Os principais equipamentos utilizados nas empresas de beneficiamento de mármore e granito, suas funções e importância no processo. Armando Marques (UTFPR / CEFET-ES) amarques@cefetes.br Rui Francisco Martins Marçal (UTFPR) marcal@pg.cefetpr.br Aurélio Azevedo Barreto Neto (CEFET-ES) aurelio@cefetes.br Luiz Alberto Pilatti (UTFPR) lapilatti@pg.cefetpr.br Resumo Este trabalho apresenta um estudo dos principais equipamentos que são utilizados em uma empresa de beneficiamento do mármore e granito, localizada na cidade de Rio Novo do Sul, Região Sul do Estado do Espírito Santo, com o objetivo de definir sua importância no processo produtivo (a sua criticidade), visando desta forma elaborar um Planejamento e Controle da Manutenção (PCM). Utiliza-se um algoritmo de determinação de criticidade pelo qual se verifica que o pórtico e a ponte rolante 01 necessitam de manutenção preventiva para que o processo produtivo não seja interrompido. Palavras-chave: Planejamento e Controle da Manutenção, criticidade de equipamentos. 1. Introdução A exportação de rochas ornamentais no país tem crescido muito nos últimos anos, e para suprir esta demanda e tornar os seus processos mais eficientes as Indústrias de Beneficiamento do Mármore e Granito no Estado do Espírito Santo, que é o principal produtor do país, têm passado por grandes transformações tecnológicas, investindo em equipamentos mais modernos e com uma maior capacidade de produção. Porém com a introdução destes novos equipamentos surgiu à demanda por profissionais qualificados para operação e manutenção. Nos últimos anos as empresas descobriram que a manutenção quando bem planejada e executada de forma a não interromper o processo produtivo, tem colaborado positivamente no crescimento da produtividade, qualidade e da lucratividade das organizações. E com isso, a manutenção que era visto como um setor de geração de despesas vem ganhando papel fundamental nos resultados das empresas. Com o advento da globalização as organizações preocupadas com a competitividade têm a cada dia mais se conscientizado que a manutenção pode ser o diferencial para a sobrevivência e permanência da empresa no mercado. Portanto, o setor de manutenção tem influência direta no aumento da produtividade e consequentemente na lucratividade das empresas. Portanto, não basta que os equipamentos produzam com qualidade e alta produtividade, é fundamental que se tenha disponibilidade e confiabilidade das instalações. Esta é a missão dos profissionais de manutenção, manter os equipamentos disponíveis e confiáveis para que possam produzir sem interrupções no processo produtivo. Para se fazer um Planejamento e Controle da Manutenção (PCM) é necessário que se conheça todos os equipamentos que estão envolvidos no processo produtivo bem como a sua criticidade. Dentro deste contesto, o objetivo deste trabalho é definir dentro de uma determinada empresa de beneficiamento de mármore e granito, dentre os vários equipamentos que são utilizados na linha de produção o equipamento crítico, na qual deve ser dado um enfoque principal para um futuro PCM. 2. Gestão de manutenção
2.1. Manutenção A manutenção nos últimos anos passou a ser vista de forma diferente nos processos produtivos, com a demanda produtiva cada vez maior e com a acirrada competitividade pelo mercado, não é admissível que os equipamentos parem de produzir ou até mesmo produzam com uma capacidade inferior do que a projetada. A manutenção assume uma função de suma importante não só no processo produtivo mais para a garantia de serviços essenciais ao conforto e ao bem estar da humanidade. Segundo Tavares (1999, p.37), manutenção são todas as ações necessárias para que um item seja conservado ou restaurado de modo a poder permanecer de acordo com uma condição especificada. Então pode-se dizer que manutenção nada mais é do que um conjunto de técnicas destinadas a manter equipamentos, instalações e edificações com um maior tempo de utilização, rendimento e redução de custos. Para Kardec, Nascif e Baroni (2002, p.22) a missão da manutenção é: garantir a disponibilidade da função dos equipamentos e instalações de modo a atender a um processo de produção ou de serviço, com confiabilidade, segurança, preservação do meio ambiente e custos adequados. De acordo com Kardec e Nascif (1999, p.4), A evolução da manutenção pode ser dividida em três gerações, a saber: primeira geração - abrange o período antes da Segunda Guerra Mundial, quando a indústria era pouco mecanizada, os equipamentos eram simples e, na sua grande maioria, superdimencionados. Nessa geração, apenas serviços de limpeza, lubrificação e reparo após a quebra eram executados, ou seja, a manutenção era fundamentalmente, corretiva; segunda geração - esta geração vai desde a Segunda Guerra Mundial até os anos 60. Nessa geração, houve forte aumento da mecanização, maior complexidade das instalações industriais, necessidade de maior disponibilidade e confiabilidade, tudo isto na busca da maior produtividade; a indústria estava bastante dependente do bom funcionamento das máquinas. Isto levou à idéia de que falhas dos equipamentos poderiam e deveriam ser evitadas, o que resultou no conceito de manutenção preventiva; terceira geração - reforçou-se o conceito de uma manutenção preditiva. Maior automação significa que falhas cada vez mais freqüentes afetam a capacidade de manter padrões de qualidade estabelecidos. Sendo assim, a interação entre as fases de implantação de um sistema (projeto, fabricação, instalação) e a disponibilidade/confiabilidade torna-se mais evidente nessa geração. Para Kardec, Nascif & Baroni (2002), atualmente são definidos seis tipos de manutenção, que são: manutenção corretiva não planejada; manutenção corretiva planejada; manutenção preventiva; manutenção preditiva, manutenção detectiva e engenharia de manutenção. Dentre as quais esta-se definindo apenas quatro delas. 2.1.1. Manutenção corretiva Pode-se definir manutenção corretiva como àquela que tem o objetivo de reparar as anomalias após a quebra do equipamento ou quando este estiver trabalhando abaixo de uma condição aceitável quando em operação. Pode-se dividir a manutenção corretiva em: manutenção corretiva não planejada e manutenção corretiva planejada a) Manutenção corretiva não planejada: é aquela em que a correção da falha é feita de maneira aleatória, ou seja, corrige a falha ou o baixo desempenho após a ocorrência do fato. Este tipo de manutenção implica e altos custos, perdas de produção e aumento dos danos nos equipamentos. b) Manutenção corretiva planejada: é a correção que se faz em função de um acompanhamento preditivo ou pela opção de se operar até a quebra. O trabalho planejado é
sempre mais barato, mais rápido e mais seguro do que o trabalho não planejado. KARDEC e NASCIF (1999, p.32), 2.1.2. Manutenção preventiva Na manutenção preventiva as interferências são feitas de maneira programada e em intervalos pré-estabelecidos de forma a evitar falhas e baixo desempenho nos equipamentos. A manutenção preventiva quando bem realizada é altamente eficaz. Para Kardec e Nascif (1999, p.35), a manutenção preventiva é a atuação realizada de forma a reduzir ou evitar a falha ou queda no desempenho, obedecendo a um plano previamente elaborado, baseado em intervalos definidos de tempo. 2.1.3. Manutenção preditiva Manutenção preditiva é aquela que indica as condições reais de funcionamento das máquinas com base em dados que informam o seu desgaste ou processo de degradação. Trata-se da manutenção que prediz o tempo de vida útil dos componentes das máquinas e equipamentos e as condições para que esse tempo de vida seja bem aproveitado. Segundo Kardec, Nascif e Baroni (2002, p.43) é mais adequado definir manutenção preditiva como qualquer atividade de monitoramento que seja capaz de fornecer dados suficientes para uma análise de tendências, emissão de diagnóstico e tomada de decisão. 2.1.4. Engenharia de manutenção É a segunda quebra de paradigma na Manutenção, praticar a Engenharia de Manutenção significa uma mudança cultural. É deixar de ficar consertando continuadamente, para procurar as causas básicas, modificar situações permanentes de mau desempenho, deixar de conviver com problemas crônicos, melhorar padrões e sistemáticas, desenvolver a manutenibilidade, dar feedback ao projeto, interferir tecnicamente nas compras, (SOUZA, 2003), conforme demonstrado na fig. 1. A Engenharia de manutenção reúne um conjunto de ações para corrigir as deficiências anteriormente apresentadas e, também como uma fonte de informações importantes, que subsidia a tomada de decisão para se atingir o objetivo da manutenção (FERNANDES, 2003). Fig. 1 Ciclo de Gerenciamento da manutenção Fonte: Revista Máquinas e Metais, (2003).
As ações da engenharia de manutenção estão diretamente vinculadas ao ciclo mostrado na figura 1. Os setores de manutenção e operação respondem pela origem das necessidades de manutenção, a operação identifica as anomalias e informa panes nos equipamentos e durante a manutenção os inspetores identificam precocemente a existência de falhas. Na etapa de planejamento e programação, as necessidades de melhorias sugeridas pelos inspetores são analisadas em conjunto com os supervisores e definido como deve ser feito, relacionar profissionais e estimar tempo de execução, relacionar materiais e ferramentas e se necessário contratar serviços. Na etapa de execução, os serviços são executados e são coletadas informações como horas trabalhadas, peças utilizadas, tempo de atendimento, etc. Na etapa de controle, as informações são coletadas e lançadas em um sistema informatizado de gerenciamento, onde são encerradas as ordens de serviço, atualizando os planos de manutenção e formando um histórico técnico e estruturado dos equipamentos. E por fim, a etapa de análises, o sucesso da política de manutenção é medido, onde são geradas as recomendações para a equipe de manutenção a partir da: avaliação dos custos de manutenção, classificação, análises das paradas dos equipamentos e detecção de avarias repetitivas (FERNANDES, 2003). 3. Metodologia Para determinar os objetivos do trabalho, foi realizado um estudo de caso em uma empresa de beneficiamento de mármore e granito, localizada na cidade de Rio Novo do Sul, região Sul do Estado do Espírito Santo. O estudo de caso é segundo Yin (2005), utilizado para descrever uma intervenção e o contexto na vida real em que o fato ocorre. Foram realizadas entrevistas com os funcionários tanto de manutenção quanto de produção. A entrevista,... é uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica, proporciona ao entrevistador, verbalmente, a informação necessária. (MARCONI; LAKATOS, 2001). Durante as visitas foram feitas observações de todo processo e de acordo com Marconi e Lakatos, A observação utiliza os sentidos na obtenção de determinados aspectos da realidade. Não consiste apenas em ver e ouvir, mas também em examinar fatos ou fenômenos que se deseja estudar. (MARCONI; LAKATOS, 2001, p. 107). E por fim, utilizou-se um algoritmo de determinação de criticidade para definir dentre os vários equipamentos quais são aqueles que devemos ter uma preocupação maior durante a elaboração de um plano de manutenção. 4. Equipamentos utilizados no beneficiamento O beneficiamento de rochas ornamentais é feito em duas etapas que são chamadas de beneficiamento primário e beneficiamento final. No beneficiamento primário são utilizados teares para o desdobramento dos blocos em chapa e no beneficiamento final as politrizes são utilizadas para fazer o polimento das chapas. Fazem parte do processo também outros equipamentos como as pontes rolantes, pórtico rolante e forno. O pórtico rolante é um equipamento de elevação e transporte e desenvolve um papel importante no processo, pois o mesmo é utilizado na descarga de caminhões, separação e organização dos blocos no pátio de estocagem e também para carga e descarga dos teares. Nos processos de beneficiamento das rochas ornamentais os teares são utilizados para serragem ou desdobramento de blocos em chapas. Existem basicamente três métodos para beneficiamento primário, ou seja, para o corte do bloco, o tear de lâminas, o corte com talha blocos de discos diamantados e o corte com fio diamantado. Na empresa em questão, são utilizados teares de lâminas. O processo de corte se dá pela ação de um elemento abrasivo conduzido por um conjunto de lâminas movimentado pelo tear. O tear é um equipamento constituído de uma estrutura de sustentação formada por quatro colunas, que suportam um
quadro porta-lâminas. Este quadro é acionado por um motor elétrico, com o auxílio de um volante através de um mecanismo biela-manivela, imprimindo-lhe um movimento alternado, responsável pelo atrito entre as lâminas, o elemento abrasivo e o bloco a ser cortado. Simultaneamente, o conjunto quadro-lâminas é pressionado contra o bloco em um movimento de descida, provocando o avanço do corte do material. As pontes rolantes são equipamentos de elevação e transporte, e nos processos de beneficiamento são utilizadas para carregamento e descarregamento de chapas das politrizes, fornos, movimentação de chapas no depósito e para carregamento dos caminhões. Após o processo de corte nos teares as chapas são polidas e para isso são utilizadas as politrizes, que iram dar um acabamento final ao produto. Os fornos são utilizados para secagem das chapas, para que posteriormente possa ser aplicada a resina. Para melhor entendimento, será mostrado a seguir na figura 2, a qual traz um fluxograma do processo produtivo de uma empresa de beneficiamento de mármore e granito. Fig. 2 Fluxograma do processo de beneficiamento Fonte: Autor (2006) 5. Definições de criticidade Do ponto de vista da manutenção, a máquina crítica é aquela que apresenta um maior grau de complexidade na solução dos defeitos ou aquela que fisicamente impõem dificuldades de acesso para uma eventual ação corretiva. Nos setores de beneficiamento de mármore e granito algumas máquinas estão dispostas de tal forma a facilitar o processo. Mais de certa forma este tipo de organização torna o processo suscetível a paradas repentinas se alguma destas máquinas entrarem em falha. Outras máquinas trabalham em paralelo ou não fazem parte diretamente do processo e por isso se ocorrer alguma falha não irá paralisar o sequenciamento produtivo. Sendo assim não precisam de uma atenção especial. Fica fácil verificar, do ponto de vista da produção, quais são as máquinas mais críticas, ou seja, aquelas que paralisam a produção caso sofram uma quebra.
A escolha do tipo de manutenção a ser aplicada em um equipamento ou máquina crítica depende de uma série de fatores técnicos ou pode ser puramente gerencial. Para Kardec, Nascif e Baroni (2002, p. 46), para a seleção das máquinas que serão monitoradas devemos considerar no mínimo os seguintes aspectos: - Importância da máquina no processo produtivo: qualidade e produtividade; - Custo ou dificuldade de aquisição de sobressalentes; - Não existência de máquinas stand-by (reserva); - Custo da própria máquina; - Custo e/ou dificuldade de intervenção; - Segurança pessoal e operacional. 6. Seleção de máquinas criticas Para determinarmos qual a máquina crítica no processo em questão, foram realizadas entrevistas com os funcionários tanto de manutenção quanto de produção e utilizou-se um algoritmo de determinação da criticidade do equipamento (fig. 3). Este algoritmo leva em consideração segurança e meio ambiente, qualidade e produtividade, oportunidade de produção, taxa de ocupação, freqüência de quebra e mantenabilidade do equipamento que está sendo analisado. Segundo os aspectos citados a cima para escolha de máquinas críticas (gargalo), podemos eliminar algumas máquinas tais como, teares e politrizes por apresentarem outras em paralelo, o forno e as pontes rolantes número 02, 03 e 04 também ficaram fora deste estudo, por não causarem parada na produção caso entrem em falha. Somente será aplicado o algoritmo de determinação da criticidade do equipamento no pórtico e na ponte rolante número 01. Fig. 3 Algoritmo de determinação da criticidade do equipamento
Para definir a importância do equipamento no processo (a sua criticidade), utilizou-se a tabela 1 conforme mostrada abaixo. Tabela 1 Definição de criticidade Item Pórtico Ponte Rolante 01 SA Segurança e Meio Ambiente Média (B) Média (B) QP Qualidade e Produtividade Média (B) Média (B) OP Oportunidade de Produção Média (B) Alta (A) TO Taxa de Ocupação Média (B) Média (B) FQ Freqüência de Quebra Média (B) Alta (A) MT Mantenabilidade Média (B) Média (B) Fonte: Autor (2006) Conforme demonstrado na tabela a cima e de acordo com o algoritmo de determinação de criticidade, podemos verificar que tanto o pórtico quanto a ponte rolante 01 se enquadram dentro da manutenção preventiva. 7. Considerações finais Dentro de uma nova visão a manutenção deve ser organizada de forma que os equipamentos ou sistemas parem de produzir somente de forma planejada. Pois quando os equipamentos param de produzir sem um planejamento prévio, todo o processo é prejudicado e os custos de manutenção são mais elevados visto que as peças de reposição têm que ser adquiridas em caráter de urgência e a equipe de manutenção tem que ser mobilizada de forma emergencial deixando de executar outras tarefas. Neste contexto o planejamento e controle da manutenção (PCM) tem que ser feito de forma criteriosa para evitar estes contratempos. Para isso que a definição das máquinas gargalos (críticas) necessitam ser conhecidas, evitando assim uma parada do processo produtivo o que traz como conseqüência uma diminuição da produtividade e competitividade da empresa. Diante do exposto pode-se concluir que para a empresa em questão, os equipamentos que merecem um cuidado especial (críticos) devido a sua importância no processo produtivo são o pórtico e a ponte rolante 01. Devido a sua importância no processo estes dois equipamentos deveram ser enquadrados no mínimo na modalidade de manutenção preventiva, para os demais equipamentos por não apresentarem risco de interromperem o processo poderão ser enquadrados na modalidade de manutenção corretiva. 8. Referências Bibliográficas FERNANDES, M.A. Como Aumentar a Disponibilidade das Máquinas e Reduzir Custos de Manutenção. Revista Máquinas e Metais, p.316 à 329, Abril de 2003. KARDEK, A. & NASCIF, J. Manutenção: Função Estratégica. Ed. Qualitymark: Rio de Janeiro 1999. KARDEK, A., NASCIF, J. & BARONI, T. Gestão da Manutenção e Técnicas Preditivas. Rio de Janeiro: Ed. Qualitymark: ABRAMAN, 2002. MARCONI, M. A. & LAKATOS, E. M. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas. 2001. SOUZA, A. C. Gerenciamento da Manutenção Eletrônica de Máquinas Críticas em uma Indústria Automobilística. 2003. 82f. Monografia (Especialização em MBA Gerência de Produção) Departamento de Economia, Contabilidade, Administração e Secretariado, Universidade de Taubaté, Taubaté. TAVARES, L. A. Administração Moderna da Manutenção. Rio de Janeiro: Novo Pólo. 1999. YIN, R. K. Estudo de Caso: planejamento e método. Porto Alegre: Bookman. 2005.