Brasil e Estados Unidos avançam na reabertura de mercado para carne bovina in natura
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- Júlio Lopes Gabeira
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1 Edição 14 - Julho de 2015 Brasil e Estados Unidos avançam na reabertura de mercado para carne bovina in natura A presidente Dilma Rousseff esteve nos Estados Unidos, de 27 de junho a 1º de julho, onde se encontrou com autoridades políticas e representantes do setor privado. A missão, que deu início a um novo capítulo nas relações entre os dois países, teve como principal objetivo estimular o fluxo de comércio e investimentos entre os dois países. Na agenda constavam temas de facilitação de comércio, ações para reduzir os custos e a burocracia nas transações bilaterais, convergência regulatória, parceria entre universidades, investimento em tecnologia e um acordo na área ambiental. Os EUA são historicamente um importante parceiro comercial brasileiro. Em 2014, foi o terceiro principal destino das exportações brasileiras (US$ 27,15 bilhões), atrás apenas da União Europeia e da China. Segundo a presidente Dilma, espera-se que o fluxo de comércio entre Brasil e Estados Unidos dobre nos próximos dez anos. Para o agronegócio brasileiro, uma das principais vitórias da missão foi o avanço no processo de reabertura do mercado norte-americano à carne bovina in natura (refrigerada ou congelada) brasileira. As negociações estão em curso há 15 anos e a participação da ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento Kátia Abreu foi essencial para o avanço no diálogo. Com a publicação da final rule (decisão final) no último dia 2 de julho, os Estados Unidos confirmam que a carne brasileira atende os padrões norte-americanos de saúde animal, afirmando que o Brasil é capaz de cumprir com seus requisitos de certificação. A decisão autoriza a exportação de 13 estados, mais o Distrito Federal. Os estados são: Bahia, Espirito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Rondônia, São Paulo, Sergipe e Tocantins. A carne proveniente de uma região da Argentina, reconhecida pelo Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (APHIS/USDA) como livre de febre aftosa, também terá acesso ao mercado norte-americano. Entretanto, para que a abertura do mercado de fato ocorra, ainda ficam pendentes as análises de saúde pública. O acesso ao mercado norte-americano pode, também, facilitar a entrada da carne bovina brasileira em outros mercados importantes, como o mexicano e o canadense.
2 Brasil e EUA assinam acordo ambiental No dia 30 de junho, os presidentes Barack Obama e Dilma Rousseff assinaram a Declaração Conjunta Brasil-Estados Unidos sobre Mudança do Clima. Os dois países estipularam a meta de elevar para 20% a participação de fontes renováveis em suas matrizes elétricas até Essa meta é para as fontes de energia renováveis além daquela por geração hidráulica, já amplamente usada no Brasil. Além disso, o Brasil pretende erradicar o desmatamento ilegal e reflorestar 12 milhões de hectares até Já os EUA reduzirão sua emissão de gases, até 2025, entre 26% e 28% em relação aos níveis de Os países apresentaram um plano de ação conjunta, prevendo a criação de um Grupo de Trabalho de Alto Nível Brasil-Estados Unidos sobre Mudança do Clima (GTMC), que gerenciará as ações realizadas em cooperação. Os principais pontos a serem atingidos pelo grupo são o uso da terra no que diz respeito tanto ao manejo de florestas quanto ao uso agrícola, energia limpa e adaptação aos efeitos da mudança climática. As atividades do GTMC devem começar até outubro de Estados Unidos renovam SGP e criam oportunidades para o agronegócio brasileiro No último dia 29 de junho, o presidente Barack Obama assinou dois projetos de lei que ajudarão a reescrever as regras para sua política comercial: Autoridade de Promoção Comercial (TPA, sigla em inglês) e a Lei de Extensão de Preferências Comerciais de 2015, que renova programas como o Sistema Generalizado de Preferências (SGP) e a Lei de Crescimento e Oportunidades Africanas (AGOA, sigla em inglês). O objetivo dessas leis é aumentar as normas de segurança do meio ambiente, estreitar os vínculos comerciais com os países em desenvolvimento e aumentar o apoio e as proteções para o trabalhador norte-americano afetado pela globalização. A TPA, por exemplo, é um avanço no sentido de acelerar o processo de conclusão das negociações de acordos comerciais. Por meio da TPA, o Congresso norte-americano concede ao presidente a autoridade para negociar acordos comerciais de maneira mais ágil. Assim, os parlamentares apenas podem votar se aprovam, ou não, sem a possibilidade de fazer alterações no projeto em votação. A TPA também define objetivos para as negociações de acordos comerciais. Para as negociações referentes à agricultura, a principal meta é a obtenção de oportunidades competitivas para as exportações de produtos do agronegócio norte-americano, e de condições mais justas e abertas para o comércio a granel, colheitas especializadas e de commodities de valor agregado. Esse instrumento indica que o melhor acesso a mercados deve ser garantido por regras robustas sobre medidas sanitárias e fitossanitárias que adotem padrões internacionais e que são embasadas em dados científicos. A lei também cita a importância da eliminação de tarifas, cotas e subsídios que prejudiquem o acesso dos produtos do agronegócio a mercados externos. Já a Lei de Extensão de Preferências Comerciais de 2015 renova uma série de programas de apoio ao desenvolvimento, redução da pobreza no exterior, e de formação e apoio profissional. O SGP e a AGOA são exemplos desses programas e podem ter impactos no agronegócio brasileiro. Desde 2000, a AGOA tem sido um catalizador da crescente parceria entre a África e os Estados Unidos, proporcionando benefícios e oportunidades econômicas para os países africanos. A renovação do SGP americano, suspenso desde julho de 2013, era uma das principais demandas dos exportadores brasileiros. O programa entrará em vigor 30 dias após sua promulgação, no dia 29 de julho de 2015, e terá vigência até 31 de dezembro 2
3 de A lei garante a aplicação dos benefícios de forma retroativa aos produtos importados após 31 de julho de 2013 e que seriam elegíveis ao tratamento livre de impostos pelo SGP. Nos próximos dias, a CNA publicará um estudo mostrando a perda em valor de comércio de produtos do agronegócio após a suspensão do SGP. Estima-se que a perda tenha sido de aproximadamente US$ 135 milhões, distribuída entre 20 setores, como o de açúcares, bebidas, frutas e preparações alimentícias, entre outros. Agronegócio tem maior participação nas exportações brasileiras As exportações brasileiras somaram US$ 94,33 bilhões nos primeiros seis meses de Deste total, o agronegócio foi responsável por 45,9% das vendas externas (US$ 43,3 bilhões). A participação do setor foi a maior em seis anos. Com as importações somando US$ 7,1 bilhões, a balança comercial do agronegócio registrou superávit de US$ 36,2 bilhões. Balança comercial do agronegócio brasileiro (janeiro a junho) Fonte: Aliceweb/ MDIC Elaboração: SRI/CNA Sete dos dez principais produtos da pauta de exportação brasileira pertencem ao agronegócio. Juntos, eles somam US$ 28,6 bilhões, em exportações, e representam 30,3% do total exportado pelo país no primeiro semestre do ano. A soja em grãos foi o principal produto exportado pelo Brasil, com US$ 12,5 bilhões em vendas. Apesar da queda de 22% na receita, se comparada ao mesmo período de 2014, houve aumento de 1,2% no volume de vendas. Outros produtos do agronegócio com bons resultados em exportações foram o farelo de soja (US$ 2,98 bilhões), a carne de frango (US$ 2,97 bilhões) e o café em grão (US$ 2,86 bilhões). As exportações do café em grão apresentaram aumento de 9,3% em valor e de 0,3% no volume no período em análise. Outros itens com aumento no volume exportado foram óleo de soja (11,2%) e pasta química de madeira (7,0%). 3
4 No fim de junho, a presidente Dilma Rousseff lançou o Plano Nacional de Exportações (PNE), que tem como objetivo fortalecer o comércio de produtos brasileiros no exterior. Por meio do PNE, o comércio exterior se torna um elemento estratégico e permanente da agenda de crescimento econômico do Brasil. O setor agropecuário e a CNA participaram ativamente do processo de desenvolvimento do PNE, com propostas de diversificação de pauta, ampliação dos destinos das exportações brasileiras e número de exportadores. Para a CNA, é indispensável que o Brasil tenha uma estratégia negociadora bem definida e focada em um acesso a mercados mais amplo e justo para produtos agropecuários. Para isso, deve-se investir na promoção da imagem de produtos brasileiros a partir de ações de diferenciação e agregação de valor. Além disso, é importante que o Brasil fortaleça sua atuação em organismos internacionais, buscando maior inserção nas nego- Boletim do Agronegócio Internacional Edição 14 - Julho de 2015 Principais exportações do Brasil (janeiro a junho de 2015) Produtos Valor (US$ bilhões) Participação no total Variação ( ) 1 Soja em grão 12,50 13,3% -22,5% 2 Minério de ferro 7,16 7,6% -49,0% 3 Petróleo em bruto 6,40 6,8% -6,1% 4 Farelo de soja 2,98 3,2% -15,0% 5 Carne de frango 2,97 3,1% -8,3% 6 Café em grão 2,86 3,0% 9,3% 7 Açúcar em bruto 2,64 2,8% -13,9% 8 Celulose 2,57 2,7% -1,5% 9 Carne bovina 2,09 2,2% -23,5% 10 Aviões 1,62 1,7% 6,4% Sete maiores do agronegócio 28,60 30,3% -15,6% Demais produtos do agronegócio 14,66 15,5% -3,8% Três maiores não agrícolas 15,19 16,1% -32,1% Demais produtos não agrícolas 35,88 38,0% -8,1% Exportações totais do Brasil 94,33 100% -14,66% Fonte: Agrostat/MAPA Elaboração: SRI/CNA CNA acompanhará resultados do Plano Nacional de Exportações no agronegócio brasileiro A Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) e a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) publicaram, no início do mês, o relatório Perspecticiações de acordos comerciais. O agronegócio é de extrema importância para a economia brasileira, com PIB de US$ 501 bilhões, o que representou 21,3% do PIB total do país em O Brasil é hoje líder mundial no comércio de diversos bens agropecuários e atende às demandas dos principais e mais exigentes importadores de alimentos, como os EUA, a União Europeia, a China e a Rússia. Em 2014, as vendas externas do setor somaram US$ 96,7 bilhões, ou 43% das exportações totais do país. No entanto, ainda existem barreiras a serem superadas e o PNE pode ter papel fundamental nesse processo. Além do planejamento estratégico, o PNE definiu metas qualitativas e indicadores de desempenho que ajudarão a mensurar e monitorar seus resultados. A partir desses indicadores, a CNA criou um observatório para mensurar a efetividade das medidas especificamente para o agronegócio. Relatório da OCDE-FAO ressalta importância das exportações no desenvolvimento agrícola brasileiro vas da Agricultura O relatório traz as projeções dos mercados nacionais, regionais e mundiais de commodities agrícolas para a próxima década. 4
5 A agricultura brasileira recebeu atenção especial no estudo. Além de uma análise profunda das perspectivas, foram apresentados os desafios enfrentados pelo setor e as perspectivas para as principais cadeias produtivas. O Brasil deverá ser o país que mais se beneficiará com a expansão do comércio, gerada pelo aumento da demanda por importações, provenientes principalmente da Ásia. O desenvolvimento agrícola e o aumento das exportações brasileiras criam novas perspectivas de reduções da pobreza no campo. De acordo com as projeções, o Brasil deverá assumir a liderança mundial nas exportações agrícolas até 2024, beneficiando-se das melhorias contínuas na produtividade, da conversão de algumas áreas de pastagens em lavouras e de produção pecuária mais intensiva permitindo a produção de maior volume de proteína em menor área e da depreciação do Real. As oleaginosas, predominantemente a soja, continuarão a dominar as áreas plantadas, ainda que a plantação de cana-de-açúcar deva crescer fortemente. Desse modo, a soja deverá permanecer como o principal produto agrícola brasileiro. Em termos de ganhos de produtividade, o setor que apresenta maiores resultados é o de cereais. A produção de arroz, milho e trigo aumentará suas taxas de crescimento em torno de 1,5%. Vale destacar, também, que o setor de algodão também terá ganho substancial. Algodão A produção de algodão no Brasil crescerá mais rápido que em outros países, com uma taxa média anual de 4,6%, devido ao aumento de área plantada. A demanda doméstica se manterá estável, mas a demanda global crescerá. O Brasil pode, também, elevar a cadeia de valor no processamento do produto. Atualmente, o país é o quinto maior processador mundial da fibra. Açúcar e biocombustíveis O Brasil continuará como o maior produtor e exportador mundial de açúcar. A depreciação do Real poderá incentivar investimentos no setor, aumentando a produtividade. Espera-se um crescimento na produção de açúcar de 39 milhões para 48 milhões de toneladas. Carnes Três fatores contribuirão para o rápido crescimento da produção de carne: queda no custo de alimentação dos animais, melhoramento genético e aumento da demanda doméstica e internacional. A carne de frango será responsável por mais da metade do aumento projetado para a produção de carnes. Os preços de todas as carnes terão uma taxa modesta de crescimento quando ajustadas pela inflação. Café Projeta-se que, até o final de 2024, a produção anual de café atinja 61 milhões de sacas (de 60 kg). Esse volume representa aumento de 25% se comparado à safra 2013/2014. A atual tendência de exportação de café processado, ao invés de café verde, pode ser menos favorável no início, devido aos casos de escaladas tarifarias em diversos mercados, principalmente o europeu. Em 2014, a CNA publicou estudo que ilustra os danos causados por essas altas tarifas impostas pelos países membros da UE à exportação de produtos processados brasileiros. Desafios para a agricultura brasileira Para assegurar as previsões do relatório, o Brasil deverá melhorar o acesso aos mercados estrangeiros, assinando acordos comerciais, por exemplo. São necessárias, também, reformas estruturais, que aumentem a produtividade e os investimentos, e que reduzam o custo de se fazer negócios no Brasil. Além disso, o país deve fortalecer ainda mais suas práticas de conservação da natureza e de cultivo sustentáveis. Boletim do Agronegócio Internacional é elaborado pela Superintendência de Relações Internacionais. 5 CONFEDERAÇÃO DA AGRICULTURA E PECUÁRIA DO BRASIL SGAN - Quadra Módulo K CEP: Brasília/DF (61) cna.comunicacao@cna.org.br
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