Estado da Paraíba Poder Judiciário Tribunal de Justiça Gabinete do Desembargador REMESSA OFICIAL N. 073.2003.000954-9 RELATOR : JOÃO MACHADO DE SOUZA IMPETRANTES: Alexandre Fernandes Camelo e outros (Advs. Fabiano Valdisio V. de Lacerda Filho) ',. Mendes Lyra e IMPETRADO: Município de Cabedelo, representado por seu Prefeito Constitucional 1 REMETENTE: Exma. Dra. Juíza de Direito da 4a Vara da Comarca de Cabedelo CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO. Remessa Oficial. Mandado de Segurança. Contribuição de I; Melhoria. Instituição pelo Município. Obra pública * não concluída. Impossibilidade. Valorização dos 'imóveis beneficiados. Lançamento com fulcro no dispêndio total da obra. Ilegalidade. Não pagamento do tributo. Inscrição na Dívida Ativa do Município. Ilegalidade. Precedentes desta Corte e do STJ - Inteligência do art. 557, do CPC - Seguimento negado.. "A contribuição de melhoria não pode basearse no custo da obra, e sim na valorização acrescida ao imóvel, que somente poderá ser calculada quando da conclusão da obra pública, comparando-se o valor do imóvel antes de iniciada a obra e depois da obra realizada, ou, quando parcialmente concluída, visando a cobrar o tributo somente dos proprietários,si OS imóveis por ela já beneficiados."
Enunciado n. 253 STJ - "O artigo 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário". VISTOS, etc. 1 ) Trata-se de remessa ex officio oriunda de sentença de fls. 95/97, prolatada pelo Juízo da 4 a Vara da Comarca de Cabedelo, que concedeu a segurança impetrada por Alexandre Fernandes Camèlo e outros, contra ato ilegal e abusivo do Sr. Prefeito do Município de Cabedelo. necessário. Sem recurso voluntário, subiram os autos para reexame Parecer da Procuradoria de Justiça, às fls. 106/108, opinando pelo improvimento da remessa. É o relatório. DECIDO. Os impetrantes, proprietários de imóveis localizados no bairro de intermares, no Munieípio de Cabedelo/PB; tiveram seus nomes inscritos na Dívida Ativa daquela edilidade, em decorrência do não pagamento de parcelas relativas ao programa "Rua Nova", instituídas com fundamento no tributo denominado contribuição de melhoria. Alegam que a mencionada ábrança configura-se ilegal e abusiva, pois a obra da qual decorreria a arrecadação do mencionado tributo, ainda não havia sido concluída, tornando-se, assim, inviável a constatação da valorização de cada imóvel. Também afirmam que não foram intimados para se I defenderem no processo administrativo realizado :para inscriçã do débito em dívida ativa, ferindo o princípio constitucional do devido processo legal. 1 A contribuição de melhoria, descrita em nosso ordenamento jurídico na Constituição Federal, art. 145, III e no Código TributárioNaCional, arts. 81 e 82, tem por finalidade exigir o pagamento de tributo dos proprietários de bens imóveis beneficiados com a realização de obra pública.
Portanto, contata-se que esta espécie tributária tem como fato gerador a valorização do imóvel que lhe acarreta real beneficio, não servindo como base de cálculo apenas o custo total da obra pública realizada. Assim, configura-se ilegal a inclusão dos nomes dos impetrantes na Dívida Ativa do Município de Cabedelo em: razão do não pagamento da contribuição de melhoria, uma vez que tal tribizto. só Pode ser cobrado após a conclusão da obra pública e demonstrando-se o' real benefício, aferido por cada imóvel beneficiado. Este é o entendimento pacífico do Superidi: - Tribunal de i; Justiça, senão vejamos: "TRIBUTO. CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA. FATO GERADOR. VALORIZAÇÃ IO DO IMÓVEL. ART. 81/CTN. PRECEDENTES DO, STF E STJ. 1. A contribuição de melhoria tem como fato gerador a valorização do imóvel que lhe acarreta real benefício, não servindo como base de cálculo, iltão-só o custo da obra pública realizada. 2. Recurso especial conhecido e provido." (STJ - REsp 280248 / SP ; RECURSO ESPECIAL 2000/0099433-2. Rel. Ministro Francisco Peçnha Martins. Órgão Julgador: Segunda Turma. Data do Julgamento: 07/05/ 2002.) "TRIB UTARIO - CONTRIBUI ÇÃO DE MELHORIA - FATO GERADOR - BASE DE CALCULO - REQUISITOS DA VALORIZAÇÃO OU DE ESPECIFICO BENEFICIO - ARTIGO 18, II, C F./67 (EMENDA 23/83) - ARTIGO 145, II, C. F./88 - ARTIGOS 81 E 82, CTN - DECRETO-LEI N. 195/67 (ARTIGOS 1., 2. E 3.) -. 1. RECAPEAMENTO DE VIA PUBLICA, COM O CUSTO COBERTO POR UM "PLANO DE RATEIO ENTRE TODOS OS BENEFICIADOS", AFRONTA EXIGENCIAS LEGAIS (ARTS. 81 E 82, CTN -; DECRETO-LEI 195/67, ARTS. 1. E 2.) -. 2. ILEGALIDADE DO LANÇAMENTO DE CONTRIBUIÇÃO DE MELHORIA BASEADO NO CUSTO, SEM A DEMONSTRAÇÃO DOS PRESSUPOSTOS DE VALORIZAÇÃO 'bu ESPECIFICO BENEFICIO, CONSEQUENTE DA OBRA PUBLICA REALIZADA NO LOCAL DE SITUAÇÃO DO IMOVEL. 3. PRECEDENTES
JURISPRUDENCIA. 4. RECURSO PROVIDO. "(STJ - REsp 634 / SP ; RECURSO ESPECIAL 1989/0009907-8, Órgão julgador: Primeira Turma, Rel. MM. Milton Luiz Pereira. Data do Julgamento: 09/03/1994). Grifo nosso. Inclusive, este foi o entendimento exposto por esta Corte de Justiça, em caso semelhante, cuja ementa transcrevo em parte: "...CONSTITUCIONAL e TRIBUTÁRIO - Apelação Cível - Mandado de Segurança Coletivo - Contribuição de Melhoria - imposição por Município - Obra não concluída - Valorização não aquilatada - Lançamento do tributo baseado no custo total da obra - Provimento. - A contribuição de melhoria não pode basear-se no custo da obra, e sim na valorização acrescida ao imóvel, que somente poderá ser calculada quando da conclusão da obra pública, comparando-se o valor do imóvel antes de iniciada a obra e depois da obra realizada, ou, quando parcialmente concluída, visando a cobrar o. tributo somente dos proprietários dos imóveis por ela já beneficiados. - Ao exigir o pagamento de contribuição de melhoria, a entidade tributante tem de demonstrar o amparo 'nas particularidades que seguem; a) exigência fiscal que deriva de custeio originado de obra pública realizada; h) valorização do imóvel provocada pela obra pública; c) a base de cálculo é a:diferença entre dois momentos: primeiro, o valor do imóvel antes da obra ser iniciada; segundo, o valor do imóvel após ii conclusão da obra. (Apelação Cível processo n' 888.2000.002519-4/001, 2a Câmara Cível, - Tribunal de Justiça do Estado da Paraíba, Rel. Des. Abraham Lincoln da iinia 'Ramos. Julgado em: 01/031:2002) ' I De outra banda, cumpre destacar que o edital publicado em 08 de fevereiro de 2002 (fls. 76/82) não se presta à notificação dos impetrantes, não porque a intimação há de ser pessoal, mas porque o edital foi anterior ao Laudã de Avaliação (fls. 59/75), datado de 11 de junho de 2002, demonstrando-se, pois, que o tributo fora instituído com base no custo da obra e não na valorização aferida por cada imóvel beneficiado.
-.a Destarte, com o costumeiro acerto, agiu a magistrada, devendo a sentença em reexame ser mantida da forma como posta, pelos seus próprios fundamentos. À vista de tais consideraçõeh, NEGO SEGUIMENTO A REMESSA OFICIAL, prescindindo-se de sua apreciação pelo orgão colegiado, mesmo em se tratando de remessa oficiall, eis que proferida em harmonia com I '1,. jurisprudência dominante do Supremo Superior Tribunal de Justiça e de ; precedente desta Corte de Justiça, nos moldes do ar t. 557 do Códigofle Processo Civil. ' P.I. Cumpra-se. João Pessoa, 23 de março de 2006. JOÃO M O DE SO ZA LATOR 1 Enunciado n. 253 STJ - "O artigo 557 do CPC, que autoriza o relator a decidir o recurso, alcança o reexame necessário". :5 -