PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO AMAZONAS

Transcrição

1 Processo n Classe 42 Representação por Pesquisa Eleitoral Irregular Representante: Diretório Regional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMDB e Coligação Majoritária Renovação e Experiência Advogados: Dr. Marco Aurélio Lima Choy, OAB/AM n e outros Representada: Márcio Lopes de Souza ME Advogado: Dr. Marcelo Augusto dos Santos Pinheiro, OAB/AM n SADP /2014 SENTENÇA Trata-se de Representação com pedido de liminar formalizada pelo Diretório Regional do Partido do Movimento Democrático Brasileiro PMDB e pela Coligação Majoritária Renovação e Experiência em face de Márcio Lopes de Souza ME, em razão de pesquisa veiculada no sítio eletrônico Alega o representante que, nos dias 26 e 27 de junho, a matéria contestada veiculou pesquisa não registrada junto aos órgãos da Justiça Eleitoral, apontando empate técnico entre o Governador José Melo e o Senador da República Eduardo Braga, nas eleições para o cargo de Governador do estado do Amazonas. Por conseguinte, sustenta o representante a necessidade de registro da pesquisa nos termos do art. 33 da Lei n /97 e elenca os elementos obrigatórios para sua veiculação, constantes do art. 11, da Resolução TSE n /2013. Requereu, liminarmente, que fosse determinado que o sítio eletrônico se abstivesse de veicular a aduzida pesquisa, sob pena de aplicação de multa diária em caso de descumprimento. Nos termos da legislação vigente, pugnou pela a aplicação de multa aos responsáveis pela divulgação da pesquisa arbitrada em valores compreendidos entre R$53.205,00 (cinquenta e três mil e duzentos e cinco reais) e R$ ,00 (cento e seis mil e quatrocentos e dez reais).

2 2 Por derradeiro, afirmou se tratar de pesquisa presumidamente fraudulenta, em razão da falta de registro, requerendo, assim, o envio de cópia dos autos à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal, para apuração de crime previsto nos arts. 33, 4º e 34, 2º e 3º da Lei n.º9.504/97. Certidão da Secretaria Judiciária, às fls.30, atestando o teor da notícia divulgada no sítio eletrônico onde consta a informação de que a pesquisa não possui registro junto à Justiça Eleitoral. Liminar deferida determinando a imediata retirada da pesquisa atacada, sob pena de aplicação de multa diária de R$ 500,00 (quinhentos reais) por dia de divulgação. Em sua defesa, a representada proclama as liberdades de manifestação de pensamento e da atividade de comunicação, consagradas nos incisos IV e IX do art. 5º e no art.220, da Constituição Federal, arguindo ainda que a pesquisa seria de consumo interno, veridicamente recebida, mas de origem desconhecida, pois a representada, ciente das regras contidas na Resolução TSE n , não realizaria uma pesquisa técnica/científica, sem levar ao registro no TRE/AM. Seguindo em sua contestação, invoca a representada precedentes dos E. Tribunais Regionais Eleitorais de São Paulo e de Santa Catarina para suscitar a inexistência de comprovação de que a pesquisa seria de sua autoria e inexistência de cunho eleitoral. O Ministério Público Eleitoral, em parecer de fls. 69/72, opinou pela procedência total da representação. É o relatório. Passo a decidir. O regramento ordinário prevê no art. 33, da Lei n /97, a necessidade de registro junto à Justiça Eleitoral de pesquisas eleitorais, in verbis: Art. 33. As entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às eleições ou aos candidatos, para conhecimento público, 2

3 3 são obrigadas, para cada pesquisa, a registrar, junto à Justiça Eleitoral, até cinco dias antes da divulgação, as seguintes informações: (...) Nesse sentido, precedentes do E. Tribunal Superior Eleitoral ratificam os termos da proibição de veiculação de pesquisa não registrada, vide RESPE n , Acórdão de 01/10/2013, Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 18/10/2013 e Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº , Acórdão de 17/02/2011, Relator(a) Min. ARNALDO VERSIANI LEITE SOARES, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Tomo 69, Data 11/04/2011. também prevê: No intuito de coibir a prática proibida, o 3º do art. 33, da Lei das Eleições Art. 33 (...) 3º A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações de que trata este artigo sujeita os responsáveis a multa no valor de cinqüenta mil a cem mil UFIR. em seu art. 18: A Resolução TSE n.º23.400/2013, ao regulamentar referido artigo, dispõe Art. 18. A divulgação de pesquisa sem o prévio registro das informações constantes do art. 2 0 desta resolução no Tribunal Eleitoral competente sujeita os responsáveis à multa no valor de R$ ,00 (cinquenta e três mil e duzentos e cinco reais) a R$ ,00 (cento e seis mil e quatrocentos e dez reais) (Lei n , art. 33, 3 ). Colacionando precedentes do E. Tribunal Superior Eleitoral, tem-se jurisprudência daquela Corte no que tange à aplicação de multa à prática de divulgação de pesquisa eleitoral sem o devido registro junto à Justiça Eleitoral, a saber: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. ELEIÇÃO PESQUISA. ENQUETE. SEM REGISTRO. DIVULGAÇÃO. REVOLVIMENTO. FATOS E PROVAS. IMPOSSIBILIDADE. AGRAVO REGIMENTAL DESPROVIDO. 3

4 4 1. A divulgação de pesquisa eleitoral sem registro nesta Justiça Especializada enseja a aplicação da multa prevista no 3º do art. 33 da Lei nº 9.504/ Para imposição da citada multa não é necessário perquirir acerca da influência da conduta no equilíbrio do pleito. Precedentes. 3. Agravo regimental desprovido. (Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº , Acórdão de 05/02/2013, Relator(a) Min. JOSÉ ANTÔNIO DIAS TOFFOLI, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Data 22/02/2013, Página 138 ) (grifei) E mais: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. REPRESENTAÇÃO. PESQUISA ELEITORAL. DIVULGAÇÃO. REGISTRO. AUSÊNCIA. MULTA. ART. 33, 3º, DA LEI Nº 9.504/97. INCIDÊNCIA. DESPROVIMENTO. 1. O entendimento adotado pela Corte de origem, no sentido de que a divulgação prévia de pesquisa sem o necessário registro perante esta Justiça Especializada atrai a incidência da multa prevista no 3º do art. 33 da Lei das Eleições, está em consonância com a jurisprudência deste Tribunal (AgR-AI nº , Rel. Min. José Dias Toffoli, de ). 2. A teor do disposto no 1º do art. 2º da Res.-TSE nº /2011, é necessário o esclarecimento expresso de que os dados e números divulgados não são oriundos de pesquisas de opinião, mas de mera sondagem, sob pena de divulgação de pesquisa eleitoral sem o devido registro. 3. Agravo regimental a que se nega provimento. (Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 27590, Acórdão de 08/10/2013, Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 206, Data 25/10/2013, Página 61 ) Extrai-se ainda da interpretação da norma em referência que a prática coibida não é a realização de pesquisa, como alega a representada, ao se esquivar da autoria do levantamento dos dados publicados; o tipo expresso é divulgação de pesquisa, adequado à conduta rechaçada. 4

5 5 Quanto à proclamação das liberdades de manifestação de pensamento e da atividade de comunicação, consagradas nos incisos IV e IX do art. 5º e no art. 220, da Constituição Federal, o Tribunal Superior Eleitoral já decidiu: REPRESENTAÇÃO. COMENTÁRIO TRANSMITIDO POR MEIO DE RÁDIO DURANTE PERÍODO ELEITORAL. A liberdade de imprensa constitui garantia constitucional, e os jornalistas podem evidentemente manifestar sua opinião sobre debate entre os candidatos realizado por meio de rede nacional de televisão, porque tudo que melhore a informação dos eleitores é útil para o aperfeiçoamento da vida política nacional. Não obstante isso, o Estado deve podar os excessos cometidos em nome da liberdade de imprensa sempre que possam comprometer o processo eleitoral. Quando, no período que antecede o segundo turno da eleição presidencial, o jornalista falando por rádio (mídia que propaga idéias mas também transmite emoções), vê um candidato com óculos de lentes cor de rosa, e faz a caricatura do outro com expressões que denigrem ("socialismo deformado", "populismo estadista", "getulismo tardio"), a liberdade de imprensa é mal utilizada, e deve ser objeto de controle. Representação julgada procedente. (REPRESENTAÇÃO nº 1256, Acórdão de 17/10/2006, Relator(a) Min. ARI PARGENDLER, Publicação: PSESS - Publicado em Sessão, Data 17/10/2006 ) (grifei) Bem como: AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. PROPAGANDA ELEITORAL EXTEMPORÂNEA. CONFIGURAÇÃO. LIBERDADE DE IMPRENSA. AUSÊNCIA DE VIOLAÇÃO. DESPROVIMENTO. 1. A divulgação de matéria jornalística que se limita a ressaltar as qualidades pessoais de determinado candidato, tendo-o como o mais apto para o exercício do mandato e diminuindo a importância de seus concorrentes nas pesquisas eleitorais, configura propaganda eleitoral irregular. Precedente. 2. A atuação do Estado visando impedir eventuais excessos comprometedores do processo eleitoral não viola a liberdade de imprensa. Precedentes. 5

6 6 3. Agravo regimental desprovido. (Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº , Acórdão de 24/03/2011, Relator(a) Min. ALDIR GUIMARÃES PASSARINHO JUNIOR, Publicação: DJE - Diário da Justiça Eletrônico, Data 19/04/2011, Página 54 ) (grifei) Assim, as liberdades de imprensa e de manifestação de pensamento não constituem direitos intangíveis, sofrendo sim seu exercício limitações no regramento pátrio e nesta senda, compete ao Judiciário inibir práticas que comprometam o desenvolvimento do regular processo eleitoral e democrático. Ante todo o exposto, julgo procedente a presente representação, em consonância com o parecer ministerial, ratificando a decisão liminar, de fls. 32/35, em todos os seus termos, para CONDENAR a representada Márcio Lopes de Souza ME, responsável pelo sítio eletrônico ao pagamento da multa no valor de R$53.205,00 (cinquenta e três mil e duzentos e cinco reais), ex vi do art. 33, 3º da Lei n.º9.504/97,e do art. 18, da Resolução TSE n.º23.400/2013 consoante fundamentação supra. Encaminhem-se cópia dos autos ao Ministério Público Eleitoral e Superintendência da Polícia Federal, para apuração de eventual prática de condutas reprimidas pelos arts. 33, 4º e 34, 2º e 3º da Lei Federal n.º9.504/97. para a cobrança da multa. P.R.I. e sobrevindo o trânsito em julgado, ultimem-se os procedimentos À Secretaria Judiciária, para providências a seu cargo. Manaus, 17 de julho de Dra. Marília Gurgel Rocha de Paiva e Sales Juíza Auxiliar do TRE/AM - Pleito