Alfabetização da Base à sala de aula: Que caminho percorrer? Monica Gardelli Franco Superintendente do CENPEC

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Transcrição:

Alfabetização da Base à sala de aula: Que caminho percorrer? Monica Gardelli Franco Superintendente do CENPEC

Fonte: Inep/MEC Resultados da ANA Avaliação Nacional de Alfabetização 2016 Realizada com mais de 2 milhões de alunos matriculados no 3º ano do Ensino Fundamental da rede pública de ensino. Nível elementar Nível básico Nível adequado Nível desejado Leitura 21,74 32,99 32,28 12,99 Escrita 14,46 17,16 2,23 57,87 8,28 Nível adequado Nível desejado Nível elementar

Resultados da ANA Avaliação Nacional de Alfabetização 2016 Leitura Escrita Mais de 1 milhão de crianças brasileiras matriculadas na rede pública não alcançaram nível suficiente em leitura. Na área da escrita, mais da metade das crianças das regiões Norte e Nordeste possuem nível insuficiente. Fonte: Inep/MEC

Resultados do INAF 2015 Alfabetismo no Mundo do Trabalho Analfabeto Rudimentar Elementar Intermediário Proficiente 4% 23% 42% 23% 8% analfabetos funcionais alfabetizados funcionalmente Considerando a ocupação dos respondentes, constata-se que nos serviços domésticos, 9% eram analfabetos e 33% estavam no grupo Rudimentar, indicando que 42% dos trabalhadores do setor que responderam podem ser considerados analfabetos funcionais. Esse grupo corresponde à capacidade de realizar tarefas de simples localização de informações explícitas e operações matemáticas básicas, mas que dificilmente conseguem localizar mais de uma informação em textos de extensão média. INAF Indicador de Alfabetismo Funcional:. A pesquisa sobre o Alfabetismo no Mundo do Trabalho utilizou a metodologia amostral, com estratificação proporcional à população brasileira em cada região. Total de respondentes - pessoas jovens e adultas trabalhadoras: 1.457.

A BNCC e o princípio da equidade Os princípios e compromissos da Base Contribui para o alinhamento de outras políticas e ações, em âmbito federal, estadual e municipal, referentes à formação de professores, à avaliação, à elaboração de conteúdos educacionais e aos critérios para a oferta de infraestrutura adequada para o pleno desenvolvimento da educação. Ajuda a superar a fragmentação das políticas educacionais ao indicar o fortalecimento do regime de colaboração entre as três esferas de governo. Reafirma o compromisso com a educação integral, visando à formação e ao desenvolvimento humano global, rompendo com visões reducionistas que privilegiam ou a dimensão intelectual (cognitiva) ou a dimensão afetiva. Visa a igualdade educacional ao explicitar as aprendizagens essenciais que todos os estudantes devem desenvolver, independente da região de moradia, classe social, raça, gênero ou sexualidade. Foco na equidade, ao orientar que as redes de ensino e as instituições escolares explicitem o compromisso de reverter a situação de exclusão histórica que marginaliza grupos como os povos indígenas originários e as populações das comunidades remanescentes de quilombos e demais afrodescendentes e as pessoas que não puderam estudar ou completar sua escolaridade na idade própria.

A BNCC e o princípio da equidade Números da educação pública nos anos iniciais do fundamental Anos Pública Privada Total 1º e 2º anos 4.581.915 1.193.660 5.775.575 8 em 10 crianças matriculadas nos 1º e 2º anos frequentam a rede pública de ensino O Brasil possui 761.737 professores que atuam nos anos iniciais do ensino fundamental. Destes, Quase 80% atuam na rede pública de ensino. Fonte: Censo Escolar 2017 MEC/Inep

A BNCC e o princípio da equidade Números da educação pública nos anos iniciais do fundamental Em 2014, 1 em cada 5 Escolas de Educação Básica tinha mais de 75% de suas matriculas de alunos beneficiários do Programa Bolsa Família. Em 2014, 42% das matrículas na Educação Básica são de alunos beneficiários do Programa Bolsa Família. Fonte: MEC - Inep/Censo Escolar e Sistema Presença. Sampaio, Gabriela T. C.: Direito à educação para populações vulneráveis: desigualdades educacionais e o Programa Bolsa Família. 2017. FE-USP.

Fonte: Censo Escolar 2016 e 2017 MEC/Inep BNCC: desafios à implementação A capacidade das redes Infra-estrutura Indicadores de fluxo escolar na rede pública de ensino - 2016 Do total das 107.512 escolas públicas do ensino fundamental, apenas 34% contam com biblioteca e 21% com sala para leitura. Formação adequada Do total dos professores dos anos iniciais do ensino fundamental, 23% não possuem ensino superior. A perspectiva de concluir o processo de alfabetização, em sua concepção mais restrita, no 2º ano do Ensino Fundamental, como determina a BNCC, não pode resultar no aumento da reprovação, que atualmente é bastante expressiva no 3º ano.

A BNCC e a Alfabetização Antes e depois da Base Antes da BNCC Deveria ocorrer até o terceiro ano do ensino fundamental. Ênfase não exclusiva na alfabetização e letramento. Entretanto, os anos iniciais do Ensino Fundamental não se reduzem apenas à alfabetização e ao letramento. Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 anos, 2010. As tecnologias da informação e comunicação são citadas como ferramentas que devem ser usadas para fins educacionais, inclusive na produção de linguagens. Depois da BNCC Deve ocorrer até o fim do segundo ano do ensino fundamental. Ênfase na ampliação do letramento. A ampliação do letramento infantil é a ênfase no currículo escolar da nova proposta curricular. Base Nacional Comum Curricular do Ensino Fundamental, 2017. Supera a concepção de tecnologias da informação e comunicação, ao incluir a concepção de letramento digital como prática social. Orientada por referências do socioconstrutivismo. Alfabetização com o foco na apropriação do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de letramentos.

O desafio da implementação O regime de colaboração O caminho até a sala de aula IMPLEMENTAÇÃO: CENÁRIOS E ATORES Secretaria de Educação: gestor e equipe técnica (Re)elaborar propostas curriculares Mobilização de professores e equipes gestoras das escolas Formação continuada Materiais didáticos Matrizes de avaliação Escola: gestor / coordenador pedagógico / equipe escolar / comunidade Traduzir e contextualizar o documento curricular Diretrizes da BNCC Projeto Político Pedagógico (PPP) Formação continuada Sala de aula: professores/estudantes/comunidade Apoio da coordenação na gestão de sala de aula Plano de ação HTPC/reunião

Alfabetização em foco: um modelo de formação de rede 4. O desafio da implementação O acompanhamento da aprendizagem A IMPLEMENTAÇÃO DA BNCC: UM MODELO INTEGRADO QUE ARTICULA CURRÍCULO E FORMAÇÃO Inspirado no projeto exitoso desenvolvido em Lagoa Santa (MG) por Magda Soares - professora emérita da UFMG desde 2007, a iniciativa Alfabetização em Foco fundamenta-se na concepção de trabalho de rede de formação de professores alfabetizadores. Alfabetização em Foco realizado em parceria com a Secretaria de Educação de Varginha (MG), entre os meses de agosto e novembro de 2017. Ações desenvolvidas articulam: 1) um currículo que explicita as expectativas de aprendizagem dos alunos em progressão, 2) a formação de professores em rede, 3) metodologia de acompanhamento e avaliação da aprendizagem. Resultados O percentual de alunos no nível silábico-alfabético cresceu de 2% para 21%. Já no nível alfabético, a evolução foi de 2% para 24%.

Alfabetização na BNCC Monica Gardelli Franco Superintendente do CENPEC monica.franco@cenpec.org.br