APELAÇÃO CÍVEL Nº 559331-RN (0007698-81.2012.4.05.8400) APTE : UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE REPTE : PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 5ª REGIÃO APTE : KESIA CRISTINE MELO ADV/PROC : ANDREIA ARAÚJO MUNEMASSA e outros APDO : OS MESMOS ORIGEM : 1ª Vara Federal do Rio Grande do Norte - RN RELATORA : DES. FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI RELATÓRIO A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (Relatora): Trata-se ação ordinária, com pedido de antecipação dos efeitos, ajuizada por KESIA CRISTINE MELO contra a UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pleiteando que seja afastado os efeitos da Portaria 1.540/2012, que a dispensou da função comissionada de Coordenadora Titular de Capacitação e Educação Profissional, FG- 04, com efeitos financeiros a partir da sua indevida destituição e enquanto perdurar a sua licença-maternidade. Requer, ainda, a condenação da parte ré ao pagamento de indenização por danos morais. O MM. Juiz "a quo" julgou parcialmente procedente o pedido, para afastar os efeitos do ato administrativo de dispensa da servidora da função comissionada, à época do gozo da licença maternidade, de modo a garantir a sua estabilidade até o prazo legal de cinco (05) meses após o parto. Condenou, ainda, a ré, ao pagamento das parcelas devidas entre o ato de dispensa e os cinco meses após o parto, bem como indenização por danos morais, fixadas em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Juros de mora fixados no percentual de 1% (um por cento) e correção monetária nos moldes estatuídos pelo Manual de Cálculos da Justiça Federal. Honorários advocatícios fixados em R$ 2.000,00 (dois mil reais), reduzindo-se esse valor à metade caso não haja recurso da demandada. Apela a UFRN, sustentando a impossibilidade de concessão de liminares que impliquem o pagamento de vencimentos ou execução antecipada dos julgados, em conformidade com o que dispõem os artigos 5º e 7º da Lei n. 4.348/64 e 1º da Lei n. 5.021/66. Acrescenta que a real pretensão da autora é de ser mantida em cargo comissionado, medida que se submete ao juízo de conveniência e oportunidade da Administração e não pode ser questionada pelo Poder Judiciário. Defende, ainda, a ausência de assédio moral e dano moral a 1
ser indenizado. Por fim, requer a redução dos honorários advocatícios, observando-se o disposto no art. 20, 4º do CPC. A parte autora também interpôs recurso de apelação, com razões às fls.470/476, pleiteando a majoração do valor fixado a título de danos morais. Subiram os autos, sendo-me conclusos por força de prevenção, nos termos do art. 62, 2º, 3º e 6º do Regimento Interno desta Corte. É o relatório. Peço a inclusão do feito em pauta para julgamento. 2
APELAÇÃO CÍVEL Nº 559331-RN (0007698-81.2012.4.05.8400) APTE : UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE REPTE : PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 5ª REGIÃO APTE : KESIA CRISTINE MELO ADV/PROC : ANDREIA ARAÚJO MUNEMASSA e outros APDO : OS MESMOS ORIGEM : 1ª Vara Federal do Rio Grande do Norte - RN RELATORA : DES. FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI VOTO A EXMA. DESEMBARGADORA FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI (Relatora): Primeiramente, afasto a alegação de impossibilidade de antecipação de tutela contra a Fazenda Pública, a um porque as Leis ns. 4.348/64 e 5.021/66 que fundamentaram a pretensão da autora foram revogadas pela Lei n. 12.016/2009, e a dois porque tal vedação somente se aplica quando a antecipação de tutela importar em aumento ou extensão de vantagens a servidor público, não sendo esta a situação dos autos, em que se busca a suspensão dos efeitos de ato administrativo que exonerou a demandante da função comissionada que exercia. Quanto ao mérito, observo que a autora encontrava-se em gozo de licençamaternidade, de modo que não poderia ter sido exonerada do cargo de comissão, até o prazo legal de cinco meses após o parto, revelando-se ilegítima a conduta da UFRN, conforme entendimento pacífico do Supremo Tribunal Federal: "Agravo regimental em recurso extraordinário. Servidora pública em licença g estante. Estabilidade. Reconhecimento, mesmo em se tratando de ocupante de cargo em comissão. Precedentes. 1. Servidora pública no gozo de licença gestante faz jus à estabilidade provisória, mesmo que seja detentora de cargo em comissão. 2. Jurisprudência pacífica desta Suprema Corte a respeito do tema. 3. Agravo regimental a que se nega provimento." (STF, RE-AgR 368.460, Primeira Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, 27/03/2012) (grifos meus) "SERVIDORA PÚBLICA GESTANTE OCUPANTE DE CARGO EM COMISSÃO - EST ABILIDADE PROVISÓRIA (ADCT/88, ART. 10, II, "b") - CONVENÇÃO OIT Nº 103/1952 - INCORPORAÇÃO FORMAL AO ORDENAMENTO POSITIVO BRASILEIRO (DECRETO Nº 3
58.821/66) - PROTEÇÃO À MATERNIDADE E AO NASCITURO - DESNECESSIDADE DE PRÉVIA COMUNICAÇÃO DO ESTADO DE GRAVIDEZ AO ÓRGÃO PÚBLICO COMPETENTE - RECURSO DE AGRAVO IMPROVIDO. - O acesso da servidora pública e da trabalhadora gestantes à estabilidade provisória, que se qualifica como inderrogável garantia social de índole constiucional, supõe a mera confirmação objetiva do estado fisiológico de gravidez, independentemente, quanto a este, de sua prévia comunicação ao órgão estatal competente ou, quando for o caso, ao empregador. Doutrina. Precedentes. - As gestantes - quer se trate de servidoras públicas, quer se cuide de trabalhadoras, qualquer que seja o regime jurídico a elas aplicável, não importando se de caráter administrativo ou de natureza contratual (CLT), mesmo aquelas ocupantes de cargo em comissão ou exercentes de função de confiança ou, ainda, as contratada s por prazo determinado, inclusive na hipótese prevista no inciso IX do art. 37 da Constituição, ou admitidas a título precário - têm direito público subjetivo à estabilidade provisória, desde a confirmação do estado fisiológico de gravidez até cinco (5) meses após o parto (ADCT, art. 10, II, "b"), e, também, à licença-maternidade de 120 dias (CF, art. 7º, XVIII, c/c o art. 39, 3º), sendo-lhes preservada, e m consequência, nesse período, a integridade do vínculo jurídico que as une à Administração Pública ou ao empregador, sem prejuízo da integral percepção do estipêndio funcional ou da remuneração laboral. Doutrina. Precedentes. Convenção OIT nº 103/1952. - Se sobrevier, no entanto, em referido período, dispensa arbitrária ou sem justa causa de que resulte a extinção do vínculo jurídico- -administrativo ou da relação contratual da gestante (servidora pública ou trabalhadora), assistirlhe-á o direito a uma indenização correspondente aos valores que receberia até cinco (5) meses após o parto, caso inocorresse tal dispensa. Precedentes." (STF, RE-AgR 634.093, Segunda Turma, Rel. Min. Celso de Mello, 22/11/2011) (grifei) De bom alvitre observar que tanto a Administração sabia da impossibilidade que somente exonerou a servidora da função em 25/09/2012 (fls.58 e 61/63), um dia após a previsão inicial para término da licença, sendo que, tendo havido a prorrogação do prazo por mais 60 dias, até 23/11/2012 (fl. 59), somente poderia tê-lo feito a partir desta data. Assim, entendo que a autora faz jus ao pagamento das parcelas devidas entre o ato de dispensa e os cinco meses após o parto. Passo a apreciação do pedido de indenização por danos morais. 4
Quanto ao alegado dano moral, deve-se analisar o efeito da lesão, o caráter da sua repercussão sobre o lesado. Há de se observar a vergonha, o constrangimento, a dor, a injúria física ou moral, a emoção, em geral, uma sensação dolorosa experimentada pela pessoa. Contudo, tais elementos só podem ser medidos quando observada a natureza objetiva do evento, e como o fato se traduz nas relações humanas. Deve-se analisar de que maneira, o ato dito danoso afetou a instabilidade emocional, a ponto de causar danos ao indivíduo posto em situação que se traduza em vexame. Humberto Theodoro Júnior, em seu livro Dano Moral, 4ª edição,editora Juarez de Oliveira LTDA:2001, p.9 e 98/99, comenta: "O dano moral pressupõe uma lesão - a dor - que se passa no plano psíquico do ofendido. Por isso, não se torna exigível na ação indenizatória a prova de semelhante evento. Sua verificação se dá em terreno onde à pesquisa probatória não é dado chegar. A situação fática em que o ato danoso ocorreu integra a causa de pedir, cuja comprovação é ônus do autor da demanda. Esse fato, uma vez comprovado, será objeto de análise judicial quanto à sua natural lesividade psicológica, segundo a experiência da vida, ou seja, daquilo que comumente ocorre em face do homem médio na vida social." "Quando o ofendido comparece, pessoalmente, em juízo para reclamar reparação do dano moral que ele mesmo suportou em sua honra e dignidade, de forma direta e imediata, não há dúvida alguma sobre sua legitimidade ad causam. Quando, todavia, não é o ofendido direto, mas terceiros que se julgam reflexamente ofendidos em sua dignidade, pela lesão imposta a outra pessoa, torna-se imperioso limitar o campo de repercussão da responsabilidade civil, visto que se poderia criar uma cadeia infinita ou indeterminada de possíveis pretendentes à reparação da dor moral, o que não corresponde, evidentemente, aos objetivos do remédio jurídico em tela. Exigem-se, por isso mesmo, prudência e cautela da parte dos juízes no trato desse delicado problema. Uma coisa, porém, é certa: o Código Civil prevê, expressamente, a existência de interesse moral, para justificar a ação, só quando toque "diretamente ao autor ou à sua família" (art. 75). No caso, vislumbro a ocorrência do dano moral sofrido pela autora. Os laudos e atestados médicos acostados às fls. 52/58 comprovam que a autora, pouco antes de sair de licença-maternidade, gozou de outras licenças médicas, em razão de uma gravidez de alto risco, com ameaça de parto prematuro. Logo, observo que a UFRN tinha conhecimento do estado delicado da gravidez da demandante, bem como que sua licença, após o parto, havia sido prorrogada por mais dois meses, atingindo seis meses, e, mesmo assim, procedeu a sua dispensa dois meses antes do 5
término do período, sendo inegável o impacto negativo dessa notícia para uma mulher que acabou de sair de uma gravidez de alto risco, vindo a afetar o seu estado psicológico. moral. No entanto, inexistem nos autos prova de que a requerente tenha sofrido assédio Assim, entendo razoável o valor da indenização por danos morais fixada na sentença em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Mantenho os honorários advocatícios fixados na sentença no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos dos 3º e 4º do art. 20 do CPC. Desse modo, nego provimento às apelações. É como voto. 6
APELAÇÃO CÍVEL Nº 559331-RN (0007698-81.2012.4.05.8400) APTE : UFRN - UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE REPTE : PROCURADORIA REGIONAL FEDERAL - 5ª REGIÃO APTE : KESIA CRISTINE MELO ADV/PROC : ANDREIA ARAÚJO MUNEMASSA e outros APDO : OS MESMOS ORIGEM : 1ª Vara Federal do Rio Grande do Norte - RN RELATORA : DES. FEDERAL MARGARIDA CANTARELLI EMENTA: ADMINISTRATIVO. SERVIDORA PÚBLICA. LICENÇA MATERNIDADE. FUNÇÃO COMISSIONADA. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. DANO MORAL CONFIGURADO. DIREITO À INDENIZAÇÃO. I Verificado que a autora encontrava-se em gozo de licença-maternidade, não poderia ter sido exonerada da função comissionada até o prazo legal de cinco meses após o parto, revelando-se ilegítima a conduta da UFRN. Precedentes: STF, RE-AgR 368.460, Primeira Turma, Rel. Min. Dias Toffoli, 27/03/2012; STF, RE-AgR 634.093, Segunda Turma, Rel. Min. Celso de Mello, 22/11/2011. II Relevante salientar que a Administração tanto sabia da impossibilidade que somente exonerou a servidora da função em 25/09/2012, um dia após a previsão inicial para término da licença, sendo que, tendo havido a prorrogação do prazo por mais 60 dias, até 23/11/2012, somente poderia tê-lo feito a partir desta data. III - Direito ao pagamento das parcelas devidas entre o ato de dispensa e os cinco meses após o parto. IV - Quanto ao dano moral sofrido, os documentos acostados aos autos comprovam que a UFRN tinha conhecimento do estado delicado da gravidez da demandante, bem como que sua licença, após o parto, havia sido prorrogada por mais dois meses, atingindo seis meses, e, mesmo assim, a autarquia ré procedeu a sua dispensa dois meses antes do término do período, sendo inegável o impacto negativo dessa notícia para uma mulher que acabou de sair de uma gravidez de alto risco, vindo a afetar o seu estado psicológico. Razoabilidade do valor da indenização por danos morais fixada na sentença em R$ 5.000,00 (cinco mil reais). V - Manutenção dos honorários advocatícios fixados na sentença no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), nos termos dos 3º e 4º do art. 20 do CPC. VI Apelações improvidas. 7
ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL, em que são partes as acima mencionadas. ACORDAM os Desembargadores Federais da Quarta Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, à unanimidade, em negar provimento às apelações, nos termos do voto da Relatora e das notas taquigráficas que estão nos autos e que fazem parte deste julgado. Recife, 23 de julho de 2013. Desembargador Federal MARGARIDA CANTARELLI Relatora 8