescimento

área acadêmica. Anatomia radiológica da coluna. estudo por imagem da coluna vertebral

Prepare-se para a consulta com seu médico

A IMPORTÂNCIA DO RAIOS X PARA O DIAGNÓSTICO DE DISPLASIA COXOFEMORAL

COMPRESSÃO MEDULAR. Aline Hauschild Mondardo Laura Mocellin Teixeira Luis Carlos Marrone Carlos Marcelo Severo UNITERMOS KEYWORDS SUMÁRIO

Programa para Seleção Clínica Cirúrgica e Obstetrícia de Pequenos Animais

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE VETERINÁRIA DEPARTAMENTO DE MEDICINA E CIRURGIA VETERINÁRIA

ASSOCIAÇÃO DE FIXADOR ESQUELÉTICO EXTERNO COM PINO INTRAMEDULAR EM CONFIGURAÇÃO TIE-IN NO TRATAMENTO DE FRATURA DE ÚMERO EM CÃO RELATO DE CASO

Profa Dra Eliana Marisa Ganem CET/SBA do Depto. de Anestesiologia Faculdade de Medicina de Botucatu UNESP

ATUAÇÃO DO TECNÓLOGO EM RADIOLOGIA NA ÁREA DA MEDICINA VETERINÁRIA

UTILIZAÇÃO DE PROTOCOLO ANESTÉSICO COM TILETAMINA+ZOLAZEPAM EM UMA VEADA CATINGUEIRA (Mazama Gouazoubira) COM FRATURA DE PELVE- RELATO DE CASO

Materias e medicamentos utilizados nos exames abaixo:

CREATININA Valores de referência- Canino RESULTADO...: 1,20 mg/dl De 0,5 a 1,5 mg/dl MATERIAL UTILIZADO : SORO SANGÜINEO MÉTODO : CINÉTICO

03,04, 24 e 25 de Outubro 2015

Diagnóstico por imagem nas alterações relacionadas ao envelhecimento e alterações degenerativas da coluna vertebral

Requisitos de Inscrição

ELABORADORES. Maíza Sandra Ribeiro Macedo Coordenação Geral. Robson Batista Coordenação Administrativa. Lícia Muritiba Coordenação de Enfermagem

Súmario. Introdução. O que é hérnia de disco? O que causa a hérnia de disco? Sintomas. Diagnóstico. Tratamento. Como conviver com o diagnóstico

Aspectos tomográficos da coluna cervical de equinos

Introdução à Anatomia

LOMBALGIA AGUDA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA? TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA? RAIOS-X? OUTROS? NENHUM?

Atendimento Inicial ao Traumatizado

Imagens para prova prática diagnóstico por imagem Professora: Juliana Peloi Vides

HEMIPARESIA E DÉFICITS NEUROLÓGICOS ASSIMÉTRICOS

TÍTULO: NÃO HÁ APLICABILIDADE PARA A HASTE DE POLIAMIDA PARA CORREÇÃO DE FRATURAS EM AVES?

Injeção de Contraste Iodado

Data da conclusão do laudo.:16/10/2018

Semina: Ciências Agrárias ISSN: X Universidade Estadual de Londrina Brasil

Ministério da Saúde SECRETARIA DE ATENÇÃO À SAÚDE PORTARIA Nº 765 DE 29 DE DEZEMBRO DE 2005

Pedro Sampaio Vieira Orientador: Marcelo Gattass SISTEMA DE MODELAGEM 3D DE COLUNA VERTEBRAL BASEADO EM IMAGENS DE RAIOS-X

MANUAL DE PROTOCOLOS TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA

PRODUÇÃO TÉCNICA DESENVOLVIMENTO DE MATERIAL DIDÁTICO OU INSTRUCIONAL

ORLANDO MARCELO MARIANI¹, LEONARDO LAMARCA DE CARVALHO¹, ELAINE CRISTINA STUPAK¹, DANIEL KAN HONSHO¹, CRISTIANE DOS SANTOS HONSHO¹

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

Anatomia da Medula Vertebral

DIAGNÓSTICO POR IMAGEM. Profa Dra Sandra Zeitoun UNIP

Indicações, vantagens e desvantagens da TC e RM.

FÍSTULA INFRAORBITÁRIA EM CÃO RELATO DE CASO INFRA-ORBITAL FISTULA IN DOG - CASE REPORT

Radiologia do crânio e face

AVALIAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DO FÊMUR DE UM CÃO COM NECROSE ASSÉPTICA DA CABEÇA DO FÊMUR

CARNEIRO, Rosileide dos Santos Médica Veterinária do Hospital Veterinário do Centro de Saúde e Tecnologia Rural, UFCG, Patos-PB, Brasil.

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

Cuidados Pré, Trans e Pós-Operatório. Prof. Diogo Mayer Fernandes Técnica Cirúrgica Medicina veterinária Faculdade Anhanguera de Dourados

Livros Grátis. Milhares de livros grátis para download.

Resumo: Anais do 38º CBA, p.1725

Transcrição:

Universidade de São Paulo Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI Sem comunidade WoS 2012 Myelography in orange-spined-hairy-dwarfporcupine (Sphiggurus villosus) ARQUIVO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINARIA E ZOOTECNIA, MINAS GERAIS, v. 64, n. 1, supl. 1, Part 1-2, pp. 63-66, FEB, 2012 http://www.producao.usp.br/handle/bdpi/41864 Downloaded from: Biblioteca Digital da Produção Intelectual - BDPI, Universidade de São Paulo

Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.64, n.1, p.63-66, 2012 Mielografia em ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus) [Myelography in orange-spined-hairy-dwarf-porcupine (Sphiggurus villosus)] N.T. Sant Anna 1, B.S. Silva², G.C. Soresini 3, L.C.S. Silva 4 1 Viva Bicho Clínica Veterinária e Consultoria - Piracicaba, SP 2 Aluna de pós-graduação - Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR, PR 3 Centro de Triagem de Animais Silvestres Cetas - PUCPR/IBAMA, PR 4 Aluna de pós-graduação - Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia - FMVZ-USP, SP RESUMO Relata-se o procedimento de mielografia em um ouriço-cacheiro Sphiggurus villosus, adulto, procedente de vida livre. Após o exame e com o animal sob anestesia geral, evidenciou-se um desvio dorsal do contraste na altura da sétima vértebra torácica (T 7 ), causado por compressão em região ventral dessa vértebra, sugestivo de edema ocasionado pela hemorragia intramedular secundária ao trauma sofrido pelo animal em vida livre. Assim sendo, a mielografia em ouriço-cacheiro mostrou ser bastante válida e eficiente ao apresentar como vantagens a maior precisão para delimitar e localizar a lesão presente na coluna vertebral. Palavras-chave: roedor, radiografia contrastada, coluna vertebral ABSTRACT The myelography procedure is reported in an adult of the Sphiggurus villosus (hairy-tree-porcupine) species coming from the wild, in the region of Curitiba/PR. After proceeding with the examination, while the animal was under general anesthesia, there was a dorsal deviation of the contrast in the height of the seventh thoracic vertebra (T 7 ) caused by compression in the ventral region of the vertebra. This is suggestive of edema caused by intramedullary hemorrhage secondary to trauma suffered by the animal in the wild. Therefore, the use of myelography in Sphiggurus villosus (hairy-tree-porcupine) proved to be quite valid and efficient, presenting the advantages of greater precision to delimit and locate the lesion present in the vertebral column. Keywords: rodents, contrast radiography, vertebral column INTRODUÇÃO O ouriço-cacheiro (Sphiggurus sp.) pertence à maior ordem da classe dos mamíferos, os roedores. Nesta classe, atualmente se encontram 2.021 espécies, 443 gêneros e 29 famílias (Wilson e Reeder, 1993), sendo o gênero Sphiggurus (F. Cuvier, 1823) composto por cinco espécies encontradas no Brasil. Na região Sul, são encontradas duas espécies, S. spinosus e S. villosus (Oliveira e Bonvicino, 2006). O conhecimento da anatomia é fundamental para a avaliação das radiografias, sendo o desconhecimento um dos elementos que dificultam a interpretação dos exames de animais selvagens. Exames contrastados, como urografia excretora, uretrocistografia, fistulografia, mielografia, sinografia, peritoneografia, angiografia, traqueografia, broncografia e artrografia, também podem ser realizados em animais selvagens, todavia suas descrições na literatura ainda são escassas (Pinto, 2007). A radiografia convencional é o método mais utilizado para obtenção de imagens neurológicas veterinárias, devido ao seu baixo custo e ampla disponibilidade, já a mielografia é o Recebido em 9 de maio de 2011 Aceito em 21 de junho de 2011 E-mail: nathresant@hotmail.com

Sant Anna et al. procedimento de contraste que mais traz benefícios diagnósticos para a neuroradiologia (Slatter, 1998). A mielografia é realizada após a efetuação do estudo radiográfico rotineiro da coluna vertebral e consiste na aplicação de meio de contraste à base de iodo no canal medular, iopamidol e iohexol, por exemplo. A introdução desse meio de contraste é feita no espaço subaracnoideo com o propósito de demonstrar lesão em medula espinhal, podendo ser intramedular, devido a tumores medulares ou edema de medula em decorrência de traumatismo, ou extramedular, devido à herniação de disco intervertebral, fratura ou luxação vertebral, ou tumores de origem extradural (Slatter, 1998; Kealy e McAllister, 2005; Knipe, 2007). As regiões de escolha para aplicação do meio de contraste são a lombar, entre a última vértebra lombar e a primeira sacral, ou a região da cisterna magna, entre o crânio e a primeira vértebra cervical, após assepsia prévia do local (Kealy e McAllister, 2005). O exame pode confirmar a lesão vista ou suspeita em radiografias simples, definir a extensão da lesão, ou identificar pacientes que possam ser beneficiados por meio de procedimento cirúrgico (Thrall, 2002). A mielografia está contraindicada quando o diagnóstico é obtido mediante radiografia simples, ou quando as informações por ela obtidas não alterarem o curso do tratamento (Slatter, 1998), e em quadros de doença inflamatória (Kealy e McAllister, 2005). Possíveis complicações deste exame podem decorrer em razão da neurotoxicidade, ainda que baixa, do contraste utilizado, causando convulsão após a realização do exame, apneia, arritmias cardíacas e sinais neurológicos associados ao traumatismo causado pela inadequada aplicação da agulha. A convulsão é facilmente revertida com o uso de diazepam intravenoso (Barone et al., 2002; Kealy e McAllister, 2005). Este trabalho tem como objetivo relatar o procedimento de mielografia em um indivíduo adulto de ouriço-cacheiro procedente de vida livre. CASUÍSTICA Um exemplar adulto de ouriço-cacheiro (Sphiggurus villosus) com massa corpórea de 1,3kg, proveniente da cidade de Curitiba/PR, foi recebido para tratamento médico veterinário especializado. Foi realizado, então, um exame físico completo, estando o animal sob anestesia geral por meio do protocolo de administração de zoletil 50 na dose de 5mg/kg/IM, associado ao butorfanol no volume de 0,12mL/SC, quando foi constatado que o animal se apresentava com prostração, anorexia, secreção nasal bilateral, paresia de membros pélvicos e lesões em pele severamente contaminadas. Havia uma lesão de cinco centímetros de diâmetro em dorso, localizada em região pélvica, bastante profunda e com um odor fétido, além também de algumas lesões perfurantes com secreção purulenta na região da cauda, sugestivo de ataque por carnívoros. A auscultação cardiorrespiratória mostrou-se dentro dos parâmetros normais para a espécie. Não foi detectada crepitação em nenhum segmento vertebral durante o exame ortopédico realizado. O paciente demonstrou resposta à dor profunda em membros pélvicos. Devido à inexistência de diagnóstico preciso até o momento do exame clínico, o animal foi encaminhado para exames radiográficos. Inicialmente foram feitas radiografias simples, de dupla exposição ventrodorsal e laterolateral, de todos os segmentos vertebrais, não sendo observadas quaisquer alterações. Dessa maneira, optou-se por realizar um exame contrastado, a mielografia. Para a realização do exame, o paciente estava sob anestesia geral (Zoletil 50-5mg/kg/IM), e a pele da região da articulação atlanto-occipital foi preparada com tricotomia e assepsia cirúrgica correta. Não foi possível efetuar a entubação do paciente, porém ele se encontrava sob monitoramento cardiorrespiratório. Como não foram encontradas doses sugestivas para o uso de contraste em ouriços, utilizou-se, então, experimentalmente, a mesma dose indicada para cães de 0,3mL/kg de peso corporal (Tudury et al., 1997; Slatter, 1998; Kealy e McAllister, 2005), totalizando, assim, 0,4mL de ioversol 320mg I/mL (Tudury et al., 1997). Uma agulha 25mmx0,7mm (22G 1) foi inserida na cisterna magna, com o animal posicionado em decúbito lateral e a saída de líquido cefalorraquidiano (LCR) constatou o correto 64 Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.64, n.1, p.63-66, 2012

Mielografia em ouriço-cacheiro... posicionamento dela. Após a saída de quatro gotas de LCR, procedeu-se à administração de 0,4mL do meio de contraste à base de iodo não iônico, ioversol, lentamente, por um período de dois minutos. Após tal procedimento, o animal teve sua cabeça e pescoço elevados para que o contraste fluísse caudalmente no interior do canal medular. Ao término da injeção do meio de contraste, iniciaram-se, então, exames radiográficos em intervalos de cinco minutos cada. Foram obtidas duas incidências radiográficas, decúbito lateral e dorsal, dos segmentos vertebrais cervical, torácico e toracolombar. Foi evidenciado desvio dorsal da coluna de contraste na altura da sétima vértebra torácica (T 7 ), causado por compressão em região ventral desta vértebra. A coluna de contraste não alcançou a região da cauda equina (Fig. 1). O animal, após o procedimento radiográfico, foi monitorado até o seu completo retorno da anestesia efetuada e não apresentou qualquer indício de alteração de comportamento. Figura 1. Mielografia mostrando que a coluna de contraste não alcançou região da cauda equina. DISCUSSÃO Segundo Cooper (1996), as interações intraespecíficas e interespecíficas podem resultar em lesões traumáticas em animais de vida livre, como em casos de predação, defesa de território e atividades relacionadas com o acasalamento, fato esse observado no presente trabalho, em que o animal relatado apresentava lesões sugestivas de interação interespecífica, provavelmente advindas de alguma espécie de carnívoro. Esse autor ainda citou que os animais afetados por injúrias traumáticas geralmente exibem sinais de dor com feridas externas visíveis ou palpáveis, podendo também ocorrer paresia e paralisia no animal. E como forma de diagnóstico, além de uma completa avaliação à procura de escoriações, hematomas ou outros indícios de trauma, exames radiográficos ou mesmo outras técnicas imaginológicas podem ajudar no fechamento de um correto diagnóstico para certos tipos de trauma, o que corrobora com os achados no presente relato. Os resultados radiográficos do exame contrastado evidenciaram a existência de lesão intramedular, tendo como possível causa o edema ocasionado pela hemorragia intramedular secundária ao trauma, conforme descreve Knipe (2007). Entretanto atualmente a mielografia está sendo substituída pela ressonância magnética devido a sua maior precisão e à ausência de eventuais efeitos colaterais associados com a administração do meio de contraste iodado (De Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.64, n.1, p.63-66, 2012 65

Sant Anna et al. Lahunta e Glass, 2007), bem como pela tomografia computadorizada, a qual é uma ferramenta muito útil na avaliação de estruturas como a cabeça e a coluna vertebral, pois minimiza os efeitos de sobreposição de tecido ósseo e de tecidos moles, os quais ocorrem nas radiografias (Evans e Souza, 2010). O tratamento paliativo para a lesão descrita consiste em uma combinação de restrição de espaço, reabilitação física e a administração de analgésicos e anti-inflamatórios. O uso deste último ainda é um assunto de considerável debate, existindo casos de melhora e de piora quando tais drogas são prescritas (Srugo et al., 2010). Como alguns casos de fatalidades traumáticas envolvendo animais selvagens não podem ser tratados de maneira satisfatória, a eutanásia é uma opção de escolha. Os fatores que devem ser levados em consideração incluem a severidade das lesões, a espécie animal, as exigências e a perspectiva a longo prazo (Cooper, 1996). No presente caso, a eutanásia foi realizada devido às condições desfavoráveis de tratamento, recuperação e sobrevivência do paciente em seu hábitat. CONCLUSÕES A utilização da mielografia em Sphiggurus villosus (ouriço-cacheiro) mostrou ser bastante válida e eficiente, apresentando como vantagens a maior precisão para delimitar e localizar a lesão presente na coluna vertebral. REFERÊNCIAS BARONE, G.; LISA, S.Z.; FRANCES, S.S.; SHELDON, A.S. Risk factors associated with development of seizures after use of iohexol for myelography in dogs: 182 cases. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.220, p.1499-1502, 2002. COOPER, J. E. Physical Injury. In: FAIRBROTHER, A.; LOCKE, L.N.; HOFF, G.L. (Eds). Noninfectious Diseases of Wildlife. 2.ed. London: Manson Publishing, 1996, p.157-172. DE LAHUNTA, A.; GLASS, E. Small animal spinal cord disease. In:. (Eds). Veterinary Neuroanatomy and Clinical Neurology. 3.ed., St. Louis: W.B. Saunders, 2007. p.243-285. EVANS, E.E.; SOUZA, M.J. Advanced Diagnostic Approaches and Current Management of Internal Disorders of Select Species (Rodents, Sugar Gliders, Hedgehogs). Vet. Clin. Exot. Anim., v.13, p.453-469, 2010. KEALY, J.K.; McALLISTER H. Radiologia e Ultrassonografia do Cão e do Gato. 3.ed. Barueri: Manole, 2005. 436p. KNIPE, M.F. Principles of Neurological Imaging of Exotic Animal Species. Vet. Clin. Exot. Anim., v.10, p.893-907, 2007. LANGE, R.R; SCHMIDT, E.M.S. Rodentia Roedores Silvestres (Capivara, Cutia, Paca, Ouriço). In: CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J.L. (Eds.). Tratado de Animais Selvagens Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007. p.475-491. OLIVEIRA, J.A.; BONVICINO, C.R. Ordem Rodentia. In: REIS, N.R.; PERACCHI, A.L.; PEDRO, W.A.; LIMA, I.P. (Eds). Mamíferos do Brasil. Londrina: Nélio R. Dos Reis, 2006. p.347-406. PINTO, A.C.B.C. F. Radiologia. In: CUBAS, Z.S.; SILVA, J.C.R.; CATÃO-DIAS, J.L. (Eds.). Tratado de Animais Selvagens Medicina Veterinária. São Paulo: Roca, 2007, p.896-919. SLATTER, D. Manual de Cirurgia de Pequenos Animais. SP: Manole, v.1, p.582-590, 1998. SRUGO, I.; CHAI, O.; YAAKOV, C. et al. Successful medical management of lumbar intervertebral disc prolapse in a ferret. J. Small Anim. Pract., v.51, p.447-450, 2010. THRALL, D.E. Textbook of Veterinary Diagnostic Radiology. 4.ed. Philadelphia: Saunders, 2002. 758p. TUDURY, E.A.; ARIAS, M.V.B.; CAMARGO, P.L. et al. Meio de contraste ioversol em neuroradiologia canina. Cienc. Rural, v.27, 1997. WILSON, D.E.; REEDER, D.M. Mammals Species of the World A Taxonomic and Geografhic Reference. 2.ed. Smithsonian Institution, 1993. 1206p. 66 Arq. Bras. Med. Vet. Zootec., v.64, n.1, p.63-66, 2012