TDIC: QUE USOS FAZEM OS DOCENTES DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DE MINAS GERAIS?

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1 TDIC: QUE USOS FAZEM OS DOCENTES DE DUAS ESCOLAS PÚBLICAS DE UM MUNICÍPIO DO INTERIOR DE MINAS GERAIS? Daniela Rodrigues Dias - UFOP Nilzilene Imaculada Lucindo - UFOP Resumo: Este trabalho apresenta os resultados de uma pesquisa realizada com 18 docentes que atuam em duas escolas públicas de um município do interior de Minas Gerais. A pesquisa buscou identificar os usos que esses docentes fazem das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação - TDIC. Justifica-se a escolha por esta temática tendo em vista o contexto tecnológico em que a sociedade atual está inserida e a introdução das TDIC nos espaços educacionais trazendo novos desafios pedagógicos para docentes e alunos. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica e de campo. Os dados foram coletados a partir de um questionário aplicado para docentes que atuam nos anos iniciais de uma escola pública da rede municipal e nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual. A fundamentação teórica foi embasada nos seguintes autores: Almeida (2007); Bonilla (2009; 2011); Coscarelli (2010); Frade (2010); Gatti, Barreto e André (2011) e Moran (2004). Os resultados indicaram que grande parte dos docentes faz uso das tecnologias tanto na escola quanto em casa e há fatores que instigam e tolem a utilização das tecnologias pelos docentes na escola, os quais estão mais relacionados com a infraestrutura disponível. Os resultados ainda apontaram que os usos das tecnologias digitais na profissão docente estão pautados na perspectiva da Web 1.0, a web do consumo de informações. Portanto, faz-se necessário incorporar as práticas pedagógicas na perspectiva da Web 2.0 e Web 3.0, que permitem o acesso à comunicação, autoria, interação, colaboração e compartilhamento de informações e conhecimentos. Palavras-chave: Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação. Profissão Docente. Educação Básica. Considerações Iniciais Este estudo de abordagem qualitativa é um recorte de uma pesquisa de maior amplitude que investiga os processos formativos e as representações dos docentes acerca de sua profissão e vem sendo desenvolvida com 18 docentes que atuam em duas escolas públicas do interior de Minas Gerais. Optamos por enfocar neste texto os usos que os docentes fazem das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação - TDIC. A metodologia adotada foi a pesquisa bibliográfica e de campo. Os dados foram coletados a partir de um questionário aplicado a dezoito docentes. Um grupo atua nos anos iniciais de uma escola pública da rede municipal e o outro nos anos finais do Ensino Fundamental e no Ensino Médio de uma escola pública da rede estadual. Buscamos trabalhar com duas escolas públicas que atendessem o nível Fundamental e Médio e que preferencialmente fossem de redes distintas para permitir a análise dos dados. Além disso, os diretores das instituições deveriam autorizar a aplicação do questionário e os docentes, possuir o interesse em participar do estudo

2 A pesquisa foi fundamentada em Almeida (2007); Bonilla (2009; 2011); Coscarelli (2010); Frade (2010); Gatti, Barreto e André (2011); Moran (2004); Valente (1999) e a análise dos dados realizada a partir do conteúdo coletado. Participaram 15 professoras e 3 professores, todos licenciados, contudo, em áreas diversas. Quanto à faixa etária, 33,3% tem de 40 a 50 anos; 22,2% têm de 30 e 40 anos; 22,2% de 50 e 60 anos; 5,6% de 20 e 30 anos e 16,7% não informaram a idade. Desse grupo, 50% possui Ensino Superior; 38,9% Especialização; 5,6% Ensino Superior Incompleto e 5,6% Mestrado. Quanto ao tempo de atuação na docência, 33,3% possuem acima de 20 anos; 33,3% de 15 e 20 anos; 16,7% de 10 a 15 anos e 16,7% até 5 anos. Os docentes atuam em níveis diversos, desde a Educação Infantil, Anos Iniciais e Anos Finais do Ensino Fundamental, Ensino Médio, Ensino Pós-Médio até o Ensino Superior e na Educação de Jovens e Adultos e 33,4% atuam em mais de uma rede de ensino. Fundamentação Teórica Em diversos campos da sociedade várias transformações vêm ocorrendo em função do desenvolvimento tecnológico. Vivemos em uma sociedade tecnológica e logo, os contextos universitários e escolares são modificados pela inserção das TDIC que trazem novos desafios pedagógicos para professores e alunos (MORAN, 2004). Neste sentido, podemos inferir que o cenário descrito corrobora para fomentar a discussão e instigar a pesquisa acerca da utilização das tecnologias digitais pelos docentes no interior das escolas. Segundo Frade: O termo tecnologia digital refere-se, ao conjunto de mídias informacionais e comunicacionais (CD-ROMs, websites, chats, blogs, realidade virtual, jogos, softwares, etc.), entendidas como sendo o conjunto de veículos de linguagens utilizadas para a comunicação humana, que, por sua vez, visam o cumprimento de diferentes interesses e propósitos, de acordo com o público que se pretende atingir (2010, p. 15). Para essa pesquisadora, a incorporação das tecnologias digitais na escola pode proporcionar processos de ensino-aprendizagem interativos, interdependentes e plurais, de forma integrada com a realidade dos sujeitos envolvidos, possibilitando novas formas de aprender e ensinar. Identificamos através de várias pesquisas, que muitas escolas brasileiras dispõem de computador e internet em seus espaços, entretanto, nem sempre são utilizadas pela comunidade escolar. Muitas vezes os equipamentos estão trancados em salas, em armários e longe do manuseio de alunos e professores que não conseguem integrá-los às 04485

3 suas atividades em sala de aula. O uso da tecnologia digital vem se solidificando como um meio de obter acesso a dados, informações e conhecimentos. Não obstante, sua aplicabilidade na escola tem sido reconhecida, como ressaltam os estudos de Almeida (2007), Bonilla (2009), Coscarelli (2010); Frade (2010) e Valente (1999). [...] As TICs têm papel fundamental, ao possibilitar que as particularidades de cada contexto emerjam e façam parte do coletivo maior. Com as redes, aqueles que têm acesso podem se comunicar de qualquer lugar com qualquer lugar, participando de um processo que é global e ao mesmo tempo local, já que as tecnologias são portadoras da possibilidade de valorização de culturas locais, de processos identitários que são gerados pelos (e geram os) lugares específicos. São culturas diversas, com seus significados e processos próprios, que se fortificam e dinamizam quando são socializados (BONILLA, 2009, p. 35). Corroborando com as ideias de Bonilla (2009), percebemos que as tecnologias permitem as produções e trocas de experiências nas culturas digitais, locais e globais, preparando os sujeitos para atuarem na era da Informação e do Conhecimento. Todavia, inserir-se na sociedade da informação e conhecimento não quer dizer apenas ter acesso às tecnologias digitais, mas saber utilizá-las para a busca e a seleção de informações que permita a cada pessoa resolver os problemas do cotidiano, compreender o mundo e atuar na transformação de seu contexto. Segundo Almeida, [...] o domínio instrumental de uma tecnologia, seja ela qual for, é insuficiente para que o professor possa compreender seus modos de produção de forma a incorporá-la à prática. É preciso criar situações de formação contextualizada, nas quais os educadores possam utilizar a tecnologia em atividades que lhes permitam interagir para resolver problemas significativos para sua vida em trabalho, representar pensamentos e sentimentos, reinterpretar representações e reconstruí-las para poder recontextualizar as situações em práticas pedagógicas com os alunos (2007, p. 160). Visando integrar as tecnologias nas práticas de sala de aula, faz-se necessário: [...] dar oportunidade ao professor de se apropriar do domínio da tecnologia, ao mesmo tempo que analisa suas potencialidades e limitações e desenvolve práticas pedagógicas com o acompanhamento e orientação do grupo em formação. Assim, o professor compartilha avanços e equívocos com outros profissionais que estão passando pelas mesmas situações e recebem orientação dos formadores para superar as dificuldades e desafios decorrentes da experimentação de novas práticas. (ALMEIDA, 2007, p. 160). Dar oportunidade ao docente de se apropriar das ferramentas tecnológicas envolve a formação continuada, trocas de experiências e compartilhamento de informações. Já a formação continuada para os usos das TDIC envolve muito mais do que provê-lo com conhecimento sobre computadores. [...] o processo de formação deve criar condições para o docente construir conhecimento sobre as técnicas computacionais, entender porque e como integrar o computador na sua prática pedagógica, e ser capaz de superar barreiras de ordem administrativa e pedagógica, possibilitando a transição 04486

4 de um sistema fragmentado de ensino para uma abordagem integradora de conteúdo e voltada para a resolução de problemas específicos do interesse de cada aluno (VALENTE, 1999, p. 02). Essa formação será significativa se propiciar mudanças na postura do professor, tornando-o consciente dos aspectos que influenciam os usos das TDIC na educação. Resultados e Discussões A pesquisa revelou que 66,6% dos entrevistados fazem uso de alguma tecnologia, contudo, esse uso varia em função do espaço e da rede de ensino. Verificamos que 44,4% usam na escola; 16,7% em casa e 16,7% nos dois ambientes: No dia a dia em casa, mas nas escolas nem sempre está disponível (S06); Sempre utilizo os recursos tecnológicos em minhas aulas. Aulas interativas no Data Show, vídeos, músicas, experiências. Além de utilizar a tecnologia na criação de provas e exercícios (S05); Tento utilizar todas. Desde a folha xerocada até a lousa interativa (S03). As tecnologias utilizadas são variadas: TV, DVD, data show, lousa interativa, vídeos, música, internet, jogos pedagógicos, computadores, celulares e rádios, porém, os mais utilizados são o data show e a internet. Ainda averiguamos que na maioria dos relatos, os usos das tecnologias são voltados para a pesquisa e o planejamento das aulas, visando enriquecê-las e torná-las mais atrativas, conforme explicitou o entrevistado 07: enriquecer as aulas, motivação visual e auditiva. Na visão de alguns docentes é impossível fazer o uso das tecnologias na escola devido à infraestrutura disponibilizada. [...] Às vezes na escola não tem o que precisamos (equipamentos roubados ou estragados). Não existe sala de multimeios. Temos que levar a TV, DVD ou data show para a sala de aula. Se gasta muito tempo e o objetivo não é cumprido (S01). Foi possível detectar a diferença das condições de trabalho e oferta de equipamentos ao observarmos a fala de outro entrevistado que leciona nas duas redes de ensino: Em minha vida pessoal, uso internet, celulares, rádios, na prática pedagógica, na escola estadual não faço uso nenhum, pois não há disponível estes equipamentos aos docentes como data show, computadores, nem ao menos quadro negro que estão totalmente quebrados. Já no município uso muito as novas tecnologias através de lousa digital, disponível em todas as salas de aula (S17). As tecnologias digitais fazem parte do cotidiano dos docentes, todavia o seu uso está mais voltado para a Web. 1.0, o que pode ter relação com a formação inicial que não contemplou os usos das tecnologias. Segundo Bonilla (2011) (...) estamos 04487

5 formando professores, para o uso das tecnologias, numa perspectiva de Web 1.0, a web leitura, do consumo de informações (p. 67). Portanto, faz-se necessário incorporar as práticas pedagógicas na perspectiva da Web 2.0 e Web 3.0, que permitem o acesso à comunicação, autoria, interação, colaboração e compartilhamento de conhecimentos. Destacamos que nenhum docente evidenciou o uso das tecnologias para se capacitar, embora o governo venha incentivando a formação continuada via educação à distância (GATTI, ANDRÉ, BARRETO, 2011). Ainda observamos que a infraestrutura inadequada pode dificultar o uso, gerando resistência e fazendo com que o docente deixe de aproveitar os benefícios das tecnologias digitais. Concluímos que o grande desafio reside em como integrar a utilização das TDIC nas práticas docentes, além de propiciar uma infraestrutura e formação adequadas para tal. Consideramos relevante promover o uso dessas tecnologias de forma pedagógica em sala de aula, tendo em vista as potencialidades que as mesmas podem proporcionar ao processo formativo. Referências Bibliográficas ALMEIDA, Maria Elizabeth B. de. A Construção Compartilhada de Significados em Projetos de Educação a Distância. In: VALENTE, J. A.; ALMEIDA, E. B. (Org.) Formação de educadores a distância e integração de mídias. São Paulo: Ed. AVERCAMP, BONILLA, Maria Helena. S. Escola aprendente: comunidade em fluxo. In: FREITAS, Maria T. de A. (Org.). Cibercultura e formação de professores. Belo Horizonte: Autêntica Editora, p Formação de professores em tempos de web 2.0. In: FREITAS, Maria T. de A. Escola, tecnologias digitais e cinema. Juiz de Fora: Ed. UFJF, p COSCARELLI, Carla V. A cultura escrita na sala de aula (em tempos digitais). In: MARINHO, Marildes; CARVALHO, Gilcinei T. (Orgs.). Cultura escrita e letramento. Belo Horizonte: Editora UFMG, p FRADE, Isabel C. A. S.; FERREIRA, Márcia, H. M. Alfabetização e Letramento em contextos digitais: Pressupostos de avaliação aplicados ao software HagáQuê - In: RIBEIRO, Ana E.; VILLELA, Ana M. N.; SOBRINHO, Jerônimo C.; SILVA, Rogério B. da (Orgs). Linguagem, tecnologia e educação. São Paulo: Editora Peirópolis GATTI, Bernardete A.; BARRETO, Elba S. de Sá; ANDRÉ, Marli E. D. de Afonso. Políticas Docentes no Brasil: um estado da arte. Brasília: UNESCO, MORAN, José Manuel. Os novos espaços de atuação do professor com as tecnologias. Revista Diálogo Educacional, Curitiba, v.4, n. 12, p.13-21, maio/ago VALENTE, José A. (Org.). O computador na sociedade do conhecimento. Campinas: Ed. NIED-UNICAMP,