Palavras-chave: Malformação, congênita, caprino, terceira falange Keywords: Malformation, congenital, goat, third phalanx

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1 1 MALFORMAÇÃO CONGÊNITA, BILATERAL, DA TERCEIRA FALANGE EM FILHOTE CAPRINO (Capra hircus) DA RAÇA SAANEN CONGENITAL AND BILATERAL MALFORMATION OF THE THIRD PHALANX IN A SAANEN GOATLING (Capra hircus) Priscila Canato SCHELLIN 1 ; Rafaela dos Santos SILVA 2 ; Jacinta Eufrásia Brito LEITE 3, Huber RIZZO 3, Angélica da Costa Ferreira de SOUZA 4, Vanja de Andrade GUEIROS 4 e Débora Monteiro de SOUZA 1 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, pri.schellin@hotmail.com 2 Médica Veterinária Autônoma, graduada na Universidade Federal Rural de Pernambuco 3 Professor(a) do Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco 4 Residente do Hospital Veterinário Escola da Universidade Federal Rural de Pernambuco Resumo: A presença de anomalias na estrutura e função de tecidos, órgãos e/ou sistemas, devido a falhas durante o desenvolvimento embrionário e/ou fetal, constitui a malformação congênita. Elas estão frequentemente associadas com a ocorrência de natimortos, mortes neonatais, comprometimento da produção e perdas econômicas. Dessa forma, diagnóstico dessas enfermidades associado ao estudo de sua etiologia, com o intuito de impedir que tais condições se perpetuem no rebanho, é fundamental, sendo a radiografia indicada quando há acometimento do sistema ósseo. O presente trabalho visa relatar um caso inédito na literatura de malformação congênita, bilateral, da terceira falange em filhote caprino (Capra hircus) da raça Saanen, a qual o diagnóstico foi confirmado através da realização do exame radiográfico. Palavras-chave: Malformação, congênita, caprino, terceira falange Keywords: Malformation, congenital, goat, third phalanx Revisão de Literatura: O estojo ósseo das extremidades distais dos membros compreende diversos ossos que têm a função primária de sustentar as estruturas dos pés. Cada dedo dos caprinos é formado por três falanges: proximal, intermédia e distal, sendo a terceira falange o osso mais susceptível a lesão, pois está mais exposta a traumatismos ou a agentes infecciosos (SILVA, 2009). Anais do 38º CBA, p.1346

2 2 A falange distal tem uma forma bastante modificada, semelhante à de cada úngula, onde se aloja, dividindo-se em quatro faces: articular, axial, abaxial e solear; à exceção da face articular, todas elas são percorridas por inúmeros orifícios vasculares. Na zona mais elevada existe o processo extensor, onde ocorre a inserção do tendão do músculo extensor comum dos dedos, do qual decorre uma crista até o vértice da falange que divide as faces axial e abaxial; o exame radiográfico permite a identificação dos componentes ósseos da extremidade distal do membro dos caprinos (ROMÃO, 2006). Em caprinos as fraturas dos dígitos podem ser traumáticas ou patológicas, abertas ou fechadas. As fraturas patológicas normalmente ocorrem em virtude de extensa destruição óssea ou em casos de laminite crônica (WEAVER, 1969). A presença de anomalias na estrutura e função de tecidos, órgãos e/ou sistemas, devido a falhas durante o desenvolvimento embrionário e/ou fetal, constitui a malformação congênita (RADOSTITS et al., 2007). As anomalias congênitas são comumente identificadas através da observação da estrutura anatômica alterada e/ou movimentos e comportamentos anormais do animal, podendo também comprometer sua produtividade; para consolidação diagnóstica pode-se optar pela utilização de exames complementares, como radiografias (TRHALL, 2014). No Brasil, são raros os relatos de defeitos congênitos ocorrendo individualmente em ruminantes, havendo maior destaque na literatura, quando um determinado defeito ocorre repetidamente em um mesmo rebanho ou área geográfica, sendo a ingestão de plantas tóxicas e agentes infecciosos as causas exógenas mais frequentemente citadas (OLIVEIRA et al., 2009; PIMENTEL et al., 2007). Dessa forma, o presente trabalho visa relatar um caso inédito na literatura de malformação congênita, bilateral, da terceira falange em filhote caprino (Capra hircus) da raça Saanen, a qual o diagnóstico foi confirmado através da realização do exame radiográfico. Descrição do Caso: Um filhote de caprino (Capra hircus), fêmea, três meses, da raça Saanen, foi conduzido ao veterinário por apresentar histórico de flexão caudal dos carpos desde 75 dias de nascido, e adoção do membro flexionado como apoio nos momentos de alimentação e deslocamento, com a porção rostral do membro realizando contato direto com o chão (i. e. posição de joelhos ). Com o decorrer do tempo, Anais do 38º CBA, p.1347

3 3 gradativamente observou-se redução da frequência e quantidade da alimentação do animal, com consequente perda de peso e limitação do seu desenvolvimento. O exame clínico revelou que o animal era capaz de se manter em estação apenas por breve período de tempo, e tal posição causava ao caprino desconforto e dor. O animal (animal 1) foi submetido ao exame radiográfico das falanges, nas projeções dorso-palmar e lateral. Para efeito comparativo das estruturas de interesse, foram obtidas imagens radiográficas das falanges de outro caprino hígido (animal 2), da mesma raça, idade, e rebanho. A técnica usada para ambos os casos foi de 60 kv por 4,0 ma/0,06 segundos e a distância foco/filme de 0,80 cm. Na projeção dorso-palmar observou-se que as falanges distais dos membros anteriores apresentavam-se consideravelmente menores do que o esperado para sua idade em caso de normalidade. Além disso, as extremidades das mesmas, de ambos membros, não apresentavam a conformação arredondada típica, exibindo formato pontiagudo na região mais distal, semelhante a um V, semelhante a espícula. A espessura da lâmina óssea apresentava-se mais delgada, e observou-se linha de fratura na falange distal, medial, esquerda. Na projeção médio-lateral, mais uma vez, confirmou-se a presença de fratura da falange distal, medial, esquerda. Sinais de osteoartrite foram observados na articulação interfalangeana distal desse mesmo dedo. Nas radiografias obtidas do animal sadio, nas projeções dorso-palmar e médio-lateral, a terceira falange encontrava-se na sua conformação anatômica, com bordas regulares, extremidades arredondadas, e desenvolvimento normal. Na projeção médio-lateral também não foram visibilizadas alterações anatômicas e os espaços articulares encontravam-se preservados. Discussão: Ao exame clínico, levantou-se a suspeita do animal em relato ser portador de alguma anomalia congênita dos membros torácicos por apresentar flexão caudal dos carpos como apoio tanto para se locomover, quanto nos momentos de alimentação, o que caracteriza comportamentos anormais. Optou-se, então, pela realização do exame radiográfico para maiores esclarecimentos, já que, segundo (ROMÃO, 2006), radiografias permitem a identificação dos componentes ósseos da extremidade distal do membro dos caprinos. Nas imagens obtidas pode-se observar a presença das falanges proximal, média e distal, caracterizando normalidade no que se refere ao número de ossos Anais do 38º CBA, p.1348

4 4 distais dos membros (SILVA, 2009), entretanto, visibilizou-se que as falanges distais de ambos membros torácicos apresentavam-se consideravelmente menores do que o esperado para idade desse filhote em caso de normalidade; as extremidades das mesmas não mantinham a conformação arredondada típica da espécie, exibindo formato pontiagudo na região mais distal, em V, semelhante a espícula, contrariando o formato necessário para a harmonia entre a terceira flange e a húgula (ROMÃO, 2006), comprometendo a sua função primordial de sustentação. Além disso, observou-se linha de fratura na falange distal, medial, esquerda, confirmando fratura, podendo ser classificanda como patológica, associada tanto ao processo inflamatório local instalado (laminite), (WEAVER, 1969), promovido pela mal formação da falange distal, quanto pela fragilidade da mesma no que se refere ao tamanho e a espessura da lâmina óssea. Sinais de osteoartrite foram observados na articulação interfalangeana distal desse mesmo dedo. Apesar da confirmação de todas essas alterações consolidarem mal formação congênita, de acordo com Radostists et al. (2007), não se pode descriminar o que motivou essas alterações. Por serem raros os relatos de defeitos congênitos individuais em ruminantes no Brasil (OLIVEIRA et al., 2009; PIMENTEL et al., 2007), torna-se relevante descrever esse caso de mal formação congênita da terceira falange em filhote caprino da raça Saanem, inédito na literatura consultada. Conclusão: Pode-se sugerir que a malformação congênita da terceira falange favorece fratura patológica da mesma e interfere na postura e comportamento do animal, e que o exame radiográfico consiste em um método eficaz de diagnóstico desta afecção. Referências: OLIVEIRA, H. S.; DUARTE, M. D.; BARBOSA, J. D.; MAGNO, C. & OLIVEIRA, C. Doenças congênitas em bovinos diagnosticadas pela central de diagnóstico veterinário (CEDIVET) da universidade federal do pará, no período de 1999 a Ciência Animal Brasileira, p , PIMENTEL, L. A.; CORREA, F. R.; GARDNER, D.; PANTER, K. E.; DANTAS, A. F. M.; MEDEIROS, R. M. T. & ARAÚJO, J. A. S. Mimosa tenuiflora as a cause of malformations in ruminants in the northeastern Brazilian semiarid rangelands. Veterinary Pathology Online, v. 44, n. 6, p , Anais do 38º CBA, p.1349

5 5 RADOSTITS, O. M.; GAY, C. C.; HINCHCLIFF, K. W. & CONSTABLE, P. D. A A textbook of the diseases of cattle, horses, sheep, pigs and goats. Veterinary medicine, v. 10, p , SILVA, L. A. F.; SILVA, C. A.; FIORAVANTI, M. C. S.; ROMANI, A. F.; RABELO, R. E. Características clínicas e epidemiológicos das enfermidades podais em vacas lactantes do município de Orizona GO. Ciência Animal Brasileira, v. 2, n. 2, p , ROMÃO, R. Anatomia da extremidade podal dos bovinos. I curso de podologia bovina da universidade de Évora [ONLINE]. Disponível: %20RR% pdf. [Capturado em 10 jan. 2017]. THRALL, D. E. Diagnóstico de radiologia veterinária. 7 ed. Rio de janeiro, Brasil: Elsevier, 2014, 864p. WEAVER, D. A. Joint conditions. In: GREENOUGH, P. R. Lameness in Cattle. 3a ed. Philadelphia: Saunders, 1997, p Anais do 38º CBA, p.1350