EFEITO DO ESTRESSE CLIMÁTICO SOBRE PARÂMETROS FISIOLÓGICOS E PRODUTIVOS EM OVINOS MAURÍCIO TEIXEIRA
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1 EFEITO DO ESTRESSE CLIMÁTICO SOBRE PARÂMETROS FISIOLÓGICOS E PRODUTIVOS EM OVINOS MAURÍCIO TEIXEIRA FORTALEZA - CEARÁ 2000
2 EFEITO DO ESTRESSE CLIMÁTICO SOBRE PARÂMETROS FISIOLÓGICOS E PRODUTIVOS EM OVINOS MAURÍCIO TEIXEIRA Dissertação submetida à coordenação do Programa de Pós-Graduação em Zootecnia, como requisito parcial para obtenção do Grau de Mestre. UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ FORTALEZA - CEARÁ 2000 ii
3 Esta dissertação foi submetida à aprovação, como parte dos requisitos necessários a obtenção do Grau de Mestre em Zootecnia, outorgado pela Universidade Federal do Ceará, e encontra-se a disposição dos interessados na Biblioteca de Ciências e Tecnologia da referida Universidade. Maurício Teixeira Dissertação aprovada em: / / Jose Neuman Miranda Neiva, D.Sc Orientador Sônia Maria Pinheiro de Oliveira, D.Sc Conselheira Sílvia Helena Nogueira Turco, D.Sc Conselheira iii
4 DEDICATÓRIA iv
5 AGRADECIMENTOS v
6 SUMÁRIO AGRADECIMENTOS...V RESUMO...IX ABSTRACT...XI 1. INTRODUÇÃO REVISÃO DE LITERATURA VARIÁVEIS CLIMÁTICAS TROCAS DE CALOR ORGANISMO ANIMAL Atividade respiratória e temperatura corporal Consumo de água Consumo de alimentos Eficiência na utilização dos alimentos Crescimento Aclimatação MATERIAL E MÉTODOS ENSAIO 1 - DESEMPENHO PRODUTIVO Localização Tratamentos, delineamento experimental e animais Manejo dos animais Coleta de amostras e análises químico-bromatológicas Análise estatística ENSAIO 2 - AVALIAÇÃO BIOCLIMATOLÓGICA Localização Tratamentos, delineamento experimental e animais Manejo dos animais e tomada de dados bioclimatológicos Análise estatística RESULTADOS E DISCUSSÃO VARIÁVEIS AMBIENTAIS CONSUMO DE MATÉRIA SECA CONSUMO DE PROTEÍNA BRUTA CONSUMO DE FIBRA EM DETERGENTE NEUTRO CONSUMO DE EXTRATO ETÉREO CONSUMO DE ÁGUA GANHO DE PESO FREQUÊNCIA RESPIRATÓRIA TEMPERATURA RETAL CONCLUSÃO REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS vi
7 ÍNDICE DE TABELAS Tabela 1 Composição químico-bromatológica da ração concentrada e do feno Tabela 2 Composição da ração concentrada em termos de participação percentual dos ingredientes Tabela 3 Composição centesimal e químico-bromatológica das dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada Tabela 4 Médias de temperatura ambiente, umidade relativa e índice de temperatura e umidade, nos dois períodos do dia e nas duas condições de instalação...33 Tabela 5 Índice de Temperatura e Umidade (ITU)...34 Tabela 6 Consumo médio diário de matéria seca por ovinos nas duas condições de instalação...35 Tabela 7 Consumo médio diário de matéria seca por ovinos alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada...36 Tabela 8 Consumo médio diário de proteína bruta por ovinos nas duas condições de instalação...38 Tabela 9 Consumo médio diário de proteína bruta por ovinos alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada...38 Tabela 10 Consumo médio diário de fibra em detergente neutro por ovinos nas duas condições de instalação Tabela 11 Consumo médio diário de fibra em detergente neutro por ovinos alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada Tabela 12 Consumo médio diário de extrato etéreo por ovinos nas duas condições de instalação...41 Tabela 13 Consumo médio diário de extrato etéreo por ovinos alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada...42 Tabela 14 Consumo médio diário de água por ovinos nas duas condições de instalação Tabela 15 Consumo médio diário de água por ovinos alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada Tabela 16 Ganho de peso médio diário de ovinos em confinamento, nas duas condições de instalação...45 vii
8 Tabela 17 Ganho de peso médio diário de ovinos em confinamento, alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada Tabela 18 Conversão alimentar média de ovinos em confinamento, nas duas condições de instalação...47 Tabela 19 Conversão alimentar média de ovinos em confinamento, alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada Tabela 20 Frequência respiratória de ovinos nas duas condições de instalação, alimentados com dietas de alto e baixo nível de ração concentrada Tabela 21 Freqüência respiratória de ovinos nas duas condições de instalação, durante os períodos da manhã e da tarde Tabela 22 Temperatura retal de ovinos em confinamento, nas duas condições de instalação Tabela 23 Temperatura retal de ovinos em confinamento, alimentados com dietas contendo alto e baixo nível de ração concentrada...52 Tabela 24 Temperatura retal de ovinos em confinamento, durante os períodos da manhã e da tarde viii
9 RESUMO O objetivo do presente estudo foi o de avaliar a influência do estresse climático sobre o desempenho produtivo e respostas fisiológicas de ovinos da raça Santa Inês em confinamento. O experimento foi realizado na Unidade de Pesquisa em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará no período de 20 de outubro a 23 de dezembro de Os fatores estudados foram 2 ambientes (sombra e sol) e 2 níveis de ração concentrada (alto e baixo). Foi adotado esquema fatorial (2 x 2) em delineamento em blocos casualizados com 5 repetições. O experimento foi dividido em dois ensaios. No primeiro, foram utilizados 40 animais, com duração de 56 dias, sendo 14 para a adaptação dos animais as dietas e baias e, 42 dias para a coleta de dados. Foram avaliados os consumos de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro, extrato etéreo e água, além do ganho de peso diário e conversão alimentar. Os animais mantidos à sombra apresentaram consumos de matéria seca e nutrientes mais elevados que os mantidos ao sol, assim como os animais alimentados com dietas contendo alto nível de ração concentrada em relação aos alimentados com dieta contendo baixo nível de ração concentrada, sendo os consumos médios de matéria seca, proteína bruta, fibra em detergente neutro, extrato etéreo e água, expressos em g/utm, %PV e g/animal/dia, foram 84,24 g/utm, 3,78% PV e 1003,81 g/animal/dia; 12,92 g/utm, 0,57% PV e 147,23 g/animal/dia; 39,69 g/utm, 1,78% PV e 441,79 g/animal/dia; 3,35 g/utm, 0,14% PV e 38,03 g/animal/dia; 317,62 g/utm, 4,27% PV e 3550,00 g/animal/dia, respectivamente. Para o ganho de peso e conversão alimentar foi observado o mesmo comportamento, onde seus valores médios foram 148 g/animal/dia e 8,3, respectivamente. No segundo ensaio foram utilizados 20 animais, onde se registrou a temperatura retal e a freqüência respiratória durante 17 dias, em dois períodos do dia. Os animais alimentados com dietas contendo alto nível de ração concentrada apresentaram freqüência respiratória maior, tanto à sombra quanto ao sol (87 e 71 mov/min, respectivamente). Os animais mantidos ao sol, durante o período da tarde, apresentaram a maior freqüência respiratória (91 mov/min). ix
10 x
11 ABSTRACT The objective of this study was to evaluate the effects of environmental stress on the productive performance and physiological responses of Santa Ines hair sheep, in a feedlot system. The experiment was carried out in the Forage Experimental Unit of Federal University of Ceara, and was developed from october 20 to december 23 of Were studied 2 environments (shade and non-shade) and 2 concentrate levels diet (low and high). Randomized complete block design with 5 replications was employed. The experiment was carried out in two trials. In the first trial, were utilized 40 lamb males, during 56 days, where 14 days of adaptation to the management, and the other 42 days were to collect data. Intakes of dry matter, crude protein, neutral detergent fiber, ether extract and water, besides average daily gain and food conversion, were evaluated. Animals kept in shaded area, had higher intakes of dry matter and nutrients than animals kept in non-shaded area. Animals fed with high concentrate level diet had higher intakes of dry matter and nutrients than those fed with low concentrate level diet. Intake means of dry matter, crude fiber, neutral detergent fiber, ether extract and water, were 84,24 g/bw 0,75, 3,78% of BW e 1003,81 g/head/day; 12,92 g/bw 0,75, 0,57% of BW e 147,23 g/head/day; 39,69 g/bw 0,75, 1,78% of BW e 441,79 g/head/day; 3,35 g/bw 0,75, 0,14% of BW e 38,03 g/head/day; 317,62 g/bw 0,75, 4,27% of BW e 3550,00 g/head/day, respectively. Average daily gain and feed conversion were higher for animals fed with high concentrate level diet than those fed with low concentrate level diet. Value means registered were 148g/head/day and 8,3 kg/kg, respectively. Trial 2 were carried out with 20 lamb males. Rectal temperature and respiration rate were measured during 17 days. Animals fed with high concentrate level diet presented higher respiration rate than animals fed with low concentrate level diet, independently of shade (87 and 71 mov/min, respectively). Without shade animals presented the highest respiration rate during afternoon (91 mov/min). xi
12 1. INTRODUÇÃO Os países situados em zonas tropicais e sub-tropicais, caracterizados por serem em sua maioria países em desenvolvimento, têm o setor primário da economia com papel destacado, como grande gerador de renda e com função social marcante. Nestas zonas, os maiores entraves ao incremento da produtividade animal são a baixa disponibilidade de forragem de boa qualidade, a limitada disponibilidade de água, alta temperatura atmosférica e altos níveis de radiação solar direta e indireta (SILANIKOVE, 1992). Desta forma a interação animal x ambiente deve ser considerada, quando se busca maior eficiência na exploração pecuária. As diferentes respostas do animal às peculiaridades de cada região, são determinantes no sucesso da atividade através da adequação do sistema produtivo às características do ambiente e ao potencial produtivo dos ruminantes. Assim, a correta identificação dos fatores que influem na vida produtiva do animal, tais como o estresse imposto pelas flutuações estacionais do meio-ambiente, permitem ajustes nas práticas de manejo dos 1
13 sistemas de produção, possibilitando dar-lhes sustentabilidade e viabilidade econômica. Desta forma o conhecimento das variáveis climáticas, sua interação com os animais e as respostas comportamentais, fisiológicas e produtivas são preponderantes na adequação do sistema de produção aos objetivos da atividade. Concentrando grande parte do rebanho ovino do País, a região Nordeste se destaca pelo potencial de produção desta espécie, a qual tem características peculiares que lhe conferem boa capacidade produtiva nos mais variados ecossistemas da região. Produtos como a carne e a pele ovina, bastante valorizadas no mercado interno e externo, garantem a esta atividade boa rentabilidade, sendo necessário a adequação dos sistemas de produção, bem como a organização do setor, para o crescimento da atividade. Neste sentido, o confinamento de ovinos como sistema de produção intensivo, tem se mostrado viável e extremamente promissor, de forma a garantir constância na oferta e maior qualidade do produto a ser comercializado. Assim, o objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do estresse ambiente, na região litorânea do Ceará, sobre o desempenho produtivo e respostas fisiológicas de ovinos da raça Santa Inês em confinamento. 2
14 2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1. Variáveis Climáticas A temperatura do ar é considerada o fator climático mais importante influindo no ambiente físico do animal (McDOWELL, 1974). É determinada pela radiação solar incidente na superfície terrestre, a qual varia com o ângulo de incidência dos raios solares, com o comprimento do dia, com a transmissividade da atmosfera e com a cobertura do céu (TUBELIS & NASCIMENTO, 1980). No entanto, além da radiação oriunda diretamente do sol, a temperatura é influenciada também pela radiação terrestre, a qual é emitida pelas superfícies que absorveram a energia solar incidente (YOUNG, 1988). Dentro de uma ampla faixa de temperatura, podem ser definidas zonas térmicas que proporcionam maior ou menor conforto ao animal. Os animais para terem a máxima produtividade dependem de uma faixa de temperatura adequada também chamada de zona de conforto térmico, onde não há gasto de energia ou atividade metabólica para aquecer ou esfriar o corpo. Do ponto de vista de produção, este aspecto reveste-se de muita 3
15 importância devido ao fato de que, dentro desses limites os nutrientes ingeridos pelos animais serão utilizados exclusivamente para o seu crescimento e desenvolvimento, e não, para aquecer ou esfriar o corpo (BAÊTA & SOUZA, 1997). Também, no acondicionamento ambiental dos animais, reveste-se de importância o conceito temperatura crítica que marca o limite da zona de termoneutralidade e determinam os pontos da temperatura ambiente, abaixo ou acima da qual os animais precisam ganhar ou perder calor para manter sua temperatura corporal (BAÊTA & SOUZA, 1997). Segundo FUQUAY (1981), a temperatura de conforto para a maioria das espécies está em torno de 24 o e 27 o C, sendo dependente do grau de aclimatação, nível de produção, estado de prenhez, movimento do ar e umidade relativa. Valores semelhantes são destacados por Alexander & Williams (1961) citados por HASSANIN (1996), que apontam valores variando de 25 o a 30 o C como temperaturas ambientais ideais à cordeiros recém-nascidos. BEEDE & COLLIER (1986) destacaram que a redução no consumo alimentar depende da temperatura ambiente e da composição da dieta. Em temperaturas ambientais acima de 25 o C, o grande incremento calórico proporcionado por dietas contendo alto nível de volumoso, pode prejudicar a eficiência de utilização deste alimento, quando comparado às dietas com nível maior de concentrado. A magnitude desta diferença é suficiente para justificar a consideração da temperatura ambiente na formulação de rações para ruminantes (MOOSE et al., 1969). Sobre a nutrição, o estresse calórico altera os requerimentos absolutos por nutrientes específicos, os processos fisiológicos e metabolismo, e ainda reduz o consumo total (BEEDE & COLLIER, 1986). BHATTACHARYA & UWAYJAN (1975) relataram que o estresse calórico em ovinos, proporcionado pela alta temperatura ambiente, associada 4
16 a baixa umidade, não afetam adversamente o animal, ao menos que esta temperatura se eleve acima de 32 o C. O efeito parece ser apenas sobre o consumo de alimentos, que sofre redução. A digestibilidade dos nutrientes permanece quase que inalterada, sendo encontrada redução quando além da temperatura elevada, se observa também alta umidade. A umidade atmosférica é outra variável de grande importância para o bem-estar do animal, influenciando marcantemente no balanço calórico em ambientes quentes onde a perda de calor por evaporação é crucial à homeotermia (YOUNG, 1988). Maior pressão de vapor devido a alta umidade do ar, conduz a menor evaporação da água contida no animal para o meio, sendo portanto o resfriamento do animal mais lento. Já menor pressão de vapor, exerce resfriamento do animal mais rapidamente, devido a maior taxa de evaporação da água através da pele e do aparelho respiratório. Estas duas situações são encontradas em climas quente e úmido, e quente e seco, respectivamente (McDOWELL, 1974). Algumas espécies animais dependem mais da respiração para dissipar calor do que da sudorese, em outras, esta assume maior importância. Nas espécies que tem a sudorese como principal forma de dissipar calor, a elevada umidade do ar, provoca maior impacto nas trocas de calor, comparadas com as primeiras (YOUNG, 1988). Desta forma, existem diversas combinações onde valores de temperatura e umidade podem representar condições estressantes ou não, e a determinação exata destes valores é quase impossível de ser realizada, pois varia de acordo com o animal e a condição que ele se encontra (BARBOSA, 1995). O estresse calórico é causado primariamente pela alta temperatura do ar, mas pode ser intensificado pela alta umidade, radiação térmica e pouco movimento do ar, podendo ter efeito negativo sobre os rebanhos manejados intensivamente (MORRISON, 1983). 5
17 Vários índices foram desenvolvidos para prever o conforto térmico dos animais, sendo o mais conhecido, o índice de temperatura e umidade (ITU) (Thom, 1958 citado por BARBOSA, 1995). Segundo Hahn (1985) citado por BARBOSA (1995) valores de ITU de 70 ou menos mostra condição normal, entre 71 e 78 crítico, entre 79 e 83 perigo e acima de 83 condição de emergência Trocas de Calor O ganho ou a perda de calor, definidos como termorregulação, é a forma pela qual o animal controla sua temperatura corporal (FUQUAY, 1981) A taxa de ganho ou de perda do calor corporal, depende da carga térmica, capacidade calórica do animal, respostas termorregulatórias (YOUNG, 1988) e ainda da capacidade do ambiente de receber calor ou vapor d água (FINCH, 1986) O calor é trocado entre os animais e o ambiente da mesma forma como é trocado entre sistemas não-biológicos (YOUNG, 1988). Os processos físicos envolvidos são condução, evaporação, convecção e radiação (McDOWELL, 1974; FUQUAY, 1981; FINCH, 1986; YOUNG, 1988). A condução consiste na passagem de energia térmica de uma partícula para outra como consequência do gradiente de temperatura. No animal a transferência é realizada do centro do animal em direção à pele, e desta para o meio que a rodeia (pelo, lã, etc.). A condução também facilita as trocas de calor de superfícies internas em contato com o ambiente externo, como o aparelho respiratório e o digestivo (McDOWELL, 1974). A evaporação é a passagem da água para o estado de vapor, a qual ocorre na superfície corporal e no aparelho respiratório, e é o processo mais 6
18 eficiente na eliminação de calor pelo animal (McDOWELL, 1974), pois não é dependente do gradiente térmico (FUQUAY, 1981). A convecção consiste na transferência de energia térmica através da circulação de um fluído ou de um gás, a uma temperatura não uniforme. A convecção facilita as trocas de calor tanto interna como externamente, através do sangue circulante e do movimento do ar, respectivamente. No entanto, vale salientar, que a convecção aumenta a transferência de calor em qualquer direção. Se a temperatura do ar estiver menor do que a temperatura corporal, o animal perderá calor; ou se a temperatura do ar estiver maior do que a temperatura corporal, o animal ganhará calor (McDOWELL, 1974). Segundo FINCH (1986) para se entender o controle da temperatura corporal e sua relação com a produtividade, é necessário analisar o animal sob o ponto de vista ambiental e nutritivo, pois o efeito do calor sobre a temperatura corporal não é determinado apenas pelo clima, mas também pela disponibilidade de água e alimento. A massa, temperatura e estado físico de tudo que é ingerido ou inalado (alimento, água e ar), e de tudo que é excretado (leite, fezes, urina, etc.) pelo animal, também afetam o conteúdo calórico do corpo, consequentemente a temperatura (YOUNG, 1988). O calor metabólico gerado, inclui o oriundo da produção de energia para mantença, mais incremento calórico devido à exercícios, crescimento, lactação, gestação e alimentação, sendo que maiores taxas destas atividades resultará em mais calor metabólico (FUQUAY, 1981). Segundo FINCH (1986) mudanças na qualidade e quantidade de alimentos ingeridos alteram a intensidade de calor metabólico. FUQUAY (1981) destacou que as gramíneas perenes tropicais por apresentarem alta proporção de carboidratos estruturais, quando fermentadas no rumen produzem bastante calor, que acarreta prejuízos ao animal. 7
19 Os animais alimentados com plano de nutrição elevado, reagem mais dramaticamente, quando comparados com aqueles em nível inferior nutricionalmente (Robinson & Lee, 1947; Yeates, 1956a, citados por FUQUAY, 1981). Já BEEDE & COLLIER (1986) consideraram que os animais manejados intensivamente são menos afetados pelo estresse, que aqueles mantidos em pastejo, pois a redução no consumo se dá principalmente devido à menor ingestão de forragem. Portanto, este efeito é mais pronunciado nos animais alimentados com maior nível de forragem na dieta. No entanto, a simples relação do organismo animal com sistemas não-biológicos, no que diz respeito às trocas calóricas, se torna mais complicada em virtude dos animais alterarem seu comportamento, postura e vários processos fisiológicos para modificar a taxa de transferência de calor para o ambiente (YOUNG, 1988) Organismo Animal Atividade respiratória e temperatura corporal O incremento da atividade respiratória, é uma importante forma do animal perder calor quando submetido a temperaturas elevadas e se constitui no primeiro sintoma visível da resposta ao estresse térmico (McDOWELL, 1974). O controle da temperatura corporal é consequência dos mecanismos termorregulatórios do animal, e é a resistência às trocas de energia entre o organismo e o ambiente (FINCH, 1986). 8
20 A temperatura retal normal para muitas raças de ovinos varia entre 37,5 o e 40,5 o C, tendo como valor médio 39,5 o C (Esmay, 1978 citado por HASSANIN et al., 1996). A temperatura retal é influenciada pela atividade muscular, raça, sexo, idade, comprimento da lã, estação do ano, radiação solar e temperatura ambiente (Bianca, 1968; Ulberg, 1971 citados por HASSANIN et al., 1996). Temperaturas corporais excessivas originam efeitos prejudiciais sobre distintos processos fisiológicos, principalmente os metabólicos. Aumento de temperatura corporal de 0,5 o C ou superior reduz o consumo de alimento, aumenta a taxa respiratória e reduz o rendimento. Este incremento na temperatura orgânica, visa favorecer as perdas de calor por condução (McDOWELL, 1974). A frequência respiratória (FR) e a temperatura corporal de ovinos de raças puras e mestiços foram medidas por MILLER & MONGE (1946) que registraram menor FR para os mestiços, comparados às raças puras e maior influência do ambiente sobre a temperatura dos animais puros. APPLEMAN & DELOUCHE (1958), avaliando as respostas de caprinos submetidos a uma elevação da temperatura ambiente de 20 o C para 40 o C, observaram aumento na temperatura retal nas primeiras 6 horas, retornando rapidamente à temperatura corporal normal, com a redução na temperatura ambiente até 20 o C, e registraram grande aumento na freqüência respiratória, não sendo observado este incremento com pequena redução da temperatura ambiente. AMES et al. (1971), estudando o balanço energético durante o estresse calórico em ovelhas Suffolk, registraram aumento de 1 o C na temperatura corporal, com o aumento de temperatura do ar de 25 o para 45 o C. Avaliando-se a exposição de ovinos ao calor durante um período de 7h, depois retornando à temperatura ambiente mais amena, JOHNSON (1971) observou aumento na temperatura corporal e na frequência respiratória, da onde concluiu-se que nenhum dos animais testados 9
21 apresentavam habilidade na regulação da temperatura corporal, como adaptação ao estresse térmico. BHATTACHARYA & HUSSAIN (1974), avaliando o efeito do estresse calórico sobre ovinos, alimentados com dietas variando o nível de fibra, encontraram aumento na frequência respiratória, temperaturas retal, intratoráxica e sub-cutânea dos animais submetidos a alta temperatura, sendo este efeito mais pronunciado nos tratamentos recebendo dietas contendo 75% de volumoso. Em dois experimentos realizados com ovinos, BHATTACHARYA & UWAYJAN (1975) submeteram os animais à temperatura controlada, oscilando de 20 o C até 27 o C durante o dia e voltando a 20 o C durante a noite, para o primeiro ensaio, sendo que para o segundo, a temperatura ambiente alcançava 33 o C durante o período mais quente. A umidade decrescia com o incremento da temperatura ambiente, simulando um dia quente e seco. Os animais foram alimentados com dietas com níveis crescentes de concentrado (25%, 50% e 75%). Nos dois ensaios, o estresse ambiental promoveu aumento significante na frequência respiratória dos animais, não afetando, contudo, a temperatura corporal dos animais. SINGH & ACHARYA (1977), analisando o modo de dissipação de calor em diferentes tipos de ovinos, registraram temperaturas retais variando de 38,6 o a 39,7 o C e frequência respiratória variando de 106 a 165 mov/min, quando submetidos à temperatura ambiente de 33,5 o C e umidade relativa de 40%. HOPKINS et al. (1978), avaliando as respostas fisiológicas de ovinos tropicais expostos diretamente ao sol, registraram como menores valores de temperatura retal e frequência respiratória 39,4 o C e 110 mov/min respectivamente, enquanto os animais menos adaptados apresentaram valores de TR e FR de 40 o C e 190 resp/min, respectivamente. RAI et al. (1979), avaliando diferentes raças de ovinos em câmara climática, observaram que o maior incremento na freqüência respiratória em 10
22 uma das raças ocorreu a 25 o C e tendeu a continuar quando a temperatura da câmara foi elevada para 42 o C. Estudando a variação de temperatura corporal pela manhã e à tarde, de caprinos das raças Bhuj, Anglo-Nubiana e Canindé, e ovinos das raças Santa Inês e Morada Nova, ARRUDA et al. (1984) registraram maior elevação da temperatura corporal às 14:00h, em caprinos da raça Canindé e ovinos da raça Santa Inês, enquanto um aumento relativamente menor foi exibido pelos caprinos das raças Bhuj e Anglo-Nubiana e pelos ovinos da raça Morada Nova. GUPTA & ACHARYA (1987) avaliando a tolerância ao calor de ovinos expostos ao sol de 8:00h às 15:00h, em região semi-árida, encontraram valores de temperatura retal variando de 39,53 o a 39,84 o C antes da exposição ao sol, e valores variando de 40,58 o a 41,08 o C após a exposição. As temperaturas do ar médias registradas pela manhã e pela tarde foram 31,13 o e 41,68 o C respectivamente, e as umidades relativas foram 36,17% e 18,17% respectivamente para manhã e para a tarde. SOUTO et al. (1990b), verificando as reações fisiológicas de ovinos em câmara climática, submetidos a temperaturas ambiente entre o C e o C, e umidade relativa em torno de 75%, alimentados com dietas de quatro níveis de energia, observaram que houve efeito da interação nível de energia x faixa de temperatura, sobre a temperatura retal, e registraram aumento na frequência respiratória com o aumento da temperatura ambiente, e que esta elevação na frequência não evitou o aumento da temperatura retal dos animais. SOUZA et al. (1990), avaliando o comportamento fisiológico de ovinos deslanados no semi-árido, expostos ao sol e em ambiente de sombra, encontraram valores para temperatura retal e frequência respiratória para animais da raça Santa Inês na sombra de 38,61 o C e 27 mov/min respectivamente, enquanto para o sol os valores foram de 38,84 o C e 27,90 mov/min., respectivamente. 11
23 Em estudo analisando as respostas fisiológicas de ovinos em pastejo, durante um período de 17 a 24 h, JOHNSON (1991), não observou diferenças na frequência respiratória dos animais expostos ao sol e sob a sombra. Foram registradas durante o ensaio, temperaturas atmosféricas variando de 28 o a 41 o C. HASSANIN et al. (1996), avaliando a influência da sombra fornecida por uma cobertura de amianto durante o verão sobre ovinos em crescimento, observaram que a mesma não evitou que os animais entrassem em hipertermia, sendo que durante o dia os animais expostos à radiação solar direta apresentaram uma maior temperatura corporal, e durante a noite os que apresentaram maior temperatura foram os animais mantidos sob a cobertura, concluindo-se desta forma que a sombra proporcionada pelo amianto não foi útil pois interferiu na dissipação do calor corporal durante a noite. PADUA & SILVA (1996c) em trabalho analisando o efeito do estresse térmico sobre características fisiológicas de borregos Ideal, registraram maior variação na frequência respiratória dos animais submetidos ao tratamento térmico, quando comparados a testemunha, 105,47 mov/min e 34,22 mov/min respectivamente, bem como maior variação na temperatura retal, 1,07 o C x 0,31 o C respectivamente. BROSH et al. (1998), estudando o efeito da radiação solar e do nível de energia da dieta, registraram aumento da temperatura retal e frequência respiratória dos animais alimentados com dietas de alta energia, assim como foi afetada pela exposição ao sol. DIXON et al. (1999), estudando a interação entre o estresse calórico e a nutrição em ovinos alimentados com dietas à base de volumosos, observaram que os animais mantidos sob estresse apresentavam temperatura corporal e frequência respiratória maior (40,1 o C x 39,2 o C, 196 x 56 mov/min, respectivamente). Avaliando a influência das estações do ano na frequência respiratória e na temperatura retal de carneiros das raças Bergamácia (Be), Corriedale 12
24 (Co) e Hampshire Down (Hd), TUTIDA et al (1999) observaram que a FR foi maior dos ovinos da raças Corriedale e Hampshire Down em temperatura elevada (31,8 o C) que a da raça Bergamácia, demonstrando que a via respiratória é o principal mecanismo pelo qual as raças Co e Hd perdem calor. Concluíram ainda que a raça Bergamácia foi a que apresentou melhor comportamento fisiológico para a FR, mostrando ser mais tolerante ao estresse calórico. Com relação à temperatura retal, foi observado que houve influência do mês apenas para a raça Hampshire Down, sendo maior no verão, diminuindo no outono e no inverno e aumentando novamente na primavera. Concluindo que esta raça mostrou dificuldade em manter a homeotermia corporal Consumo de água Com o aumento da taxa de evaporação no organismo, a água procede do sangue, o qual deve ser reposto por diversas fontes, como o estômago, intestino, fluídos intersticiais, fezes e, provavelmente, da oxidação de alguns carboidratos, gorduras ou proteínas armazenadas (McDOWELL, 1974). Após a extração da água destas fontes, ocorrem reações através do sangue ou por meio de impulsos nervosos, sobre o centro regulador da sede, para criar um desejo de beber, para assim repor os níveis normais de água orgânica (McDOWELL, 1974). Vários fatores influenciam o consumo de água durante o estresse térmico, tais como o nível de consumo de alimentos, a forma física da dieta, estado fisiológico do animal, espécie e raça, qualidade, acessibilidade e temperatura da água (NRC, 1981). Segundo Blaxter et al. (1959) e Silanikove (1987a) citados por SILANIKOVE (1992) os ovinos apresentam comportamento diferenciado 13
25 quando expostos à ambientes quentes, ingerindo quantidade muito superior às suas necessidades. Em ovinos, Benjamin et al. (1977) e Silanikove (1987a) citados por SILANIKOVE (1992) destacam que a relação consumo de água/alimento é quase constante em uma grande variedade de ambientes. APPLEMAN & DELOUCHE (1958), estudando as respostas de caprinos submetidos a elevação da temperatura ambiente de 20 o C para 40 o C, observaram aumento no consumo, na frequência e no tempo gasto ingerindo água. BHATTACHARYA & HUSSAIN (1974) avaliando o efeito do estresse calórico sobre ovinos, registraram maior ingestão de água dos animais submetidos a alta temperatura e alta umidade. Estudando o efeito de quatro faixas de temperatura em câmara, HUERTAS et al. (1974) concluíram que a elevação da temperatura ambiente tende a aumentar o consumo de água por unidade de matéria seca. MENDES et al. (1976a) testando quatro níveis de energia na dieta fornecida a ovinos, submetidos à duas faixas de temperatura ambiental (32-35 o C e o C), verificaram que a ingestão de água foi significativamente afetada pela temperatura ambiental, não sendo influenciada pelo nível de energia da ração. SINGH et al. (1978) estudando a utilização dos alimentos por ovinos expostos a alta temperatura ambiente encontraram valores de consumo de água variando de 3,6 a 4,1 litros/animal/dia ou de 2,39 a 3,28 litros/kg de matéria seca ingerida. GUPTA & ACHARYA (1987), avaliando a tolerância ao calor de ovinos expostos ao sol de 8:00h às 15:00h, em região semi-árida, registraram consumos de água variando de 2,74 a 3,44 kg/animal/dia, ou 89,92 a 114,83 g/kg de peso vivo. As temperaturas do ar médias registradas pela manhã e 14
26 pela tarde foram 31,13 o e 41,68 o C respectivamente, e as umidades relativas foram 36,17% e 18,17% respectivamente para manhã e para a tarde. SOUTO et al. (1990a), determinando o consumo de alimento e água por ovinos mantidos em câmara climática com temperaturas de o C e o C, empregando-se dietas com quatro níveis de energia metabolizável, concluíram que o consumo de água foi diretamente relacionado com a temperatura ambiente. PADUA & SILVA (1996c) em trabalho analisando o efeito do estresse térmico sobre o desempenho de borregos da raça Ideal, registraram maior consumo de água dos animais submetidos ao tratamento térmico, quando comparados a testemunha, 2,70 ± 0,24kg/dia e 2,70 ± 0,18kg/dia respectivamente. BROSH et al. (1998), estudando o efeito da radiação solar e do nível de energia da dieta, registraram aumento no consumo de água dos animais alimentados com dietas contendo alto nível de energia, não sofrendo porém efeito da exposição ao sol Consumo de alimentos Uma das primeiras respostas ao estresse térmico na maioria dos animais, é a diminuição no consumo de alimentos. A intensidade da redução parece estar relacionada diretamente com o nível de estresse (CHURCH et al., 1972; McDOWELL, 1974). Segundo BEEDE & COLLIER (1986), a redução no consumo ocorrida próximo ou acima da temperatura crítica do animal, é largamente aceita como a maior influência negativa sobre a produtividade. Sendo esta temperatura crítica dependente da composição da dieta, quando esta for menos digestível, maior será a taxa e a extensão da redução no consumo. 15
27 APPLEMAN & DELOUCHE (1958) avaliando as respostas de caprinos submetidos a uma elevação da temperatura ambiente de 20 o C para 40 o C, observaram redução no tempo gasto consumindo forragem. Estudando a relação entre a temperatura e a energia em ovinos em terminação, SODERQUIST & KNOX (1967) submeteram os animais às temperaturas de 23 o C e 35 o C, e registraram consumo de matéria seca de 1,007 e 0,795kg/dia. Os animais foram alimentados com dieta constituída de 50% de alfafa, 25% de milho e 25% de cevada. BHATTACHARYA & HUSSAIN (1974), avaliando o efeito do estresse calórico sobre ovinos, alimentados com dietas variando o nível de fibra, registraram menor consumo de alimentos dos animais submetidos a alta temperatura e alta umidade. Estudando o efeito de quatro faixas de temperatura em câmara, HUERTAS et al. (1974) concluíram que a elevação da temperatura ambiente reduziu linearmente os consumos de matéria seca, de proteína digestível e de energia digestível. Em dois experimentos realizados com ovinos, BHATTACHARYA & UWAYJAN (1975) submeteram os animais à temperatura controlada, oscilando de 20 o C até 27 o C durante o dia, e voltando a 20 o C durante a noite, para o primeiro ensaio, sendo que para o segundo, a temperatura ambiente alcançava 33 o C durante o período mais quente. A umidade decrescia com o incremento da temperatura ambiente, simulando dia quente e seco. Os animais foram alimentados com dietas com níveis crescentes de concentrado. No primeiro ensaio o consumo de alimentos não foi alterado, entretanto, no segundo experimento foi observada significativa redução. MENDES et al. (1976a), testando quatro níveis de energia na dieta fornecida a ovinos, submetidos à duas faixas de temperatura ambiental (32-35 o C e o C), verificaram que o consumo de matéria seca não foi afetado pela temperatura ambiental, sendo afetado pelo nível de energia da ração. 16
28 Avaliando o efeito de quatro níveis de energia da ração, sobre o comportamento nutricional de ovinos, mantidos em câmara climática a temperatura de o C e umidade relativa do ar de 75%, MENDES et al. (1976b) concluíram que os níveis de energia das rações não afetaram significativamente os consumos de matéria seca, proteína digestível e energia digestível, entretanto maiores consumos de matéria seca digestível foram observados com o aumento do nível de energia da ração. AMES & BRINK (1977), avaliando o efeito da temperatura no desempenho de cordeiros, observaram alteração no consumo de alimento pela variação da temperatura desde -05 o C a 35 o C. SINGH et al. (1978), estudando a utilização dos alimentos por ovinos expostos a alta temperatura ambiente encontraram valores de consumo de alimento variando de 3,8% a 4,6% do peso vivo. GUPTA & ACHARYA (1987), avaliando a tolerância ao calor de ovinos expostos ao sol de 8:00h às 15:00h, em região semi-árida, registraram consumos de alimento variando de 442,5 a 526,5 kg/animal/dia, ou 11,94 a 19,43 g/kg de peso vivo. As temperaturas do ar médias registradas pela manhã e pela tarde foram 31,13 o e 41,68 o C respectivamente, e as umidades relativas foram 36,17% e 18,17% respectivamente para manhã e para a tarde. SOUTO et al. (1990a), determinando o consumo de alimento e água por ovinos mantidos em câmara climática com temperaturas de o C e o C, empregando-se dietas com quatro níveis de energia metabolizável, concluíram que os consumos de matéria seca, matéria seca digestível e energia digestível foram maiores na faixa de temperatura mais baixa. Os níveis de energia metabolizável das rações não tiveram influência sobre os consumos de matéria seca, matéria seca digestível, energia e proteína digestíveis. COSTA et al. (1992), avaliando o comportamento ingestivo de ovinos tosquiados e não tosquiados, submetidos à diferentes temperaturas e umidades, observaram que com aumento da temperatura e da umidade 17
29 houve redução no consumo de forragem e aumento no consumo de concentrado. PADUA & SILVA (1996b) em trabalho analisando o efeito do estresse térmico sobre o desempenho de borregos, encontraram redução no consumo diário de alimentos (0,92kg) comparados aos animais não submetidos ao estresse térmico (1,03kg). BROSH et al. (1998), estudando o efeito da radiação solar e do nível de energia da dieta, não encontraram efeito sobre a ingestão de matéria seca e de energia metabolizável para os animais expostos à radiação solar alimentados com dieta de alto nível energético. DIXON et al. (1999), avaliando a interação entre o estresse calórico e a nutrição em ovinos alimentados com dietas à base de volumosos, observaram que os animais mantidos sob estresse apresentaram menor consumo de matéria seca e de energia metabolizável. No entanto, o fornecimento de suplemento aumentou o consumo de energia metabolizável, e não alterou o consumo de matéria seca. Em conclusão, nenhuma combinação das variáveis ambientais com o balanço nutricional da dieta teve efeito sobre o consumo Eficiência na utilização dos alimentos Animais mantidos em ambiente quente, sofrem uma redução na eficiência de utilização da energia (Mcdowell, 1972; NRC, 1981 citados por BEEDE & COLLIER, 1986). Isto é devido ao maior requerimento energético, resultado da elevação do metabolismo e das atividades necessárias à redução do estresse (BEEDE & COLLIER, 1986). Analisando o efeito da temperatura ambiente constante a 32,2 o C, sobre vacas em lactação, McDOWELL et al. (1969) observaram pequeno efeito sobre a digestibilidade da ração. No entanto, a energia do leite reduziu 18
30 proporcionalmente a quase duas vezes a energia digestível ingerida, resultando em menor eficiência de utilização da energia. Estudos conduzidos comparando-se o efeito da sombra sobre o desempenho de cordeiros, foram registrados conversão alimentar 15% maior para os animais mantidos protegidos da radiação solar direta (Moose & Ross, 1964, citados por MORRISON, 1983). Estudando a relação entre a temperatura e a energia em ovinos em terminação, SODERQUIST & KNOX (1967) submeteram os animais às temperaturas de 23 o C e 35 o C, e registraram valores para retenção de nitrogênio de 8,63 e 0,45 gm/dia, e balanço carbono : nitrogênio de 919,5 e - 268,1kcal/dia, respectivamente. Foi observada uma maior perda de energia na forma de metano e de calor no ambiente quente, reduzindo a eficiência energética. BHATTACHARYA & HUSSAIN (1974), avaliando o efeito do estresse calórico sobre ovinos, alimentados com dietas variando o nível de fibra, encontraram uma menor digestibilidade da matéria seca, proteína bruta, extrato etéreo e energia para os animais submetidos a alta temperatura e alta umidade, no entanto, a digestibilidade da fibra bruta e do extrato não nitrogenado não foram afetados. Em dois experimentos realizados com ovinos, BHATTACHARYA & UWAYJAN (1975) submeteram os animais à temperatura controlada, oscilando de 20 o C até 27 o C durante o dia, e voltando a 20 o C durante a noite, para o primeiro ensaio, sendo que para o segundo, a temperatura ambiente alcançava 33 o C durante o período mais quente. A umidade decrescia com o incremento da temperatura ambiente, simulando dia quente e seco. Os animais foram alimentados com dietas com níveis crescentes de concentrado. No primeiro ensaio a digestibilidade não foi afetada pela estresse ambiental, entretanto, no segundo experimento a digestibilidade da fibra bruta foi aumentada. AMES & BRINK (1977), avaliando o efeito da temperatura na desempenho de cordeiros, observaram alteração na digestibilidade dos 19
31 nutrientes e no balanço de nitrogênio pela variação da temperatura desde - 05 o C a 35 o C. AMES et al. (1980), sugeriram que devido ao aumento nos requerimentos nutricionais para mantença, a energia disponível para o crescimento é reduzida, acarretando menores ganhos de peso. Se o fornecimento de proteína for constante como percentagem da dieta, a relação proteína fornecida : energia disponível para crescimento será elevada, diminuindo desta forma a eficiência de utilização da proteína. Desta forma a adequação da proteína fornecida à energia disponível para crescimento, será importante para melhorar a eficiência de utilização da proteína, bem como reduzir os custos de alimentação. Estudando o efeito de quatro faixas de temperatura em câmara, HUERTAS et al. (1974) concluíram que a elevação da temperatura ambiente não afetou os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca, da proteína e da energia bruta da ração, assim como também não foi afetada a retenção aparente da energia em relação à energia ingerida. No entanto, a retenção do nitrogênio como percentagem do nitrogênio ingerido decresceu com o aumento da temperatura ambiente. Avaliando o efeito de quatro níveis de energia da ração, sobre o comportamento nutricional de ovinos, mantidos em câmara climática a temperatura ambiente de o C e umidade relativa do ar de 75%, MENDES et al. (1976b) concluíram que os coeficientes de digestibilidade aparente da matéria seca e da energia foram maiores na ração hipercalórica. A retenção aparente da energia aumentava, acompanhando o aumento no nível de energia da ração. HIGGINBOTHAM et al. (1989), estudando a influência da concentração protéica da dieta e sua degradabilidade, sobre a performance de vacas em lactação submetidas à alta temperatura ambiente, obtiveram resultados mostrando que a utilização de dietas com alta concentração protéica (18,5%) de alta degradabilidade ruminal, diminuiu a produção de leite durante a fase intermediária da lactação, quando comparada às produções 20
32 obtidas com dietas de menor concentração protéica (16,1%) e/ou menor degradabilidade ruminal. BUNTING et al. (1992), utilizando cordeiros expostos à alta temperatura ambiente, avaliaram o efeito da concentração de proteína que escapa da degradabilidade ruminal sobre a retenção do nitrogênio. Observaram que os animais submetidos à alta temperatura e recebendo alta concentração de PB que escapa da digestão ruminal, apresentaram maior retenção do nitrogênio, comparados aos animais que compunham a testemunha Crescimento O estresse calórico afeta negativamente o crescimento e a terminação dos animais, acarretando desta forma efeito deletério na produção de carne (WARWICK, 1958). Quando animais confinados são submetidos ao estresse calórico, o ganho de peso diário é reduzido, como consequência da menor eficiência na conversão de nutrientes em tecidos. A base desta observação é o aumento nos requerimentos energéticos para mantença, que acarreta redução na energia disponível para crescimento (AMES et al., 1980). Estudos conduzidos comparando-se o efeito da sombra sobre o desempenho de cordeiros, foram registrados ganhos 12% maiores para os animais mantidos protegidos da radiação solar direta (Moose & Ross, 1964 citados por MORRISON, 1983). Cordeiros alimentados com dietas contendo 70% de concentrado e 30% de volumoso, em ambientes com temperatura variando entre o C, geralmente têm maiores ganhos de peso e carcaças mais pesadas e de melhor qualidade (MOOSE et al., 1969) 21
33 Estudando o efeito de quatro faixas de temperatura em câmara, HUERTAS et al. (1974) concluíram que houve maior ganho de peso no tratamento em que os animais foram submetidos a baixa temperatura, decrescendo com o aumento da temperatura. AMES & BRINK (1977), avaliando o efeito da temperatura na performance de cordeiros, observaram decréscimo no ganho de peso diário dos animais submetidos ao estresse calórico. MENDES et al. (1976a), testando quatro níveis de energia na dieta fornecida a ovinos, submetidos à duas faixas de temperatura ambiental (32-35 o C e o C), verificaram que as faixas de temperatura estudadas afetaram significativamente o ganho de peso dos animais, que foi mais elevado na faixa de temperatura mais amena, e que nesta faixa à medida que se elevou o nível de energia da ração, o ganho de peso decresceu. Na faixa de temperatura mais alta, ao contrário, à medida que se elevava o nível de energia da ração, maiores ganhos de peso foram observados. PADUA & SILVA (1996c) em trabalho analisando o efeito do estresse térmico sobre o desempenho de borregos Ideal, não encontraram efeito de ambiente sobre o ganho de peso, que foi igual a 0,056kg/dia nos dois tratamentos testados. DIXON et al. (1999), estudando a interação entre o estresse calórico e a nutrição em ovinos alimentados com dietas à base de volumosos, observaram que os animais mantidos sob estresse apresentaram menor ganho de peso. No entanto, o fornecimento de suplemento incrementou este ganho. Em conclusão, nenhuma combinação das variáveis ambientais com o balanço nutricional da dieta teve efeito sobre a produtividade. 22
34 Aclimatação Com a prolongada exposição ao ambiente quente, os animais se aclimatam reduzindo seu metabolismo através do menor consumo de alimentos e redução na atividade do hormônio da tireóide (FUQUAY, 1981; MORRISON, 1983). A exposição repetida ou continuada ao ambiente quente, determina além da adaptação funcional dos principais processos fisiológicos, as mudanças funcionais ou estruturais que aumentam sua capacidade para viver neste tipo de ambiente (McDOWELL, 1974). Um animal que modifica seus processos até alcançar novo nível, apresentando elevação mínima da temperatura corporal, se considera mais aclimatado ou adaptado para viver em ambiente quente, do que outro que variou notavelmente seu equilíbrio térmico (McDOWELL, 1974). APPLEMAN & DELOUCHE (1958), avaliando as respostas de caprinos submetidos a elevação da temperatura ambiente de 20 o C para 40 o C, concluíram que o limite ao estresse calórico para esta espécie está em entre o C. Ocorrendo falhas na regulação do calor em temperaturas ambiente iguais ou superiores a 40 o C. Os ovinos apresentam excelente capacidade de insolação, sendo que as diferentes respostas encontradas envolvendo outros ruminantes, podem ser relacionadas à diversidade de propriedades da insolação e tamanho do corpo, considerando que o estresse afeta o metabolismo da água e energético (SILANIKOVE, 1992). Animais bem adaptados são aptos a manter seu apetite sob estresse, quando mantidos próximos à mantença ou em crescimento moderado (Berbigier, 1983; Brosh et al., 1986a, 1988; Silanikove, 1987a citados por SILANIKOVE, 1992). 23
35 3. MATERIAL E MÉTODOS 3.1. Ensaio 1 - Desempenho Produtivo Localização O presente trabalho foi conduzido no Setor de Estudo em Forragicultura do Departamento de Zootecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, Ceará, no período de 20 de outubro a 30 de novembro de O município de Fortaleza situa-se na zona litorânea, a 15,49m de altitude, 30 o de latitude sul, e 38 o de longitude oeste, apresentando médias anuais de temperatura de 26,7 o C, umidade relativa de 79% e radiação solar de cal/cm 2. 24
36 Tratamentos, delineamento experimental e animais Os fatores estudados foram 2 ambientes (sombra e sol) e 2 níveis de ração concentrada (alto e baixo), que constituíram os seguintes tratamentos: T1 - animais mantidos à sombra, alimentados com dietas contendo 70% de ração concentrada e 30% de volumoso; T2 - animais mantidos à sombra, alimentados com dietas contendo 30% de ração concentrada e 70% de volumoso; T3 - Animais mantidos ao sol, alimentados com dietas contendo 70% de ração concentrada e 30% de volumoso; e T4 - Animais mantidos ao sol, alimentados com dietas contendo 30% de ração concentrada e 70% de volumoso. Foi adotado esquema fatorial (2 x 2) em delineamento em blocos casualizados com 5 repetições. Como volumoso utilizou-se o feno de capim elefante, cortado com dias de idade. O feno foi produzido na Fazenda Experimental Vale do Curú, em Pentecoste, Ceará. A composição químico-bromatológica da ração concentrada e do feno de capim elefante, podem ser vistas na Tabela 1. Tabela 1 Composição químico-bromatológica da ração concentrada e do feno. ALIMENTO MS (%) NDT¹ (%) PB (%) EE (%) FDN (%) CONCENTRADO 94,5 84,8 20,0 4,4 22,2 FENO 96,2 55,0 6,0 2,6 73,9 1. Valor tabelado, NRC (1985). 25
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