MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO PROCURADORIA-GERAL

Transcrição

1 Interessados: Sindicato dos Estivadores e Trabalhadores em Estiva de Minérios de São Francisco do Sul SC; OGMO - Órgão Gestor de Mão-de-obra do Porto de São Francisco do Sul; e Delegacia da Capitania dos Portos em São Francisco do Sul Assuntos: Outros Relatório Trata-se de procedimento instaurado a partir de representação do sindicato obreiro supramencionado, noticiando que como muitos trabalhadores avulsos foram retirados indevidamente das listas que atuavam como operadores de ponte rolante e demais equipamentos utilizados em operações portuárias que por eles eram exclusivamente operados, foi insistentemente requerido ao OGMO e a Delegacia da Capitania dos Portos que levasse a efeito a realização da avaliação destes trabalhadores, nos termos da Portaria 102 da DPC e demais aplicáveis, posto que a supressão de seus nomes nas listas tem gerado prejuízos financeiros (fl.03), e requerendo a atuação do Ministério Público do Trabalho como mediador, independente da possibilidade de atuação do D.Parquet como fiscal da Lei, e das medidas que forem necessárias (idem). O nobre Procurador oficiante, Dr. Marcelo Martins Dalpom, indeferiu o requerimento de instauração de inquérito civil com a seguinte fundamentação, litteratim: 1

2 Protocolada denúncia relatando a [sic] que diversos trabalhadores avulsos deixaram de prestar serviços em pontes rolantes por inexistência de cursos da Marinha do Brasil. Tenho que a presente não deva sequer ser investigada. Com efeito, o denunciante, sindicato regularmente constituído, pode também propor ações civis públicas ou outras em defesa dos trabalhadores, devendo tal conduta ser incentivada, eis que cabe a este a defesa da categoria, restando ao Ministério Público primar pela defesa de interesses que não possam ser perfeitamente defendidos pelo sindicato denunciante. Doutro lado, tratam-se de interesses de pessoas capazes e sem intervir no meio ambiente de trabalho. Às folhas 21/22, a entidade sindical requereu a reconsideração do despacho supra transcrito, alegando, em linhas gerais, que houve pedido de mediação ao parquet, nos termos do art.83, inciso XI, da LC 75/93, porque não seria o caso de entulhar o poder judiciário com mais uma demanda judicial (fl.21). Sustenta, ainda, que a situação retratada na representação inaugural vem se arrastando (idem) pois o OGMO e a Capitania não se entendem na aplicação das normas (fl.22). R.despacho de folha 24, recebendo a manifestação do sindicato como recurso e mantendo a decreto hostilizada nos termos seguintes, verbis: De inciso [sic] cabe consignar que ao contrário do dito no recurso de fls.21/22, ao final do requerimento se pede, além da arbitragem, as medidas de [sic] forem necessárias, sendo estas a ação civil pública e o inquérito civil. Desta feita, cabível o arquivamento proposto. Doutro lado a arbitragem depende de consenso entre as partes ou de convenção de arbitragem, o que inexiste no presente caso. Assim, mantenho o despacho de arquivamento, cabendo ao sindicato a adoção das medidas que entender necessárias. 2

3 Recebidos os autos na Câmara de Coordenação e Revisão, constatou-se a falta de intimação dos representados para, querendo, oferecer contrariedade ao apelo (art.5º, 3º, da Resolução CSMPT 69/2007 c.c. art.5º, inc.lv, da Constituição da República), motivo pelo qual retornou o feito à origem para a devida colmatação (fl.26). Não foram ofertadas contra-razões (fls.29/30). À folha 38, parecer do ilustre Coordenador da Coordenadoria Nacional do Trabalho Portuário e Aquaviário CONATPA, Dr. Eduardo Antunes Parmeggiani, em atenção ao despacho exarado por este Relator às fls.32/35. Admissibilidade Ab initio, quanto ao pedido de mediação, é de se destacar que a Resolução do CSMPT, nº 87 1, de , publicada no DJ de , alterou o caput do artigo 17 da Resolução CSMPT nº 69/2007, ad litteris: Art.17. Não se sujeitam a esta Resolução os Procedimentos Administrativos para acompanhamento de ações estratégicas voltadas para o fomento de políticas públicas, para acompanhamento de ações judiciais e para mediação, conciliação e arbitragem. (sem negrito no original) 1 Altera dispositivos da Resolução nº 69/07 do CSMPT, de 12 de dezembro de 2007, que disciplina, no âmbito do Ministério Público do Trabalho, a instauração e tramitação do inquérito civil, conforme artigo 16 da Resolução nº 23, de 17 de setembro de 2007, do CNMP. 3

4 Nesse contexto, a Câmara de Coordenação e Revisão, revendo posicionamento anterior quanto à possibilidade de revisão da decisão do órgão oficiante nos feitos envolvendo pedido de mediação, passou a adotar a orientação sintetizada na ementa do PGT/CCR/9759/2009 (Relatora Lucinea Alves Ocampos), verbatim: Pedido de mediação. Desnecessidade de submissão à CCR. Entendimento corroborado com a recente edição da Resolução 87/2009 do CSMPT. Pelo NÃO CONHECIMENTO da proposta de arquivamento. (negrito no original) Anote-se, na seqüência e no mesmo estalão, o PGT/CCR/7788/2008, 7789/2008, 7790/2008, 9986/2009 e 10174/2009. Feito esse registro, cumpre observar que, na hipótese em tela, a representação inaugural, conforme bem apontou o digno órgão oficiante (fl.24), traz requerimento de atuação do Ministério Público do Trabalho como mediador... independente da possibilidade de atuação do D.Parquet como fiscal da Lei, e das medidas que forem necessárias (fl.03/ sem negrito no original), podendo, desse modo, ser enquadrada, também, como verdadeira denúncia (verbia gratia PGT/CCR/11229/2009), o que possibilita a revisão, por esta Câmara, da decisão de indeferimento de instauração de inquérito civil, ora recorrida (artigo 5º, 2º, da Resolução CSMPT 69/2007). 4

5 Sendo assim, observados os critérios de admissibilidade, o presente recurso merece ser examinado por esta Câmara de Coordenação e Revisão. Voto Quanto à matéria de fundo (... trabalhadores avulsos deixaram de prestar serviços em pontes rolantes por inexistência de cursos da Marinha do Brasil /fl.17), registre-se o debate travado no seio da Coordenadoria Nacional de Trabalho Portuário e Aquaviário CONATPA, assim externado, verbo ad verbum: (...) Dr. Eduardo iniciou a discussão acerca das diferenças entre habilitação e treinamento do TP. No seu entendimento a habilitação se daria por meio de curso destinado ao condicionamento prévio do trabalhador para a execução de determinadas atividades; ao tempo em que o treinamento pressupõe a habilitação prévia, visando o aperfeiçoamento e dotar o trabalhador de novos conhecimentos, não previstos nos cursos da Marinha. Após amplos debates, por unanimidade, os representantes assumiram posição convergente para o entendimento de que a habilitação significa a qualificação pela Marinha para o exercício de determinadas funções. A relevância do tema foi acentuada por vários representantes, que apresentaram problemas e soluções com enfoque na capacitação dos trabalhadores portuários. Foi aprovado pela Coordenadoria o seguinte entendimento: Trabalhador portuário. Habilitação e treinamento. Diferenças. A habilitação do trabalhador portuário para determinada atividade é obtida através da freqüência e aprovação em curso ministrado pela Marinha do Brasil, através do PREPOM. Treinamento é toda forma de ministrar conhecimentos desenvolvida pelo OGMO para aprimorar a prestação de serviços pelos trabalhadores portuários, não lhes garantindo a habilitação para novas atividades. (Ata da Reunião Nacional de 26 e 27 de junho de 2008) (destaques no original) 5

6 Em face do entendimento acima reproduzido, este Relator, antes de elaborar proposta de voto, e nos termos do despacho apostilado às folhas 32/35, houve por bem remeter os autos ao douto Coordenador da CONATPA, para que, a rogo, prestasse as informações que julgasse conveniente. Ao pronunciar-se sobre a questão em exame, o ilustre Coordenador da Coordenadoria Nacional do Trabalho Portuário e Aquaviário CONATPA, Doutor Eduardo Antunes Parmeggiani, procedeu à seguinte análise, que ora se pede venia para incorporar à presente proposta de voto para efeito de fundamento, ipsis verbis: (...) A denúncia apresentada revela preterição ilegal de trabalhadores portuários avulsos pelo OGMO/São Francisco do Sul. Com efeito, possuindo os trabalhadores habilitação para determinada atividade, decorrente de cursos freqüentados junto ao PREPOM, não podem ser afastadados [sic] da escalação para dita atividade sob o fundamento de que não estariam aptos a exercê-la. Se, na prática, revelam os trabalhadores alguma dificuldade no desempenho da atividade para a qual estão habilitados, seria o caso de o OGMO/São Francisco do Sul ministrar-lhes treinamento para otimizar seu labor. Em tais condições, entendo que seria hipótese de atuação do MPT para resguardar os direitos dos trabalhadores atingidos pela conduta ilegal do OGMO/São Francisco do Sul. (...) Conclusão Pelas razões expostas, e acolhendo em essência os fundamentos esposados no parecer supra, a proposta de voto é pelo provimento do recurso administrativo e conseqüente não homologação da promoção de arquivamento, com devolução dos 6

7 autos à origem para prosseguimento, como se entender de direito, deixando de designar membro específico para atuação (inciso II, artigo 10, da Resolução CSMPT 69/2007), em respeito à autonomia organizacional da Regional, preservando-se, porém, o caráter de delegação deste ato, ainda que abstrata, que será individualizada no membro a quem couber oficiar no procedimento segundo os parâmetros regionais, e determinandose, também, que se dê ciência desta deliberação, se aprovada, ao douto Coordenador da Coordenadoria Nacional do Trabalho Portuário e Aquaviário CONATPA. Brasília, 17 de fevereiro de Rogério Rodriguez Fernandez Filho Relator 7