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- Sônia Ventura Desconhecida
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1 Página 1 de 7 A ANÁLISE DISCURSIVA DE TEXTOS DE CRÍTICA CINEMATOGRÁFICA DAS REVISTAS PANORAMA, L ESPRESSO E DO JORNAL LA REPUBBLICA VOLTAR Claudia Fátima Morais Martins Docente - UFRJ O discurso jornalístico escrito informa, desinforma, gera polêmicas e, não raro, seduz o seu leitor através das mais variadas estratégias linguagísticas. Isto porque a imprensa escrita é, sobretudo, um fenômeno de linguagem. Segundo Charaudeau, 1988, seu discurso se manifesta através de toda uma encenação linguagística que lhe é própria e que contribui considerávelmente para a construção do sentido: a disposição das fotos na página, o lugar do título e dos subtítulos, o tamanho das letras, a escolha da organização discursiva (argumentação, narração, descrição)... Trata-se de um dispositivo complexo. Por um lado, esta encenação da linguagem se apresenta de maneira relativamente estável e até mesmo esteriotipada é o caso dos mesmos tipos de rubricas, que se assemelham em diferentes jornais e revistas, como que obedecendo a um modelo pré-concebido e característico do discurso da mídia. Mas, por outro lado, este dispositivo permite uma certa variação da encenação linguagística, por meio de estratégias discursivas individuais e particulares, que podem gerar diversos efeitos de escrita (de persuasão e sedução). Proponho, dessa forma, uma leitura globalizante de artigos de crítica cinematográfica das revistas italiana Panorama e L Espresso e do jornal La Repubblica, utilizando os pressupostos da Análise do Discurso de Patrick Charaudeau, de Kerbrat-Orecchioni e de Michel Pêcheux. Procuro centrar a minha análise no estudo das estratégias de sedução e de persuasão encontradas no discurso jornalístico e procuro demonstar a organização do discurso argumentativo presente nesses artigos de crítica cinematográfica. Na realidade, os elementos utilizados na estruturação do discurso demonstram a inscrição da visão do jornalista no artigo e a presença desse crítico se faz sentir através de termos afetivos que estão disseminados ao longo desses artigos. Ou seja, para Charaudeau, o texto jornalístico traz em si a objetividade na exposição dos fatos e, também, deixa evidente que há marcas do enunciador por toda a sua enunciação. Desta forma, a interpretação que é realizada deve considerar o modo de organização e funcionamento do discurso (narrativo, descritivo, argumentativo), as modalidades que uma palavra assume no texto (uma mesma palavra pode funcionar objetivamente ou subjetivamente, segundo a intenção do jornalista) e ainda as
2 Página 2 de 7 estratégias de interlocução, posição social e histórica. Sabemos que o contrato jornalístico obedece a duas finalidades: informar e seduzir. Para Charaudeau, informar significa expor os fatos de maneira objetiva e séria. No caso da crítica, além de informar, o jornalista procura orientar o leitor na sua escolha por um determinado filme, livro, espetáculo etc. Ainda para este teórico, a sedução se encontra no discurso com o objetivo de envolver o leitor pelo prazer e convencê-lo a adquirir um determinado produto. Assim, entram em cena as finalidades persuasiva e sedutora do contrato de comunicação. O lingüísta define o conceito de sedução: corresponde a um objetivo de captação do outro pelo lado da racionalidade e consiste para o sujeito falante em fazer com que o outro aceite suas asserções como verdadeiras. Esta finalidade repousa sobre o princípio da nãocontradição, de rigor lógico, de verossimilhança da tese como ideal de savoir faire, que leva o outro a aderir a seu próprio universo de discurso (verdades e crenças). Para a definição da sedução, Charaudeau descreve que: corresponde igualmente a um objetivo de captação do outro, mas desta vez pelo prazer. A sedução consiste, assim, em causar prazer no outro. O princípio que define esta atividade consiste em desencadear no outro estados emocionais positivos.esta finalidade da sedução gerará comportamentos discursivos de não-racionalidade, levando à construção de imaginários nos quais o outro possa se projetar e com os quais possa se identificar. As principais estratégias para cooptar o público/leitor são colocadas logo no título e no subtítulo dos artigos e se disseminam no texto de maneira a utilizar o discurso argumentativo. Esses títulos, subtítulos, resumos e legendas da imprensa assumem um papel de destaque e têm por função principal anunciar a notícia e, normalmente, constituem um sumário do artigo que encabeçam. Assim, condensando em poucas palavras aquilo que o jornalista considera ser a informação mais importante do texto, esses elementos de destaque muitas vezes acabam se tornando o essencial da informação. Sob a ótica da AD, estas partes têm um valor fundamental, visto que são extremamente ricas na descrição de contratos e estratégias de discurso. Na revista Panorama, a estratégia utilizada consiste na sedução do leitor por meio de um discurso informativo (informação sobre a história de um filme), passando-se logo em seguida ao discurso argumentativo. Já na revista L Espresso, o contrato jornalístico se baseia em estratégias de sedução que procuram influenciar o leitor com a utilização de termos afetivos axiológicos (que demonstram a opinião do escritor, uma vez que estes termos estão ligados intimamente a um julgamento de valor apreciativo ou depreciativo). O procedimento utilizado pela jornalista do jornal La repubblica evidencia a sua total participação na crítica, principalmente como espectadora, sendo esta a estratégia que tanto lhe rende o sucesso quanto ao número de leitores. Um outro conceito importante na teoria de Charaudeau é o da argumentação. Esta pressupõe na verdade uma ação complexa finalizada, um encadeamento estruturado de argumentos ligados por uma estratégia global com o objetivo de
3 Página 3 de 7 convencer um público da tese defendida pelo enunciador. Trata-se de um procedimento discursivo que visa a modificar as convicções de um sujeito, apresentando uma característica particular: não age diretamente sobre o indivíduo, mas sobre a organização do discurso elaborado de modo que este provoque um efeito persuasivo: o enunciador que argumenta se dirige a seu co-enunciador da mesma maneira que este último é suscetível de contra-argumentar utilizando a sua capacidade racional para fechá-lo em uma rede de argumentos dos quais não possa escapar. A argumentação é, dessa maneira, constituída por: um tema ou tese, que permeia todo o discurso e em torno do qual/da qual se discute; um protagonista, o enunciador ou sujeito argumentador, que quer convencer o interlocutor da validade de suas asserções; um destinatário, real ou imaginário, que deve ser convencido; uma linha de raciocínio lógico que apresente almenos uma opinião e um ou mais argumentos para defender esta opinião, que é sempre subjetiva; e uma eventual conclusão. A argumentação que é estabelecida num texto escrito, de caráter publicitário ou de outro tipo, como por exemplo num tipo de texto onde prevalece a ausência física do intelocutor, apresenta uma estrutura diferente da argumentação realizada em um debate ou numa discussão oral. Nestes casos, o interlocutor está presente fisicamente e participa diretamente do ato argumentativo, condicionando o seu andamento e a sua conclusão. No texto escrito, o enunciador, no momento em que decide colocar os argumentos a favor da tese por ele defendida, prevê que o seu destinatário não participa diretamente do ato argumentativo e, assim, este não poderá manifestar a aceitação ou refutação da tese que lhe foi proposta. Por este motivo, o enunciador procura argumentos que lhe pareçam convincentes em absoluto e eficazes para convencer aquele interlocutor específico, colocando de lado, assim, qualquer dúvida quanto a aceitação da tese em questão. Dessa forma, a análise discursiva dos textos de revistas e de jornais constitui um trabalho interessante para a verificação de hipóteses teóricas quanto aos tipos de estratégias colocadas em jogo no texto escrito e quanto aos instrumentos argumentativos. Sabe-se que, para Charaudeau, este tipo de investigação constitui, no âmbito da informação escrita, um campo de estudos das transformações sócio-culturais dos grupos sociais, das relações entres essas transformações e do entrelaçamento dos 1 gêneros discursivos (Charaudeau, 1983). Cabe-nos, então, a pergunta: qual é a função da linguagem freqüentemente encontrada em revistas e jornais? A resposta que logo nos vem em mente é a da informação, mas, além de informar, esse tipo de linguagem constrói um sentido, uma significação maior que ultrapassa a informação pura e simples. Esse tipo de linguagem contribui também para a edificação de um sentido maior e para a consolidação de um contrato de comunicação.
4 Página 4 de 7 Assim, a linguagem utilizada pressupõe a existência de um gênero informativo, de um contrato de fala que estabeleça a autenticidade e a seriedade do texto e de um público-alvo a quem esse discurso seja destinado, estabelecendo assim as estratégias discursivas. De fato, é possível considerar que a análise de textos de crítica fornece um material rico para o estudo da produção/recepão de textos escritos e das estratégias e intenções discursivas envolvidas no processo de elaboração dos argumentos. De maneira mais geral, o discurso argumentativo tem por objetivo seduzir/persuadir o leitor das categorias avaliativas introduzidas pelo jornalista. O crítico legitimará a sua tese por meio dos argumentos que consolidaram a sua visão de mundo e a sua opinião, servindo-se, assim, das estratégias enunciativas no próprio texto com o único objetivo de cooptar seu leitor. A linguagem jornalística e seus recursos expressivos A linguagem jornalística representa um dos campos mais favoráveis ao uso da função conativa. Tal função, que se encontra com freqüência em textos de jornais e de revistas, tem por objetivo convencer o destinatário a realizar uma determinada ação. A importância da mensagem jornalística, baseada sobretudo num precioso código que influencia principalmente a língua média, ou seja, aquela língua usada pela maior parte da população, foi alvo da atenção de grandes estudiosos dos problemas lingüísticos já nos anos 1930, quando ainda eram bastante ingênuos os artigos que se encontravam nos quotidianos e revistas em circulação. Entretanto é somente a partir dos anos 1960, com a consolidação de uma sociedade de consumo e com a difusão de um bem-estar econômico cada vez maior, que a linguagem jornalística assume um peso decisivo na nossa sociedade. Os objetivos desse tipo de linguagem são sempre os mesmos, ou seja, a intenção comunicativa é a de atingir o público e a de provocar uma certa reação no leitor. Sabe-se que cada forma de publicidade responde a algumas exigências de divulgação por intermédio de meios peculiares: o cartaz, que é exposto nas ruas e avenidas, procura colocar em evidência a informação baseando-a na imagem e numa pequena seqüência de palavras, integrando, assim, um breve slogan; o comercial televisivo poderá servir-se, de maneira muito inteligente, da música e criar, assim, uma série de sugestões visuais; a página publicitária de um jornal jogará com uma combinação diversa de imagens e de palavras ou pequenas frases. Em todos esses casos, porém, a parte verbal da mensagem, no texto jornalístico, apresenta uma importância fundamental para o bom desempenho de uma intenção comunicativa. Por isso, para se chegar à obtenção dos efeitos de rapidez na transmissão da mensagem e da brevidade da informação, os jornalistas foram aperfeiçoando cada vez mais a técnica de elaboração das pressuposições e dos implícitos, e atualizaram uma série de aspectos que deram lugar, mais tarde, a uma moderna retórica da linguagem jornalística. Trata-se, dessa forma, de uma atualização da retórica antiga, que se
5 Página 5 de 7 configura, então, numa linguagem mais persuasiva presente nos artigos de jornais e revistas. São muitos os casos nos quais um slogan, que dá relevo a um determinado produto (seja a apresentação de um filme, o lançamento de um disco, a estréia de um musical), tem a sua imagem construída com a utilização das mesmas técnicas e dos mesmos expedientes que caracterizavam a oratória clássica. O uso da metáfora e da metonímia é, assim, um procedimento recorrente no discurso presente nos textos de jornais e de revistas. Existem slogans, por exemplo, baseados na figura da aliteração ( Perlana. Passaparola ), na paranomásia ( Odi e godi ), na hipérbole, na metáfora e na metonímia. É justamente na aproximação de imagens afins, uma característica própria da metonímia, que se baseia o procedimento da isca, ou seja, trata-se de uma espécie de chamariz ou aperitivo para atrair a atenção do público em relação ao produto em questão. Por exemplo, a idéia de frescor que deve transparecer na propaganda de uma bala de menta é concretizada, na imagem global do jornal ou da revista, na associação de uma paisagem polar, de um iceberg, ou do topo de uma montanha coberta de neve à imagem desta bala. É o caso da propaganda da bala Halls, que justamente quer criar esse mecanismo de associação no público. O mesmo procedimento se aplica à publicidade de uma cerveja que, em geral, associa uma jovem loura à imagem de uma marca de cerveja. O discurso e a imagem que são utilizados colocam em jogo a atração sexual que a jovem pode despertar no consumidor. Dessa forma, evidencia-se que a cerveja possui uma coloração amarelada, e se o consumidor se sente atraído pela jovem da propaganda, se sentirá, portanto, atraído pela cerveja, sendo assim induzido a consumir o produto. A atração sexual que a jovem desperta é associada ao desejo de se consumir a cerveja daquela marca específica. Em outros casos, o mecanismo de captação do leitor usado nos artigos é o de uma citação muito elaborada ou a presença de uma atualização do conhecimento de mundo do público (há alguns anos uma marca de pijamas utilizou o slogan Julipet ergo sum, parafraseando a célebre frase do filósofo francês Descartes, Cogito, ergo sum. Há, ainda, a propaganda de um tipo de telefone celular que aplica o deslocamento de classe gramatical de um termo, como ocorre na frase Usatelo meno spesso, na qual a palavra spesso não funciona aqui como advérbio, o que contrariaria a intenção da frase, que é a de que o público use o telefone celular com freqüência. O que acontece é que a palavra spesso, nessa frase, funciona come adjetivo, referindo-se, assim, as dimensões do aparelho celular. Logo, com este tipo de publicidade, procura-se evidenciar que será muito mais cômodo para o público adquirir um celular mais fino e menos pesado. Todos esses mecanismos fazem parte de um jogo sutil de sedução do público e é este jogo que caracteriza a linguagem jornalística. Às vezes, esse tipo de linguagem se baseia num jogo fônico, agindo assim sobre o destinatário de maneira inconsciente.
6 Página 6 de 7 A linguagem presente em jornais e em revistas se apresenta, assim, como uma linguagem dinâmica e muito particular. A presença da escrita, associada à imagem presente no texto, representa uma forma de diálogo e constitui um leque muito grande de pressuposições e de induções que o jornalista pode criar no artigo. Nesse contexto, é fundamental o uso de figuras retóricas e do jogo de palavras e, mais interessante do que se chegar ao discurso final, com todos os seus pressupostos já evidenciados, é importante notar o jogo que o jornalista procura fazer para influenciar e seduzir o leitor. Referências Bibliográficas BENVENISTE, E. O aparelho formal da enunciação. In: Problemas de lingüística geral II. Campinas: Pontes. CHARAUDEAU, Patrick. Grammaire du sens et de l expression. Paris: Hachette, CHARAUDEAU, Patrick. Langage et discours: elements de semiolinguistique (theorie et pratique). Paris: Hachette - Université CORRÊA, Angela M.S. Erros em tradução do francês para o português: do plano lingüístico ao plano discursivo. Tese de Doutorado em lingüística. Rio de Janeiro: Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro, 1991, mimeo. KATO, Mary A. Aprendendo a redigir e a pensar. Cadernos de Estudos Lingüísticos, Campinas, n. 14, p , jan. / jun KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7. ed.. São Paulo: Ática, KLEIMAN, Angela. Oficina de leitura: teoria e prática. Campinas: Pontes, KLEIMAN, Angela. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. Campinas: Pontes, KOCH, Ingedore G. V. A coesão textual. 8. ed. São Paulo: Contexto, KOCH, Ingedore G.V. & FAVERO, Leonor Lopes. Contribuição a uma tipologia textual. [Revista da] Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, n. 3, v. 1, p , jul. / set KOCH, Ingedore G.V. & TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. São Paulo: Contexto,1993 KOCH, Ingedore Villaça. Argumentação e linguagem. São Paulo: Contexto, MAINGUENAU, Dominique. Nouvelles tendances en analyse du discours. Paris: Hachette, MAINGUENEAU, D. & CHARAUDEAU, P. Dictionnaire d'analyse du discours. Paris, Seuil, OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Conectores e categorias de argumentação. Trabalho apresentado no Segundo Colóquio Latino Americano de Analistas del Discurso (Aled) - 25 a 29 de Agosto de 1997, La Plata, Buenos Aires. OLIVEIRA, Helênio Fonseca de. Contribuição ao estudo do modo argumentativo de organização do discurso: análise de um texto jornalístico. In: Carneiro,
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