MULTIMODALIDADE E LEITURA DE IMAGENS: A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS EM TEXTOS VERBO-VISUAIS
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- Fábio Pinho Terra
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1 MULTIMODALIDADE E LEITURA DE IMAGENS: A CONSTRUÇÃO DE SENTIDOS EM TEXTOS VERBO-VISUAIS Tema: O verbal e o não verbal: a aptidão dos modos visual e verbal. Objetivo: Explorar, por meio de exercícios práticos, a aptidão dos modos verbal e visual. Prezados alunos, O tema da aula de hoje é a chamada aptidão dos modos de significação verbal e o não verbal, porém, antes de entrarmos nesse assunto, vamos conceituar para nosso uso neste curso, posto que há outros enfoques/definições também válidas alguns termos e ideias importantes. Multimodalidade: O termo multimodalidade surgiu para realçar a importância de se levar em consideração os diferentes modos de representação: imagens, música, gestos, sons, espaço, etc. além dos elementos lexicais, nas análises de textos (IEDEMA, 2003, apud GOMES, 2008). Trata-se, portanto, de compreender o sentido dos textos como o resultado da inter-relação entre as linguagens, ou modos de expressão. As linguagens, ou como preferimos chamar nesse minicurso, os modos de expressão ou de representação/referenciação são os seguintes: linguístico visual espacial auditivo gestual: Tipográfico linguagem oral e escrita imagens fixas e animadas, uso de cores, vetores e pontos de vista layout e organização dos objetos no espaço, uso de proximidade, direção e posição música e efeitos sonoros, uso de volume, ritmo, tonicidade e intensidade expressões faciais e corporais tipos de fontes, cores, tamanhos,etc. Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 1
2 O verbal e o não verbal: Nós nos comunicamos através de códigos que podem ser divididos em duas grandes categorias: verbal e não verbal. Ambos são interpretados de forma convencional e articulada, porém, o código verbal organiza-se com base na linguagem duplamente articulada (a primeira articulação é formada por unidades significativas, os morfemas, e a segunda é formada por unidades menores, ditas não significativas, porém distintivas, os fonemas); os códigos não verbais envolvem sentidos variados, como os visuais, auditivos, sinestésicos, olfativos e gustativos. Leitura de imagem: os textos visuais são diferentes dos verbais. Embora a imagem possa ser apreendida no todo, logo à primeira vista (enquanto um texto verbal precisa ser percorrido, digamos assim), ela possui complexidades que precisamos compreender. De fato, nem uma imagem vale por mil palavras, nem as palavras tem mais poder do que as imagem!. O simples reconhecimento dos elementos da imagem não é suficiente para a sua interpretação. A leitura e a interpretação de imagens requer conhecimentos sobre seu funcionamento enquanto signo semiótico e das relações de sentido entre os diferentes signos que as compõem. Aptidão: Cada modalidade expressiva integra um conjunto diferenciado de significados possíveis, pois cada forma semiótica é única, na medida em que agrega um conjunto de normas interpretativas e possibilidades de significado que lhe são particulares. Assim, os diversos significados veiculados por cada forma semiótica se integram e complementam de forma a auxiliar a interpretação geral ou a de segmentos particulares do texto. Neste minicurso, interessa-nos estudar as relações da fusão imagem-texto, considerando que estes modos (imagem e texto) possuem suas affordances. Affordances: são como Kress & Van Leeuwen, (1996, p. 5) e Kress, (2005, p. 7, apud GOMES, 2008) denominam os limites e as possibilidades expressivas de cada modo. Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 2
3 Essas affordances ou aptidões significam que: 1- alguns tipos de imagens, em certos contextos, podem ser mais esclarecedores que o texto escrito. Veja a placa de trânsito, abaixo: 2- As imagens costumam ter um impacto emocional mais direto, enquanto o texto escrito traz um apelo maior ao raciocínio lógico. Isto não quer dizer, porém, que as palavras não emocionam (temos a poesia!) e que as imagens não sejam racionais (gráficos e tabelas são bons exemplos de mensagens racionais ). Figura 1- Suprematismo revisitado-andy Violet Fonte: Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 3
4 3- A combinação de texto escrito e imagem pode favorecer uma melhor construção de sentidos, leitura ou interpretação Repetindo: interessa-nos, neste curso, conhecer melhor de que maneira essa inter-relação entre imagem e texto ocorre e como ela pode contribuir para a leitura e também para a escrita de textos multimodais. Faltam-nos ainda, esclarecer dois conceitos mais: o de texto e o de imagem. Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 4
5 Texto: no sentido lato, amplo, adotado aqui, designa toda e qualquer manifestação da capacidade textual do ser humano (quer se trate de um poema, música, pintura, filme, escultura, etc.), isto é qualquer tipo de comunicação realizado através de um sistema de signos. Figura 2- Fonte: Ron Muek esculturas - Imagem: Lúcia Santaella (2012, p ) nos fala que a palavra imagem é ambígua e polissêmica, pois pode ser aplicada a realidades não necessariamente visuais, como nas expressões: imagem musical e imagem Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 5
6 acústica. Além disso, há ainda as imagens mentais, aquelas imaginadas e oníricas, que não necessariamente existem no mundo físico. Figura 3- Capa álbum grupo Yes Yestersongs Fonte: Há também as imagens que funcionam como representações visuais, como os desenhos, pinturas, fotografias, mapas, diagramas, plantas arquitetônicas, etc. Figura 4- Luiz Fernando Gomes- desenho Não podemos esquecer das imagens verbais, construídas por meios linguísticos, tais como metáforas e descrições, e ainda as imagens ópticas, as que vemos em espelhos e projeções. Não podemos deixar de lado as imagens virtuais, que mereceriam um capítulo à parte. Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 6
7 Lua Morta Rua Torta Tua Porta Cassiano Ricardo Interessa-nos, aqui, porém, falar da imagem como representação visual. Representações, por que são artificialmente criadas por seres humanos, enquanto as naturais ou perceptivas são aquelas em que nossa percepção é que faz o mundo visível aparecer naturalmente até nós como imagem. Santaella (idem, p. 19) nos lembra que nem sempre a imagem reproduz aspectos daquilo que é naturalmente visível. Por isso mesmo, há, pelo menos, três modalidades principais de imagens: Primeiro, as imagens em si mesmas, que puras, abstratas ou coloridas. se apresentam como formas Figura 5- Quadrado negro sobre fundo branco de Kasimir Malevich (1918). Segundo, as imagens figurativas, que se assemelham a algo existente no mundo, ou supostamente existente, como são as figuras imaginárias, mitológicas, religiosas, etc. Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 7
8 Figura 6- Autorretrato- Malevich As imagens simbólicas, que, embora apresentem figuras reconhecíveis, essas figuras têm por função representar significados que vão além daquilo que os olhos veem. São simbólicas. E o simbolismo adiciona camadas de significados que estão por trás das imagens. Figura 7- Pieter Claesz Natureza-morta, Fonte: Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 8
9 Figura 8-Artista Pieter Claesz ( ), Vanita Natureza morta de 1630, óleo sobre painel. Fonte: VAMOS CONFERIR SE ENTENDEMOS? Nosso tema principal da aula é a aptidão dos modos de expressão. Vamos verificar como vocês compreenderam essa aptidão ou affordance. Suas tarefas são: 1- Leia o texto e diga que objeto ele descreve: Na maioria das vezes tenho a forma de um tijolo. Claro que não sou tão grande quanto ele. Às vezes, pareço um envelope, mais quando tenho essa forma não posso ser comprado. Sou uma casa, com muitos habitantes bastante magros e de cabelos negros. Geralmente sou escura e em uma de minhas paredes externas possuo um painel colorido, cobrindo-me inteirinha. Em outras duas paredes possuo algo parecido com lixas, que são verdadeiras armas contra meus habitantes. Se esbarrarem com força nelas, eles morrem, exalando um cheiro característico. Não custo caro. Aliás, acho quase impossível viver sem minha presença. Sou muito útil em qualquer lugar, em qualquer parte do mundo. Mas ninguém me da devido valor cada habitante meu que morre é jogado fora, displicentemente. Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 9
10 2- Observe as descrições e as imagens abaixo e vamos comentar as aptidões das linguagens verbal e visual: A alimentação da ameba: A ameba alimenta-se por um sistema chamado de fagocitose. Ela utiliza os pseudópodes (falsos pés) para envolver o alimento. Esses pseudópodes se fecham e o alimento é digerido numa bolsa que fica no interior da ameba. 3- A Capitania de Pernambuco foi uma das subdivisões do território brasileiro no período colonial. Abrangeu anacronicamente os territórios dos atuais estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Alagoas e a porção ocidental da Bahia, possuindo, deste modo, fronteira ao sul/sudoeste com Minas Gerais (o extremo noroeste de Minas era a parte final da comarca do Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 10
11 São Francisco: a capitania/província de Pernambuco avançava um pouco mais adentro do território norte/noroeste-mineiro do que a Bahia). Pernambuco vem de Paranambuca que significa pedra furada, em tupi (se referindo a abertura meridional da barra do Capibaribe). 2- Você diria que todas as imagens mostradas abaixo são inequívocas em diferentes contextos? Quais imagens não seriam? Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 11
12 Figura 9- Morrisey demitido da gravadora Fig 2- Morrisey... Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 12
13 Exemplo de relações imagem-texto para comentar Seminário: Hipertexto e gêneros digitais- UFAL/PPGLL/ Prof. Dr. Luiz F. Gomes. Página 13
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