Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS.
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1 1 UTILIZAÇÃO DO ÍNDICE DE NORMALIDADE DA DISTÂNCIA ATLANTOAXIAL NO DIAGNÓSTICO DE SUBLUXAÇÃO DESTA ARTICULAÇÃO EM CÃES UTILIZATION OF THE NORMALITY INDEX OF THE ATLANTOAXIAL DISTANCE IN DIAGNOSTIC OF SUBLUXATION THIS JOINT IN DOGS Eduardo Alberto TUDURY 1 ; Amanda Camilo SILVA 2 ; Bruno Martins de ARAÚJO 3 1 Professor Associado IV do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Recife, PE, Brasil. eat@dmv.ufrpe.br. Autor para correspondência. 2 Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS. 3 Discente do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária da UFRPE. Resumo O índice de normalidade da distância atlantoaxial é um parâmetro radiográfico que permite uma avaliação quantitativa e reduz a subjetividade no diagnóstico da subluxação atlantoaxial (SAA). Objetivou-se verificar a eficácia desse índice no diagnóstico da subluxação atlantoaxial em cães. Foram utilizadas imagens radiográficas da coluna cervical em projeção lateral de 33 cães com SAA. Em cada imagem radiográfica foi mensurada a menor distância atlantoaxial dorsal, e o comprimento do processo espinhoso do áxis. Após a obtenção dos dados, estes foram aplicados à fórmula de coeficiente de correlação dimensional (CCD). Imagens da articulação atlantoaxial normal e as 33 imagens de SAA foram distribuídas aleatoriamente, e submetidas à análise subjetiva por três avaliadores. As 33 imagens com SAA foram submetidas à avaliação da relação angular entre o atlas e o áxis. Os valores de índice obtidos pela fórmula CCD em cães com a afecção variaram de 0,120-0,627, com valor médio de 0,287, e desvio padrão de 0,123, apresentando diferença significativa (P<0,0001) quando comparados com animais normais. A análise subjetiva revelou acerto de 88,89% a 95,24%, enquanto que a avaliação obtida através da fórmula CCD demonstrou ser 100% eficiente no diagnóstico da SAA. O valor médio obtido através do parâmetro angular foi 140,45 graus, desvio padrão de 20,878, e valores mínimo e máximo de 92 e 176 graus, respectivamente. Baseado nos resultados deste estudo, conclui-se que o índice de normalidade da distância atlantoaxial é eficaz no diagnóstico da SAA, independente do tamanho e idade dos animais. Palavras-chave: atlas, áxis, neurologia, subluxação Keywords: atlas, axis, neurology, subluxation Anais do 38º CBA, p.0480
2 2 Introdução A subluxação atlantoaxial é geralmente diagnosticada através dos sinais clínicos característicos, e confirmada diante dos achados radiográficos da coluna vertebral cervical em projeção lateral, lateral oblíqua e ventrodorsal (LORIGADOS et al. 2004; SEIM, 2008; FERNÁNDEZ e BERNARDINI, 2010). O principal achado radiográfico em projeção lateral é o aumento da distância entre o arco dorsal do atlas e o processo espinhoso do áxis (LORIGADOS et al. 2004; KEALY e MCALLISTER, 2005; SEIM, 2008; STURGES, 2009; FERNÁNDEZ e BERNARDINI, 2010), onde um espaço de mais de 4 a 5 mm entre a lâmina do atlas e o processo espinhoso do áxis geralmente permite estabelecer o diagnóstico em um cão de raça pequena (SEIM, 2008), podendo também ser observado o deslocamento dorsal e cranial do corpo do áxis em direção ao canal vertebral (LORIGADOS et al. 2004; KEALY e MCALLISTER, 2005; SEIM, 2008; STURGES, 2009; FERNÁNDEZ e BERNARDINI, 2010), que resulta na alteração da relação linear normal entre a lâmina dorsal do atlas e a lâmina dorsal do áxis, formando uma relação angular, que segundo Widmer e Thrall (2013) é o sinal radiográfico mais confiável no diagnóstico da subluxação atlantoaxial. A relação angular entre o atlas e o áxis pode ser mensurada, onde a citada angulação deve ser igual ou superior a 162 graus em cães normais (McLEAR e SAUNDERS, 2000). O índice de normalidade da distância atlantoaxial desenvolvido por Tudury e colaboradores (2014) trata-se de um estudo radiográfico envolvendo um índice de correlação de estruturas anatômicas (distância atlantoaxial dorsal e comprimento do processo espinhoso do áxis) em projeção lateral, de forma a permitir a realização de uma avaliação quantitativa, que aumenta a acurácia e diminui a subjetividade da avaliação radiográfica, auxiliando no diagnóstico da instabilidade atlantoaxial. Este índice evita a ocorrência de erros, levando em consideração a grande variabilidade de tamanho dos cães; apresentando valor médio de 0,056, desvio padrão de 0,019, e valores mínimo e máximo de 0,022 e 0,098, respectivamente, em cães não afetados (TUDURY et al., 2014). Objetivou-se com este trabalho verificar a eficácia do índice de normalidade da distância atlantoaxial dorsal no diagnóstico da subluxação atlantoaxial em cães. Metodologia Foram utilizadas imagens radiográficas da coluna vertebral cervical em projeção lateral, com 90 graus de flexão ou angulações superiores (mais próximas Anais do 38º CBA, p.0481
3 3 da extensão do pescoço), de 33 animais da espécie canina com SAA, sem distinção de raça, sexo, peso e idade, obtidas através de arquivos pessoais próprios e de vários neurologistas veterinários do Brasil. Em cada imagem radiográfica foi mensurada a menor distância existente entre o arco dorsal do atlas e a borda cranio-ventral do processo espinhoso do áxis (MDAA), e comprimento do processo espinhoso do áxis (CPEA). Após a obtenção dos dados, os mesmos foram aplicados a fórmula de coeficiente de correlação dimensional CCD = MDAA CPEA, segundo Tudury e colaboradores (2014). As 33 imagens radiográficas de subluxação atlantoaxial juntamente com 30 imagens radiográficas da articulação atlantoaxial normais foram distribuídas aleatoriamente, e submetidas à análise subjetiva por três profissionais experientes em neuroimagem, com o intuito de comparar a eficiência entre a avaliação subjetiva e a avaliação obtida através da fórmula CCD. Todas as imagens radiográficas com SAA foram submetidas à avaliação da relação angular entre o atlas e o áxis proposta por McLear e Saunders (2000). Os dados foram organizados e analisados através de tabelas, gráficos, medidas de tendência central, medidas de dispersão, e teste de hipótese: Teste paramétrico t de student; sendo utilizado o nível de significância de 5%. O software utilizado foi o GraphPad InStat versão Licença emitida pela Comissão de Ética para Uso de Animais (CEUA) da UFRPE: 017/2012. Resultados e Discussão As raças mais acometidas pela SAA segundo dados obtidos neste estudo foram Yorkshire Terrier (30,30%), Poodle (21,21%), cães sem raça definida (12,12%), Miniatura Pinscher (9,09%) e Lhasa apso (9,09%), entretanto a afecção também foi verificada em cães de outras raças como Maltês (6,06%), Chihuahua (6,06%), e Lulu da Pomerânia (3,03%), e ainda em um cão da raça Schnauzer (3,03%), o que corrobora com Beckmann e colaboradores (2010) ao afirmarem que a subluxação atlantoaxial é mais frequentemente observada em cães de raças toy ou miniatura, contudo pode acometer outras raças. A idade dos animais variou de 3 a 108 meses, onde 72,72% dos animais acometidos tinham idade igual ou inferior a 12 meses, mostrando que a afecção em questão é realmente mais frequente em animais jovens, sobretudo durante o primeiro ano de vida, como citam Seim (2008), Beckmann e colaboradores (2010) e Anais do 38º CBA, p.0482
4 4 Lorenz e colaboradores (2011), podendo ocorrer mais tardiamente em animais que geralmente tem a instabilidade desde o nascimento, mas trauma recente pode ter causado a ruptura dos ligamentos com compressão significativa da medula espinal e raízes nervosas, desencadeando os sinais clínicos (SEIM, 2008). Os valores de índices obtidos através da fórmula de coeficiente de correlação dimensional (CCD) nos cães com essa afecção variaram de 0,120 a 0,627, com valor médio de 0,287 e desvio padrão de 0,123, logo, observamos que todos os valores encontram-se acima dos valores detectados como normais na pesquisa desenvolvida por Tudury e colaboradores (2014), investigação esta que apresentou valor médio de 0,056 e limite máximo normal de 0,098. Na análise estatística para avaliação das diferenças de índices obtidos neste estudo em comparação com os índices de normalidade foi obtido valor de P < 0,0001, o que assinala a eficácia diagnóstica do índice de normalidade da distância atlantoaxial dorsal em cães. Esta ferramenta pode ser empregada rotineiramente diante da suspeita clínica da subluxação atlantoaxial, tendo em vista que anula a subjetividade da avaliação radiográfica, e trata-se de um método rápido, objetivo, prático, de fácil reprodução, independente do grau de experiência do profissional e da variabilidade de tamanho dos animais. A análise subjetiva revelou acerto de 88,89% a 95,24%, enquanto que a avaliação obtida através da fórmula CCD demonstrou ser 100% eficiente no diagnóstico da subluxação atlantoaxial. Neste estudo observamos que em sete casos (21,21%) não ocorreu a alteração da relação linear normal entre a lâmina dorsal do atlas e a lâmina dorsal do áxis, formando uma relação angular como descrito por Widmer e Thrall (2013). Desta forma, a citada relação angular pode não ser um sinal radiográfico 100% eficiente no diagnóstico da SAA. O parâmetro angular proposto por McLear e Saunders (2000) aplicado nas imagens radiográficas de cães com sinais clínicos e radiográficos de SAA resultou em valor médio de 140,45 graus, desvio padrão de 20,878, e valores mínimo e máximo de 92 e 176 graus, respectivamente. Três (9,09%) animais, radiografados com o pescoço em 90 graus de flexão, apresentaram angulação superior a 162 graus, valor este preestabelecido como limite inferior de normalidade, demonstrando assim que esse método não é 100% eficiente. Anais do 38º CBA, p.0483
5 5 Conclusão Baseado nos resultados deste estudo, conclui-se que o índice de normalidade da distância atlantoaxial é eficaz no diagnóstico da SAA, independente do tamanho e idade dos animais. Referências BECKMANN, D.V.; MAZZANTI, A.; SANTINI, G. et al. Subluxação atlantoaxial em 14 cães ( ). Pesq. Vet. Bras. vol.30, n.2, p , FERNÁNDEZ, V.L.; BERNARDINI, M. Enfermidades da medula com afecção neurológica secundária. In:. Neurologia em cães e gatos. São Paulo: MedVet, Cap 15. p KEALY, J.K.; MCALLISTER, H. Radiologia e ultra-sonografia do cão e do gato. 3ed. São Paulo: Manole, p LORENZ, M.D.; COATES, J.R.; KENT, M. Tetraparesis, hemiparesis, and ataxia. In:. Handbook of veterinary neurology. 5ed. St. Louis: Elsevier Saunders, Cap.7. p LORIGADOS, C.A.B.; STERMAN, F.A.; PINTO, A.C.B.F. Clinic-radiographic study of congenital atlantoaxial subluxation in dogs. Braz. J. Vet. Res. Anim. Scie. vol.41, n.6, p , McLEAR, R.C.; SAUNDERS, H.M. Atlantoaxial mobility in the dog. Vet. Radiol. & Ultrasound. Vol.41, n.6, p.558, SEIM, H.B. Cirurgia da coluna cervical. Instabilidade atlantoaxial. In: FOSSUM, T.W. Cirurgia de pequenos animais. 3 ed. Rio de Janeiro: Elsevier, Cap.38. pág STURGES, B.K. Diagnosis and treatment of atlantoaxial subluxation. In: BONAGURA, J.D.; TWEDT, D.C. Kirk s current veterinary therapy XIV. St. Louis: Saunders Elsevier, Chapter 236, p TUDURY, E.A.; SILVA, A.C.; ARAÚJO,B.M. et al. Normality index for dorsal atlantoaxial distance in toy dogs. Proceedings 17th ESVOT Congress, Venice (Italy), p WIDMER, W.R.; THRALL, D.E. The canine and feline vertebrae. In: THRALL, D.E. Textbook of veterinary diagnostic radiology. 6ed. St. Louis: Elsevier Saunders, Cap. 11, p Anais do 38º CBA, p.0484
Médica Veterinária, Doutora em Ciência Veterinária pela UFRPE. Professora do Curso de Medicina Veterinária da Faculdade IBGM/IBS.
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