EU, PROFESSORA SEM FORMAÇÃO PEDAGÓGICA: (RE) VISITANDO O PASSADO À LUZ DOS CONHECIMENTOS ESTUDADOS EM DIDÁTICA

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Transcrição:

EU, PROFESSORA SEM FORMAÇÃO PEDAGÓGICA: (RE) VISITANDO O PASSADO À LUZ DOS CONHECIMENTOS ESTUDADOS EM DIDÁTICA OLIVEIRA, Bianca El Ajouz de¹; PANIAGO, Rosenilde Nogueira.² 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano Campus Rio Verde E-mail do autor: biancaelajouzdeoliveira@gmail.com ²Professora orientadora - Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Goiano Campus Rio Verde 1. Introdução Atualmente é de grande notoriedade a quantidade de atuação na educação básica de profissionais que não são graduados nas áreas das licenciaturas. É comum observar pessoas com as mais variadas profissões atuando como professores em uma etapa educacional na qual a formação pela licenciatura faz toda a diferença para o exercício da função. A graduação na licenciatura, seja qual for a área, conta com um leque de disciplinas pedagógicas, que auxiliam na formação de um profissional que terá como função ensinar o seu ofício, sendo seu principal público os alunos da educação básica. Essas disciplinas pedagógicas são essenciais para o profissional, mostrando inúmeras possibilidades para garantir o processo de ensino-aprendizagem, e possibilitando um olhar diferenciado que um professor deve ter perante seus alunos, enxergando-os como seres com essência única e observando fatores que interferem em seu aprendizado. A minha experiência como professora de educação básica sem ser licenciada levoume à essa reflexão, referente ao papel das disciplinas pedagógicas, especialmente a Didática, na atuação do professor. Após iniciar o curso de Licenciatura em Ciências Biológicas, principalmente durante as aulas de Didática, consegui identificar diversos momentos durante a minha prática como professora em que o conhecimento referente a essas disciplinas seria fundamental, especialmente no processo de ensino-aprendizagem. Outro fator a ser observado é a constante desvalorização da docência, o que a torna pouco atrativa para uma parte considerável da população, inclusive dos alunos de graduação das licenciaturas, que após o término do curso por muitas vezes optam em seguir outros caminhos, e não o da docência. Além disso, observamos nas escolas a presença, cada vez maior, de professores não licenciados. Essa situação leva ao grande questionamento: quais são as maiores limitações de um professor que não obteve contato

com a Pedagogia durante a sua formação? Sendo assim, o presente trabalho tem como objetivo relatar a minha experiência sem formação pedagógica como professora, destacando as limitações e desafios enfrentados tendo como suporte os conhecimentos estudados em Didática focando especialmente as tendências pedagógicas descritas na literatura. 2. Metodologia No presente estudo procurei buscar como perspectiva metodológica, as narrativas autobiográficas, por entender que as narrativas são estratégias que me possibilitaram rememorar a minha prática como professora sem formação pedagógica à luz dos conhecimentos estudados na disciplina de Didática do curso de Licenciatura em Ciências Biológicas do Instituto Federal Goiano, Campus Rio Verde. No decorrer da disciplina foram estudados vários aspectos da Didática, incluindo sua definição, objeto de estudos, pressupostos epistemológicos e as tendências pedagógicas da linha liberal e progressista, sendo que na linha liberal as tendências caracterizam-se pelo aspecto conservador e autoritário, o que os leva a se adaptarem às normas e aos valores vigentes na sociedade, o que suporta e justifica o sistema capitalista; por outro lado, a linha progressista tem como papel a formação do indivíduo como um cidadão crítico, emancipandoo e transformando-o, para que ele consiga tomar suas próprias decisões, a partir da crítica de sua realidade social e das intencionalidades sociopolíticas que a educação assume nesta linha. Assim, ao resgatar em minha memória o período em que atuava como professora de Biologia no nível médio, sem formação, pude revisitar várias situações, analisando-as e problematizando-as à luz dos conhecimentos estudados. As narrativas, além de possibilitarem resgatar situações vivenciadas enquanto professora, também propiciaram a minha formação neste processo. Quando uma pessoa relata os fatos vividos por ela mesma, percebe-se que reconstrói a trajetória percorrida dando-lhe novos significados. Assim, a narrativa não é a verdade literal dos fatos, mas, antes, é a representação que deles faz o sujeito e, dessa forma, pode ser transformado da própria realidade. (CUNHA, 1997, p.3) 3. Desenvolvimento e resultados Segundo a LDB, em seu Art.62: A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do

ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Apesar desta condição requerente para o exercício da docência, atualmente é muito comum a atuação de profissionais de outras áreas em escolas de ensino básico. Eu fui uma delas. Sendo bacharel em Enfermagem, comecei a dar aula para o ensino básico, mesmo sem nenhuma formação na área, e ao me ver dentro da realidade escolar, percebi que minha situação era muito comum. Segundo o Censo Escolar da Educação Básica, realizado em 2007, cerca de 10% dos professores atuantes no Brasil na educação básica, urbana e rural, não possuíam cursos de licenciatura (BRASIL, 2009). Hoje, é bem provável que essa quantidade tenha sofrido um aumento significativo, sendo um dos motivos, segundo Aranha e Souza (2013), a crise que ocorre nos cursos de licenciatura, com a constante queda da procura de alunos por esses cursos, proveniente da constante desvalorização do que é ser professor, juntamente com a baixa remuneração e o desprestígio quanto à condição de docente. O profissional não licenciado tem um grande déficit referente ao conhecimento acerca do processo de ensino. Segundo Libâneo (1994), estudar o processo de ensino, através da investigação dos objetivos propostos e metodologias utilizadas, assegura a eficácia da prática educativa, pois garante a validade do processo de ensino-aprendizagem, cujos aspectos fundamentais podem mudar conforme ocorrem transformações na sociedade. Além disso, a docência é, sobretudo, um ato político. O professor tem um compromisso social para com seus alunos e também com a sociedade. Para tanto, devido a tantas exigências, a formação do professor deve ser sólida, principalmente no que se refere à Didática (LIBÂNEO, 1994). Libâneo (1994) e Luckesi (1994) concordam sobre a existência de duas linhas regendo as tendências pedagógicas linha liberal e linha progressista. A linha liberal aparece como uma justificativa para o sistema capitalista vigente, organizando a sociedade em classes. Nesta linha, a escola tem por função preparar o aluno para desempenhar um papel social, de acordo com sua aptidão individual, e para tanto, ele deve adequar-se aos valores predominantes na sociedade, o que não leva em consideração as diferenças e características de cada indivíduo, perpetuando a enorme diferença presente entre as classes; esse tipo de pensamento está enraizado na educação brasileira. A linha progressista designa tendências que analisam e criticam a realidade social na qual o aluno está inserido, tornando-se um instrumento importante na luta de professores e alunos contra a

desigualdade social. As tendências regidas pela linha progressista têm como objetivo exercitar a criticidade dos alunos, para que estes, ao perceberem sua situação na sociedade, tenham habilidades e ferramentas em sua luta para a mudança. Sendo assim, é simples perceber em quais momentos do processo de ensinoaprendizagem a falta de formação pedagógica se fez mais contundente em minha atuação como professora. Um fator muito presente em minhas aulas era a organização do ambiente e a minha concepção referente à disciplina. A sala de aula sempre era organizada em filas, com lugares ocupados pelos alunos já definidos anteriormente e a minha posição era sempre a frente deles. Libâneo (1994) diz que essa organização, professor à frente da turma, que está sentada de forma muito organizada em filas, é a composição da tendência pedagógica tradicional da ação didática, na qual o professor irá transmitir seu conhecimento para os alunos. Porém, apesar dessa visão simplista, o ensino é muito mais complexo do que isso, e condições inerentes aos alunos devem ser levadas em consideração, pois conhecer, conviver e lidar com essas questões é uma tarefa básica do professor para que seu trabalho seja realizado. Segundo Luckesi (1994) tendências pedagógicas, divididas em linha liberal (tendências tradicional, renovada progressivista, renovada não-diretiva e tecnicista) e linha progressista (tendências libertadora, libertária e crítico-social dos conteúdos) são tendências teóricas que pretenderam dar conta da compreensão e da orientação da prática educacional em diversos momentos e circunstâncias da história humana. É a compreensão da articulação entre filosofia e educação, atingindo o nível da concepção filosófica da educação. Permite a cada professor situar-se teoricamente sobre suas opções, articulandose e autodefinindo-se. Essas tendências podem funcionar como um instrumento de análise para o professor avaliar a sua prática de sala de aula. Muitas das minhas ações eram pautadas pela tendência Tradicional que, segundo Luckesi (1994), tem como característica a preparação conteudista para uma determinada situação e a valorização intelectual do conteúdo, separando-o da realidade social do aluno, com exposições verbais e demonstrações sempre executadas pelo professor, resolução contínua de exercícios e repetição de conceitos, e o julgamento dos resultados obtidos pelos alunos, de forma negativa ou positiva. Após o contato e estudo de disciplinas pedagógicas, especialmente a Didática, consigo avaliar que estas atitudes enquanto professora condiziam com a minha concepção naquele momento sobre o que é a educação, e que hoje, esta concepção é totalmente diferente. Zabala (1998) mostra que absolutamente

tudo que é realizado dentro de uma sala de aula, desde o planejamento até a forma de avaliar, tem um impacto no aluno, de menor ou maior intensidade, e todas essas ações planejadas e executadas pelo professor estão de acordo com a sua ideia do que é educação. Hoje minha concepção do que é educação mudou drasticamente, o que, consequentemente também mudou minha visão acerca do processo de ensinoaprendizagem, levando-me a valorizar o aluno como uma parte ativa deste processo. Libâneo (1994, p.65-66) fala da Didática da Escola Nova (ou Didática ativa), na qual o aluno é o protagonista do processo de ensino-aprendizagem, colocando o professor como o sujeito que oferece um ambiente e uma situação que sejam propícios para que o aluno seja estimulado a buscar o conhecimento, através de experiências, projetos, trabalhos em grupo e uma outra infinidade de metodologias que são fundamentais para valorizar o aluno, e não as disciplinas ou o professor. O professor, ao assumir a posição de mediador entre o aluno e o conhecimento, auxiliando o aluno a aprender, ganha também novas formas e possibilidades de avaliação, que irão atender o aluno por completo e não o condicionando a apenas dois tipos de resultado o bom ou o ruim. Além das questões metodológicas e avaliativas, é possível observar em minha prática na educação básica, a ausência do fator social. Por muitas vezes, o contexto no qual o aluno está inserido não foi levado em consideração durante meu planejamento, execução das aulas e avaliação. A ausência do olhar pedagógico e sensível fez muita diferença e impediu a eficácia do processo de ensino-aprendizagem, pois ao notar que os alunos não estavam aprendendo, meu pensamento não era o que está acontecendo para que não aprendam? e sim eles devem estudar mais e fazer mais exercícios. O aluno não conseguir aprender, muitas vezes, não depende do que acontece em sala de aula, mas sim do que acontece fora, em sua família, na comunidade aonde vive. Neste ponto, é crucial o apoio em uma tendência pedagógica que leve em consideração o aluno como um ser social, cuja capacidade de aprender é totalmente afetada pelas experiências que ele vivencia. Luckesi (1994) fala sobre a tendência Libertadora, cujo mentor foi Paulo Freire, e que leva em consideração não apenas toda a questão social do aluno, mas também valida todas as suas experiências anteriores e leva à uma educação realmente libertadora, na qual o resultado é obtido através de compreensão, reflexão e críticas, com conteúdos que são relevantes para a realidade do aluno e do professor. 4. Considerações Finais

Ao revisitar minhas lembranças e narrar minha experiência como professora de educação básica sem ser licenciada à luz dos conhecimentos estudados em Didática e em outras disciplinas de fundamentos da educação, pude refletir sobre a professora que eu fui e projetar a professora que eu gostaria de ser, depois de cursar disciplinas pedagógicas. A maior dificuldade enfrentada na minha atuação partiu da minha própria concepção sobre o que é educação e quais são as suas finalidades. A partir disso, assumi uma postura pautada na tendência Tradicional e não levei em consideração aspectos fundamentais sobre o processo de ensino-aprendizagem e questões inerentes aos alunos. Hoje o meu desejo é ser uma professora embasada pela Pedagogia da Escola Nova, na qual o aluno é o protagonista do aprendizado, e a partir disso propor diferentes metodologias e diferentes formas de avaliação. Em conjunto, também me fundamentar na tendência Libertadora da linha progressista, pois os fatores que fazem o aluno ser o que ele é também são fundamentais em seu processo de aprender. Sendo assim, minha motivação é assumir o papel que é próprio do professor: um ser transformador, que faz a mediação entre o aluno e o conhecimento, e nesse meio tempo, o auxilia na formação de suas próprias ideias, concepções e ideologias, possibilitando que ele mesmo promova a sua própria transformação e a modificação da sua realidade. 5. Referências ARANHA, Antônia Vitória Soares; SOUZA, João Valdir Alves de. As licenciaturas na atualidade: nova crise? Educar em Revista, Editora UFPR, Curitiba. 2013. Disponível em: < http://revistas.ufpr.br/educar/article/viewfile/34745/21530> BRASIL. Estudo exploratório sobre o professor brasileiro com base nos resultados do Censo Escolar da Educação Básica 2007 / Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Brasília : Inep, 2009. CUNHA, Maria Isabel da. Conta-me agora!: As narrativas como alternativas pedagógicas na pesquisa e no ensino. Revista Fac. Educ., São Paulo, v.23, n. 1-2, p., Jan 1997. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=s0102-25551997000100010&lng=en&nrm=iso> LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LUCKESI, Cipriano Calor. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez, 1994. ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artmed, 1998.